Depois do relativo sucesso do primeiro ano com desfiles divididos em dois dias, o Carnaval de São Paulo pretendia se consolidar como uma grande festa em 2001. Sem a limitação de temas existente em 2000, quando a história do Brasil foi dividida em 14 partes e coube às escolas contar cada uma delas, a expectativa era que o espetáculo fosse ainda mais grandioso.

A tricampeã Vai-Vai era a mais esperada de todas as escolas. Depois do desfile arrasador de 2000, a Saracura, que contou com a chegada do Carnavalesco Carioca Ilvamar Magalhães, optou por um tema de menor apelo popular: uma metáfora sobre alegria e paz através da luz. A outra campeã de 2000, a X-9, foi na mão contrária e prometia uma boa comunicação com o público ao viajar pelos Estados brasileiros através dos souvenirs. Vice-campeã, a Gaviões da Fiel procurava surpreender com a criação do mundo como tema.

A Mocidade Alegre trouxe para a Avenida um tema de difícil compreensão, que falava sobre um reino fenício em sete cidades do Piauí, enquanto a Rosas de Ouro buscava voltar aos dias de glória com uma homenagem ao empresário Caio de Alcântara Machado. Nenê de Vila Matilde e Camisa Verde e Branco tentavam sair do jejum (o da Águia bem maior que o do Trevo, diga-se) com enredos sobre a trajetória do negro através dos tempos e com uma exaltação ao sertanista Orlando Villas-Bôas, que já havia sido homenageado em uma das alegorias do desfile de 2000 da escola da Barra Funda.

Prometendo uma ousadia jamais vista no Anhembi, a Leandro de Itaquera contaria as lendas do Ariaú, uma região próxima à Manaus. Milton Cunha, Jeronimo Guimarães e Werner Botelho chegaram para substituir Marco Aurélio Ruffim, que foi para a Tucuruvi desenvolver um enredo sobre a história do samba paulistano, declaradamente uma resposta às palavras do Prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde, no Carnaval de 2000.

A Águia de Ouro, depois da Nossa Senhora que virou índia, prometia ainda mais polêmica com um enredo sobre os grandes “bruxos” que assombraram a história do Brasil. Com temática mais leve, a Imperador do Ipiranga traria a história dos brinquedos e o universo infantil para a Avenida, enquanto o Morro da Casa Verde levaria um Extraterrestre ao Carnaval de São Paulo. Campeã do Grupo 1, a Pérola Negra escolheu abrir a festa passando uma mensagem de paz, enquanto, estreando na elite, a Unidos de São Lucas homenageou o Estado de Pernambuco.

Para abrir a festa, a Pérola Negra fez um minuto de silêncio na Avenida antes de iniciar o desfile “A vida pela paz. Solidariedade”. A intenção era pedir paz e entrar assim no espírito do enredo, que exaltava os heróis da busca pela paz. A escola da Vila Madalena, no entanto, enfrentou dois problemas sérios no início de seu desfile. O carro abre-alas quebrou ainda na concentração e só cruzou a linha inicial da Avenida com 13 minutos de apresentação. Assim, ao invés dos 70 minutos regulamentares, a Pérola teria apenas 57 para passar pelo Anhembi.

Para piorar, em meio a todo o drama, o intérprete André Pantera cantou o samba do Carnaval de 2000 já com o desfile em andamento, o que era proibido pelo regulamento e podia acarretar em perda de pontos. Sem conter o nervosismo por tudo o que havia acontecido, a Azul-e-vermelho fez um desfile que, apesar da bonita mensagem, foi bastante burocrático. Até porque o samba também não era dos melhores.

A comissão de frente, “A pomba da paz”, tinha uma fantasia bastante pesada e uma coreografia bastante simples. O abre-alas, que provocou toda a confusão, deixava nítida a deficiência econômica da agremiação e estava bastante abaixo dos padrões daquele 2001. O carnavalesco Gelson Coelho optou por uma divisão cromática quase que exclusivamente formada por cores bastante claras, o que prejudicou o efeito visual da escola. Tudo ficou linear demais e, vista do alto, a escola parecia ter uma ala só.

As fantasias tiveram um acabamento razoável e tinham uma leitura simples. O enredo exaltou personagens conhecidos como Mãe Menininha do Gantois, Dalai Lama, Chico Xavier, dentre muitos outros, o que provocou uma comunicação razoável com o público. A fantasia que mais me chamou a atenção foi a da bateria, que simbolizava um aperto de mão entre um branco e um negro para homenagear Martin Luther King. A grande sacada foi vestir os componentes com máscaras pretas, satirizando o grupo racista Ku Klux Klan e suas máscaras brancas. Ainda por cima, veio a calhar para quebrar o excesso de branco do desfile.

Diga-se de passagem, os setores que mesclaram as cores foram os mais inspirados do desfile. A ala dos índios, toda em verde, tinha fantasias bonitas, por exemplo. O ponto fraco do desfile foram, de longe, as alegorias. Bastante pobres e mal acabadas, foram as responsáveis pelos momentos mais “coloridos” do desfile, mas não conseguiram bom efeito. Para piorar, da segunda metade em diante a escola teve que fazer uma maratona na Avenida para não estourar os 70 minutos de desfile. Assim, o rebaixamento da agremiação da Vila Madalena era praticamente inevitável.

Na sequência, pisou na Avenida o Camisa Verde e Branco, que apresentou o enredo “Sertanista e Indigenista Sim, Mas Por Que Não? Orlando Villas-Bôas”. Sem fazer o público presente no Anhembi se levantar, o Trevo da Barra Funda fez um desfile técnico e muito bonito. A evolução impecável ajudou a verde-e-branco passou compacta com um bom conjunto alegórico e belas fantasias.

A comissão de frente fez uma coreografia de bastante bom gosto e foi acompanhada por um abre-alas que, se não foi o mais luxuoso possível, estava muito bonito. Particularmente, achei que o enredo foi desenvolvido de maneira um pouco forçada ao partir da chegada dos índios à América. Em se tratando de uma homenagem à Orlando Villas-Bôas, podia ser mais direto. Se faltou luxo para o abre-alas, não faltou para os dois carros seguintes, que exaltaram a fauna e a flora da Amazônia de maneira impecável. Muitos coloridos, tinham belas esculturas e estavam muito bem acabados. O nível, no entanto, caiu um pouco na quarta alegoria, “Homenagem à FAB”, que lembrou a ligação de Villas-Bôas com a aviação.

