Eu, Pedro Migão, editor e coordenador desta revista eletrônica, completo no dia de hoje 40 anos. Quatro décadas de vida.

De acordo com os recentes prognósticos médicos e sociais, 40 anos, quatro décadas, representam aproximadamente a metade da expectativa de vida de uma pessoa aqui no Brasil, pelo menos nas grandes cidades.

Hora de um balanço?

Hora de olhar para trás. Muitas vezes nos concentramos em nosso dia a dia e esquecemos de celebrar o que conquistamos. Muitas vezes se precisa de um agente externo para se dar conta disso. Explico.

Semana passada participei da reunião anual da gerência onde trabalho. Um dos eventos foi uma ação social envolvendo alguns funcionários do hotel onde ficamos hospedados: algumas crianças, filhas de empregados, ganharam bicicletas de presente, em iniciativa da Cia onde trabalho juntamente com a consultoria que fez parte do trabalho.

20141030_152641Coube a mim entregar um dos presentes. E, nas breves palavras que dirigi ao público naquele momento, passou todo um filme da minha vida em flashes. Como disse naquele momento, tive uma infância talvez tão humilde como a daquelas crianças que estavam ali, e com muita perseverança lutei e me esforcei para chegar onde cheguei. Não é pouca coisa.

Coloquei naquele momento que nunca devemos nos acomodar em nossas condições, e sim ousar sonhar, ousar lutar, ousar vencer. Que, se eu conseguira, todos podem conseguir mudar seus destinos. E que o maior orgulho que eu tenho na vida é o de poder dar às minhas filhas tudo o que não tive em termos materiais.

Costumo dizer que com um microfone na mão tenho menos carisma e talento que um tijolo na parede, mas pelas reações posteriores dos colegas, acho que consegui meu objetivo, que era exortar aquelas crianças e seus pais, por um lado, e tentar despertar os colegas de sua letargia, por outro.

É algo a se pensar. O que se conquistou? O que se pode conquistar? Dá tempo para se recomeçar?

Migão no Pedro IIEu tinha tudo para dar errado. Era pobre, era feio, era desengonçado, não era “popular” (seja lá o que isso represente), tinha um físico franzino… Mas a vida ensina que não se deve acomodar, mas buscar mudar o destino, dentro de suas possibilidades.

Eu não era bom de bola, eu não tinha a menor habilidade manual, eu não era “bom de papo”. Me restava estudar. Ao estudo agarrei-me como a uma tábua de salvação. Em tempos difíceis, consegui me formar em Economia, reconheço que aos trancos e barrancos – ainda que em ótima universidade.

Nunca lamentei minha condição financeira nem a utilizei como desculpa para nada. Fui à luta para mudar isso. E mudei.

É mais uma lição a se pensar quando se completa metade de uma expectativa de vida: o ser humano pode se arrepender de algumas coisas, mas certamente haverá algo a ser celebrado e reconhecido como conquista. Obviamente, alguns destes arrependimentos podem causar uma situação de desespero, de urgência de tempo, mas certamente há bastante do que se orgulhar.

O que se pode esperar para o futuro?

O período compreendido entre os quarenta e os cinquenta é aquele onde a decadência física da velhice ainda é discreta, por um lado, e por outro temos uma experiência que a juventude não desfruta.

Um período de maturidade, talvez?

Muita gente diz que maturidade não tem a ver com a idade, mas, caro leitor: ajuda, e muito. A soma de experiências que adquirimos nos torna mais resilientes a certos aspectos, por um lado, e mais seguros de certas posturas, por outro. Há mais dados para uma análise mais acurada das situações, por outro lado uma maior benevolência em outros aspectos.

Vou dar um exemplo, mas podem ser outros: eu sempre condenei os suicidas. Achava uma covardia alguém tirar a própria vida. Até que há dois anos passei por uma situação que me levou a tal estado de desespero que cheguei a pensar em morrer – embora, raciocinando friamente, talvez jamais tivesse coragem para fazer isso. Mas este momento me levou a entender o que leva uma pessoa a um ato tão extremo destes.

1891225_650248825035198_1710670216_nEste ponto da vida traz uma certa “urgência do tempo”. Começa a aparecer o espectro da velhice no horizonte e aquela sensação de que temos pouco tempo para fazer certas coisas e realizar certos sonhos. Não chega a ser um “desespero”, mas é algo que talvez todo mundo que chegue a esta idade se preocupe. É uma espécie de “última chance para recomeçar”.

Entretanto, leitor, pode ser o ensejo para uma transformação. Manter o que parece satisfatório, mudar o que pode ser mudado, aceitar o que não nos depende. Dói menos. A decadência física e de aparência certamente virá – embora particularmente hoje eu me ache melhor que, por exemplo, aos 20 ou 25 anos – contudo este fenômeno é contrabalançado por uma experiência de vida que nos ensina os “atalhos” da existência.

A perspectiva de futuro trazida pela experiência também nos muda certas percepções da vida. Não queira ser famoso ou importante: queira apenas ser respeitado onde quer que esteja. Também se sabe que não se pode agradar a todos: uns vão nos amar, outros suportar por conveniências, outros odiar. Faz parte, caro leitor.

E se não realizamos todos os nossos sonhos até agora, sempre há tempo. Considero-me feliz por já ter realizado vários, alguns deles até que eu achava irrealizáveis – como fazer parte da diretoria da minha escola de samba do coração ou ver meu time da NBA jogando ao vivo, por exemplo. Mas ainda temos ao menos outros 40 anos para realizar o que não fizemos.

No fundo, a lição, se é que se pode chamar assim, é essa: não existe idade ou falta de condições que nos impeçam de ir em frente. Podemos dar a desculpa que quisermos, mas serão apenas isso: desculpas.

20140304_001606Com o perdão da má expressão, a acomodação e a inércia são uma merda – e nunca é tempo para se acomodar, apesar de ser normal certos períodos assim após grandes esforços. Seja aos 20, aos 40, aos 60 ou aos 80.

Por razões que não cabem aqui não poderei fazer o que era meu desejo para esta data – ficou para o ano que vem – mas isso não é importante. O importante é que cheguei muito mais longe do que seria esperado, e ainda tenho muito para caminhar.

O leitor tenha certeza: você também. Enquanto há vida, há tempo para mudar o nosso destino: basta começar. As únicas coisas imutáveis são a morte e a certeza de que todo encontro está fadado à separação.

Portanto: ousar sonhar, ousar lutar, ousar vencer. Um brinde à vida – com cerveja, é claro!

3 Replies to “Quatro Décadas de Vida”

  1. Belo e emocionado texto. Parabéns!

    Temos de celebrar todo dia este dom único de Deus, que é a vida. Tento fazer com que, ao final de cada dia, possa ter vivido algo nas última 24h na Terra que fez o dia valer a pena para mim, nem que por um motivo ‘pequeno’ qualquer. Não pode ser ‘apenas mais um dia’.

    Saúde e paz; que o resto a gente corre atrás!

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