Se você não reconhece o termo “fanboy”, imagine a cena a seguir. Uma importante marca anuncia seu novo produto do ano, lançado todo mês de novembro, mas anunciado para seu público desde setembro. Às vésperas do lançamento, começa a ser formada uma fila na porta de cada um dos pontos de venda. Pessoas ignoram as temperaturas negativas que atingem a cidade, levam casacos, compartilham chocolate quente para poder ser um dos poucos felizardos que poderão colocar as mãos naquele objeto de desejo.

Nesse momento, a associação é clara com o iPhone ou qualquer produto da Apple, mas não foi neles que pensei. A Bourbon County, uma cerveja produzida pela cervejaria Goose Island, de Chicaco, tem um efeito bem parecido com seus apreciadores. Detalhes que, por ser vendida no dia seguinte ao Dia de Ação de Graças, as filas formadas são ainda mais significativas, pois é quando ocorre a Black Friday, uma das mais importantes datas comerciais americanas.

20140620_214928O poder de mobilização das marcas é mais que reconhecido pela cerveja artesanal e até bem usado. Vejamos a campanha #artesanalesimples, lançada pela Abracerva, a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal. Milhares de pessoas afetadas pela campanha se mobilizaram, compartilharam e escreveram para seus deputados pedindo a inclusão das cervejarias artesanais no projeto de lei que visa o benefício fiscal.

O efeito foi tão devastador, que o governo precisou intervir para atrasar a votação e assim manter a arrecadação em um orçamento que já se encontra deficitário. Não fosse a participação dos consumidores (e eleitores), talvez algumas bancadas avessas ao consumo de bebidas alcoólicas conseguissem barrar o projeto – ainda assim aprovado em primeira votação pela Câmara de Deputados.

Com todo poder vem grande responsabilidade – dizia o Tio Ben. Infelizmente, esse poder algumas vezes não é bem usado pelos representantes dessa indústria, levando a diversos problemas.

Seja por crença pessoa ou mesmo por má fé, alguns cervejeiros mantêm uma cruzada pessoal, colocando macros e micros em polos opostos do mercado; ou ainda governo e cervejarias.

Essa influência sobre os consumidores acaba tornando toda discussão sobre cerveja uma discussão tão acalorada quando a política. Levantam-se bandeiras contra grandes cervejarias, acusando-as de práticas ilícitas, mas nenhuma denúncia é feita nos órgãos competentes. Acusações são feitas contra o governo, mas nenhuma métrica de impacto na arrecadação ou geração de empregos é apresentada para discussão.

Seriam os microcervejeiros Don Quixotes lutando contra grandes moinhos de vento?

cerveja+StoutOs problemas se propagam aos grupos formados por consumidores. Se você está em qualquer grupo do Facebook já deve ter visto uma discussão similar acontecendo. Alguém pede a opinião sobre um determinado rótulo e recebe uma enxurrada de comentários negativos em função de procedência da cerveja, não sobre suas características.

Enquanto estivermos tratando de negócios como uma partida de futebol, onde seu adversário deve perder não importam as condições, dificilmente chegaremos a algum ponto onde o consenso seja satisfatório para todos os lados. Toda disputa será tratada como um cabo de guerra entre as microcervejarias e quem quer que esteja do outro lado. Talvez seja eu mesmo.

Com os fanboys a sua disposição, muito poderosas as microcervejarias se tornaram; mas o lado negro eu posso sentir nelas.

2 Replies to “O Poder dos Fanboys na Cerveja Artesanal”

  1. Discordo em vários pontos sobre seu texto, entretanto, um ponto me chamou mais a atenção. “Levantam-se bandeiras contra grandes cervejarias, acusando-as de práticas ilícitas, mas nenhuma denúncia é feita nos órgãos competentes.”. A Ambev é reconhecidamente uma empresa que pratica dumping, há vários processos arrolados na justiça todos tratando de práticas ilegais da empresa. Um pouco de pesquisa teria feito muito bem ao seu texto.

    1. Leonardo, se você analisar as denúncias de práticas contra a livre concorrência contra qualquer grande cervejaria, verá que esses atos vêm de outras grandes cervejarias. As microcervejarias e órgãos representativos não têm por prática se defender judicialmente dessas práticas.
      A propósito… O último processo contra a Ambev no CADE data de 2012. Tem algum mais recente, talvez da justiça comum, para enriquecer o debate?

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