Como não houve rebaixamento em 1994, pela segunda vez na história o desfile principal do Rio de Janeiro teria o mastodôntico número de 18 agremiações, graças à contestada subida de São Clemente e Unidos de Villa Rica.

O regulamento sofreu sensíveis alterações no que diz respeito às notas. Em vez dos trinta julgadores e da validade de todas as notas, o júri passaria a ter cinquenta integrantes, e haveria descarte da maior e da menor nota em cada um dos dez quesitos.

Com o sucesso inicial do Plano Real, implantado em julho de 1994, havia expectativa de que a maior parte das escolas conseguisse ter mais recursos na concepção dos enredos. Em parte isso acabou se confirmando, e muitas agremiações conseguiram um conjunto visual mais luxuoso e trabalhado.

Antes dos desfiles, chamou a atenção o extenso título do enredo da campeã Imperatriz Leopoldinense: “Mais vale um jegue que me carregue que um camelo que me derrube lá no Ceará”. Na verdade, o tema nem era tão complexo, mas sim fruto de mais uma pesquisa brilhante da carnavalesca Rosa Magalhães – vamos relembrar depois no relato do desfile.

Com o intérprete Quinho de volta, o Salgueiro buscaria mais um campeonato com um enredo que questionava a versão oficial para o Descobrimento do Brasil. Terceira colocada em 1994, a Viradouro de Joãosinho Trinta relembraria os três espantos de Debret com as belezas naturais do nosso país.

Já a União da Ilha defenderia os índios brasileiros ao relembrar Oswald de Andrade e seu manifesto antropofágico. A Beija-Flor faria uma nova homenagem, desta vez à intérprete lírica Bidu Sayão, enquanto a Tradição, depois do enredo sobre o sonho do homem em voar, desceria do céu ao solo para falar das rodas.

Depois do oitavo lugar de 1994, a Mocidade Independente de Padre Miguel faria um enredo sobre as religiões. Já a Vila Isabel contaria a história da moeda, e a Estação Primeira de Mangueira viajaria até Fernando de Noronha.

Mas duas escolas despertavam as maiores expectativas do ano. Numa extensão da temática do desfile de 1994, a Portela revisitaria a história do Carnaval em continuação do enredo de 1994. Com nova diretoria após 23 anos, a contratação do cantor Rixxa, o Pavarotti do Samba, e um dos melhores sambas da década, a Azul e Branco prometia chegar com força para buscar um título depois de 11 anos. Já a Estácio de Sá comemoraria o centenário do Flamengo, clube de maior torcida do Brasil.

Completavam o desfile de 1995 a Caprichosos de Pilares, com enredo sobre o petróleo, a Acadêmicos do Grande Rio, misturando contos infantis e a Amazônia, o Império Serrano, com a batalha do homem contra o tempo, a Unidos da Tijuca, homenageando o compositor Carlos Gomes, e a Unidos da Ponte, exaltando o Paraná.

OS DESFILES

A São Clemente abriu os trabalhos com um enredo sobre o sonho de um Brasil melhor. O primeiro verso do samba dizia “Da crítica eu fiz o meu caminho”, mas, ao contrário de outros desfiles, a escola de Botafogo foi tímida, até porque ser a primeira a entrar na Sapucaí nunca é uma boa, e, no caso da Aurinegra, não havia grandes recursos para um conjunto estético tão elaborado.

Chamaram a atenção a comissão de frente, que simulou a conquista do tetracampeonato pela Seleção em 1994 com direito a Baggio perdendo o pênalti decisivo, e o uso das cores da bandeira nacional. E foi só.

A Unidos da Tijuca, reforçada do cantor Paulinho Mocidade, entrou bem na avenida e parecia no caminho certo para atingir uma boa colocação com o enredo “Os nove bravos do Guarani”.

Mas o desfile sobre Carlos Gomes, apesar do bom samba acompanhado (vejam só) por violinos, foi comprometido pela quebra de uma alegoria, o que matou harmonia e evolução.

O elemento ficou dez minutos parado, obrigando os componentes a passar ao seu redor e, com isso, o bom conjunto visual da Azul e Amarelo acabou sendo inútil.

beijaflor95Terceira a entrar na avenida, a Beija-Flor de Nilópolis pegou um público mais aquecido e ainda elevou a temperatura da Sapucaí com, indiscutivelmente, um dos melhores desfiles do ano, talvez, o melhor da própria agremiação desde a épica apresentação de 1989.

O samba que homenageava Bidu Sayão era vibrante, e os componentes o cantaram com força, sempre liderados pelo gigantesco Neguinho da Beija-Flor. A novidade era um grupo de sopranos (com a participação do cantor Edson Cordeiro) auxiliando o intérprete. A bateria esteve acelerada, mas também muito ousada, com ótimas convenções e paradinhas.

Toda a trajetória da intérprete lírica e os espetáculos nos quais a cantora brilhou foram contados com bastante correção em alas e alegorias multicoloridas. O carnavalesco Milton Cunha, que estava elétrico em cima de uma alegoria com uma enorme fantasia, optou por abrir cada setor dos desfile com cisnes em diversas cores.

Um dos pontos mais marcantes no desfile foi a exaltação ao Brasil, já que a cantora, a despeito de ter se consagrado no exterior, recusou o convite para se tornar cidadã americana por amar o nosso país.

Perto de completar 93 anos de idade, Bidu Sayão fez questão de vir dos Estados Unidos, onde morava, e desfilou no último carro, intitulado Cisne Negro. A cantora, que chegou ao sambódromo trazida por Milton Cunha em seu carro particular, esbanjou simpatia, arrancando aplausos do público.

Só que infelizmente a diva foi esquecida pela diretoria na Apoteose e teve de esperar quase duas horas com um segurança até que o presidente da Liesa, Paulo de Almeida, fosse acionado para providenciar um táxi. Lamentável.

