Voltamos.

No futebol, a maior parte da imprensa esportiva demonstra ser contra quando o técnico é demitido de um clube. Acham que o tempo para o profissional trabalhar é curto e que a continuidade é fundamental.

E no Carnaval, por que a comoção não é a mesma com os carnavalescos?

Não me lembro de outro ano com uma troca tão intensa de profissionais do samba, como nesse período pós Carnaval-2015. No último dia 3, o colunista Bruno Malta escreveu sobre a dança das cadeiras dos carnavalescos usando um montão de números e isso motivou minha dúvida. Vamos analisar em cima desses números usando algumas escolas da lista do Bruno, como exemplo:

A Imperatriz Leopoldinense, segundo a coluna Morada Imperial, é um caso de queda livre. Nos últimos três anos, ficou em quarto, quinto e sexto lugar. Ainda assim, foi uma das únicas quatro Escolas do Grupo Especial que não mudaram de carnavalesco, nesse período. Como explicar a cabeça dos dirigentes? Então seriam Luiz Pacheco Drummond e Wágner Araújo sonhos da imprensa esportiva para serem cartolas de clubes de futebol, senhor Bruno? Mas como tudo tem dois lados, antes da sequência de três Carnavais de Cahê Rodrigues, Max Lopes foi demitido após um alarmante décimo lugar.

Vamos ver então o caso de outro GRES que manteve nos últimos três anos seu carnavalesco, sem alcançar resultados tão impressionantes: A União da Ilha. Situação um pouco diferente, para falar a verdade. Quando olhamos agora os números finais, com dois nonos lugares, dá uma impressão de confiança plena no trabalho de Alex de Souza, que já se transferiu para a Vila Isabel. Mas não necessariamente seja essa a resposta. O quarto lugar de 2014, muito acima das expectativas de seus dirigentes, daria sobrevida a qualquer profissional, em qualquer Eescola. Esse excelente resultado obtido, motivou os mesmos dirigentes a criarem uma meta irreal para 2015. Se fosse no futebol, Ney Filardis teria dito no sábado das campeãs, que Alex estava prestigiado na Tricolor.

Os números não esclarecem muito sobre a Grande Rio, devido ao contestado terceiro lugar desse ano. Quando demitiram Roberto Szaniecki, após o Caranaval de 2013, a idéia seguramente era alçar voos maiores. Não devia fazer parte dos planos nos anos seguintes, repetir o sexto lugar e fazer um desfile de sexto lugar. Tudo isso, contratando o carnavalesco que se fosse uma seleção na Copa do Mundo de 2014, seria a Bélgica. Porque alguém já viu alguém escrever ou falar do Fábio Ricardo sem um belo adjetivo antes? “A Grande Rio anunciou nessa tarde a contratação do talentoso carnavalesco Fábio Ricardo, o Fabinho”. Pra deixar claro, isso não é uma crítica, porque o Fabinho é reconhecidamente talentoso, e sim uma constatação. Mas o fato, é que em números ou na prática, ele ainda não realizou um trabalho regular e arrebatador do início ao fim do desfile.

Por falar em voos mais altos… A Portela. Entenderam? Portela, águia, voos mais altos… Não foi espetacular, mais eu precisava de um gancho. Nesse período, houve uma evolução nos números, a Escola ficou em sétimo, terceiro e quinto. Sempre bom lembrar, que houve uma mudança motivadora de diretoria para 2014. Quando Paulo Menezes foi substituído por Alexandre Louzada, a expectativa era de que a Eescola, em pouco tempo, conquistasse um título. O problema nesse caso, é que a melhora dos números não foi tão significativa, para deixarmos de reparar que no conjunto artístico, foi ainda menor. E a aposta agora é Paulo Barros, o terceiro carnavalesco da escola em quatro anos. A Portela ainda não justificou uma troca de carnavalesco, mas também não dá pra criticar a tentativa de trocá-los. Falaremos mais desse casamento, quando divulgarem o enredo para 2016.paulobarrosmocidade

A Mocidade passou pela mesma mudança de comando que a Portela, mas com uma diferença importante: Teve três carnavalescos, em três anos. É bom lembrar, que a mais recente mudança no cargo, aconteceu de maneira forçada devido a saída de Paulo Barros justamente para Madureira. Único de todos os casos citados que precisaremos esperar no mínimo mais um Carnaval para analisarmos melhor.

