A Ponte Preta chega ao final da série B do Campeonato Brasileiro com um saldo positivo. Sucesso garantido com rodadas de antecedência, o que nunca tinha acontecido nos seus acessos, e a briga pelo título da segunda divisão do nacional contra a equipe do Joinville.

Nos últimos anos, a Macaca chegou a todas as fases finais do estadual, sendo vice-campeã em 2008 e campeã do interior em 2009 e 2013. Subiu para a primeira divisão do Brasileiro, em 2011. Em 2012, conseguiu uma vaga inédita em uma competição internacional. Disputou a Sul-Americana em 2013 e foi finalista da competição, apesar do rebaixamento para a Série B do Brasileiro.

Em 2014, passou por dois momentos de superação com erros estratégicos por parte da diretoria. No começo do ano, a contratação de Sidnei Moraes e o conserto com a chegada de Osvaldo Alvarez ao Moisés Lucarelli. Com a saída de Vadão, no início do Brasileiro, Dado Cavalcanti foi o nome escolhido. Não deu certo e Guto Ferreira (alto do post) comandou o time nessa campanha histórica. Guto entra, pela segunda vez, na história da Ponte Preta. Durante sua primeira passagem, o piracicabano conquistou a maior série invicta em início de temporada. Hoje, Guto é o melhor técnico da Macaca do século XXI.

No momento em que clubes do interior paulista, que já foi celeiro de craques, se definham, a Ponte Preta parece tomar um rumo diferente. A Macaca tem sua sede em Campinas, uma das regiões mais ricas do país e que já foi considerada, pela revista Placar, a ‘capital do futebol’ durante parte das décadas de 70 e 80. No entorno da cidade, várias cidades que são reconhecidas pelo futebol, porém, hoje não conseguem obter o mesmo sucesso do passado.

O XV de Piracicaba está na elite do campeonato estadual, mas no segundo semestre do ano passa pela Copa Paulista, torneio realizado pela Federação Paulista de Futebol, e sofre para arrecadar dinheiro para o clube. No Paulistão deste ano, a média de público no Barão de Serra Negra foi de 4.203 pagantes. Durante a competição regional, o número caiu para 1.832. Um número pequeno, já que o time foi para as fases finais da competição. Segundo o ex-presidente presidente Celso Christofoletti, o lucro do time é pouco. “Se nós tivermos acima de 700 pagantes, nós começamos a ter lucro.”, diz o mandatário quinzista.

O tradicional Come-fogo, que coloca frente a frente Comercial e Botafogo, em Ribeirão Preto foi adiado no começo da Copa Paulista por falta de verba para pagamento de policiais. Uma lei estadual aumentou o valor pago dos clubes para os policiais no evento. Além disso, a PM de Ribeirão fez uma estimativa de público que geraria um custo de R$30mil para o clube mandante só de encargos com segurança, sem dinheiro, o jogo teve que ser adiado da data original.

Em Americana, o Rio Branco sofre da mesma maneira. No primeiro semestre disputa a série A2, a segunda divisão estadual. Agora, o tigre tem uma média de público de 372 torcedores nos jogos realizados nessa Copa Paulista.

O clube chegou a disputar a série A3 do estadual quando a prefeitura da cidade apoiava e dava todo o incentivo para o itinerante Americana que chegou e voltou para Guaratinguetá em apenas dez meses. Novamente com o apoio da prefeitura, uma crise política ameaça deixar o clube sem seu maior incentivador. Hoje, o único apoio da cidade é a municipalização do estádio Décio Vitta. Com pequenos apoios do comércio de Americana, o Rio Branco disputou a Copa Paulista sem patrocinador master.

O Tigre que revelou jogadores como o volante Mineiro, Flávio Conceição, Marcelinho Paraíba, Marcos Senna e Romarinho, hoje no Corinthians, agora sofre para se manter nas divisões de acesso do Paulistão.

Giovanni, Marcio e SérgioCampeão Brasileiro da série C de 2004, o União Barbarense disputou em 2005 e segunda divisão do nacional, mas não conseguiu permanecer na disputa. Chegou à elite do paulista em 2013 e foi rebaixado. A média de público nesta Copa Paulista só foi maior que a do rival, Rio Branco, porque o clássico levou 1273 torcedores ao Antonio Guimarães.