Quarta a desfilar, a União da Ilha tinha o retorno do inesquecível cantor Aroldo Melodia, e o samba de Franco e Almir da Ilha tinha a cara da escola, ou seja, era bem animado. A bateria de Mestre Paulão esteve cadenciada e brilhou nas paradinhas, com os componentes tendo boa harmonia.

O enredo “Todo dia é dia de índio”, que resgatava a visão do Modernismo sobre a cultura brasileira, tinha como personagem principal Macunaíma, o fio condutor do desfile. O carnavalesco Chico Spinoza manteve sua característica de elaborar alegorias com materiais alternativos e conseguiu bom resultado.

Mas o desfile insulano, embora simpático, acabou sendo inferior ao de 1994, tanto que o público não esteve tão empolgado como na apresentação da Beija-Flor. Quem chamou a atenção foi Monique Evans, que desfilou como porta-estandarte da escola com os seios nus e uma saia vazada.

Já a Acadêmicos do Grande Rio apresentou um enredo apontado pelos críticos como confuso. Segundo a sinopse, o desfile transformaria “o ciclo da borracha na Amazônia em conto de fadas, no qual o rei Amazonas, responsável pelo ecossistema mundial de responsabilidade do Imperador Brasil, vivia tranquilamente com sua filha Manaus, numa terra rica em borracha, até a vinda da Rainha Inglaterra, que levou, sem que ninguém soubesse, 70 mil espécies da planta que brotava o líquido que valia tanto ou mais que ouro, para serem plantadas em seus terrenos na Malásia. Tal atitude caiu como veneno para a Princesa Manaus, fazendo-a adormecer num sono profundo durante quase dois séculos, quando o Príncipe da Tecnologia a beijou, acordando-a para seu futuro.”

Diante disso, o samba era arrastadíssimo. Nem a boa bateria e o grande intérprete Nêgo conseguiram levantar a escola, que fez seu desfile mais fraco desde a volta à elite.

Curiosamente, a Tricolor, que até o ano anterior levava um homem como rei da bateria, desta vez resolveu ter uma rainha, no caso, a modelo e atriz Andréa Guerra, que vivia o auge da fama por interpretar o papel principal do caso especial “A desinibida do Grajaú”, da TV Globo. Seria a primeira de muitas atrizes globais a desfilar à frente dos ritmistas caxienses.

Sem quadra na preparação, o Salgueiro entrou na avenida com muita pegada, e o samba puxado por Quinho funcionou, tanto que o público recebeu bem a escola, e os componentes cantaram com garra. Mas o conjunto da Vermelho e Branco acabou comprometido por diversos problemas.

A dez dias do desfile, a alegoria que representava a mitologia marinha pegou fogo no barracão e teve de ser refeito. Já na Sapucaí, a comissão de frente demorou a entrar na pista porque as botas dos componentes não chegavam. Mas havia limite para a espera, e o cortejo foi aberto por integrantes da Velha Guarda. Os calçados chegaram com dez minutos de desfile, e só então a comissão original se exibiu – mas isso não resultaria na perda de pontos.

A modelo Marinara Costa, considerada uma das musas da época, também teve problemas na chegada à Sapucaí: “Sumiram com a minha fantasia, pode? Gosto muito do Salgueiro, mas assim não dá.”

Como em 1994, a escola teve problemas no acabamento das alegorias, principalmente no abre-alas, que tinha panos rasgados e falhas claras nas esculturas. Uma pena, porque o enredo que questionava o Descobrimento do Brasil foi bem dividido, e a mensagem foi passada com correção.

Houve ainda problemas na dispersão, já que o carro “Comércio Italiano” ficou preso no portão de saída, e as alas não conseguiam deixar a Apoteose. O elemento teve de ser quebrado para que os componentes, enfim, pudessem sair. Em resumo, a briga pelo campeonato era praticamente impossível.

A Tradição entrou na Sapucaí disposta a repetir o excelente desfile de 1994, no qual ficou em sexto lugar. Não conseguiu. Embora o enredo sobre a roda tenha sido bem dividido, o conjunto alegórico ficou devendo, tanto que a escola perderia pontos na apuração, e o samba não era dos melhores da safra. Ficou um gosto de quero mais.

A escola homenageou o tricampeão Ayrton Senna, morto em 1994, e Fernando Vannucci leu um discurso na concentração ao som do Tema da Vitória. Na avenida, uma alegoria tinha um carro da McLaren e a piloto Suzane Carvalho representava Ayrton.

Quem atraiu olhares foi Adriane Galisteu, que namorava o piloto na época da tragédia. Sem muitos sorrisos, Adriane assistiu atentamente à passagem da escola e depois desceu para a pista com o então namorado Julio Lopes, que desfilaria pela Portela.

portela1995cFalando em Portela, esta realizou uma épica apresentação, no mágico horário do alvorecer, sempre um bom presságio para a Azul e Branco de Madureira, que muitas vezes em sua história desfilou quando o sol surgia.

Estava tudo conspirando para uma exibição inesquecível. Para começar, grandes portelenses como Paulinho da Viola e João Nogueira fizeram as pazes com a escola e participaram do desfile depois de muito tempo.

Além disso, o samba de Noca da Portela, Colombo e Gelson era espetacular, com uma melodia valente e ao mesmo tempo muito bem trabalhada. O carro de som tinha, além de Rixxa, o apoio de Carlinhos de Pilares, Rogerinho e Celino Dias.