A escola levou para a Avenida fantasias muito bonitas, que exploraram as diversas cores e formas de se explorar um enredo desse tipo. Os diversos animais e a variedade de plantas encontrada na região foram bem inseridos ao longo do desfile. Vindo no último carro, o homenageado sambou feliz da vida. Parecia que ainda não tinha sido uma apresentação digna de título, mas foi uma boa apresentação do Camisa, talvez a melhor desde o campeonato conquistado em 1993.

A terceira escola da noite foi a Águia de Ouro, que prometia muita irreverência e muita crítica no enredo “De Salém à Brasília, o que vale é a bruxaria”. A escola da Pompéia apresentou um grande enredo, mas pecou bastante nos quesitos plásticos. A ideia dos carnavalescos Victor Santos e Paulo Führo era comparar o povo brasileiro com as bruxas de Salém, que de bruxa não tinham nada e, mesmo assim, eram assassinadas pelos poderosos.

Assim, ao contrário do que fez por exemplo a Vai-Vai em 2000, a azul-e-branco optou por um desfile de críticas indiretas e não diretamente a determinadas figuras. A escola criticou os políticos, os banqueiros, os escândalos de corrupção, sem entrar diretamente em algum deles. Com um samba divertido e de críticas contundentes, a agremiação da Pompéia chamou a atenção do público. A comissão de frente, muito bem vestida e tristemente coreografada, assim como o abre-alas, era uma síntese do enredo. Na sequência, veio uma introdução sobre a história das bruxas de Salém.

A partir do terceiro setor, a escola chegou ao Brasil e passou pelo descaso na saúde, pela reforma agrária que não vinha nunca, pelas farras dos políticos, pelos banqueiros, pelos impostos e pelos maus bocados corriqueiros que deixam o Brasil doente. O nível das fantasias e das alegorias foi semelhante durante todo o desfile. A impressão que tive é que as mesmas foram concebidas para ter grande impacto, mas acabaram sendo pouco felizes por conta dos problemas de acabamento e da falta de dinheiro para fazer algo mais luxuoso.

Se a escola evitou criticar políticos de maneira direta, resolveu homenagear alguns deles no último setor, o do “Voto consciente”, que era a receita para resolver os males do Brasil. Nele, desfilaram a ex-prefeita Luiza Erundina e um vereador do PSDB. Na ala dos cadeirantes, a inscrição “essas cadeiras foram doadas pelo vereador Wadih Mutran” chamou a atenção. Foi um desfile regular, típico de meio de tabela, mas que chamou a atenção pela criatividade na hora de criticar. Sem dúvida, a escola não foi para o Anhembi a passeio.

Na sequência, depois do bom desfile de 2000, a Mocidade Alegre entrou na Avenida para apresentar o enredo “A Lenda da Lenda – do Fascínio do Ophir ao Mistério das Encantadas”. A grosso modo, o enredo narrava a história de um Rei Fenício que acabou indo parar no Piauí muito antes do Piauí ser o Piauí. Aliás, muito antes do Brasil ser o Brasil.

Foi o típico desfile que não fez sentido algum. O enredo, além de ser muito difícil de ser carnavalizado e representado em fantasias e alegorias, não teve a menor comunicação com o público e a Morada do Samba não conseguiu transmitir sua mensagem com clareza.

O nível das fantasias esteve semelhante ao de 2000. Mesmo sem usufruir de muito luxo, as alas vieram muito bem trajadas em um trabalho muito interessante do carnavalesco Alexandre Colla. À exceção do primeiro setor, que abusou das cores mais desbotadas, a divisão cromática foi muito competente e inteligentemente privilegiou as cores mais vivas. Colla usou materiais como penas de pavão de maneira que o movimento dos componentes criasse efeitos muito interessantes. O bailar das penas esteve presente em algumas alas e ajudou muito no conjunto visual.

Por outro lado, o conjunto alegórico foi, com alguma folga, o pior do Carnaval de 2001. Os carros estavam pobres, mal acabados e em um padrão início da década de 1990. Os carros, com adereços simples, tinham até uma clareza razoável, mas a expectativa era que a escola deixasse muitos pontos na pista. Na contramão, a comissão de frente foi uma das mais belas e luxuosas do ano. No geral, um desfile apenas regular da Morada, que deveria ficar ali no meio da tabela.

x92001A quinta escola a abrir o seu desfile foi a X-9 Paulistana, que apostou em um enredo simples e de fácil execução. A agremiação da Parada Inglesa viajou pelo Brasil através dos souvenirs com o enredo “Estive aqui! Lembrei-me de você! Me leva Brasil!” e fez um bom desfile, melhor até que o do título de 2000.

O enredo, como eu disse, era simples. Depois de um setor inicial, de apresentação, viriam cinco setores que representariam cada uma das regiões brasileiras e as respectivas lembrancinhas que costumam ser trazidas por quem vai visitar cada ponto do Brasil. A Comissão de Frente veio com belíssimas representações da Rosa dos Ventos, que indicavam a direção que a escola deveria seguir: sempre em frente. O carro abre-alas era um resumão do enredo, trazendo destaques com roupas típicas de cada região e também estava bem bonito.

A escola não fez um desfile luxuoso, não apresentou alegorias de grande impacto, mas fez uma exibição bastante correta. O segundo setor, sobre a região Norte, trouxe boas fantasias com representações do artesanato do norte, da arte feita pelos índios em vasos e colares. O segundo carro, apesar do acabamento um pouco deficiente, tinha fácil leitura e cumpriu bem seu papel.

O terceiro setor foi dedicado ao Nordeste e, para o meu gosto, foi o melhor do desfile. Foram relembradas não só as artes típicas de praia como as garrafinhas de vidro, mas também a história da arte local. As obras do Mestre Vitalino, por exemplo. Também gostei muito das fantasias do quarto setor, o setor do Sudeste, que estavam muito criativas. Foram relembradas a arte de Aleijadinho, o artesanato mineiro e os souvenirs da Terra da Garoa, como camisetas dos quatro grandes times de futebol do Estado e outros artigos futebolísticos. O Rio de Janeiro também foi lembrado com suas artes inspiradas no Calçadão de Copacabana.

Os setores que lembraram o Sul e o Centro-Oeste também cumpriram bem o seu papel. A ala que mais me chamou a atenção foi a das canecas de chope lá de Blumenau. O samba teve algumas quedas de rendimento, mas aguentou bem o desfile. Não parecia uma apresentação digna de brigar pelo título, mas foi um desfile bastante simpático e que credenciava a X a uma boa colocação.

Penúltima escola da noite, a Leandro de Itaquera apresentou o enredo “Os sete segredos do Ariaú” para falar sobre a Amazônia e sua relação com o homem. Mais uma vez contando com o vozeirão de Rixxa no comando do carro de som e com o reforço de Mestre Adamastor na Batucada do Leão, a vermelho-e-branco da Zona Leste contava com o carnavalesco Milton Cunha para comandar a comissão de Carnaval que desenvolveu os desfiles.

