Por onde pasta o Boi da Ilha do Governador?

Quem já ouviu falar na agremiação que divide o bairro da Ilha do Governador? Oriunda da Freguesia?

Se voltássemos no tempo pelo menos uns 10 anos, provavelmente a pergunta no primeiro parágrafo teria uma resposta positiva. Mas adentremos a história, primeiramente.

O antigo Boi da Freguesia fundado em 1965 desfilou até 1988 como bloco carnavalesco. No ano seguinte se filiou a AESCRJ, Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, assim como vários outros blocos fizeram e se transformaram em um Grêmio Recreativo Escola de Samba. Caberia mais uma escola de samba no bairro da Ilha do Governador? Não só caberia como a história comprova que coube. Uma União de bambas apadrinhada pela Portela e boiadeiros guiados por uma Estrela Guia coexistindo. No seu primeiro carnaval no extinto Grupo SS ficou em 6º lugar com o enredo Esplendor da Sedução tendo como carnavalesco Luiz Carlos Santos. Nos dois anos seguintes, com o mesmo carnavalesco, o agora Boi da Ilha do Governador alcançou o terceiro lugar e o vice campeonato do Grupo SS, respectivamente. Grupo este que era o único a desfilar na Intendente Magalhães, em Campinho. Somente em 1993 veio o primeiro campeonato da agremiação com o enredo O Boi mostra e faz suas festas com Amarildo de Melo assinando o carnaval e o ilustre intérprete, um dos maiores boiadeiros da história da escola, Cadinho da Ilha.

O segundo campeonato veio somente em 1996 com Rio de Janeiro, Paraíba sim senhor. Até 1999 o Boi da Ilha alternava entre os grupos B e C do carnaval carioca. Até que em 2000 com o enredo Paranapuã – Governador na história de uma Ilha, memórias de uma nação a agremiação da Freguesia da Ilha garantiu a 4ª colocação, dando o direito de desfilar no Grupo de Acesso A em 2001.

Falar do ano de estréia do Boi no grupo mais perto do Grupo Especial é diferente. Com o enredo Orun – Ayê a escola não só permaneceu no Acesso A, com a sexta colocação, como ganhou o Estandarte de Ouro como melhor samba enredo, escrito por Aloisio Villar, Silvana da Ilha, Paulo Travassos e Clodoaldo Silva. O desfile foi sensacional sendo finalizado somente pela manhã de domingo. No seu segundo ano no Grupo A, 2002, a sexta colocação se repetiu com mais um ótimo enredo Boi da Ilha é Holambra, a tulipa brasileira. Samba enredo também escrito por Aloísio Villar, mas com outros nomes: Arerê, Cadinho da Ilha, Roger Linhares e Paulo Travassos.

Foi o Boi da Ilha do Governador que revelou personalidades do samba como Quinho, Odilon, Roger Linhares, Marquinhus do Banjo e Severo Luzardo que assinou seu primeiro carnaval no Rio de Janeiro pela agremiação.

Já em 2003 veio o primeiro insucesso da escola após dois anos majestosos. O rebaixamento para o Grupo de Acesso B. Desde então a agremiação vem marcando presença neste grupo e não conseguiu mais colher bons frutos de seus carnavais. Em 2011 mais uma queda. Desta vez para o Grupo de Acesso C. Ainda houve o revés dos boiadeiros perderem sua quadra para uma construtora que ergueu um condomínio. Mas foi a partir de 2013 que a agremiação começou a sangrar.

Em 2013 os segmentos da agremiação elegeram o primeiro presidente do GRES Boi da Ilha do Governador novamente, Higino Celso Mandriola, vulgo Gino, para a gestão que expiraria em 2015. A agremiação respira uma depressão profunda desde 2013. Inclusive um grupo de pessoas que amam a escola começou a se reunir para ajudar a agremiação nesse momento um tanto desesperador. Denominaram-se Reage Boi da Ilha. Em 2014, após nova queda para o Grupo D, o Reage Boi decidiu reerguer a escola, promovendo eventos de confraternização e mobilizando muitas pessoas para se solidarizarem com a situação da agremiação. Foi realizada uma feijoada para angariar fundos para a escola. Foi um sucesso. No entanto, a diretoria da agremiação alegou que eles não precisavam de ajuda para trabalhar. Então o grupo Reage Boi da Ilha parou de participar ativamente da agremiação já que foram dispensados. O que soou estranho já que em 2014 o Boi da Ilha foi rebaixado em último lugar para o Grupo de Acesso D.

Estes boiadeiros vendo a dificuldade da escola e uma gestão confusa da parte dos dirigentes passou a formar um grupo de defesa do Boi da Ilha do Governador e fazer oposição a atual diretoria da escola. Principalmente após o último desfile de 2015, quando, historicamente, a agremiação recebeu 8 notas ZERO. Não foi um 9,0, nota mínima, foi 0. Por não apresentar alegoria, número mínimo de baianas, componentes, dentre outras obrigações não cumpridas. Não a toa que a agremiação não tem um registro de filmagem do dia do desfile no Grupo D, por quase não ter o que mostrar. Resultado disso foi o rebaixamento para o Grupo de Avaliação do carnaval do Rio. Significa que a agremiação se encontra a ponto de tornar-se novamente Bloco do Boi da Freguesia. Essa é a situação atual do Boi da Ilha.

O grupo Reage Boi atualmente é encabeçado por Aloisio Villar, um dos responsáveis pelo primeiro sucesso no Grupo de Acesso A em 2001 e Junior Nova Geração, também revelado no Boi da Ilha e um dos intérpretes da União da Ilha. O único pedido dos integrantes do Reage Boi é democracia. A atual diretoria tentou fazer uma manobra para impugnar a candidatura do grupo para as eleições. No dia da inscrição de chapa, todos estavam de acordo, situação e oposição. Todos concordaram e seguiram o estatuto da maneira que deveria ser seguida. Inclusive a lista de sócios contribuintes e sócios proprietários foi divulgada neste dia e não houve nenhuma objeção. No dia 12 de Abril era o dia da eleição e ao chegar no local de votação nenhum opositor foi autorizado a entrar e a listagem de sócios da escola estava completamente alterada. Inclusive foi chamada uma viatura da Polícia Militar com a alegação que o grupo Reage Boi tentaria fazer agitação no dia.

Para sorte da democracia, representantes da LIERJ que estavam no local intercederam para que tudo ocorresse da maneira correta. Em entrevista, o diretor de barracão da agremiação, apesar do Boi da Ilha não ter alegoria alguma em 2015, Arerê, alegou que no dia da inscrição de chapas o grupo Reage Boi causou confusão e estabeleceu a comissão eleitoral à força. O que não ocorreu. Muitas testemunhas estavam no local. Inclusive quem vos escreve. Como já dito, tudo ocorreu normalmente e as duas chapas foram inscritas. O processo eleitoral está travado neste momento. Fica o sentimento de tristeza dos foliões e de todos que pretendiam participar do processo eleitoral. Quanto mais o Boi da Ilha do Governador sofrerá? Essa é a pergunta que gostaríamos de ter resposta. Que os pastos não fiquem escassos e o Boi possa se alimentar do carnaval, esperança e democracia. Está na hora da agremiação se reerguer e que a força para isso realmente saia da humildade como no carnaval de 2001.

Crédito da foto: Rádio Arquibancada