E as expectativas foram confirmadas na prática, com o enredo “Gosto que me enrosco” contando com brilhantismo a história do Carnaval, desde os tempos das grandes sociedades, passando pelos ranchos e cordões.

portela 1995A águia elaborada pelo carnavalesco José Félix (foto) é considerada uma das mais bonitas já concebidas e realizadas. Não só estava bem acabada, como muito bonita esteticamente, com uma máscara nos olhos.

portela1995bTodo o conjunto alegórico estava de muito bom gosto, bem como as fantasias. E, se predominaram o azul e branco da escola, a prata e o dourado permeavam tudo de forma precisa, abrilhantando o visual da escola. Um dos momentos mais bonitos do desfile foi a passagem da ala das baianas, com um luxuoso figurino que lembrava dos arlequins e pierrôs.

A Tabajara do Samba manteve uma excelente cadência do começo ao fim do desfile, e a Portela chegou à Praça da Apoteose sob os gritos de “é campeã”. Uma aula de desfile, uma aula de samba no pé, enfim, um desfile marcante.

“A Portela está a caminho de seu 21º título”, cravou José Carlos Rêgo ao comentar o cortejo pela Manchete.

A nona e última escola a desfilar foi o Império Serrano, que, lamentavelmente, não chegou aos pés do que a vizinha portelense realizou. A falta de recursos para alegorias e fantasias no abstrato enredo “O Tempo não Para” ficou evidente, e a escola da Serrinha deixou a desejar.

Desde a fase pré-carnavalesca, aliás, havia divergências entre o presidente Jamil Salomão Maruff e a carnavalesca Lílian Rabello. Esta reclamava da falta de apoio para o desenvolvimento do enredo, enquanto o dirigente dizia que a carnavalesca não vinha acompanhando a escola como deveria.

O samba-enredo, que era bem cotado, até que foi cantado pelos componentes, e a sempre competente bateria se salvou, mas houve problemas de evolução. No entanto, a ideia modernosa de Lílian Rabello de colocar parte das saias das baianas em formato de relógio deixou Fernando Pamplona indignado na transmissão da TV Manchete.

“Relógio à guisa de baiana, porque baiana não é, não. Baiana que não tem nem mão? Nem pano na costa? Nem torso? Nem saia rendada? Tem uma porcaria de um negócio aí feito tutu de bailarina à guisa de baiana… Para com isso! Vai inventar no raio que a parta! As coisas mais bonitas que o Império Serrano teve na vida foram as baianas, e vem esse troço aí!?, bradou Pamplona, que, ao analisar o desfile no fim, seguiu disparando contra a proposta estética da escola:

“Bom samba, uma excelente e maravilhosa bateria, uma comissão de frente muito bacana, mas não tão bacana como estávamos acostumados a ver, o resto uma grossa porcaria! Não falo dos componentes, não. Maravilhosos, é uma escola maravilhosa, é uma escola de verdade. Agora, não merecia esse tratamento absolutamente amadorístico, de mau gosto, de má execução. Carros extremamente ruins. Isso não se faz com uma escola da qualidade do Império, e eu protesto!”

Como curiosidade, o Império foi a primeira escola a desfilar com o dia totalmente claro desde a União da Ilha em 1990. Reflexo, claro, do aumento no número de agremiações no Grupo Especial.

Mesmo abrindo as apresentações de segunda-feira, a Unidos da Ponte conseguiu agradar ao público no desfile sobre o estado do Paraná. Não havia tanto requinte em alegorias e fantasias, que, no entanto, contavam bem o enredo.

A viagem da Ponte ia de Curitiba às Cataratas do Iguaçu e exaltava aspectos típicos paranaenses como o pinhão e a gralha azul. O samba era valente, e a bateria manteve uma cadência excepcional a ponto de ganhar o Estandarte de Ouro.

Zico e Junior no desfile do Estácio de 1995Aguardada com ansiedade pelo enredo popular sobre o Flamengo, a Estácio de Sá passou bem pela avenida apesar de alguns senões. O primeiro foi a velocidade com a qual a escola evoluiu para dar vazão aos estimados 5 mil componentes – a bateria estava bastante acelerada, mas apresentou-se com correção. O segundo foi a irregularidade de alegorias e alas, umas excepcionais, outras com menos brilho.

A comissão de frente formada por jogadores de futebol uniformizados agradou bastante e carregava uma grande bandeira rubro-negra, numa coreografia com ótimo efeito.  O abre-alas, em dourado, vermelho e preto, estava bem resolvido, assim como o segundo carro, que contava a origem do clube de regatas, em 1895.

Um erro conceitual para alguns torcedores do clube ocorreu no carro do Japão, que simbolizava o título mundial de 1981. Apesar de a alegoria ser muito bonita e bem acabada, craques como Zico e Júnior acabaram não tendo o destaque que deveriam.

Melhor jogador do mundo na época e recém-contratado pelo Rubro-Negro, Romário foi convidado para desfilar no último carro, o do bolo de aniversário do centenário, mas preferiu ficar nos camarotes. No entanto, o Baixinho cantou e sambou do início ao fim e foi bastante aplaudido mesmo fora da pista.

A Estácio encerrou o desfile sob aplausos, com uma ala reunindo os outros clubes e uma enorme bandeira pedindo paz. De fato, foi uma apresentação vibrante e simpática. Mas ficou a sensação de que a escola poderia ter ido melhor.

A Unidos de Vila Isabel veio a seguir com uma correta apresentação de seu enredo sobre a moeda. O carnavalesco Max Lopes lembrava que a palavra salário vinha do sal e que isso servia como pagamento.

O samba-enredo foi cantado, além de Gera e Jorge Tropical, por um coral feminino, o que deu um charme. No fim havia uma mensagem de otimismo em relação ao Plano Real, com direito a um componente caracterizado como o presidente Fernando Henrique Cardoso, artífice da nova moeda.

