A Caprichosos de Pilares parecia que iria ressurgir após o Carnaval 2015, mas aparentemente fomos enganados por um acaso. Seguramente, obra de talentos isolados como Leandro Vieira, responsável maior pela surpreendente apresentação da Escola no último Carnaval.

Em sua estreia na Sapucaí, o jovem carnavalesco desenvolveu o que considerei à época o melhor desfile da primeira noite de Série A (junto com Império Serrano), em vídeo para esta coluna “Fora do Ar” (veja ao final). Thiago Britto, jovem intérprete, talento revelado em Pilares, carregou um samba mediano já pela manhã de maneira perfeita, apesar da perceptível rouquidão.

Pois então me digam, como Thiago Britto e Amauri Santos, substituto de Leandro, conseguirão repetir e dar continuidade a esse sucesso com um enredo sobre um jogador de futebol sérvio chamado Petkovic?

Ao ser divulgada a sinopse, novamente reparamos que um carnavalesco vai ter que ser muito criativo para materializar um desfile que justifique ter Petkovic como fio condutor de um enredo que, segundo a Escola, trata-se de gringos que marcaram história por aqui, “Assim, vários outros países, inclusive o meu, conheceram o samba. E é exatamente nesse “ritmo” que eu quero mostrar a importância dos estrangeiros como colaboradores na cultura brasileira.” diz um trecho da sinopse.

Alias, as famosas “justificativas de enredo” são o que há de pior inventado na era moderna do Carnaval. Dá a chance de se “criar” qualquer bobagem que justifique um pomposo patrocínio. Nem todas as vezes esse tema maquiado por uma viajante sinopse acaba bem, como na inacreditável relação entre a cantora Maysa e Maricá, que a Grande Rio criou em 2014 pelas talentosas mãos do carnavalesco Fábio Ricardo – para ficar apenas com um exemplo. Algumas vezes, o fim dessa história é uma ressaca absurda de tequila ou de iogurte que dura anos.

Isso acontece em parte porque usar 10 milhões para fazer um Carnaval é muito dinheiro para uma Escola de Samba mas pouco pra encaixar no Grupo Especial um enredo de interesse político ou melhorar sua imagem com seus fãs.

A bipolar Caprichosos no fim dos anos 90 e no início deste século parecia que ganhava força novamente com desfiles que agradavam a todos como em 98, “Negra origem, negro Pelé, negra Bené” e em 2001 homenageando Goiás em uma apresentação incrível de Jackson Martins. A fase era tão boa que eu nem me importo que um dia o verso “a luz do céu conduz seu bisturi” foi um dia cantado na Marquês de Sapucaí.

Mas a partir de 2006 acumulou rebaixamentos indo parar na Série B e só não desfilou na Intendente Magalhães porque em 2012 o grupo ainda se apresentava na Passarela do Samba. E justamente no momento que finalmente volta a ganhar um pouco, mas bem pouco, a confiança da opinião pública, mostra que a exceção foi 2015 e não os carnavais anterioJacksonres.

Pessoalmente fico triste. Sempre tive um carinho grande pela Escola quando pequeno. Além disso, em 2000 conheci o saudoso Jackson Martins, um cara muito gente boa e um dos maiores talentos vocais que já passaram pela Sapucaí. Na primeira vez que estive na quadra, em 2004, fui recebido de maneira espetacular e me senti em casa.

Vou contar algo que aconteceu na redação esta semana: Estava conversando com dois amigos  sobre diversos assuntos quando avistei nos monitores da parede oposta (aqueles que vocês podem ver ao fundo do cenário do Redação SporTV) que o jogo Criciúma e América-MG estava indo para o intervalo e Petkovic se preparava para falar com a reportagem.

Foi nesse momento, que sem esperar ouvir uma resposta, já que nenhum dos dois se considera entendedor de Carnaval, perguntei: “Quem foi o mais louco de apostar no Pet, a Caprichosos ou o Criciúma?“. Pra minha surpresa, o editor Caio Areosa, respondeu meu “pensamento alto” de maneira rápida e sem demonstração alguma de dúvida: “Ah, a Caprichosos, claro!”. Como a curiosidade foi muita pra saber o que levou Caio a chegar a essa conclusão tão rapidamente, perguntei porque. Ele entortou a cabeça, coçou a barba e completou brilhantemente: “Porque como técnico, o Pet tem alguma chance de dar certo”. A conferir.

E é isso.

Aquele abraço

4 Replies to “É o Pet, é o Pet, é o Pet, mas não deveria ser”

  1. Hahahahahahahaha… e acredita que eu adoro o samba de 1999? Acho uma das mais lindas melodias da história, fora que a Sapucaí inteira vinha abaixo no “Amor… me leva… me leva que eu vou caprichar…”.

    Falar de Petkovic?? Intendente à vista!!

    1. O samba é fraco, mas Jackson Martins teve uma performance antológica naquela noite. Quanto à 2016, só cai uma escola – a Caprichosos não corre risco.

  2. Eu acho o Leandro Vieira um excelente artista, e lamento demais que ele tenha saído da Escola. Mas às vezes acho que as pessoas o colocam como maior que a Caprichosos. Não acho correto falar que “2015 foi um acaso”, principalmente pq desde 2012 a Escola vem na crescente absurda (e, convenhamos, depois da administração que culminou com a queda pro antigo Grupo B, não seria muito difícil ser superior).
    2012 sobrou no Grupo B, fez um desfile confuso sobre Fanatismo, admito, mas muito honesto. E em 2014 fez um ótimo desfile, muito mais bonito que 2015, aliás. Porém, a organização que sobrou em 2015 faltou no ano anterior, e as posições finais foram semelhantes.

    Eu, como vascaíno e torcedor da Escola, não gosto desse enredo pro próximo carnaval, e poderia ficar falando aqui até amanhã dos motivos. Mas ignorar a crescente anterior de Pilares e, principalmente, que ainda estamos em JUNHO de 2015, é precipitado.

    PS: estamos falando de um universo onde até Escolas ditas grandes do Especial estão com dificuldades de fechar suas contas, então que dirá uma da Série A. Enredo patrocinado é necessário.

    Outro PS: “Mas a partir de 2006 acumulou rebaixamentos indo parar na Série B e só não desfilou na Intendente Magalhães porque em 2012 o grupo ainda se apresentava na Passarela do Samba.” – Essa frase nem merece comentários, né? Dá a impressão de que a Caprichosos deu sorte do Grupo B ser na Sapucaí, esquecendo-se do fato de que era outra divisão de grupos.

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