Com uma média de 584 pagantes, o time revelador de jogadores como Diego Tardelli, do Atlético/MG, e Oscar, do Chelsea, pouco ganha para se manter. Sem ajuda da Federação Paulista, o time busca parcerias com empresários para sobreviver. O diretor de futebol do clube, Almir Dionísio acredita que a FPF deveria conversar com os clubes. “Eles [aos dirigentes da FPF] não querem saber de nos ajudar. Se você desistir da disputa você é multado ainda”.

É de Limeira que vem o campeão Paulista de 1986. A Internacional chegou ao topo do futebol estadual, mas hoje sofre na terceira divisão. Hoje na terceira divisão do estadual, levou 450 torcedores ao Major José Levy Sobrinho durante a Copa Paulista.

No rival, Indepentente, a situação é complicada também. A equipe conseguiu o acesso para a segunda divisão do campeonato estadual e, em 2015, jogará a série A2. Agora, disputa a Copa Paulista e busca apoios para manter o time, como disse o técnico do time, Alvaro Gaia que está no Independente há dois anos e meio. Segundo ele, o clube não tem dinheiro nem para pagar despesas comuns, como a conta de água, sem a parceria.

Campeão Brasileiro de 1978 e da Taça de Prata de 1981, o Bugre já foi vice-campeão brasileiro e estadual. O último em 2012, em meio à crise financeira que dura mais de dez anos. Gestões que devastaram as contas no estádio Brinco de Ouro da Princesa deixaram o único campeão brasileiro do interior à beira da falência. O clube, conhecido por revelar jogadores, praticamente não tem mais base. O estádio foi a leilão para pagar dívidas trabalhistas, porém, nenhum lance foi dado e a situação continua.

“O Guarani, por ter uma torcida boa, consegue ter TV e conseguir mais patrocínio, mas nos outros clubes que a gente vê, o público não paga as despesas de cada clube. Essa é a realidade do futebol brasileiro”, conta o diretor de futebol, Sérgio do Prado.

A solução encontrada foi vender o estádio para uma empresa que fará um investimento imobiliário de mais de dois bilhões de reais e terceirizar o futebol para a mesma empresa que deve investir cerca de R$ 350 mil por mês em 2015 nas séries A2 do Paulista, C do Brasileiro e Copa do Brasil.

Apesar de se destacar, a Macaca é tratada pela Federação Paulista de Futebol como se fosse um time novo e sem destaque. A cota para a Ponte Preta no Paulistão de 2015 será de R$ 2,5 milhões. A mesma do Capivariano, que subiu pela primeira vez à elite, e do Red Bull, time que há dez anos nem existia.

Dentro desse cenário do futebol do interior paulista, a Ponte Preta parece ser a exceção para confirmar a regra, porém, nem tudo são flores na praça Francisco Ursaia. A dívida com Sérgio Carnielli é de mais de R$ 100 milhões. Para pagar esse valor, o presidente afastado deve ter partes na Arena Ponte Preta, que deve começar a ser construída em 2015.

Nessa segunda-feira, a chapa de Carnielli será reeleita. Desde a última eleição, em 2011, quando foi afastado, ele busca na justiça poder voltar ao cargo máximo do time campineiro. Neste último mandato indicou o seu então diretor de marketing. Márcio Della Volpe não deve continuar no cargo.

Indicado por Sérgio, ele entrou em rota de colisão com o patrono da Ponte Preta no final do ano passado. Enquanto Márcio decidiu priorizar o título da Sul-Americana, Carnielli quis a permanência na série A. Nenhum dos dois conseguiu o objetivo, mas o prejuízo no bolso recaiu sobre Carnielli que foi chamado às pressas para pagar salários atrasados deste ano, no meio da série B. Coincidência ou não, após a reunião com jogadores, a Ponte disparou na tabela.

O novo indicado do empresário ainda é desconhecido. Especulações em torno de três nomes: o diretor financeiro e homem de confiança de Sérgio, Vanderlei Pereira, o diretor de futebol, Hélio Kazou, e o diretor social, Giovanni Dimarzio. Independente do próximo presidente, de direito, Sérgio Carnielli, que pegou o time com até sofá penhorado tamanha as dificuldades do time, ficará no comando da Macaca, de fato, por 20 anos.