O enredo da escola tinha uma concepção interessante, era quase uma viagem pela Amazônia que iria desvendando os tais segredos do Ariaú um a um. O samba também era muito bom e rendeu maravilhosamente bem na voz de Rixxa, sendo muito bem acompanhado pela bateria de Mestre Adamastor. O conjunto visual, no entanto, deixou bastante a desejar.

Exceção feita à belíssima comissão de frente, o desfile foi bastante pobre. O abre-alas, acoplado, não estava bem adereçado e foi mal concebido. As fantasias do primeiro setor, o setor dos segredos do mar, também estiveram bastante irregulares e sem muito luxo. Gostei da divisão cromática do segundo setor, que falava sobre as florestas, e que mesclou muitas tonalidades diferentes. As fantasias em si mantiveram o baixo padrão de luxo e acabamento, mas, no geral, o efeito foi razoável. A propósito, esse foi o melhor setor do desfile. O carro da Biodiversidade foi, de longe, o que mais se salvou em termos de acabamento.

No entanto, é completamente impossível falar do desfile de 2001 da Leandro de Itaquera sem lembrar imediatamente da “Cobra da Amazônia”. Uma mistura de insanidade com ousadia e coragem. Logo atrás do terceiro carro, uma espécie de tripé trazia uma cobra de 138 metros de comprimento. Para que o leitor tenha ideia, o Sambódromo todo tem 530 metros. A cobra era uma espécie de alegoria viva. O corpo era todo formado por componentes que ocupavam mais de um quinto da Passarela. Para não tornar a evolução completamente impossível, a cobra dividia a pista com duas alas: uma do lado esquerdo, uma do lado direito. E foi assim durante todo o quarto setor.

Foi impactante, foi impressionante, foi inesquecível, mas foi uma loucura sem tamanho. A inovação quebrou completamente a evolução da escola e foi difícil manobrar aquele negócio sem que a cobra entrasse no meio de uma das alas adjacentes. Ainda assim, serviu para eternizar um desfile mediano e que corria, sim, riscos de decretar o rebaixamento da Leandro para o Grupo 1.

Voltando ao clima de leveza das apresentações, a Imperador do Ipiranga encerrou a primeira noite de desfiles levando ao Anhembi muitos brinquedos no enredo “Sonhando, brincando e sambando. Toda criança tem um brinquedo no coração”. A escola de fato optou por uma apresentação leve, despretensiosa, mas acabou fazendo um enredo sem começo, meio e fim. Os brinquedos foram jogados ao longo das alas e alegorias sem qualquer conexão aparente.

O ponto alto do desfile foi a comissão de frente, que trouxe componentes sobre patinetes e convidou o público a sair um pouco da vida séria e competitiva, para brincar. O abre-alas, que trazia a mesma mensagem, já não foi tão feliz e apresentou problemas de acabamento. A fantasia que mais me chamou a atenção foi a do arco-íris, que trouxe baianas infantis girando com fantasias nas cores do arco-íris. O primeiro setor mesclou formas diferentes de diversão infantil: lápis de cor, observar o formato das nuvens no céu e bonequinhas africanas foram algumas lembranças trazidas antes do segundo carro, o melhor do desfile, que recordava a história do Pinóquio, o boneco mentiroso.

Foi um desfile com algumas alas interessantes, como a dos cataventos, das pipas, dos quebra-cabeças e da sopa de letrinhas. Apostando em fantasias simples e de fácil leitura, o carnavalesco Amarildo de Mello usou uma divisão cromática bastante variada e conseguiu um efeito melhor que o das alegorias. A Imperador, porém, fez um desfile repleto de problemas e que, somado à exibição irregular na pista, elevavam e muito o risco de rebaixamento.

Para começar, a evolução da agremiação da Vila Carioca foi extremamente confusa. Alas se embolaram, se confundiram e, com fantasias muito pesadas, deixaram o desfile um pouco travado. A harmonia também não foi dos melhores, até por conta do samba apenas razoável. Para piorar, o quarto carro, o da Revolução Industrial, emperrou na concentração e não entrou na Avenida. Ao final da primeira noite, Pérola Negra e Imperador do Ipiranga já despontavam como grandes favoritas ao descenso.

Essa informação era quase música para os ouvidos da Unidos de São Lucas, que estreou no Grupo Especial abrindo os desfiles da segunda noite com o enredo “Pernambuco, a garra da Leão do Norte”. Foi a primeiro oportunidade que o público presente no Anhembi teve de ouvir uma voz feminina no Grupo Especial de 2001. Depois da saída de Eliana de Lima da Leandro, São Paulo ficou sem intérpretes mulheres em 2000. Naquele Carnaval, Vânia Cordeiro cantou o samba da vermelho-e-branco. Mais adiante, veremos que não foi a única.

A caçula do Especial fez um desfile surpreendente. O abre-alas, gigantesco, não deixou a desejar à nenhum dos outros sete que haviam desfilado na sexta-feira. Representando a fundação de Olinda, ele tinha muitos recursos tecnológicos e conseguiu ótimo efeito. Por outro lado, a fantasia da Ala das Baianas, toda em branco, representando o branco das espumas do mar, não foi tão feliz. Foi, no entanto, uma exceção no primeiro setor, que trouxe fantasias coloridas, bem acabadas e de leitura relativamente fácil. Gostei da ideia do carnavalesco Hernani Siqueira de misturar os diversos índios que viviam em Pernambuco com os colonizadores portugueses e holandeses.

O público, mesmo ainda frio, respondeu bem ao bom samba da escola. O enredo teve um desenvolvimento razoavelmente simples e, por isso, foi de fácil compreensão. A escola tinha visivelmente um potencial econômico reduzido e isso acabou se refletindo em algumas fantasias, que não conseguiram manter o padrão das que mais se destacaram. A São Lucas também teve alguns problemas com a harmonia, mas fez, de maneira geral, uma estreia boa.

O conjunto alegórico surpreendeu a algumas inovações foram bem recebidas, como a “Ala Quadrilhas”, que trouxe vários casais dançando quadrilha de maneira bastante espaçada, quebrando a evolução normal, bem como a ala que trouxe duplas jogando capoeira. O quadripé que representava um casamento na Festa de São João também estava interessantíssimo. Até por conta dos problemas com Pérola Negra e Imperador do Ipiranga, o risco de rebaixamento era pequeno e uma boa colocação não estava descartada.

gavioes2001Sacudindo o Anhembi, a Gaviões da Fiel foi a segunda escola a entrar na Avenida com o enredo “Mitos e Magias na Triunfante Odisséia da Criação”. O andamento impecável da bateria Ritimão e o grande desempenho de Ernesto Teixeira garantiram um rendimento impecável ao bom samba da escola. Para falar sobre a criação do Mundo, a Torcida Que Samba apostava em um desfile de muito luxo e de estética bastante “pesada” com muito preto.

