É muito divertido estar fora do ar durante a cobertura de um grande evento. Ao contrário do colega de Ouro de Tolo, e de TV Globo, Carlos Gil, meu trabalho é atrás das câmeras. Bem, na verdade nunca gostei deste termo porque fico bem longe da câmera mais próxima, que está lá dentro do estúdio – mas vocês entenderam.

É muito difícil explicar o que acontece dentro de um canal detentor de direitos e principalmente, como citado na coluna do Gil, muitas vezes dependentes de terceiros. Aqueles por exemplo que não curtem Handebol. O que fazer se sua seleção nacional é campeã mundial e a responsável pela geração local não tiver transmissão? Faz com uma câmera só, mas faz. E faz até com replay.

Em um dos poucos momentos que assisti a um evento do Pan em casa, tive a sorte de ser a noite da homenagem que o nadador brasileiro, Thiago Pereira, recebeu da ODEPA e que somente o SporTV mostrouSerginho ao vivo. Sabe o que acho mais legal em coordenar esses caras? Imaginem quão bacana é, ter a oportunidade de parabenizar o Edgar Alencar pela sensibilidade com a qual interrompeu a entrevista com as nadadoras brasileiras e pelo entrosamento com o cinegrafista que imediatamente foi buscar o pódio que, por pouco, o mundo não viu. E elogiar Sérgio Maurício no Twitter devido a mais uma narração fantástica de uma medalha brasileira no Judô, e, já de madrugada, perceber que ele está sempre ligado também no que você escreve?

Sim, a famosa “voz da consciência” do repórter ou narrador, são os coordenadores. Seja ele de eventos ou operações dependendo se estamos em um telejornal, programa ou evento.

Reparem nas fotos dos repórteres e produtores naquela famosa rede social. Os caras estão sentados no chão da arena de judô, suando horrores no centro aquático, debaixo de sol na universidade que sediou o atletismo e ainda assim fazendo piada, sorrindo e curtindo. Mesmo com os tais coordenadores no ouvido.

É dia de jogo do Grêmio para todo Brasil. Tem vôlei, atletismo, judô e a final do basquete, com o Brasil disputando o ouro. Sim pessoal, já sabemos que três canais é pouco. Faltam 20.8 segundos para o fim do basquete, a confirmação da medalha de ouro do Brasil e o relógio da redação marca 18:29. Lembrando a quem não se ligou ainda para o tamanho da pressão: a bola rolaria as 18:30.

Liga Mundial de Vôlei, Grand Prix, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro são alguns dos eventos que não pararam durante os jogos Pan-Americanos. A cada reunião, a dúvida do que transmitir, do que o telespectador mais vai se interessar, o que daria mais audiência…

No último dia, o clima é diferente. Até o cansaço é diferente. Ele é mais doloroso como se o seu corpo soubesse que já já iria poder descansar porque está acabando. Sabe quando você está apertado para fazer xixi maSaltoss o pior momento é no elevador? Pois então, é isso. Mas é também o mais suportável. É quase uma saudade, uma carência, como terminar de ler um livro que tanto gostou. Esse clima é no controle de transmissão, é na cabine do estádio, é no IBC, na redação do canal…

E a reação das redes sociais quando foi anunciado, já ao fim da cerimônia de encerramento, pelo Luiz Carlos Júnior, os 16 canais que irão transmitir os Jogos Olímpicos do Rio, ano que vem? Impagável! Justifica porque que o brasileiro fez o terceiro canal bater recorde de audiência com saltos ornamentais.

Curioso é que estamos aparentemente no limite físico, a barba não foi feita naquela semana, chegou em casa não dormiu à noite agitado pelo último dia de evento, mas se houvesse mais 5 dias de Pan você estaria lá na redação, firme e forte, horas depois.

É essa adrenalina que faz o profissional dessa área viciar. É algo muito difícil de explicar, mas vou tentar assim: Quantas profissões existem que o resultado de seu trabalho pode ser visto por centenas de milhares de pessoas, em tempo real?

Aquele abraço!