Quem acompanha a internet há anos percebe que nos últimos anos tem havido uma corrida desenfreada dos sites brasileiros por cliques. Nesse contexto, destacam-se as tais páginas de celebridades, que acompanham a vida dos artistas fora do ambiente de trabalho – particularmente detesto isso, mas tem público que curte. Paciência.

O problema é quando essas “matérias” são chamadas pelos grandes portais que se vendem como produtores de conteúdo jornalístico. Aí é uma salada danada, e infelizmente essa indústria da fofoca tem ganho um espaço desproporcional, já que “dá clique”.

E, como “dá clique”, publica-se qualquer idiotice como se fosse a notícia mais importante do mundo. “Fulana quase mostra demais…”, “Sicrano vai à praia”, “Beltrana passeia com cachorrinho”, “Ator vai às compras em shopping”, “Cantora mostra boa forma na praia”.

Essa fronteira entre o que é notícia e o que dá clique está cada vez mais sendo desrespeitada.  Por isso, o que temos visto por aí são casos em que acabam sendo ditas inverdades ou se invade a vida pessoal da celebridade de uma forma além do aceitável.

E, dentro desse cenário, ocorreu o lamentável episódio em que um portal famoso publicou uma “matéria” em que questionava a “forma” da apresentadora Fernanda Gentil utilizando um linguajar tosco e desrespeitoso, além de fotos da mesma de biquíni.

Como se não bastasse o ridículo trabalho da “matéria”, o portal colocou uma chamada sobre isso dividindo espaço com fatos jornalísticos. É claro que isso deu clique, mas o efeito dessa vez foi contrário.

fernanda_abreForam muitas as manifestações de repúdio, pois percebeu-se que não tratava-se simplesmente de humor, mas de deboche gratuito. Isso porque Gentil é apresentadora da televisão concorrente à emissora que controla o portal que publicou a matéria.

O portal se desculpou com a apresentadora, que aceitou de forma elegante e profissional – curiosamente, Fernanda Gentil está grávida.

Como escrevi no começo do texto, existe a tal indústria das celebridades e há público pra isso – até porque há pseudo-celebridades que fazem esquema com fotógrafo para conseguir mais espaço nesses sites, mas esse é outro papo. Também sou contra a censura e não proponho isso.

Só que a cobrança de escalões superiores por resultados, leia-se cliques, vem provocando esse tipo de fenômeno que em nada contribui para a prática correta do exercício de comunicação, para não dizer que esse fenômeno empobrece culturalmente o público.

Por isso, nesses tempos de internet, se faz necessária uma reflexão para nossas empresas jornalísticas:

1 – é preciso delinear de uma vez por todas o que é esse conteúdo de celebridades e o que é conteúdo jornalístico, e não misturá-los.
2 – os portais precisam fazer um mea culpa e cobrar uma postura mais honesta de seus “profissionais” para esse tipo de publicação.
3 – entender que a credibilidade de um veículo não pode ser posta em risco por causa de cliques, mas pelo que produz, mesmo nesse conteúdo de celebridades.
4 – entender de uma vez por todas que humor não é deboche, e que pode se fazer piada sem desrespeitar ninguém.
5 – antes de se publicar alguma coisa, deve-se pelo menos checar o que está sendo publicado para evitar erros e/ou exageros.

Sei que é uma utopia tudo que acabei de escrever, mas pelo menos não me omito em criticar o que está errado e propor uma reflexão. Essa, aliás, é uma cláusula pétrea deste Ouro de Tolo e que nós colunistas seguimos todos os dias: debater, criticar e propor ideias.

Mas, enquanto a coisa não muda, pelo menos uma coisa eu posso fazer sem piedade: não clico nessas porcarias que publicam lixos como no caso da “matéria” sobre Fernanda Gentil. Tomara que mais gente faça o mesmo.

P.S. – em agosto do ano passado o Migão escreveu artigo com tema semelhante, que pode ser visto aqui.