A comissão de frente já indicava essa opção. Retratando o big bang, os artistas fizeram uma bela coreografia com uma luxuosa fantasia toda em preto. Apesar da opção por um Gavião mais tímido, que protegia o Planeta com suas asas, o abre-alas foi o mais impressionante carro alegórico de todo o Carnaval de 2001. Maior alegoria da história do Carnaval de São Paulo até então, ele era predominantemente preto e também representava a criação do Mundo. Com vários jogos de luzes, o carro trazia destaques que simbolizavam guerreiros que defendem Gaia, a Terra. O carro também chamou a atenção por efeitos sonoros de trovoadas e raios. Sem dúvida, um espetáculo.

O carnavalesco Jorge Freitas ousou ao trazer a ala das baianas toda em preto, representando as trevas. Foi uma fantasia de muito bom gosto, muito luxuosa. Quebrando o clima “dark” do desfile, a ala seguinte veio toda em branco, representando o dia. O casal de mestre-sala e porta-bandeira também veio todo em branco com mais uma fantasia de muito luxo. Independente de fazer ou não o melhor desfile, a Gaviões mais uma vez provou que era a escola mais luxuosa de São Paulo no momento.

Praticamente todo o desfile foi comandado por alas perfeitamente trajadas. A bateria, por exemplo, usou uma linda fantasia em vermelho e amarelo que representava o sol. Já no primeiro setor, a Fiel Torcida se consolidava como grande favorita ao título. Embora ainda tivesse muita gente grande pra desfilar, era uma apresentação com cara e jeito de título.

A harmonia da escola também esteve impecável e cantou forte do início ao fim. A evolução também foi muito correta e, como o nível das alegorias não caiu, a Gaviões ia fazendo uma apresentação que resvalava na perfeição. O enredo, apesar de parecer difícil, foi correta e coerentemente desenvolvido, apresentando uma setorização interessante. Lendas muito bacanas foram apresentadas em alegorias muito luxuosas e de grande impacto. A do deus Netuno, por exemplo, toda em azul, deu um verdadeiro show por ser uma alegoria viva, em que os componentes formavam o mar. Foi, sem dúvida, um dos mais brilhantes desfiles da história da escola em termos plásticos, técnicos e de chão. Mas…

… mas aí veio um problema que sepultou completamente as chances de título da agremiação do Bom Retiro. Devido às fortes chuvas que caíram sobre o Anhembi na tarde do desfile, a última alegoria foi danificada e não pôde entrar na Avenida. As penalizações decorrentes deste problema em alegoria e no próprio quesito enredo, em um Carnaval com descartes, tiravam a Fiel Torcida do páreo. O problema ainda fez a escola apertar o passo para não estourar o tempo.

Em seguida, pisou na Avenida a Acadêmicos do Tucuruvi, que homenageou o samba paulistano com o enredo “São Paulo dá Samba, Olha aí o nosso Carnaval!”. Pela primeira vez, o Zaca trouxe para o Anhembi a linha de desfiles que seria marca de seus Carnavais: apresentações simpáticas, simples e de boa comunicação com o público. Nascido como uma resposta ao Prefeito do Rio de Janeiro, o enredo desenvolvido por Marco Aurélio Ruffim tornou-se um tributo ao samba paulistano.

Na comissão de frente, bailarinos manuseavam uma espécie de roda gigante com fotos de grandes baluartes do samba da Terra da Garoa, como Seu Inocêncio e Seu Nenê. O abre-alas e as alas subsequentes foram dedicadas ao Entrudo, a festa portuguesa que deu origem ao Carnaval. Os três primeiros setores da escola da Cantareira foram dedicados ao Carnaval pré-escolas de samba, lembrando cordões, grupos carnavalescos e marchinhas. Só a partir do quarto setor a Tucuruvi entrou no desfile propriamente dito.

O enredo foi desenvolvido de maneira bastante correta, respeitando uma cronologia e teve fantasias de fácil leitura. No entanto, para quem havia chamado a atenção pelo alto nível do conjunto alegórico em 1999 e 2000, a Tucuruvi decepcionou. Os carros estavam simples, com problemas de acabamento e bastante discretos. Gostei da opção por fantasias mais leves e coloridas, que garantiram um bom efeito.

O último setor foi o mais interessante, homenageou todos os pavilhões do carnaval paulistano. Ainda assim, foi um desfile, embora mais emocionante, mais fraco de uma escola que vinha em franca ascensão. Os riscos de rebaixamento não existiam, até que o último carro empacou na primeira metade da Passarela e teve que ser retirado por um trator. Ainda que os problemas de Pérola e Imperador, que fizeram apresentações inferiores, aliviassem um pouco a situação, o Zaca poderia sofrer na apuração.

Do samba paulistano para o espaço sideral. Depois do simples enredo da Tucuruvi, o Morro da Casa Verde fez uma viagem maluca para fora do Planeta Terra no enredo “O maior sonho do Universo. Extraterrestres no Carnaval de São Paulo”. Para resumir, o Carnavalesco Orlando Midaglia não trouxe ETs para o Anhembi, como o título poderia sugerir, mas sim levou o Anhembi para os ETs.

Foi uma loucura só. Com um samba que usava de termos como “Marcrys”, “Drakom” e “Trakam”, o Morro não fez a mais clara das apresentações, mas fez um desfile que teve os seus bons momentos. Por falar em samba, ele foi mais um a ser cantado por uma mulher: no caso, Cláudia França, que dividiu o carro de som com Edu Alves e Carlinhos Marques. A comissão de frente, por exemplo, estava bem trajada, com uma ótica futurista interessante e a ideia de retratar as baianas como “Estrelas do Universo” me soou interessante.

Por outro lado, o Morro foi mais uma escola a apresentar uma clara deficiência nos quesitos plásticos em relação à 2000. As alegorias estavam mais pobres, as fantasias menos chamativas e o Carnavalesco teve que se virar nos 30 para conseguir um bom efeito. No geral, não conseguiu. A fantasia da bateria, que remetia à naves espaciais, era de gosto duvidoso e a divisão cromática pendeu excessivamente para o prata e o branco.

