Aos vinte e três anos, com idade e carinha de Princesa, mas com a determinação de uma Rainha que, na verdade, nunca deixará de ser, ela, em breve, será a presidente de uma agremiação de tradição inegável.
Com vocês, a próxima Presidente do GRES TRADIÇÃO, RAPHAELA NASCIMENTO.
Ouro de Tolo: Raphaela, em primeiro lugar, conte-nos o que significa, para você, ser filha de Nésio Nascimento (presidente e fundador da Tradição) e neta do lendário Natal da Portela.
Raphaela Nascimento: Para mim, ter nascido da família Nascimento, ser filha do Nésio, significa motivo de muito orgulho e admiração, principalmente por conviver tão de perto com uma lenda viva que sabe tudo de carnaval. Quanto ao meu avô Natal, infelizmente, não tive o prazer de conhecê-lo, mas, sem duvidas, igual não haverá. Marcou uma época e, até hoje, está supervivo na memória de todos.
Ouro de Tolo: Com que idade você pisou, pela primeira vez, na quadra de uma escola de samba e quando passou a se interessar a frequentá-las com mais frequência?
Raphaela Nascimento: Desde a barriga da minha mãe (risos). Quando eu digo que nasci no carnaval, não é mentira. Minha mãe desfilou grávida de mim e acabei nascendo no mês de fevereiro. Desde que eu me entendo por gente, frequento a Tradição… Literalmente, tá no sangue, né? (risos).
Ouro de Tolo: Quais os cargos que você já ocupou na Tradição e em que épocas?
Raphaela Nascimento: Comecei a desfilar na Tradição com oito anos de idade na ala de passista-mirim e lá permaneci por três anos. Depois, passei a desfilar como destaque no abre-alas, mas eu gostava mesmo era de sair no chão, de sambar… Foi aí que fiz um trato com o meu pai e passei a vir à frente da bateria como princesa, onde fiquei por doze anos, até virar Rainha de Bateria aos 19 anos. No ano seguinte, passei a acumular as funções de rainha e de vice-presidente da Tradição.
Ouro de Tolo: Qual a sua formação e quais são os seus projetos de vida off-Carnaval?
Raphaela Nascimento: No final desse ano, termino a faculdade de designer de moda. Tenho planos de abrir minha própria marca de roupas voltada para o publico feminino.
Ouro de Tolo: Considerando sua formação em moda, podemos dizer que os figurinos das fantasias da Tradição, de agora em diante, terão um toque especial – ou, pelo menos, uma atenção ainda maior – da nova presidenta?
Raphaela Nascimento: Tenho uma boa relação com o carnavalesco Leandro Valente, confio muito no trabalho dele e, na maioria das vezes, a gente trabalha em conjunto e um pede a opinião do outro para um bom resultado final, mas, sem dúvida, a atenção será redobrada.
Ouro de Tolo: A Raphaela – painha – vai sair de cena ou você pretende acumular as funções? Caso permaneça apenas na administração da agremiação, já tem em mente o nome da nova Rainha da Tradição?
Raphaela Nascimento: A Raphaela – rainha de bateria- vai sair de cena. Acredito que, para que um ciclo comece, temos que encerrar o outro.
Fui muito feliz à frente da Bateria Explosão de Elite, fiz muitos amigos e foi a realização de um sonho: Ser Rainha da Tradição.
Hoje, inicio outro momento da minha vida. Ainda não tenho em mente o nome na próxima rainha, mas será alguém que venha pra somar e vestir a camisa da nossa escola.
Ouro de Tolo: Já tem alguma ideia do perfil e dos nomes da nova Diretoria a ser formada em sua gestão?
Raphaela Nascimento: Alexandre, como você sabe, estou montando uma Diretoria que possa me acompanhar durante uns 15 anos à frente da Tradição. São pessoas que amam o carnaval, que vão abraçar o projeto e que estão dispostas a entrar nesse desafio comigo. Vou apresentar os nomes da nova diretoria na minha festa de posse.
Ouro de Tolo: Qual será o dia de sua posse? Algum evento especial está programado para esse dia?
Raphaela Nascimento: Será no dia 28 de maio. Lá, vou apresentar a nova diretoria e revelar o enredo para o Carnaval-2016.
Ouro de Tolo: Qual a importância de seu pai nessa sua nova fase, como gestora? Quais as experiências – que você pode nos contar – que já passou ao lado dele? Que funções administrativas você já desempenhou e que podem te ajudar nessa nova fase?