Só não foi um desfile ainda melhor porque houve claros descompassos na evolução da escola no fim. Como a passagem foi um tanto lenta no começo, a direção de harmonia teve de apertar o passo dos componentes, o que nunca é bom.

mocidade1995Um dos melhores desfiles do ano viria em seguida, com a Mocidade Independente de Padre Miguel abordando as crenças brasileiras em “Padre Miguel, olhai por nós”, que venceria com justiça o prêmio de Estandarte de Ouro de melhor enredo.

O desfile começava com a primeira missa rezada no Brasil, por intermédio dos colonizadores portugueses logo depois do descobrimento, e passou ainda pelas crenças africanas que foram trazidas para cá, além das lembranças pertinentes da Festa do Divino, Padre Cícero e a religiosidade baiana.

Renato Lage fez mais um grande trabalho na concepção e acabamento de alegorias e fantasias, sempre permitindo ao público e jurados um perfeito entendimento do enredo.

O samba também era um dos melhores do ano e foi muito bem cantado por Wander Pires, que se consolidava como um dos melhores intérpretes da nova geração do Carnaval carioca. A bateria de Mestre Coé esteve impecável, cadenciando o samba como ele exigia.

Só não foi um desfile perfeito porque, depois da entrada da bateria no box, a evolução da Mocidade apresentou falhas que persistiram até o fim da apresentação. Uma pena, porque era um desfile digno de ameaçar a Portela, que, até então, estava com o favoritismo intacto.

A Caprichosos de Pilares foi a quinta a desfilar e teve uma apresentação, embora correta, sem empolgar o público. Para os críticos, o enredo sobre petróleo não tinha nada a ver com a característica de leveza e irreverência da escola.

Na verdade, o carnavalesco Mauro Quintaes implantou um novo estilo à Caprichosos, com mais tecnologia nos carros e materiais mais caros em vez de figurinos mais leves e multicoloridos. Mas o resultado na pista foi satisfatório, e a escola brigaria ao menos no meio da tabela.

O samba-enredo tinha boa melodia e foi puxado com competência pelo saudoso cantor Luizito. Foi um desfile sem problemas graves nos quesitos de pista e, aparentemente, não havia risco de rebaixamento.

imperatriz95dA campeã Imperatriz Leopoldinense, embalada por um grande samba-enredo e uma bateria bastante segura, entrou com tudo na avenida em busca do bicampeonato. E fez um desfile digno de brigar pelas primeiras posições, de fato.

Para entender o enredo de Rosa Magalhães, voltemos à sinopse. Dizia o texto que o imperador D.Pedro II teve a ideia de fazer uma expedição científica ao Ceará, pois havia a suspeita de que lá havia inúmeras riquezas. Seria a primeira expedição formada unicamente por brasileiros, já que nas anteriores havia diversos estrangeiros.

Foi decidido que para a expedição seriam importados camelos da Argélia, já que o clima do Sertão seria semelhante ao do deserto. Mas aí o poeta Gonçalves Dias, que fazia parte da expedição, percebeu que o camelo não era o melhor animal para transportá-lo e, depois que um deles pereceu, completou a viagem de jegue. imperatriz95b

Encerrava a sinopse uma frase que resumia bem o enredo: “Abaixo o camelo, Viva o Jegue!” E, desta forma, a Imperatriz fez sua belíssima viagem pelo sertão, com fantasias e alegorias de grande requinte, como era costume nos trabalhos de Rosa Magalhães. A comissão de frente de 1995 fazia uma evolução com sombrinhas, o que deu belo efeito.

Mas, por ironia do destino, foi justamente o camelo quase derrubou a Imperatriz… O carro que simbolizava o animal quebrou e teve de ser retirado pela lateral da pista. A Imperatriz rivalizou com Portela, Mocidade e Beija-Flor entre as melhores escolas do ano, mas o problema da alegoria colocou em dúvida a possibilidade do bicampeonato, apesar de a escola ter saído da passarela aclamada pela crítica.

Antepenúltima escola a desfilar, Estação Primeira de Mangueira do carnavalesco Ilvamar Magalhães teve como base do enredo as lendas da rainha Alamoa para levar o público à paradisíaca ilha de Fernando de Noronha. A Mangueira se apresentou melhor do que em 1994 em todos os quesitos, sobretudo os plásticos, nos quais as alegorias estavam bem superiores às do ano anterior – Fernando Pamplona disse na transmissão da TV Manchete que “a Manga veio bonita como há muito não se via”.

O abre-alas era interessante, com o enorme surdo um em prata ladeado por golfinhos típicos daquela região. O carro de Netuno foi o destaque do desfile da Verde e Rosa. A bateria esteve mais uma vez perfeita, desta vez bastante cadenciada, e Jamelão deu outra qualidade ao samba, que não era considerado dos melhores da equilibrada safra de 1995, apesar de não ser um desastre.

Mas um problema fez o carro “O Homem veio do mar” ficar parado (havia uma engrenagem que baixava o ponto mais alto do carro para que este passasse pela torre de TV), e a escola ficou estática por alguns minutos. Como a evolução já era lenta até aquele momento, as alas apertaram o passo e a bateria sequer entrou no box. A Mangueira não estourou a cronometragem, mas o fim do desfile foi prejudicado. Pena.

A Unidos do Viradouro de Joãosinho Trinta também fez uma apresentação correta sobre os espantos de Debret com as belezas do Brasil, mas, talvez pelo longo desfile, o público começou a se retirar do sambódromo.

João 30 concebeu um adequado conjunto estético, utilizando diversos adereços de mão, o que surtiu bom efeito na pista. No entanto, houve problemas de evolução, e a escola ainda acabaria multada porque seus carros empacaram na dispersão – a exemplo do que aconteceria de forma até mais grave em 1996.

O samba era fruto de uma junção mas descrevia bem o enredo, só que o público que ficou, não se empolgou. Os componentes também passaram de forma fria, e a Viradouro fez aquele típico desfile de meio de tabela.

