Eu já fui daqueles caras, como muitos de vocês, que levam o futebol na paixão a flor da pele. Que se alimentam, inspiram e expiram futebol, mas de uns anos para cá eu simplesmente vi que não havia motivo para ser assim, que o mundo não gira em torno do futebol e que haviam outros esportes para se importar e, opinião particular, até melhores.

Neste último final de semana mesmo fiquei sabendo que bandidos – pois pessoas como estas não podem ser chamados de “torcedores” – que estavam indo em direção ao Maracanã para um jogo de futebol atacaram pessoas com camisas do Clube de Regatas Flamengo que estavam saindo do Maracanãzinho, onde houvera a final do Campeonato Mundial de Vôlei. Além de inadmissível, é repugnante. Futebol, como qualquer outro esporte, é um entretenimento e não deve passar disso. Quando chega o ponto em que pessoas brigam, ferem e até matam outras pessoas simplesmente por divergência de escolha por um entretenimento, temos um problema.

Minha missão aqui no Ouro de Tolo é fazer com que vocês abram a mente e vejam que há mais além do futebol. Não o desmerecendo, certamente tem os seus pontos fortes, mas como cidadãos civilizados que devemos ser, sabemos que o acontecimento descrito acima é, por falta de melhor denominação, errado. O beisebol foi um dos esportes que me abriu um pouco a mente e me cativou desde o primeiro jogo que assisti.

mariano-timeline-photo-superJumboVocê pode pensar que é apenas “esporte de americano”. Ledo engano. O beisebol é o esporte mais popular dos países da América Central e Ásia. Pode até pensar que é “entediante”, mas aposto que se der uma chance e entender os princípios básicos certamente você gostará. Só é entediante para aqueles que não dão uma oportunidade para conhecer a fundo.

O beisebol é um jogo de conquista de bases. A defesa tenta impedir que você ocupe base e o ataque tenta acumular o máximo de bases possíveis. Há a primeira base, a segunda base, a terceira base e o ‘home plate’. O objetivo final do ataque é empurrar um corredor – que previamente ocupara qualquer uma das três bases – ao home plate e consequentemente completar um ponto – ou “corrida”, como os amigos americanos chamam.

Entendo que o beisebol não é um esporte comum no nosso país. A colônia japonesa o trouxe para São Paulo com a imigração no século passado, mas além disso não é comum por aqui e exatamente por isso nesse primeiro texto – de dois – farei um tutorial o mais simples possível para introduzi-los ao jogo. E, claro, sintam-se livres para perguntar nos comentários. Faço questão de tirar toda e qualquer dúvida que tiverem.

O jogo é composto de nove turnos de ataque para cada time. O time visitante sempre ataca primeiro no que é chamado “parte alta” da entrada e na “parte baixa” da entrada é a vez do time da casa atacar. Uma entrada é composta de um turno ofensivo de cada time, ou seja, uma parte alta e uma parte baixa. Cada metade de entrada só acaba quando a defesa consegue eliminar três rebatedores do time que estiver atacando. O jogo só acaba quando há um vencedor – na liga japonesa, entretanto, há a possibilidade de acabar em empate quando o jogo dura 12 turnos, mas usarei as regras da Major League Baseball neste texto.

Ilustração da zona de strike. As eliminações se dão por diversas maneiras. Podem acontecer quando o arremessador consegue três strikes – quando a bola atravessa uma zona de strike imaginária que é da largura do home plate, a base na altura dos joelhos e o topo na altura do ponto médio entre os ombros e a cintura do rebatedor -, chamado de strikeout.

Quando o rebatedor faz contato com uma bola que vai para o alto e algum jogador da defesa faz a recepção antes que a bola toque o chão. Quando a bola toca o chão, mas um defensor que tenha o controle da bola faça o tag – encoste-a no jogador que não estiver fazendo contato com uma base. E também quando a bola encosta no chão e um defensor a arremessa para a primeira base fazendo com que ela chegue antes que o rebatedor.

Os modos de ocupar base são os seguintes: por rebatida, quando a defesa não consegue fazer nenhuma das coisas citadas acima, ou por walk, quando o arremessador erra a zona de strike por quatro vezes contra um mesmo rebatedor. As rebatidas podem ser simples, duplas, triplas ou home runs.

As simples ocorrem quando o jogador só é capaz de chegar à primeira base. A dupla ocorre quando o jogador chega na segunda base e a tripla quando ele chega à terceira base. O home run ocorre, geralmente, quando o rebatedor consegue contato forte o suficiente para fazer com que a bola atravesse os limites do campo, rendendo-lhe quatro bases. O home run também pode acontecer quando a bola não deixa os limites do campo, por algum motivo a defesa não consegue evitar que o rebatedor percorra as quatro bases – o “inside-the-park home run”.

Também se pode conseguir chegar a uma base através de erro da defesa. O erro pode ser em uma recepção ou em arremesso, permitindo que o corredor chegue a salvo em base. Vez em quando, quando o arremesso errôneo da defesa deixa as dimensões do campo ou um torcedor toca a bola, os homens em base avançam duas bases em relação a que estavam anteriormente ao arremesso.

A principal parte da defesa é o arremessador. Este sendo o titular ou os reservas – jogadores do denominado ‘bullpen’ – têm a bola na mão em toda jogada, consequentemente são os mais importantes. O arremessador arremessa da bola para um receptor – o catcher. Os outros jogadores ficam posicionados espalhados no campo. Um fica mais próximo da primeira base, sendo chamado de jogador de primeira base. Um fica mais próximo da terceira base, sendo o jogador de terceira base. Entre estes dois, ficam o segunda-base e o shortstop – ou interbases – dividem o espaço restante pelo meio. Os jogadores do campo externo são denominados pelo lugar em que ficam: o campo direito, central e esquerdo.

O ataque é composto pelos jogadores da defesa, mas pode haver um jogador especialmente escolhido para rebater no lugar do arremessador. A MLB, por exemplo, possui duas ligas: a Liga Nacional e a Liga Americana. Na Liga Nacional os arremessadores também têm que saber manusear o bastão e na Liga Americana há o uso do rebatedor designado – que não tem nenhum propósito defensivo, ele apenas rebate no lugar do arremessador.

A temporada é dividida em três partes. O Spring Training é o que chamamos de pré-temporada, é disputado geralmente no mês de Março e é onde acontece as brigas por vagas nos times e os jogadores das categorias de base têm a oportunidade de mostrar serviço contra os melhores dos melhores. A temporada de pontos corridos é onde realmente está valendo e os times brigam por vaga nos playoffs e dura de Abril até Setembro. E os playoffs que é onde o bicho pega. Um mata-mata em busca do Troféu do Comissário – como é nomeado o troféu dado ao campeão.

Foto do Commissioners' Trophy que é dado ao campeão da MLB ao final da temporada. Já o período entre as temporadas é chamado de ‘offseason’ – numa tradução literal seria algo como as férias da MLB – e é onde os escritórios das equipes mais trabalham em busca de melhorias do time, das categorias de base, aumento nos lucros e coisas desse tipo.

Para encerrar, citarei um dos nossos maiores comentaristas da nossa terra. Ubira Leal, comentarista de esportes americanos da ESPN, certa vez disse em seu portal: “Um campeonato de beisebol é como ler um ótimo livro. (…)Durante semanas ou meses, os personagens daquele livro são como seus amigos, e você, de alguma forma, fica ansioso para saber o que acontecerá com eles na noite seguinte.”

É uma temporada longa e tem jogo absolutamente todos os dias, com transmissão na tv brasileira pela Espn e pela Fox Sports. Dê uma chance.

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