As alegorias tiveram concepção interessante, mas não tinham nenhum luxo e possuíam um acabamento deficiente. Quem estava no Anhembi não entendeu nada, mas, pela TV, o enredo até fez algum sentido e a viagem, em alguns momentos, foi até divertida. Em condições normais, a verde-e-rosa seria candidata ao rebaixamento, mas com três de suas adversárias tendo problemas, esse era um risco praticamente descartado.

vaivai2001cDefendendo um tricampeonato, a Vai-Vai foi a antepenúltima agremiação a abrir o seu desfile. Desenvolvido por Ilvamar Magalhães “O caminho da luz a paz universal” ganhou um samba que fugia um pouco das características da escola: era mais cadenciado, tinha uma letra mais poética e era menos arrasta-povo. Até por isso, a reação do público foi mais tímida que em anos anteriores.

Depois dos problemas da Gaviões, a Vai-Vai entrou na Avenida ainda mais favorita. Escola a ser batida, não viu nenhum dos 11 desfiles anteriores ter cara de título. Embora Rosas e Nenê ainda fossem desfilar, a taça ia mais uma vez se encaminhando para a Bela Vista. Para isso, no entanto, era preciso justificar esse favoritismo na pista e, nesse ponto, o abre-alas cumpriu o seu papel. Ainda que não tivesse nem um pouco do luxo do primeiro carro da Gaviões, estava muito bonito e colorido, abrindo bem a apresentação da Escola do Povo.

Apesar do desfile tratar da luz, Ilvamar Magalhães optou por fantasias coloridas e por muitas tonalidades variadas. As alas vieram luxuosas, com muitas plumas e penas. Alguma coisa, no entanto, parecia fora de ordem. Além do enredo ser um pouco confuso, a escola parecia desfilar com o freio de mão puxado. Não era a Vai-Vai que o público costuma ver.
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Ainda assim, a escola fazia, quesito a quesito, uma apresentação bastante correta. Evoluiu bem, manteve o padrão das fantasias e apresentou carros, embora mais modestos que em anos anteriores, bastante bem acabados. A escolha das cores ao longo das alas foi muito feliz e gerou um ótimo efeito. Houve uma alternância nos setores: em uns, o preto e o branco se sobressaía; em outros, muitas cores. O setor da fauna e flora, por exemplo, ganhou fantasias muito inteligentes, com materiais que criavam efeitos interessantes à medida que os componentes se movimentavam. Quanto às alegorias, a opção foi por carros bastante adereçados e que sintetizassem ao máximo a ideia de seu setor. As duas últimas, devo dizer, estiveram bem abaixo do que se espera de uma campeã, mas, em um ano bastante fraco no quesito, poderiam não comprometer muito.

Mesmo sem empolgar, a Vai-Vai fez, com sobras, o melhor desfile do Carnaval de 2001 até então. O fato de não ter sido uma apresentação arrebatadora deixou o caminho aberto para Rosas e Nenê sonharem, mas, ao final do desfile, o sonho do inédito tetracampeonato não só permaneceu, como ganhou vida.

rosasdeouro2001Para botar água nesse chope, a Rosas de Ouro abriu o desfile “Quem plantou o palco, hoje é o espetáculo”. O enredo, que homenageou Caio de Alcântara Machado, focou bastante no peculiar gosto do homenageado por jacarés. Eles estavam no refrão do meio, na comissão de frente, na fantasia do mestre-sala, na bateria e eram o grande trunfo da escola para surpreender o Sambódromo em um desfile de enredo tão peculiar.

Em um ano em que quase todas as escolas apresentaram um conjunto alegórico inferior ao do ano anterior, a Rosas de Ouro foi na mão contrária e evoluiu. A vida do empresário e promotor de eventos podia não ser o tema dos sonhos para um Carnavalesco, mas, nas mãos do sempre competente Raúl Diniz, deu caldo. A Comissão de Frente, que exaltava o talento de Caio como vendedor, estava muito bem vestida, mas fez uma coreografia bastante convencional.

O abre-alas da Roseira estava bonito, apesar de um ou outro erro de acabamento e da leitura um pouco complicada, abrindo bem o desfile da azul-e-rosa. O primeiro setor teve belas fantasias que se dividiram entre o verde e o rosa. Os componentes cantaram o mediano samba com garra e evoluíram bem, a despeito das fantasias um pouco pesadas demais. A fixação pelos jacarés atrapalhou um pouco o desenrolar do desfile, mas não impediu a Rosas de entrar na briga pelo título.

Aliás, tecnicamente, foi um desfile muito semelhante ao da Vai-Vai. Um visual correto, de boas fantasias, alegorias regulares, em um desfile que não empolgou o Sambódromo e que não teve grandes erros. Pessoalmente, achei o desfile da Saracura ligeiramente superior, mas a Rosas teve mais momentos superiores, mais momentos de destaque. O terceiro carro, por exemplo, estava todo em branco e garantiu um bom efeito. A disputa seria nos detalhes.

nene2001bIsso, claro, até ali porque ainda faltava uma gigante para desfilar. Doida para soltar o grito de campeã da garganta, a Nenê de Vila Matilde se preparou para encerrar a maratona de apresentações com o enredo “Voei, voei. Na Vila aportei, onde me deram a Coroa de Rei”. A Vila estava à vontade. Falando sobre negros, com Sambódromo cheio e pisando forte como de costume.

O samba, mais acelerado e com um acompanhamento impecável da bateria, tinha trechos muito bonitos, como a caracterização da escola como “a zona da paz”. O desfile que contava as páginas da história escritas pelos negros procurava unir o chão pesadíssimo que a escola vinha apresentando com um maior cuidado com os quesitos plásticos. A escola vinha perdendo muitos títulos por falhas bobas e a ideia era que, em 2001, isso não ocorresse novamente. E de fato não ocorreu.

Do início ao fim, a Águia da Zona Leste evoluiu impecavelmente, cantou seu samba e viu todas as suas belíssimas alegorias passarem pela Passarela sem grandes problemas. O abre-alas, dedicado ao Egito, onde os negros supostamente teriam erguidos as pirâmides, só ficou atrás do da Gaviões da Fiel. Com uma imponente águia sobre uma pirâmide azul, a escola abriu o setor dedicado à África com maestria.
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Na sequência, a escola falou sobre a influência negra na cultura indiana e apresentou mais uma bela alegoria, com muitas representações indianas e um relativo luxo. O setor da Europa foi, na minha visão, o melhor do desfile. Com lindas fantasias, apresentou os negros italianos, que eram conhecidos por serem cultos, e o papel importante da raça negra nos tempos antigos no Velho Continente. O carro alegórico referente ao setor destacou a Revolta dos Mouros e também foi o mais feliz do desfile.

