Após a divulgação do CD oficial, trago hoje a minha avaliação sobre os sambas que compõe este grupo. Para isso, replico o artigo escrito originalmente para o Sambario. Ressalto que esta opinião é definitiva e que nenhum momento está se baseando nos critérios do Manual de Julgador. As notas serão entre 9 e 10. Abaixo a avaliação sobre as obras que desfilarão no Anhembi na Sexta-Feira.

Pérola Negra

Enredo: “Do Canindé ao samba no pé. A Vila Madalena nos passos do balé”.

Compositores: Jairo Roizen, Celsinho Mody, Guga Mercadante, Nando do Cavaco, Marcelo Zola, Sidney Arruda, Filosofia Diley e Xandinho Nocera.

Intérprete: Juninho Branco.

Convidando-te pra dançar, a Vila Madalena, ou melhor, a Pérola Negra está de volta ao Grupo Especial. A Jóia Rara do Samba traz uma obra diferente do que estávamos acostumados a ver naqueles lados. O samba é bastante animado e a letra é fácil, daquelas que você aprende com poucas audições. Isso talvez seja explicado pelo fato da escola ser taxada como fria por parte do público e na busca por uma melhor comunicação, a agremiação aposta num samba mais “fácil”. Por ser mais fácil de decorar, a melodia também não é tão bem trabalhada, assim como as rimas, sendo mais populares e de menor beleza. No geral, a composição da escola deve servir bem ao desfile, mas não é uma obra que me agrade muito. Juninho Branco, estreante na escola faz ótima gravação.

Nota: 9.7

Unidos da Vila Maria

Enredo: “A Vila mais famosa é a mais bela, Ilha Bela da fantasia”.

Compositores: Dudu Nobre, Rafa do Cavaco, Turko, Maradona, Paulinho Miranda, Diego Nicolau, Garoto Bom e Nenê da Vila.

Intérprete: Clóvis Pê.

A Vila mais famosa cantará Ilha Bela no Carnaval de 2016. Buscando se recuperar após uma série de desfiles mais modestos, a Vila Maria conta com um bonito samba na busca do ressurgimento. A composição da escola assinada entre outros por Dudu Nobre e Diego Nicolau é muito bem construída em termos de letra e melodia. A letra segue a linha de enredos CEP, mas, ao contrário do Vai-Vai (que veremos amanhã), tem uma ou outra licença poética mais ousada, fazendo que aconteçam belas relações entre a escola e a cidade. A melodia é bastante correta e tem momentos de brilho como na passagem: “E o índio bateu tambor… ôôô” e no refrão de meio. É outra bela obra na safra que contém bons momentos. No entanto, sinto falta de mais inspiração da melodia na primeira parte. Dudu Nobre faz um lindo alusivo e Clóvis Pê conduz o samba corretamente.

Nota: 9.8

Águia de Ouro

Enredo: “Ave Maria cheia de faces”.

Compositores: Douglinhas, Juca, Izanzinho, Cuca e Pelezinho.

Intérprete: Douglinhas Aguiar.

Apostando mais uma vez na encomenda de seu samba, o Águia de Ouro canta a história da Virgem Maria no Carnaval 2016. A obra até por ser encomendada, foge um pouco da linha padrão. O refrão principal é bem mais longo que o normal e a segunda parte é cantada com uma espécie de contracanto. Por conta desta ousadia, a composição sofre de alguns probleminhas de métrica o que tira um pouco do brilho da obra. A melodia também é bem construída e é muito forte no refrão principal, fazendo com que todos se contagiem. Douglinhas Aguiar, recém-saído da aposentadoria, mostra toda a sua categoria e faz ótima gravação.

Nota: 9.9

Rosas de Ouro

Enredo: “Arte à Flor da Pele. A Minha História Vai Marcar Você”.

Compositores: Vagner Mariano, Fabiano Sorriso, Marcus Boldrini, Márcio André Filho, Rapha SP, Wellington da Padaria, Guiga Oliveira e Bolt Mascarenhas.

Intérprete: Darlan Alves.

Pra deixar de bater na trave, a Roseira trocou de carnavalesco e apostou na história da tatuagem para o próximo Carnaval. André Cezari em sua estréia na escola apostou numa sinopse de fácil entendimento que resultou em sambas que seguem a linha de descrição completa do tema. O samba da escola é dessa forma. A letra conta perfeitamente o enredo da escola e possui lindos momentos como nos refrães e nos últimos versos da segunda parte. No entanto, faço a ressalva que a primeira parte é um tanto abaixo que a segunda e os refrães em termos de beleza. A melodia é num tom menor e mais cadenciado valorizando as passagens mais belas da composição. Darlan Alves tem grande gravação, mostrando mais uma vez viver uma grande fase na carreira.