Já com dia claro, a Unidos de Villa Rica teve uma exibição que em nada lembrava uma escola de Grupo Especial. O enredo sobre os tecidos teve alegorias simplórias, quadradas e mal acabadas, provavelmente pela falta de recursos da escola, oriunda do Acesso.

Nem mesmo o chão salvou, pois o samba era considerado fraco (até hoje tido como trash pelos amantes do Carnaval, principalmente pelo verso “Na teia da aranha eu tô”), e os componentes não passaram empolgados.

Com o sambódromo às moscas, a Azul e Amarelo teve graves problemas com harmonia e evolução, e ainda houve quebras de carros alegóricos. O rebaixamento já era dado como certo pelos especialistas no fim do desfile.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Com o fim dos desfiles, a Portela era considerada a favorita ao título, tanto que ganhou três Estandartes de Ouro: Melhor Escola, Samba-Enredo e Puxador. Como Imperatriz e Mocidade tiveram problemas nos seus desfiles, a vitória portelense era tida como muito provável.

Houve algumas situações bastante esquisitas envolvendo o julgamento: o jurado Lula Vieira (Evolução) não apareceu no desfile, e as notas de Gustavo Melo (Harmonia) foram impugnadas porque ele foi parceiro de Noca da Portela no samba do bloco “Simpatia é Quase Amor”. Além disso, foram anuladas as pontuações relativas às obrigatoriedades porque a comissão designada para o desfile de domingo não apareceu…

Na apuração, também causou surpresa aos críticos o fato de a Imperatriz não ter sido despontuada em pelo menos três quesitos: Alegorias e Adereços, Conjunto e Enredo, já que a escola desfilou com um carro a menos do que o previsto.

Com isso, a disputa entre Portela e Imperatriz foi ferrenha, mas um quesito acabou sendo fatal para a escola de Madureira: Evolução. O regulamento previa o descarte da maior e menor nota de cada quesito, e a Portela teve dois 9,5 neste quesito.

A Imperatriz teve apenas três notas diferentes de dez em toda a apuração, mas todas foram eliminadas. Diante disso, os portelenses até hoje não se conformam com a derrota naquele Carnaval. Na Imperatriz, comemoração e alívio.

“Eu estava preocupada, porque realmente a gente poderia perder ponto. Mas não era um carro tão importante. Se fosse o do jegue, que tinha o Renato Aragão, aí realmente eu ficaria arrasada. Além disso, tivemos sorte porque ele quebrou bem no início do desfile, onde havia espaço para guardar o carro”, admitiu Rosa Magalhães, em entrevista ao jornal “O Globo” após a apuração.

No resultado final, a Imperatriz obteve os 300 pontos máximos, contra 299,5 da Portela, enquanto Beija-Flor, Mocidade e Salgueiro somaram 299 pontos (o desempate foi em Harmonia), a Mangueira teve 297, e a Estácio de Sá completou as sete primeiras posições, com 296,5 pontos. Foram rebaixadas apenas São Clemente e Unidos de Villa Rica – esperava-se que a Liesa tentasse reduzir o número de escolas para 16, mas o desfile com 18 agremiações seria mantido para 1996.

Os integrantes da Imperatriz foram bastante vaiados ainda na Praça da Apoteose, enquanto os portelenses não esconderam a frustração com o resultado.

“Qualquer resultado que não fosse a vitória me entristeceria muito, já que a gente merecia o título. Mas isso não desanima a nossa agremiação, que muitas vezes perdeu por pouco. Agora todo mundo sabe que no ano que vem a Portela estará de volta”, disse Cláudio Bernardo da Costa, o seu Cláudio, então único fundador da Portela vivo aos 89 anos.

Uma frustração que ecoa por mais de duas décadas…

RESULTADO FINAL

POS. ESCOLA PONTOS
Imperatriz Leopoldinense 300
Portela 299,5
Beija-Flor de Nilópolis 299
Mocidade Independente de Padre Miguel 299
Acadêmicos do Salgueiro 298,5
Estação Primeira de Mangueira 297
Estácio de Sá 296,5
Unidos do Viradouro 294,5
Unidos de Vila Isabel 294
10º Caprichosos de Pilares 289,5
11º União da Ilha do Governador 288,5
12º Unidos da Tijuca 286
13º Tradição 284
14º Unidos da Ponte 284
15º Império Serrano 275
16º Acadêmicos do Grande Rio 268
17º São Clemente 261 (rebaixada)
18º Unidos de Villa Rica 255 (rebaixada)

No Acesso A, subiram o vice-campeão Império da Tijuca, que voltaria à elite depois de nove anos, e a campeã Unidos do Porto da Pedra, que havia sido alçada ao grupo com um convite da Liesga mesmo estando duas divisões abaixo e havia sido a primeira a desfilar no sábado.

Como nos anos anteriores, o resultado foi polêmico, pois o grande desfile do Acesso foi o da Acadêmicos da Rocinha, com o enredo “Sem medo de ser feliz”, sobre os sonhos. O conjunto visual concebido pelo carnavalesco Alexandre Louzada foi o melhor do grupo, e a escola levantou a arquibancada, mas ficou apenas em quarto lugar.

Mas a Porto da Pedra, mesmo sem empolgar, também fez um bom desfile. Elaborado pelo carnavalesco Mauro Quintaes, o enredo “Campo cidade – em busca da felicidade”, mostrava a vida nas grandes cidades, com bonitas fantasias e alegorias. Surpreendeu, sim, a vantagem de quatro pontos para o vice-campeão Império da Tijuca.

A simpática agremiação do Morro da Formiga fez uma apresentação agradável com um enredo desenvolvido por Miguel Falabella sobre a Confeitaria Colombo. Mas, além da Rocinha, outra injustiçada na apuração foi a Arrastão de Cascadura, que ficou a apenas meio ponto do acesso à elite com enredo sobre o frevo.

