O falecimento do ator americano Robin Williams, ocorrido muito provavelmente pelo que está se dizendo por suicídio, logicamente causou alvoroço nas redes sociais.

E uma abordagem bastante interessante do amigo jornalista Bruno Vicaria no Facebook me chamou a atenção. Por favor, me permitam a reprodução:

“Ano passado vi gente por aqui praticamente destruindo Chorão e Champignon (do grupo Charlie Brown Jr.) por terem se matado, que eram drogadões viciados de m… e que não fariam falta – tirando sarro de quem se manifestava. Robin Williams se matou, um mês após voltar de uma clínica de reabilitação e vem sendo tratado com reverência e transformado em mito. Ele estava havia 20 anos livre da cocaína e tentava livrar-se do alcoolismo. Chorão e Champignon estavam doentes, em depressão, potencializada pelo envolvimento com drogas, e foram massacrados; Williams também estava doente, envolvido com uma droga, que é lícita, mas ninguém ousa em o chamar de cachaceiro de m…, bebum e afins. Os outros dois podiam ser chamados assim? Dá medo, muito medo de ver a forma como alguns de vocês, gente esclarecida, julgam as coisas e as pessoas com pré-conceitos tão vazios.”

choraochampignonDeixando claro que não era fã do grupo de rock de Santos, tampouco de seus dois integrantes falecidos, concordo inteiramente que ambos, assim como Robin Williams provavelmente, foram vítimas não de uma transgressão pura e simples, mas de gravíssimas doenças chamadas dependência química e depressão. Obviamente potencializadas pelo uso de drogas, mas na essência doenças.

Por isso mesmo, aproveitando o gancho desse episódio envolvendo Robin Williams e esse contexto muito bem levantado pelo Bruno, chamo a atenção para uma outra doença da nossa sociedade das redes sociais: o julgamento imediatista, parcial e maldoso que muitas pessoas vêm tendo nesses casos.

Não se trata simplesmente de opinar para acrescentar, o que é saudabilíssimo numa democracia que somos – ainda não totalmente amadurecida mesmo três décadas após o fim da ditadura, mas isso é papo para outro texto. Só que hoje em dia se opina sobre alguém ou algum fato sem o mínimo de reflexão, apenas pelo desejo de imposição do que se “pensa” (sic) e baseado muitas vezes em esteriótipos negativos e positivos.

Só que quando se trata de um ser humano que perde a vida, independentemente se é famoso ou não, em circunstâncias terríveis como essas, julgamentos e ofensas são absolutamente desrespeitosos e inaceitáveis.

Quem já teve algum amigo ou familiar acometido pela dependência química e/ou depressão sabe do que estou falando. E eu sei bem o que estou escrevendo. Já vi pessoas próximas se perderem completamente mesmo lutando muito contra vícios e procurando ajuda. Da mesma forma, depressão não é uma “frescura de madame” como já li por aí. É uma patologia também grave, que infelizmente já matou muita gente.

Por isso, torço profundamente para que um dia gastemos toda essa energia que temos para criticar e julgar as pessoas em um debate construtivo que vise a salvar pessoas dessas doenças.

Até porque nossa sociedade também está doente e os seres humanos que nos deixaram precisam descansar em paz…

[N.do.E.: só quem chegou em uma situação extrema de pensar em dar cabo da própria vida é que consegue entender o que leva a uma pessoa a gesto tão extremo. Depressão e angústia são situações muito sérias e que precisam de acompanhamento especializado. PM]