Nota: 9.9

Nenê de Vila Matilde

Enredo: “Nenê apresenta o musical: Rainha Raia nas Asas do Carnaval”.

Compositores: KasKa, Silas Augusto, Zé Paulo Sierra, Vitão, Sandrinho, Juninho Da Vila e Claudio Mattos.

Intérprete: Agnaldo Amaral.

Após um carnaval de resgate, a Águia guerreira da Zona Leste aposta nos 30 anos de Cláudia Raia como tema para o seu próximo desfile. O carnavalesco Roberto Szaniecki de volta ao Carnaval de São Paulo apostou numa abordagem fácil do enredo que lembra bastante a feita pela Mocidade Alegre em 2015 para a homenagem a Marília Pêra. A composição segue a linha da escola do Limão em 2015, bastante descritivo ao enredo e com lembranças de papéis importantes desempenhados pela atriz. A melodia segue a linha do enredo sendo correta, sem nem brilhar ou deixar a desejar. É um samba apenas correto que deve servir ao desfile da azul e branco, mas isso não me faz morrer de amores pela obra. O desempenho de Agnaldo Amaral na faixa é bom, apesar da excessiva cadência em algumas passagens.

Nota: 9.7

Gaviões da Fiel

Enredo: É fantástico! Imagine, admire e sinta”.

Compositores: Luciano Costa, Bruno Muleki, Alex, Nascimento, Fadico, Josemar Manfredini, Xico e Júnior.

Intérprete: Ernesto Teixeira

A Torcida que Samba vêm cantar o que é fantástico no Carnaval 2016. Buscando repetir o efeito arrebatador de sua entrada no Anhembi em 2015, a composição para 2016 segue a linha da obra de 2015. Ele é descritivo ao enredo e conta com um refrão principal simplesmente explosivo. A letra conta bem o que se propõe o enredo e a melodia também não faz feio, sendo bastante correta e facilitando o canto do componente. No geral, é mais uma obra correta na safra que não brilha e nem faz feio. A gravação deu um algo a mais ao samba que ganhou muito com a interpretação de exímia categoria do veterano Ernesto Teixeira, que como sempre brilha não só cantando como em seus “salves”.

Nota: 9.7

Acadêmicos do Tatuapé

Enredo: É ela, a Deusa da Passarela – Olha a Beija-flor aí gente!”.

Compositores: Samir Trindade, Jr. Beija-Flor, Marcelo Valencia, Thiago Alves, Leandro Augusto, Wagner Rodrigues, Vaguinho, Raphael Neto, Chefia, Marcelo Alemão e Chico Sousa.

Intérprete: Celsinho Mody (Participações Especiais: Neguinho da Beija-Flor e Lêci Brandão).

Após o quase rebaixamento em 2015, a escola da Zona Leste de São Paulo resolveu homenagear a Beija-Flor de Nilópolis no próximo Carnaval no ano em que o primeiro título da escola no Grupo Especial Carioca completa 40 anos. Fruto de uma junção, o samba da escola é como diz Neguinho: “Uma pedrada”. Valente toda vida, a composição tem uma letra guerreira que conta muito bem o enredo apesar de alguns “esquecimentos” históricos de desfiles da Deusa da Passarela. A melodia é muito bem construída apesar da junção, tendo seu ponto alto no refrão de meio. O único senão da obra é justamente o outro refrão, o principal. Com todo respeito do mundo, a Tatuapé não precisa dizer que se inspira na Beija-Flor para exaltar a escola nilopolitana. A gravação do samba conta com Lêci Brandão, Neguinho da Beija-Flor e o ótimo Celsinho Mody, os três nos momentos que participam cantam com a categoria de sempre fazendo belo momento no CD.

Nota: 9.9

Qualquer discordância sobre a análise pode ser feita nos comentários, estarei respondendo a todos.

É isso

Um abraço!

6 Replies to “Os sambas de enredo do Grupo Especial de São Paulo – Sexta-Feira”

  1. Eh a mesma visão que tenho dos sambas… Mesmo assim Minhas notas siram um pouco diferentes…
    9.7 Pérola Negra
    9.8 Vila Maria
    9.8 Águia de Ouro
    10 Rosas de Ouro
    9.7 Nenê de Vila Matilde
    9.7 Gaviões da Fiel
    9.9 Acadêmicos do tatuapé

  2. Samba elogiados mas canetados?

    Pérola Negra 9.7
    Vila Maria 10
    Águia de Ouro 10
    Rosas de Ouro 9.9
    Nenê de Vila Matilde 9.7
    Gaviões da Fiel 9.8
    Tatuapé 10

    1. Anderson, é difícil ganhar minha nota 10, sempre tem uma ou outra ressalva e ainda tem a comparação.

      Tento sempre justificar o senão ou as falhas do samba que me impedem de dar nota Dez e ao mesmo tempo, busco valorizar as qualidades que vejo nas obras.