Voltamos a falar do Fabinho. Hora dos números da favorita do colunista citado lá em cima, a São Clemente. Com um 10º, 11° e oitavo lugares, somados ao julgamento rigoroso que a Escola de Botafogo costuma sofrer, os números nada revelam. O cenário me parece assim: Na pista, Fabio Ricardo foi muito bem no seu primeiro Carnaval solo e Max Lopes seguiu uma tendência, e assim como na Vila Isabel, pegou a Escola e a colocou numa posição abaixo do que seu antecessor. Depois do susto, os dirigentes abrem o olho, contratam Rosa Magalhães e após belo desfile, percebem como é bom pensar grande. Tirando a felicidade excessiva do Ppresidente Renato Gomes com a colocação de 2015, já que merecia ter ficado mais à frente na classificação final.

A Vila Isabel tem talvez o mais específico dos casos. Campeã há três anos, contratou Cid Carvalho para 2014 e Max Lopes para 2015. Não é difícil, mesmo pra quem não lembra, imaginar o resultado: décimo e 11º. A maior prova das escolhas equivocadas, é que Alex de Souza está de volta. Ele que pela Azul e Branco, desenvolveu o excelente desfile sobre o centenário do Teatro Municipal, quarto lugar em 2009. Lembrando que ele ganhou o auxílio oficial, já com o projeto em andamento, do então recém-desempregado, Paulo Barros.

A Mangueira é o mais errado dos casos. Parece aquele clube de futebol que se arrepende de demitir o técnico e contrata de volta como se nada tivesse acontecido, e com juras de amor. Mas Cid Carvalho está bem longe de ser o Tite do Carnaval. Quem demitiu o carnavalesco após o Carnaval de 2013 foi outra administração, é verdade. Mas a décima colocação em 2015, após ser por duas vezes oitava, mostrou que fica difícil engolir qualquer argumento do Presidente Chiquinho para ter optado pelo retorno de Cid à escola. E há a possibilidade de estarem negociando com Max Lopes. Ou seja, se isso acontecer, só precisarei copiar parte do que escrevi sobre Imperatriz, Vila Isabel e São Clemente, mudar o nome da escola e colar na área reservada à Mangueira no post sobre a troca de carnavalescos para 2017.

A grande diferença para as demissões de técnicos de futebol, quando se fala em justiça, é que os carnavalescos tem meses para desenvolver um desfile de 82 minutos e 59 segundos. Porém, seu trabalho é visto de perto, passo a passo, durante todo o processo de criação. A Cidade do Samba é aberta. Adversários espionam, imprensa especializada tenta vazar alguma surpresa e o cara só tem aquela chance, sem direito a prorrogação e nem disputa de pênaltis. E se entrar em campo debaixo de chuva já é quase certo que não terá nenhuma chance de conquistar o que está buscando.

Será que se algum dos 200 milhões de técnicos de futebol que temos no país, estivesse no lugar de um cartola de Escola de Samba, teria a paciência de esperar por mais um ano, antes de mudar o comandante dos rumos de seu desfile?

Aquele abraço!

One Reply to “Por trás dos números dos professores do Carnaval”

  1. Bom dia!

    Prezado Alex Cardoso:

    Sobre estas mudanças, penso que os dirigentes poderiam sustentar seus argumentos sobre dois aspectos: qualidade do trabalho apresentado e resultado. E sobre isto, dois aspectos delicados podem ser levados em consideração:

    Existe o profissional que trabalhou mal (E a isso podem ser somados outros fatores, como uma má administração), e foi demitido.

    Existe o profissional que trabalhou bem, e foi mal avaliado pelo júri oficial.

    Este último caso é o que deveria ter muita atenção da direção da Escola, no intuito de cobrar a quem deve.
    Parece que os dirigentes não estão muito dispostos a isto. Lamentável para os carnavalescos.

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

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