Ao falar da América, a Nenê optou por destacar a música. Os blues e o jazz, por exemplo, são alguns dos ritmos que sofreram influência negra. O sangue negro dos latinos também foi exaltado. Os dois setores finais foram dedicados ao Brasil: nas artes, na música e no samba, a influência foi enorme e muito bem representada em belas alas e em duas lindas alegorias. Uma, sobre a arte barroca. A outra, sobre o samba que uniu brancos e negros e quebrou preconceitos.

Principalmente por ter empolgado o Anhembi como poucas escolas conseguiram, a Nenê de Vila Matilde se colocou como a maior favorita ao título. O desfile, que teve apenas alguns problemas de evolução nos minutos finais, foi bastante regular e o melhor nos conjuntos plásticos. A Gaviões da Fiel teria tudo para ser a maior favorita, com folga, mas os problemas afastaram a Fiel Torcida da briga. Caberia a Vai-Vai e Rosas de Ouro o papel de azarãs na apuração.

A apuração começou com a confirmação da punição à Pérola Negra, que perdeu dois pontos por cantar o samba de 2000 depois de disparado o cronômetro. Ao final da leitura do primeiro quesito, fantasia, apenas quatro escolas, considerando os descartes, conseguiram somar 20 pontos: Gaviões, Vai-Vai, Rosas e Nenê. No terceiro quesito, alegoria, a Gaviões levou um 9, um 9,5 e um 10, deixando assim as três últimas agremiações a desfilar empatadas com 60 pontos.

O empate triplo persistiu até o oitavo dos 10 quesitos, evolução. Então empatadas com 140 pontos, as líderes levaram 10 no primeiro julgador, mas não foram bem avaliadas pelo segundo: a Vai-Vai levou 9,5, enquanto as adversárias ficaram com um 9. Vai-Vai e Nenê, no entanto, descartaram a nota ao receberem 10 do último jurado, ao passo que a Rosas de Ouro abandonou a briga ao ganhar mais um 9.

Gabaritando os dois últimos quesitos, Vai-Vai e Nenê somaram todos os 200 pontos possíveis e dividiram o título. O regulamento até previa um critério de desempate, que favoreceria a Nenê, já que a Vai-Vai levou um 9,5 no último quesito, mas a Liga optou pelo empate. A Rosas de Ouro foi a vice-campeã com 199 pontos, seguida pela X-9 Paulistana, terceira, e pela Gaviões, quarta, ambas com 198,5. Em quinto, o Camisa Verde e Branco fechou o grupo das escolas que voltariam na Sexta das Campeãs.

A Águia de Ouro terminou em sexto, seguida por Mocidade Alegre, Leandro de Itaquera, Tucuruvi e Morro da Casa Verde. Estreante, a Unidos de São Lucas conseguiu se manter na elite ao somar 188,5 pontos, cinco a mais que a Imperador do Ipiranga, que foi rebaixada. Com 180,5 pontos, a Pérola Negra ficou na lanterna e voltou para o Grupo 1. Neste, a Unidos de Vila Maria se sagrou campeã e garantiu o retorno ao Grupo Especial depois de mais de 30 anos. Vice-campeã, a Unidos do Peruche também retornou à elite.

O Carnaval de 2001 marcou o fim do jejum de 17 anos sem título da Nenê de Vila Matilde. No Sambódromo, a comemoração era quase um desabafo. A festa invadiu as ruas da Zona Leste, que enfim pôde gritar “é campeã”. Ali pelos lados do Bixiga, o grito era outro: “é tetra”. A Vai-Vai conseguia pela primeira vez um tetracampeonato.

Curiosidades

– A Globo mexeu em sua equipe de Carnaval para 2001. O narrador Cléber Machado foi deslocado para a apresentação dos desfiles do Rio de Janeiro e foi substituído em São Paulo pelo repórter Britto Júnior. Maurício Kubrusly seguiu nos comentários e Márcio Canuto seguiu divertindo o público nas arquibancadas. Até de lâmpada ele se vestiu. O pessoal do Zorra Total também apareceu nos camarotes para animar a transmissão.

– O enredo da Pérola Negra veio a calhar: na mesma semana, o PCC havia começado uma série de rebeliões em presídios paulistas e espalhado faixas pela Capital Paulista com mensagens amedrontadoras. A escola da Vila Madalena veio desfalcada de Renato Aragão, que, minutos antes do desfile, informou que não poderia desfilar no carro da Unicef.

– A forte chuva que atingiu São Paulo naquela sexta de Carnaval prejudicou duas vezes a Pérola Negra: além de danificar o abre-alas, fez com que um ônibus que trazia 20 componentes ficasse preso na enchente e não chegasse ao Anhembi.

– O futebol de Pernambuco foi representado com a ala do Sport Recife no desfile da Unidos de São Lucas. Quando perguntado porque só o Sport e não seus rivais, Náutico e Santa Cruz, o Carnavalesco Hernani Siqueira foi direto: “Porque é o meu time”.

– A chuva e o vento também prejudicaram outras escolas como a Águia de Ouro, que teve três dos seus seis carros danificados. A escola ainda teve um pequeno problema com a Polícia, que queria apreender as mais de 300 armas de brinquedos presentes em uma ala. A Leandro de Itaquera teve problemas mais sérios com a PM. Ao fim do desfile, um ônibus foi parado pela suspeita de um componente armado. Por desacato, um desfilante foi preso.

– Sobrou porrada para tudo quanto era lado na sexta de Carnaval. Um operador de guindaste não conseguiu posicionar um destaque da X-9 no carro alegórico e foi agredido por diretores da escola. Rapidamente, um grupo de cerca de 50 pessoas passou a perseguir o trabalhador, que correu e, tremendo, se escondeu na cabine de sua empresa. No camarote da Brahma, quem apanhou foi o apresentador da Gazeta, Sérgio Mallandro.

– Já no desfile da Vai-Vai, a confusão foi na concentração, onde três componentes da escola saíram na porrada. Antes que a briga chegasse a algo ainda mais grave, todo mundo foi para a cadeia.

– Primeiro desfile do intérprete Gilsinho como cantor principal de uma escola de samba. Depois de sair da Vai-Vai, ele passaria por Barroca Zona Sul e Vila Maria antes de fazer carreira no Rio de Janeiro, como cantor de Portela e Vila Isabel. No meio do caminho, em 2010, voltou para a Saracura.