      De qualquer forma, agradeço o comentário e a leitura.
      Abraços!

  3. Afim de absorver melhor os sambas desse ano de SP, resolvi colocar no meu celular os 14 sambas. E que boa ideia viu? Isso acabou me fazendo repensar sobre alguns pontos. E vamos aos sambas:

    Pérola -> 9.7 (A obra está abaixo dos já apresentadas pela escola nos outros anos -qualidade sempre boa desde 2007 diga-se de passagem-. Sendo mais fácil provavelmente facilitará o canto dos componentes/arquibancada. Juninho Branco se sai bem, mas o berro na parte “na vila MADALENAAAAAAAAAAAAAAAA” ainda me incomoda um pouco. Se nada falhar, a escola pode evitar dançar na apuração. Melhor sequência: primeira parte)

    Vila Maria -> 9.8 (A Vila-Paulistana-Mais-Famosa vem com um samba que ainda torço o nariz mesmo de escutá-lo umas 5 vezes, porém tem seus méritos. A letra é mais encorpada do que as do histórico recente da escola, mas a melodia é um tanto quanto genérica. Clóvis Pê brilha na faixa, mas parece mais contido do que nos outros anos. Melhor sequência: de “Vai e vem da maré” até o refrão principal.)

    Águia de Ouro -> 9.9 (Bendito samba-procissão que a Águia vai apresentar ano que vem. A obra encomendada foi feita sob medida para a volta do Douglinhas da aposentadoria – e que diga-se de passagem dá um show na faixa-. A letra mais curta deve favorecer a melodia mais trabalhada, que transita facilmente de um tom mais alto para o mais baixo durante a primeira parte. Melhor parte: tudo, menos o refrão do meio, que acho que podia ser um pouco menor, mas não tira o brilho da obra como um todo)

    Rosas -> 9.9 (Gosto de dizer que a Rosas é a “rebelde comportada” quando se trata de samba. A letra pode ser de qualquer tipo, mas melodia é 99% das vezes dolente, o que é acentuada na voz do Darlan, fazendo com que o samba fique mais “bonito” de se escutar, mas mata qualquer parte mais explosiva. Melhor parte: paradoxamente é a da “E a Nação Azul e Rosa”, que conquista justamente por conta da dolência)

    Nenê -> 9.7 (Depois do sambão sobre Moçambique, a Nenê tem agora uma obra que não é nem tão ruim nem tão boa. A letra explica bem a sinopse e melodia não tem muitas variações durante a faixa. Agnaldo tenta dar algo a mais no samba mas o seu esforço não foi muito bem recompensado. Melhor parte: a da “Cláudia…guerreira…”, bem como o refrão principal)

    Gaviões -> 9.8 (Animada e correta. Este é o samba da Gaviões, que na voz do Ernesto ganha mais força e que pode fazer a escola alcançar novos voos depois de vários anos sendo a 2ª de sexta. Melhor parte: “Viajei e fui além do infinito/Mergulhei, na arte de um sonho colorido” e o refrão principal que me mexe os brios por conta do “alvinegro é mais feliz”)

    Tatuapé -> 9.9 (mesmo sendo suspeito de comentar, o samba da Tatuapé é uma felicidade ímpar para mim: quando liberaram a sinopse -minúscula- eu já imaginava uma obra completamente engessada. Ledo engano. A “pedrada” assinada pelo Samir está a altura da homenageada e deve fazer o componente cantar a plenos pulmões já na manhã de sábado. Para não falarem que só falo das flores, acho que os refrões poderiam ser mais fortes. Melhores partes: a primeira parte (destaque para “Um festival de prata em plena pista” e do “Sonhou com rei e conquistou” até o final da parte), além dos versos “Valeu João, foi um sonho de um beija flor/João valeu, na avenida brilha um sonho seu”. Curiosidade: durante a segunda passada, Neguinho canta “vestindo” ao invés de “vestiu” no refrão do meio)

    1. Sua decisão de colocar os sambas no celular está aprovadíssima pelo colunista hahahaha.

      Vamos lá. Praticamente batemos todas as notas iguais. Só a Gaviões destoa em um décimo e quero dizer que o samba da Pérola Negra mesmo sendo abaixo, funcionará melhor na avenida. Ele é contagiante hahahaha.

      Obrigado pela leitura e comentário.
      Abraços!

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