Infelizmente o destaque negativo do grupo foi a Canários das Laranjeiras, cuja bateria se recusou a desfilar sem fantasia. A marcação do samba foi feita por apenas um integrante da Arrastão de Cascadura com um surdo. A escola foi rebaixada na última colocação, assim como outras oito agremiações.

Três escolas teoricamente subiriam do Grupo B para o Acesso A: a campeã Acadêmicos do Dendê, com um enredo sobre a cachaça, a vice Acadêmicos de Vigário Geral, que homenageou Mestre Marçal, e a terceira colocada Acadêmicos da Abolição. Mas aí a Liesga outra vez promoveu mudanças nos critérios, e as três permaneceram no grupo, pois o Acesso A foi reduzido de 19 para dez escolas.

CURIOSIDADES

– O desfile de 1995 foi o último de Aroldo Melodia, um dos melhores cantores de samba de todos os tempos. Ele ainda gravou participação no CD de 1996 ao lado do filho Ito, mas logo depois sofreu uma isquemia que o deixou numa cadeira de rodas. Aroldo morreu em 2008, duas semanas depois do falecimento de Jamelão.

– O intérprete Rico Medeiros também teve pela Unidos do Viradouro sua última participação como cantor principal de uma escola de samba no Grupo Especial do Rio. Rico morreu em 2020, vítima de coronavírus.

– A divertida novela “Quatro por Quatro”, da TV Globo, ajudou a popularizar o samba da União da Ilha de 1995, já que o casal formado por Raí (Marcello Novaes) e Babalu (Letícia Spiller) morava no bairro da Ilha do Governador, e os dois desfilaram pela simpática agremiação. O ator inclusive tocou tamborim na bateria de Mestre Paulão. Já Letícia, assustada, teve de se esconder na dispersão tamanho era o assédio do público.

– Uma das atrações do Carnaval-95 foi Carlinhos da Cuíca, que desfilou em nada mais nada menos do que 25 agremiações, sendo dez do Grupo Especial. As televisões acompanharam a jornada de Carlinhos, que, apesar de cansado, chegou animadíssimo ao fim dos desfiles.

– Em São Paulo, a Gaviões da Fiel conquistou seu primeiro título, o que motivou outras facções organizadas de torcidas de futebol a tentarem a sorte no Carnaval. Pelo menos no Rio, a ideia não vingou.

– A Unidos da Ponte conquistou seus únicos dois prêmios do Estandarte de Ouro pelo Grupo Especial em 1995, em bateria e passista feminino (Carmem Lúcia). Em 1998 e 2002, a escola de São Mateus levaria mais dois estandartes, como melhor samba-enredo do Acesso.

– A Unidos de Villa Rica realmente não teve como brigar para permanecer na elite, e as notas traduziram isso: dos 50 jurados, apenas quatro deram nota dez à escola, dois em bateria e dois em Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Como o regulamento previa a eliminação da maior nota em cada quesito, a escola teve apenas dois dez válidos e ficou incríveis 45 pontos atrás da campeã Imperatriz.

– O enredo da Arrastão de Cascadura sobre o frevo foi desenvolvido por Max Lopes, que também deu expediente na Vila Isabel. Curiosamente, em 2008 o vitorioso carnavalesco também assinaria um enredo (patrocinado, diga-se) sobre o frevo, na Mangueira.

CANTINHO DO EDITOR – por Pedro Migão

Aquela Quarta-feira de Cinzas de 1995 foi trágica para mim. A Portela perdeu o campeonato por meio ponto, o Arrastão de Cascadura, escola de onde eu morava e fui criado, também perdeu o acesso ao Grupo Especial pela mesma diferença e minha então namorada terminou o relacionamento alegando que “você chora pela Portela e não chora por mim…” Explico: caí em prantos com Paulinho da Viola entoando “Foi um Rio que Passou em Minha Vida” no esquenta da Portela.

A apuração teve uma estranha anulação de uma nota no quesito Harmonia, quando estava na mão do locutor para ser anunciada.  Reza a lenda que o envelope trazia 10 à Portela e 9,5 à Imperatriz, o que daria o título à Águia no desempate. Enfim, jamais saberemos se a nota em questão faria justiça àquele carnaval. Naquele ano Carlinhos Maracanã estava afastado da escola, substituído na Presidência por Luiz Carlos Scafura – que ficaria até 1997.

Mais uma vez o Salgueiro sofreu com um carnaval inacabado do carnavalesco Roberto Szaniecki.

Como escrito na coluna passada, foi criada uma nova entidade para administrar os desfiles do Acesso, a Liesga. A Unidos do Porto da Pedra foi convidada a integrar o grupo embora estivesse duas divisões abaixo, e acabou vencendo o desfile mesmo sendo a primeira a desfilar no sábado – em uma autêntica “entrada pela janela”. O grupo desfilou mais uma vez em dois dias, sexta e sábado.

Na Vizinha Faladeira começava a aparecer o talento do hoje consagrado Paulo Barros.

São Clemente e Villa Rica conviveram boa parte do pré-Carnaval com a incerteza sobre em que grupo iriam desfilar. Acabou ficando acertado que uma abriria domingo e a outra fecharia segunda, com as escolas não rebaixadas ano anterior fechando domingo e abrindo segunda feira. As duas escolas não tiveram seus sambas no LP/CD oficial do Grupo Especial.

O samba e o desfile da Villa Rica hoje são considerados “cult” pelos admiradores do carnaval…

Mesmo com o sétimo lugar, este pode ser considerado o último bom momento da Estácio de Sá entre as principais escolas de samba cariocas. Originalmente a ideia era que a Mangueira homenageasse o centenário do clube, mas a então direção da agremiação não quis.

