Nesse fim de semana começaram os ensaios técnicos das escolas de samba na Marquês de Sapucaí e, para começo, já vai uma crítica. Começar ensaios técnicos em vésperas de Natal com escolas de menor torcida e depois parando uma semana para o réveillon é pedir para a Sapucaí ficar vazia.

E ela ficou. Apenas setores 01 e 03 com gente, depois um gigante adormecido.

As pessoas nesse momento estão preocupadas com Papai Noel ou com compra do champanhe do réveillon, não  com escolas de samba. Verão começou ontem e se esse ensaio não tiver apelo as pessoas vão preferir a praia. Se for para parar no réveillon, que parem no Natal também. Era melhor começar uma semana antes e parar duas semanas.

ECHE, com todo o respeito que as seis escolas que desfilaram merecem, nenhuma delas é “chama público”; ninguém “normal” sai de casa no calorão que fez no Rio esse fim de semana para ver uma delas. Quem foi à Sapucaí foi para trabalhar, por ter alguma ligação afetiva com alguma delas ou por ser muito fanático por carnaval.

Eu fui trabalhar. Comecei semana passada como blogueiro do portal SRZD e fui para lá analisar os sambas-enredo das agremiações e no fim gravar minhas opiniões.

Farei o mesmo trabalho aqui no Ouro de Tolo. Analisarei todas as escolas que passarão nesses ensaios na Sapucaí.

E o mesmo que disse na gravação ao SRZD digo aqui. Tem que mesclar, tem que misturar as escolas do Especial com o Acesso. Não é legal, não é justo que Unidos de Bangu, Em Cima da Hora e Alegria da Zona Sul tenham que concorrer com Papai Noel enquanto no mesmo dia – 1 de fevereiro – teremos União da Ilha, Portela e Salgueiro. Três “arrasa quarteirão”.

Não havia necessidade das três juntas e nem é inteligente. Uma delas que fosse nesse fim de semana atrairia público e uma atenção maior ao produto exposto por LIESA e LIERJ. Se o carnaval é um produto, vamos aprender a vender.

Isto posto, vamos falar das escolas.

A Unidos de Bangu foi a primeira escola e não me surpreendeu. Não surpreendeu porque desde sua volta aos desfiles (esteve inativa por 15 anos) a escola da Zona Oeste vem se mostrando corajosa, enfrentando de igual para igual e sem essa de lutar apenas para se manter. Foi assim nos seus dois acessos inesperados.

Evidente que a Unidos de Bangu não vem como favorita a vencer, mas não podemos dar como certeza uma queda sua para a Intendente. A escola vem com um bom samba e não se acovardou na Sapucaí; veio com um bom contingente que cantou forte o samba.

A Em Cima da Hora veio logo depois com um samba inferior ao da Unidos de Bangu e com poucos componentes cantando. Mas teve no seu grande cantor Ciganerey um diferencial. O velho cigano levantou um samba apenas razoável que passou bem pela avenida.

Cabe ver como será o segundo ano da Em Cima da Hora na Sapucaí, ainda mais agora sem o escudo “Os Sertões”. Caso curioso desse samba que protegeu a escola, com certeza ajudando que lhe mantivesse no acesso, mas não ajudou a si mesmo sendo estranhamente “canetado”. Sem esse escudo a escola terá que se superar e fazer do apenas razoável samba pelo menos funcional.

Funcional como foi o samba da Alegria da Zona Sul. Muitos criticam – entre eles o Migão, mas eu acho que esse tipo de samba faz falta. Vivemos uma era politicamente correta, careta e falta irreverência, a letra malandra, com gírias e carioca. Mesmo para o lado da irreverência não é um grande samba: está mais semelhante aos sambas da Caprichosos dos anos 90 (me lembra muito aquele samba que fala do lado de cá do Túnel Rebouças) que dos anos 80, mas funcionou na avenida, com seus componentes cantando felizes.

Santa CruzSanta Cruz iniciou o domingo pra mim com o pior samba das seis. Mesmo tendo Davi do Pandeiro em grande fase e muito bem amparado por seu excelente carro de som, onde destaco o insulano Marquinhus do Banjo, o samba mostrou que se limita a um refrão e mesmo assim não empolgou os componentes.

Pode até não ser o pior dos seis sambas, mas classifiquei assim por ter o maior potencial de qualidade comparando ao enredo. Grande Otelo merecia mais.

A novidade foi a bateria comandada por mestre Riquinho e tendo vários integrantes da União da Ilha. Pessoal que trouxe um ganho para a escola. [1]

Inocentes fechou os ensaios com um samba muito bom que fez jus ao homenageado. Mas apesar do samba ser de alto nível não rendeu tudo o que podia na avenida por problemas com as cordas (altas demais) e os cantores com vozes muito agudas fazendo sentir falta da voz grave.

InocentesMas o mais importante a escola tem que é o samba e tem tempo para resolver esse problema. Bateria excelente comandada por Mestre Washington e a comunidade respondeu bem.

Não esqueci nenhuma escola. Pulei uma sim, mas começo a citá-la na finalização da opinião sobre a Inocentes. O maior mérito da escola da Baixada foi não derrapar no “óleo deixado na pista”.

Usamos essa expressão para definir alguém que se apresenta depois de um “rolo compressor” e assim podemos chamar o que a Renascer fez na avenida. Poderia dizer que a escola tem um senhor samba-enredo, mas não seria justo. Digo que tem uma senhora música porque antes de tudo samba-enredo é música apesar da gente esquecer disso e priorizar o didatismo e a funcionalidade de um samba em detrimento de qualidade e beleza em letra e melodia.

A senhora música da Renascer fez a diferença em toda a escola, puxando a mesma para cima como todo grande samba-enredo deve fazer e faz. A Renascer sobrou no primeiro final de semana, o que não quer dizer nada porque foi apenas um ensaio. Mas quem tem samba sempre sai na frente.

Infelizmente não consegui jogar no Youtube apresentações das escolas de domingo. Mas aqui temos vídeos que fiz das escolas de sábado.

A festa só está começando.

[N.do.E.: depois do lamentável desempenho no desfile de 2014, venhamos e convenhamos que não seria muito difícil uma melhora da bateria da Santa Cruz. PM]

Imagens: Arquivo Pessoal do Colunista

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