A um ano e meio da realização das Olimpíadas, o esporte brasileiro recebeu uma excelente guinada para aproveitar a realização do evento em nosso país e, finalmente, se desenvolver… Bem, como costuma se dizer nas redes sociais, só que não.

Na montagem do novo quebra-cabeça ministerial, por causa da passagem do primeiro para o segundo mandato de Dilma Rousseff, a pasta do esporte foi designada para o até então desconhecido George Hilton, deputado federal mineiro pelo PRB. Uma pessoa que tem credenciais “altíssimas” para o cargo.

Hilton entrou no seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados. Assim como vários outros, ele é pastor de uma igreja neopentecostal e se elegeu na esteira de sua notoriedade como comunicador em programas evangélicos. Uma de suas frases na cerimônia de posse mostrou sua experiência com a área: “Posso não entender de esporte, mas entendo de gente”.

KassabAgenciaBrasilCom todo o respeito à boa vontade do nobre deputado, mas a nomeação dele ao Ministério do Esporte é ridícula, assim como foram várias outras para a Esplanada dos Ministérios.

O motivo crucial para Hilton estar na chefia dos Esportes é que a pasta foi reservada ao PRB, nesse verdadeiro “cabidaço” de partidos aliados que se tornou a composição ministerial, e que na segunda gestão de Dilma passou dos limites.

Ainda por cima, como o esporte é visto como um assunto secundário, não é de hoje que figuras completamente alheias ao assunto são colocadas no Ministério. Na gestão petista tivemos: Agnelo Queiróz, Orlando Silva e Aldo Rebelo, antes de Hilton. Agnelo e Silva se viram metidos em escândalos de corrupção (o segundo sendo inocentado posteriormente), enquanto Rebelo teve uma gestão pautada no nacionalismo ufanista, digno dos Marins da vida, sempre se esquivando de questões importantes e mal resolvidas da pasta.

Desta maneira, a gestão federal perde a oportunidade de tentar aproveitar o evento que acontecerá no Rio, em 2016, implantando políticas esportivas que realmente atraiam o jovem e suportem as modalidades que, salvo exceções, não conseguem se autossustentar. Ao invés disto, a pasta vira palco para manobras politiqueiras, sem qualquer critério sensato e que seja vantajoso para a população.

Além de tudo, ao privilegiar amigos e uma tática política exageradamente usada, o governo simplesmente renega o esporte como um assunto de saúde e que pode servir como opção para tirar, por exemplo, jovens e crianças da rua ou do tráfico e oferecendo uma vida digna. Algo que é fruto, novamente, da secundarização deste ministério.

foto_infraestruturaAs metas que nós vemos são muito mais ligadas às organizações destes grandes eventos, que implicam em grandes obras e gastos, além da vazia pretensão de subir de posição no famoso quadro de medalhas – algo que o COI nem reconhece como sendo oficial. O número de medalhas seria, para políticos e cartolas, o essencial para que o Brasil se eleve, ou não, ao patamar de potência olímpica.

Para começo de conversa, ganhar medalhas é uma consequência. Portanto, se não há uma política ou uma estrutura esportiva concreta é como querer construir um prédio sem alicerces. Medalhas podem até vir por talentos individuais, ou trabalhos mais embasados aqui e acolá, um pouco catapultados pelo fato da Olimpíada de 2016 ser no Brasil, já que o fator casa normalmente ajuda.

Só que chegar ao top-10 do quadro de medalhas é uma meta complicada para o estado atual do esporte brasileiro, que perde mais uma chance de sair com uma herança real de alguma situação extraordinária. Fora todo o ufanismo acéfalo envolvido nesse tipo de objetivo…

Com a decisão errática de colocar George Hilton no Ministério do Esporte, o atual governo dá sinais que está pouco se lixando para a área e só corrobora quem diz que o PT tem um único plano político de se manter no banco do motorista do país.

A escolha foi tão estapafúrdia que corre em Brasília a conversa de que o próprio governo se arrependeu dela. É o preço que se paga quando as alianças são colocadas acima de tudo – não que o sistema político atual do Brasil, com trocentas legendas, colabore para mudar isso. Além disso, o pastor Hilton também foi, estranhamente, dispensado de dar seus pitacos e colocar seu dedo na organização do Rio-2016.

Somem George Hilton com as tresloucadas escolhas de: Kátia Abreu na agricultura; Cid Gomes na educação (o homem que disse que professor tem que fazer por amor, e não por salário); e Gilberto Kassab, político ex-Democrata (tudo a ver com o PT, né?) e criador do PSD (uma versão menor e mais nova do PMDB), na pasta das Cidades; e assim temos um claro sinal de que a ideologia não importa tanto assim na política brasileira, apesar da recente radicalização dos discursos, que já tanto foi falado.

Temos aqui duas conclusões. A primeira é que este foi um sinal de que a polarização tão grande de preferências partidárias no Brasil não é lá condizente com a realidade, como pensam. Ainda assim, Dilma e o PT não foram eleitos para tacar os ideais que basearam a campanha pela janela. A forma como o ministério foi construído, com a ilustre participação de George Hilton, é um escárnio, não só com seus 54 milhões de eleitores, mas com toda a população brasileira.

Imagens: Globoesporte.com, EBC e Site Rio 2016