Os grupos 1 e 2 da Aescrj desfilaram na Rio Branco. A Flor da Mina do Andaraí ganhou o Grupo 1 – quarta divisão – e a União de Vaz Lobo o grupo 2.

Links

O desfile que deu o bicampeonato à Imperatriz em 1995

A inesquecível apresentação da Portela

A bela exibição da Mocidade Independente de Padre Miguel

A homenagem do Estácio de Sá ao Flamengo

Fotos: O Globo, Extra e reprodução de Internet

31 Replies to “1995: Mais vale um jegue que me carregue do que um 9,5 que me derrube lá na Sapucaí…”

  1. na verdade a villa rica levou outro dez em comissão de frente.foi um ano doído pros portelenses que até hoje estão putos com aquele vice-campeonato.

    o samba da villa rica como disse ontem é trash mais divertido,e o desfile pelo que vi foi as moscas.

    essa apuração também foi bem esquisita,desde anular nota de julgador a outros fatores.

    não sei não,mas eu gosto desse samba do salgueiro,e um dos poucos pós-ita que deu certo na sapucaí nos últimos anos.

    ano ruim pro império,que tirando 1996 e 2006,foi bem apagado na elite,e também 2002 e 2004.

  2. Fred Sabino e mais um criativo título de texto

    Portela fez um desfile maravilhoso! A águia não poderia perder este título! Mas perdeu, infelizmente perdeu! Se tivesse vencido em 95, talvez não ficaria nesse jejum de 32 anos, mas como o “Se” não vence carnaval…

    Confesso que gosto muito da comissão de frente da Imperatriz, achei bem criativa.

    Bidu Saião deu um grande samba para a Beija-Flor, mas achei desnecessária a subida de tom no desfile – aliás, era bem comum isso na escola nos anos 90.

    Foi o único ano em que tivemos uma mulher lendo as notas na apuração, se não me falha a memória era a Salete Lisboa.

    Este samba da Viradouro consideram o pior da história da escola, eu acho o menos atraente. Tem passagens interessantes, como “Índios, brancos e negros/Em harmonia racial/Realçando a natureza/Neste país tropical” no entanto a citação ao tetra da seleção foi bem estranha. Falando no seu intérprete, depois de sair da Viradouro, Rico Medeiros defendeu escolas do carnaval de Niterói, como Souza Soares, Magnólia Brasil, entre outras.

    O presidente da Viradouro na época, Ito Machado, andou aprontando algumas pajelanças nos resultados do carnaval de Niterói quando presidiu a entidade que comanda a folia da cidade, por volta da segunda metade dos anos 2000.

    Teve um período que eu escutava o samba da Villa Rica com certa frequência

    Sobre o Salgueiro, começava aí o fracasso do Efeito Ita

    Achei o desfile da Estácio um pouco aquém do que o Flamengo pedia, pelo menos os rubro-negros se orgulham da vermelho e branco não ter sido rebaixada com o enredo sobre o clube, diferente da Unidos da Tijuca alguns anos depois…

    Pelo segundo ano seguido a Serrinha cadenciava em excesso o samba na avenida.

    Falando no Império, foi a última vez que Roger da Fazenda foi intérprete numa escola, ele tomou um chá de sumiço e reapareceu num samba concorrente da Portela para 2014.

    Foi o último ano de Vaguinho como intérprete no Rio, como disse num texto anterior, ele só vingaria em São Paulo, passando por Mocidade Alegre, Leandro, Mancha Verde, etc.

    Em época de piadas modernas, diríamos que a Porto da Pedra é o Fluminense do carnaval.

    Que venha 96!

    1. Tal qual o Migão disse sobre 2001, a Imperatriz não perderia nem se viesse cantando “atirei o pau no gato” e com espanadores atochados naquele lugar.

      A vingança dos deuses do Carnaval viria com justiça e requintes de crueldade em 1996.

  3. Bom dia!

    Prezado Fred Sabino:

    Falar do carnaval de 1995 é muito especial para mim, pois, aos 12 anos, eu iria ao sambódromo pela primeira vez para assistir às grandes Escolas (Um ano antes eu pisava pela primeira vez para desfilar no Acesso pela Lins Imperial, o que repetiria até 2010…).

    Como curiosidades, é sempre válido lembrar:

    – O refrão do samba da Imperatriz é uma provocação ao Salgueiro do ano anterior. “Balançou. Não deu certo não, pois não passou de ilusão”, é uma referência ao “Balança! Oi, balança! Chegou a hora do Salgueiro sacudir”…que não empolgou como Ita (…e isso acontece até hoje com raras exceções…).

    – No carro que quebrou (E ficou “guardado” no primeiro recuo da bateria), vinha Jorge Lafond, que, assim como outros destaques e composições, acabou desfilando no chão.

    – Renato Lage utilizou-se de tripés para situar o enredo da Mocidade tal qual as ampulhetas de 1990. Didático e sempre funciona!

    – Oswaldo Jardim na Tijuca plantou uma nova semente de cores (A primeira foi Maria Augusta em 1978 na Ilha) que rende até hoje. Em entrevista à Revista “Domingo” do JB, ele disse que as Escolas pareciam todas saídas do mesmo barracão. Apesar dos problemas, as cores fortes da Tijuca chamaram muito atenção à época (Hoje elas são hiper comuns).

    – O merchan estava liberado nas Escolas (Com algumas restrições!), e a Império da Tijuca (Vice-Campeã) tinha em seu segundo carro, “As delícias da Colombo”, um enorme Guaraná da Antártica inflável.

    – No acesso teve outro enredo (E Samba!) cult: a homenagem à Sandra de Sá pela também cult Escola Independentes de Cordovil, o “Dragão da Leopoldina”.

    Bela coluna!
    Que venha 1996!