Raphaela Nascimento: Meu pai, nessa nova fase, tem sido fundamental. Ele está fazendo comigo algo que meu avô não teve chance, nem tempo, de fazer com ele, na época da Portela. Estou tendo a oportunidade de assumir uma escola onde meu pai foi presidente por trinta anos, com os conselhos, auxílio e apoio dele nas minhas decisões. Quando tiver alguma dúvida, não hesitarei em buscar sua experiência. Aprendi muito no último Carnaval, quando fiquei responsável por toda a parte técnica da escola.
Ouro de Tolo: Há quanto tempo você tem frequentado o mundo dos dirigentes do samba, assistindo reuniões e tomando conhecimento das principais demandas desse universo?
Raphaela Nascimento: Há quatro anos, desde que me tornei vice-presidente administrativa.
Ouro de Tolo: Qual a sua opinião sobre a crise que assola a AESCRJ (Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro) que, por pouco inviabilizou o Carnaval da Intendente Magalhães, o que obrigou as Escolas a migrarem, em 2015, para a LIERJ, única forma de receberem a subvenção oficial da RIOTUR?
Raphaela Nascimento: Eu acho que isso só prejudica as escolas de samba que acabam ficando sem credibilidade perante o poder público.
Ouro de Tolo: Em sua opinião, ao menos enquanto a AESCRJ não resolve sua crise interna de disputa de poder, o que vem prejudicando os interesses da maioria das Escolas, qual seria a melhor saída: Continuar na LIERJ ou procurar outra alternativa?
Raphaela Nascimento: Eu acho que as escolas tinham que se unir e se filiar a uma entidade que traga mais seriedade, credibilidade e mais estrutura para as escolas da Intendente Magalhães.
Ouro de Tolo: E os planos para o Carnaval/2016? Já há enredo e Carnavalesco definidos? E quanto ao samba? Haverá disputa ou reedição?
Raphaela Nascimento: Já temos um enredo que será divulgado na festa da posse, mas, por enquanto é segredo. O carnavalesco permanece sendo o Leandro Valente que fez o nosso ultimo Carnaval e haverá disputa de samba-enredo para o carnaval de 2016, sim.
Ouro de Tolo: O que podemos esperar dos próximos anos da Tradição sob a administração de uma jovem Presidenta que chega com todo o gás? Qual deverá ser a maior marca – ou as maiores marcas – de sua gestão?
Raphaela Nascimento:A Tradição é uma grande escola. Estou chegando para somar e colocar em prática todos os nossos projetos, objetivos e chegar ao lugar que sempre sonhamos. Não vou medir esforços para encher essa comunidade de orgulho e alegria. A maior marca será a seriedade,o respeito e a humildade. Não há muito mistério. Com isso, vamos chegar longe.
Ouro de Tolo: Qual o valor da subvenção de uma Escola do Grupo B, hoje em dia, e qual o segredo para se fazer um Carnaval de qualidade com esse valor?
Raphaela Nascimento: O valor está em torno de R$ 62 mil. Claro que ajuda, mas não é suficiente para se fazer um Carnaval de qualidade e à altura da nossa Tradição (permita-me o trocadilho… risos…), mas é aí que entra o nosso grande segredo que eu preferiria chamar de nossos grandes trunfos que são amigos que são apaixonados pela Tradição, além de eventuais patrocinadores que nos ajudam a colocar o nosso carnaval na rua, da melhor forma possível! Se não fosse eles, nada seria possível.
Ouro de Tolo: Por fim, qual o diferencial que existe numa visão feminina na gestão de uma Escola de Samba?
Raphaela Nascimento: Acho que o toque feminino ajuda no desenvolvimento do trabalho em equipe, dando um clima mais humano na gestão de pessoas. Acredito que esse toque feminino pode transformar o ambiente, tornando mais leve e prazeroso o trabalho do grupo. Você vai reparar que teremos uma presença significativa de mulheres na nova diretoria e isso, além de ser emblemático, é mais um desafio. Sou movida a desafios e, o maior deles, é honrar a tradição da Família Nascimento e prometo não decepcionar.
Isso aí, Raphaela! Queremos que você saiba que, se por um lado, você está feliz por ter dado sua primeira entrevista como futura Presidenta, por outro lado, nos sentimos honrados por sermos o primeiro órgão da mídia a te entrevistar como futura gestora e, esse entrevistador, em particular, se sente honradíssimo em ter a oportunidade de entrevistar uma presidenta que já foi rainha e que passou da Monarquia para a República na maior naturalidade, para o bem de todos e felicidade geral da Nação do Condor.
Que rufem os tambores da Bateria Explosão de Elite!
Chegou a hora daquela que tem samba no pé, carnaval no DNA, sangue nobre na veia e muita tradição no sobrenome. Desde seu Nascimento.