– Quem também fez sua estreia como intérprete oficial foi Daniel Collête. Fluminense de Nilópolis, ele cantou pela primeira vez na Mocidade Alegre, onde faria muito sucesso nos anos seguintes. O dono do grito de guerra “maraviiiiiiiiilha” é, até hoje, tido como um dos melhores intérpretes da cidade.

– Quem também iniciou uma trajetória de sucesso em uma escola foi Freddy Vianna, que debutou como intérprete oficial no desfile da Tucuruvi. O cantor ficaria até 2011 na escola da Cantareira, quando se transferiu para a Mancha Verde.

– No auge da popularidade do funk carioca, Leandro de Itaquera e Mocidade Alegre encerraram seus desfiles entoando “tá dominado, tá tudo dominado”, sucesso do Furacão 2000.

– Depois de dois anos de chegadas tímidas e saídas mais tímidas ainda do Prefeito Celso Pitta, o público presente no Anhembi voltou a aplaudir e ovacionar o comandante da cidade. No caso, a comandante. A petista Marta Suplicy, que havia sido recém-empossada após derrotar Paulo Maluf nas Eleições de 2000. Marta sambou e chegou a receber abraços e beijos de componentes da Gaviões durante o desfile da escola.

– Quem voltou a ser aplaudida foi a ex-prefeita Luiza Erundina, à época já filiada ao PSB. Ela, que chegou a não ir na inauguração do Sambódromo por conta da baixa popularidade enquanto prefeita, foi saudada pelo público ao desfilar pela Águia de Ouro.

– O Presidente da Nenê, Betinho, filho de Seu Nenê, após conquistar um título com um desfile técnico, prometia que a escola não perderia mais sua identidade em anos seguintes. Foi o último título que o pai, falecido em 2010, e o próprio Betinho, que morreu em setembro de 2014, viram da escola no Grupo Especial.

– A torcida da Gaviões da Fiel armou um quiproquó danado na apuração. Ao final da divulgação das notas, torcedores atiraram paus e pedras em alegorias de outras escolas e entraram em confronto com a Polícia. Outros espancaram um cinegrafista da Band. O Presidente da Vai-Vai, Solón Tadeu, acusou os membros da Fiel Torcida de invadirem seu barracão.

– Infelizmente, o vídeo não está mais no YouTube, mas o próprio Solón protagonizou um momento ímpar na história das apurações. No meio da leitura das notas, discutiu com um jornalista. Rodeado por fotógrafos e outros repórteres, bradava: “isso é uma festa! Quem tá querendo briga aqui, agora? Quem tá querendo briga pra você me fazer uma pergunta dessas? Ô, meu irmão, eu tô cheio de mulher lá em casa!”. Solón chegou a ir para cima do “adversário”, mas foi contido por quem estava por ali. Enquanto a briga rolava, as notas eram lidas normalmente ao fundo.

– Último ano em que o título do Grupo Especial foi dividido, pelo menos até os dias de hoje. A ausência de critérios de desempate, assim como o quadro de jurados que muda da sexta para o sábado, ficaria em vigor até 2005, trazendo alguns problemas desagradáveis, mas sem empate na primeira posição.

– Primeiro e até aqui único tetracampeonato da história do Anhembi. Com as conquistas de 1998, 1999, 2000 e 2001, a Vai-Vai igualou o feito do Camisa Verde e Branco em 1974, 1975, 1976 e 1977.

Vídeos

A crítica criativa da Águia de Ouro
https://www.youtube.com/watch?v=hLxTRH1N6Hc

O bom desfile da X-9
https://www.youtube.com/watch?v=yZPx4eN39Lc

A surpreendente estreia da São Lucas
https://www.youtube.com/watch?v=TmCr1lvO15U

O excelente desfile da Gaviões
https://www.youtube.com/watch?v=Vyd9rlGDp5E

Vai-Vai rumo ao tetra
https://www.youtube.com/watch?v=X3jJs_zdmUI

Roseira voltando a brigar pelo título
https://www.youtube.com/watch?v=9_44YWmChWc

Nenê quebrando o jejum
https://www.youtube.com/watch?v=vV5mDL2DGJ

13 Replies to “Bodas de Prata – 2001: Vai-Vai é tetra e Zona Leste explode com fim do jejum da Nenê”

  1. Carnaval mto especial pra mim, pois foi o primeiro que acompanhei pra valer, sabendo dos preparativos das escolas a fundo (embora a falta de internet na época atrapalhasse um pouco). Vou comentar na ordem de minha preferência de desfiles, que é bem diferente da oficial:
    1º Nenê: O chão da Escola foi um assombro, e venceu com louvor!
    2º Gaviões da Fiel: Mesmo com o problema do carro que não entrou, foi tão superior aos demais que merecia o vice! O início de desfile é daqueles que arrepia demais, emocionante. A alegoria que não entrou, dizem, era fascinante, com um homem metade barro, metade metal. Um amigo que empurrava a Alegoria me disse certa vez que foi um desespero o carro não entrando, mas que assim que o desfile acabou, conseguiram fazer ele andar (e todos riram naquele momento – para não chorar rs)
    3º Mocidade Alegre: Definitivamente, vimos desfiles diferentes, pq o enredo não é nada confuso, eu consigo descrevê-lo em poucas linhas. Foram pensamentos assim que fizeram a escola perder pts em enredo rs. A Mocidade contou uma lenda que existe e foi bem clara. E sério que vc achou o pior conjunto alegórico de 2001? Pra mim a Escola estava mto bem visualmente!
    4º Rosas de Ouro: De fato, como tinha jacarés nesse desfile, abusaram rs… Gostei da homenagem, não conhecia a pessoa e como ele era persistente! A 2ª Alegoria, acho (foi onde veio a Ellen Roche) tinha uma falha. E aquela Alegoria toda branca era deslumbrante!
    5º Vai-Vai: Minha escola, mas não merecia o título. O Gilsinho desafinou o desfile inteiro… Mas o samba tinha um refrão empolgante! Esse sim, era um enredo confuso.
    6º Camisa: Foi bem tecnicamente, soube fazer td correto.
    7ª X-9: Não gostei do visual (vc elogiou o Abre-Alas, mas achei fraquinho rs), mas samba e enredo foram bem desenvolvido
    8º Águia de Ouro: Foi contundente na crítica, gostei mto!
    9º Tucuruvi: Mais uma vez discordo de vc, prefiro este ao desfile de 2000 (até o problema com a última Alegoria que fez os desfiles pararem por causa uma hora). A Escola estava emocionante e bem arrumada. CF show!
    10º Leandro: Que bom que vc não é daqueles que gosta rs… Um exagero do Milton Cunha em Alegorias, e aquela cobra, além de mal acabada, prejudicou mto a evolução e a harmonia.
    11º São Lucas: Admirável surpresa! A Escola foi mto competente. Pecou, sim, por exemplo com a queda brusca de qualidade nas alegorias, o galo da madrugada parecia um pintinho rs, além de querer entrar no recuo da Bateria rsrsrs… Mas o desfile foi mto bom de se ver, escola alegre, cantando o bonito samba! Pena que no ano seguinte veio trash…
    12º Morro: Que viagem! Paulo Barros ia adorar rs… Mas tinham momentos divertidos!
    13º Pérola Negra: Discordo quanto ao samba, gosto mto. Infelizmente o belo enredo foi defendido com visual mto aquém…
    14º Imperador: Uma lástima, o pior desfile que já assisti em SP. Além de chato. Td ruim, samba, enredo fraquinho, mal começou e Moisés Santiago já estava rouco, a bateria atravessando, alegorias caindo aos pedaços. Achei a CF mto bagunçada, elas chegavam a quase cair do patins… Enfim, pra mim foi pior que a Pérola…