    1. Andre,

      Títulos extensos de enredos já viraram até piadas (o ex-gordinho Hassum já usou em stand-up). quando veio o salgueiro com o “extenso” título em 2009, assustou: TAMBOR

          1. O da Tijuca de 2014 é mais odiado pelos piquetzistas!! É bem mais simpático que a porcaria que o Salgueiro trouxe em 2009 em detrimento de “Menina, quem foi teu mestre…”!!

            Isso dói até hoje!!

  4. Esse enredo da Imperatriz é uma aula de história. Aliás Rosa Magalhães quando da Imperatriz sempre nos brindou com essas joias de sabedoria. Os desfiles sempre me estimularam a pesquisar mais sobre o tema.

    E esse histórico título é uma adaptação da frase “Mais vale um asno que me carregue, que um cavalo que me derrube”, uma famosa fala de um dos personagens da peça “A farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, teatrólogo português do seculo XV.

    O samba da Portela é um dos melhores de todos os tempos, se fosse só por samba, era vitória na certa. Mas ganhar como a Imperatriz ganhou, mesmo sem uma das alegorias, não foi a tôa. Merecido!

  5. Bom, todo mundo já falou da Imperatriz e suas, digamos, esquisitices na apuração. Era pra dar Portela e fim de papo.

    Mas 1995 marca o ano do desfile com o sambódromo mais vazio da história: Villa Rica – e era de Copacabana, vai vendo. Era tosco demais; tinha desfilante de chinelo, tênis, bêbado…

    Mas duvido que ninguém se pegue cantando “Na teia da aranha eu tô…”. Como eu disse na coluna de 1993, é muito melhor um samba desses do que as porcarias desprovidas de qualquer sentimento que infestaram os anos 2000.

    Aliás, quem era o intérprete da Villa Rica??

    1. Esse refrão da Villa Rica é um chiclete indesejável que insiste em aparecer na minha cabeça do nada!

    2. Ponte 96 o Sambódromo estava às moscas também. Assisti ao desfile deitado nas arquibancadas rs

        1. Boa Carlos! Na verdade eu complementei…

          “Na teia da aranha eu tô
          Na lã que te dá calor”…putz não sai da cabeça!

  6. Boa noite!

    Prezado Fred Sabino:

    Dois adendos, a meu ver, de extrema importância sobre 1995 os quais me esqueci de mencionar no comentário anterior.

    – Depois de uma “inauguração” dos enredos patrocinados em 1985 pelo Império Serrano (Com o “Samba, suor e cerveja”), a Imperatriz começa a segunda e, digamos…definitiva (?) fase deste costume: uma história muito bem contada para “disfarçar” a verba extra injetada no desfile. O patrocinador era o governo do Ceará, que compareceu ao desfile, e distribuiu panfletos turísticos do tipo “Conheça o Ceará”, bem como chapéus de palha para o público no sambódromo.

    – Paulo Barros estava na Vizinha Faladeira, como citado pelo Migão no “Cantinho do Editor”. O enredo era “O relicário do samba”, que buscava a verdadeira essência das Escolas de Samba, desde a Praça XI até a era sambódromo. O terceiro carro era das imagens mais poéticas e lindas que já testemunhei nestes 20 anos de Avenida ao vivo: uma representação da Pietá, de Michelangelo, tendo um malandro no lugar do Cristo e uma baiana no lugar da Virgem Maria. Emocionante!
    …dá vontade de mostrar isso aos incansáveis críticos do cara hoje que insistem em questionar sua “formação carnavalesca”…

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

  7. Título injusto da Imperatriz, mesmo adorando o desfile e o samba, não tinha como vencer a Portela, a Majestade do Samba veio quase perfeita, com um sambaço do Noca, e o que era o Rixa cantando esse samba? Monstro!

    Lembro que achei o desfile da Mocidade lindo, mas sem tanta vibração, que não faltou na Beija-Flor, que pra mim poderia até ser a vice-campeã!

    Desfiles limitados, mas animados de Salgueiro e Mangueira, colocação das duas ficou de bom tamanho, assim como a Estácio, cujo resultado apenas razoável (antes do Carnaval se falava em título) foi o início da queda da escola e de um ano complicado para os rubro-negros (apesar que não posso falar muita coisa dese ano também, futebolisticamente falando…)

    E concordo plenamente com o comentário do Fellipe Barroso sobre o Paulo Barros, infelizmente não vi essa alegoria, mas é uma ótima resposta aos seus críticos, assim como o abre-alas da Tuiuti em 2003, mas sobre ele melhor falar mais no texto de 2004…

  8. Esse campeonato era da Portela. E só. Com dezoito escolas, um exagero, viu-se claramente dois grupos desfilando num só. A distância das primeiras para as últimas colocadas foi abissal. Assisti aos dois dias da arquibancada popular. Domingo no antigo setor 6, segunda no 13. Resisti bravamente ao fim da Villa Rica. Afinal, esperamos um ano inteiro para viver esses momentos. Mas foi duro, vos confesso.

  9. Essa Águia de 95 pra mim só perde pra “Redentora” de 2015. Com a de 83 pra mim são as 3 mais bonitas da história. Sou Mocidade e vale lembrar que a Rede Manchete na época com um grande time de comentaristas deu o prêmio de melhor escola a Mocidade que também veio lindíssima.

  10. 1995….. A Gaviões fez história no carnaval de SP com uma letra imortal cantada nos carnavais das cidades paulistas até hoje.
    No RJ, jamais me esquecerei do samba da Imperatriz! Canto ele de cabo a rabo.
    Depois de um desfile meio estranho em 94 a Mocidade voltou a fazer um desfile grandioso.
    A Portela é um fenômeno a ser estudado porque bate na trave de maneiras incríveis!
    E a inesquecível Villa Rica fez o desfile mais depressivo que eu já vi! Foi tão tosco que entrou para a história e merece ser revisto para dar boas risadas…. kkk

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