Pode parecer esquisito isso para alguém que trabalhe com fatos consumados – e a melhor maneira de relatá-los – mas adoro escrever sobre algo que vai acontecer em breve, mas ainda não aconteceu, para depois reler e ver se acertei as previsões.

Digo, ou escrevo, isso porque estou deixando o Chile hoje, dia 29 de junho, feriado de São Pedro por aqui e dia de jogo de “La Roja”, a seleção chilena. Logo mais, quando eu estiver aterrissando no Galeão, Chile e Peru vão estar em campo, disputando uma das semifinais  da Copa América. E quando este texto for publicado o classificado já será conhecido. Talvez até os dois finalistas, uma vez que nesta terça se enfrentam Argentina e Paraguai.

Dedada do Gonzalo Jara à parte, torço para que o Chile levante o caneco. Isso não tem nada a ver com rivalidade diante de uma provável decisão entre chilenos e argentinos. Até porque, da minha parte, não existe nenhuma bronca com a Argentina. Pelo contrário. Tenho muitos amigos argentinos e sou admirador incondicional do futebol praticado no país e, hoje em dia, fã de carteirinha de Lionel Messi.

Mas, depois de vinte dias por aqui, senti a importância que os chilenos estão dando para uma conquista que, na sala de troféus da AFA, será mais uma. Tá certo que a Argentina não ganha um torneio oficial com sua seleção principal desde 1993. Mas o que dizer do Chile, que jamais ganhou? Com todo o respeito a um dos clubes mais antigos do Brasil, o Chile é uma espécie de Ponte Preta da América do Sul.  Já viu até a Bolìvia (verde como o Guarani, campeão brasileiro de 1978) ganhar um torneio internacional e está na seca até hoje.

811990E assim como a simpática Macaca, que bateu na trave na Sul-Americana contra o Lanús e tantas vezes no Paulistão (com belíssimas equipes), a seleção comandada por Jorge Sampaoli e o povo chileno merecem essa alegria. Porque jogam com alegria. É um time que busca o gol, que se arrisca, que prefere vencer ou perder por 5 a 4 a amarrar um joguinho chato de 1 a 0 até o apito final.

Além da questão técnica e tática tem a maldição do Estádio Nacional. Como funcionou como centro de torturas durante a ditadura militar muitos dizem por aqui que o palco principal da “Roja” é mal assombrado e esse passado triste influi, de alguma maneira sobrenatural, na falta de títulos internacionais da seleção.

Pinochet não merece nem essa lembrança. Para esquecer dele, da falta de sorte, dos times que não arriscam, dos técnicos que não sorriem, dos jogadores que não se entregam, dos tabus que não se quebram...Chi, Chi, Chi…le, le, le. E que eu releia esse texto em alguns dias e não me arrependa da previsão.

P.S.: quando criança tive uma família chilena como vizinha. Fugiam da perseguição política. Eu não tinha muita noção do que isso representava. Apenas, no universo infantil, o nome Pinochet soava como Bicho Papão, Homem do Saco ou Lobisomem. Não lembro o sobrenome da família. Apenas que meu pai nos levava até a escola num Fiat 147. Eu, minha irmã, a Vivian e a Pamela, as duas filhas da Doña Mariana. Elas eram de Temuco, por onde passei nesta viagem e me lembrei muito dessas histórias. Do pai delas, o marido de Doña Mariana, não tenho notícias. Nem elas tinham.

Desapareceu vítima da boçalidade humana.

20140618_152704Imagens: GE.com, Arquivo Ouro de Tolo e Reprodução

5 Replies to “Viva Chile”

  1. Fechado! Compromisso assumido com a torcida roja que será imensa no próximo sábado. Agora, que a juizada tá dando uma mãozinha bem matreira…isso tá.

  2. Bom, já acertei a previsão da final (não era das mais difíceis a tarefa). Mas depois dos 6×1, sei não…tá parecendo que o Chi, chi, chi, le, le, le vai virar vi, vi, vi, ce, ce, ce.

    1. Hahahahahahahaha….

      Aliás e a propósito, certos pênaltis acabaram se revelando uma bênção

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