    1. Completando sobre a Imperador, mais críticas: A Escola estava desanimada, e a evolução foi tão ruim que a bateria nem entrou no recuo… Se não me engano foi a última vez que isso aconteceu em SP…

  2. O último carro da Tucuruvi deu mais problema que o carro da Portela de 2005. Ficou entalado no portal por uns bons trinta minutos, a destaque quase caiu quando os bombeiros foram resgatá-la e depois de finalmente pegar no tranco, ainda morreu de novo no meio da pista.

  3. Bom, a Nenê merecia a taça sozinha, assim como a Gaviões em 99, esse tetra campeonato da Vai-Vai não me desce, como não me desce o Bicampeonato do Império e o Tricampeonato com 2013 da Mocidade (minha escola). Me surpreendeu bastante a São Lucas, excelente desfile, abre-alas bem bacana, a Leandro se atrapalhou feio com a cobra, e a Gaviões se não tivesse os problemas, brigava pelo caneco, no mais é isso. Esperando por 2002 meu primeiro carnaval ao vivo.

  4. O samba da Vai-Vai era de autoria do Ronaldinho do fundo de quintal.

    Ainda sobre a Vai-Vai, a confusão que o Sólon arrumou é uma das cenas mais “inesquecíveis” das apurações de SP – só perde para a triste confusão de 2012

    E a Mocidade Alegre tá perto de roubar o título de “soberana tetracampeã do Anhembi” da Saracura…

  5. Eu acho bem difícil um tetracampeonato do pessoal do bairro do Limão, apesar de torcer para isso, acho que esse enredo não dará tetra, espero estar errado, risos.

  6. Por essas e outras que torci fervorosamente para a Vai-Vai se lascar enquanto o Sólon fosse presidente. Deu certo, e somente com o Thobias é que o Bixiga festejou – em 2011.

    Sujeito que não faz falta no mundo (inclusive dos tempos de AD Guarujá – isso explica aonde o time está).

    1. Caro Rodrigo, não se esqueça de que o Vai-Vai também foi campeão em 2008, com o enredo “Vai-Vai acorda Brasil, a saída é ter esperança”, baseado na peça de Antonio Ermínio de Moraes.

  7. Comentando aqui mais que atrasado. A coluna sobre o carnaval de 2003 está prestes a sair, e eu ainda comentando o de 2001…
    Bem, não posso deixar de registrar aqui algumas palavras, visto que este carnaval foi, para mim, de significativas mudanças dimensionais no Anhembi.
    O portal da pista de desfiles, com 15 m de altura, passou a ser alcançado pelas alegorias, que aumentaram bastante de tamanho, começando assim a saga pela ocupação perfeita dos espaços, como eu já havia comentado nos posts relativos aos anos anteriores.
    Essencialmente, esta ocupação foi entendida por muitos carnavalescos, e era visível em muitos carros, como uma grande escultura central rodeada de adornos que a completavam (Os abre-alas de Rosas e Tucuruvi exemplificam isto muito bem).
    A presença massiva dos artistas de Parintins, devidamente anunciados como grandes aquisições para aquele ano na fase pré-carnaval, contribuiu bastante, e, visão ainda rara naquela época, foi bem interessante ver muitas alegorias trazendo movimentos.

    Sobre os desfiles.
    – Camisa: o samba chegava a ser confuso na gravação, mas balançou bem no desfile. Mérito da bateria, na minha opinião, junto com a do Peruche, uma das melhores de SP.
    – Mocidade: assim como Will, também discordo. O enredo era bem simples. Basta conhecer Sete Cidades para conhecer o enredo.
    – Tucuruvi: novamente discordo de você! A Tucuruvi fez um belíssimo desfile! Não fossem os problemas com o último carro, voltaria fácil nas campeãs. O samba sacudiu, e a mensagem foi passada.
    – Morro da Casa Verde: samba exótico, e desfile mais ainda!
    – Rosas de Ouro: “Vai dar jacaré” era uma expressão indicativa de bom resultado muito falada pelo homenageado. Esperava que desfile “desse jacaré”. Passou perto!
    – Nenê: sobrou na Avenida! Merecia o título sozinha!

  8. Concordo com algumas colocações, mas no caso do Mocidade discordo completamente, pois foi um desfile muito bom, com carros luxuosos para época e fantasias bonitas.

    Colocar as alegorias da Mocidade como piores do ano é demais, em uma no que tinha Pérola Negra péssima em alegorias, Morro super pobre e mal acabada, Imperador idem.

    A Mocidade pode até não ter vindo para título mas colocar as alegorias da morada como piores do ano foi demais.

    Tucuruvi estava fazendo um lindo desfile de muto bom gosto, foi uma pena o último carro quebrar. Acho que a escola deveria ser punida por atrasar em uma hora o desfile de sábado.

    O Morro fez um desfile fraco na minha opinião, mesmo assim estava bem melhor que a pobreza de 2000.

    Nenê merecia o título sozinha, foi o melhor desfile de 2001.

  9. Como bom torcedor Saracura exclamo: Nenê, disparada, a melhor escola de 2001. Quero uma Nenê com essa força, pois ganhar um Carnaval com Nenê poderosa, Rosas poderosa, Mocidade poderosa, Peruche poderoso e Camisa poderoso é sempre mais gostoso. Só Rosas e Mocidade mantêm a tradição da escola. Do quarteto que definiu o que seria o carnaval paulistano: Saracura, Trevo, Águia e Peruche só Vai-Vai se mantêm. O Camisa hoje, infelizmente, é a Serrinha de Sampa. Império Serra e Camisa Verde e Branco… por favor, por Deus, voltem as origens.

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