Desde a volta do técnico Dunga ao comando da Seleção Brasileira, sacramentada após o fiasco na Copa do Mundo de 2014, foram oito jogos e oito vitórias. Seis dos oito oponentes do selecionado brasileiro estiveram no Mundial e, à exceção de Equador e Japão, todos fizeram boas campanhas. Além do título do Superclássico das Américas contra a favorita Argentina, o Brasil venceu a França no Stade de France, bateu o bom time da Áustria (que lidera sua chave nas Eliminatórias para a Eurocopa) em Viena e goleou a ainda capenga (porém forte em Istambul) Turquia.

Os primeiros amistosos na volta do técnico Dunga apresentam um Brasil um pouco menos dependente de Neymar, com um ataque potente (foram 18 gols marcados) e uma defesa pra lá de sólida (apenas dois gols sofridos). Essa combinação de fatores – os bons resultados e um desempenho em campo que, em geral, tem sido bem satisfatório – torna completamente impossível qualquer avaliação negativa a respeito do trabalho do comandante da Amarelinha em sua segunda tentativa de conquistar o hexa.

neymarchaodylanmartinezrtEu, por exemplo, estou muito longe de morrer de amores por Dunga. Acho um técnico, para ser bem sincero, fraquíssimo, com um conhecimento tático praticamente nulo e uma arrogância um tanto lamentável. Para piorar, ainda coloca no time uma pilha exagerada que volta e meia traz problemas (o completo desequilíbrio brasileiro ao lidar com um resultado adverso nas quartas de final da Copa do Mundo de 2010 é prova). Porém, devo reconhecer que o início de trabalho é mais do que “bom”.

É excelente.

Se houvesse dentro de um mês mais uma Copa do Mundo, o Brasil seria favorito? O Brasil sempre é favorito em Copas do Mundo, mas analisando apenas a parte técnica e tática, não. Não temos hoje um time pronto para ganhar um Mundial. Temos um time inferior ao da campeã Alemanha e ao da Espanha e estamos no mesmo patamar daquele grupo de Argentina, França e Holanda (talvez um pouco abaixo, talvez um pouco acima, dependendo da ocasião) Também não sobramos em relação a Chile e Colômbia, embora ambos tenham algumas falhas que ainda colocam a Amarelinha em ligeira vantagem. Não somos, em suma, um time de ponta.

Mas a questão central é que não precisamos, hoje, ser um. Quando acabou a Copa do Mundo, mais do que centenas de erros estruturais no nosso futebol (e que não vão mudar tão cedo), ficou evidente que havia alguma coisa errada com o time do Brasil. Por maior que seja a bagunça por aqui, por pior que seja o trabalho com a base, o time tinha condições de sofrer menos que 10 gols em duas partidas. Era hora então de, independente do que fosse feito na parte administrativa e de gestão, iniciar um trabalho do zero com o selecionado nacional. E esse trabalho é algo muito recente, não sendo possível portanto cobrar que estejamos no mesmo nível de alemães e espanhóis.

jefferson-brasil-reuQuando digo que o trabalho de Dunga na Seleção Brasileira é espetacular em termos de resultados e desempenho, não digo que ele acabou e que estamos prontos para a Rússia. Ele é espetacular como início de trabalho e, portanto, ainda precisamos evoluir. Se ao final da Copa fosse divulgada a lista dos oito amistosos que a Seleção faria, creio que ninguém apostaria em oito vitórias. E vencemos – na maioria das vezes, com boas atuações. O time tem problemas, falta ainda um padrão de jogo (isso ficou evidente na última vitória, contra o Chile, quando o time misto não conseguiu repetir o estilo de jogo do principal), mas é algo natural.

A geração brasileira é talentosa. Em 2014, mesmo sem estar no auge (foi a primeira Copa dessa geração, vamos lembrar), vexame à parte, o Brasil ficou entre os quatro melhores, algo que não acontecia desde o penta. Portanto, talento há. Se houver um trabalho consistente, gradual, com uma filosofia bem implementada, independente de concordamos ou não com os métodos do treinador, o trabalho vai render. Se vai dar certo ou vai dar errado, só o tempo vai dizer, mas é preciso dar a Dunga o benefício da dúvida.

Leio com muita frequência por parte dos menos empolgados que ganhar amistoso não significa nada. Discordo um pouco, já que na ausência de muitas competições oficiais, estes amistosos acabam sendo um bom método de avaliação de desempenho, mas estou de acordo que ganhar amistoso não significa ganhar a Copa. E muito menos que vai perder! Esse é o ponto. Se avaliarmos os amistosos como amistosos, vamos enxergar um time que está jogando bem e é o que importa no momento. Dentro de dois meses o Brasil iniciará a Copa América no Chile. Hoje, estamos mais que preparados para levar o título.

Duvida?

santiagoDos oito amistosos que o Brasil venceu, quatro foram contra times sul-americanos. Três deles são os nossos mais perigosos adversários: Argentina, Colômbia e Chile. Vencemos os três e sem sofrer gols. E isso não é exclusividade dos comandados de Dunga, não. Do fiasco na edição de 2011 para cá, foram 11 partidas oficiais contra nossos vizinhos. Perdemos a primeira delas, 4 a 3 para a Argentina, mas, na sequência, foram sete vitórias e três empates. O Brasil não é o maior favorito, admito, mas está no grupo principal porque ninguém é. Como eu disse, Argentina e Brasil estão hoje em um mesmo patamar e o Chile completa o trio de ferro por ter um excelente time e jogar em casa. A Colômbia vem logo atrás e o Uruguai vai tentar fazer valer a força de sua camisa.

Passada a Copa América, a evolução terá que seguir porque logo em seguida começarão as Eliminatórias e, no ano que vem, haverá outra Copa América. Assim, passo a passo, iremos até uma eventual Copa das Confederações em 2017 (que só disputaremos se vencermos essa Copa América de 2015) e, claro, a Copa de 2018. Ganhar Copa do Mundo não é fácil, tanto que o maior campeão (que somos nós) ganhou cinco de 20, de modo que não há Seleção pronta para a taça três anos antes da disputa. Todo mundo vai mudar muito até lá em termos de jogadores, daí a importância de haver um padrão de jogo, que é o que o Brasil parece estar tentando buscar (conseguiu em 2010, não conseguiu em 2014).

Por fim, fico muito feliz de ver que a Seleção superou o 7 a 1. Aliás, gostaria muito que os torcedores também o fizessem. É preciso entender que o 7 a 1 nunca será esquecido, apagado e é justamente por isso que é preciso superar e tocar para frente. Qual a outra saída? A gente se deitar e chorar agarrados à réplica da Jules Rimet e a uma foto do Pelé? Isso não vai resolver nada. O jeito é tirar as lições que o episódio trouxe e trabalhar para que isso não se repita. Se possível, com uma característica que nunca nos acompanhou: a paciência.

Não existe recomeço fácil.

Imagens: Uol, Terra e SporTV

One Reply to “O recomeço”

  1. Complicadissimo esquecer esse 7 a 1!
    O time ganha atualmente, acaba o jogo, você se sente satisfeito e ai vem a lembrança dos 7 a 1 e apaga toda euforia presente!

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