Depois do descalabro que foi o fim da participação brasileira na Copa do Mundo, houve um clamor nacional por mudanças profundas no futebol brasileiro. A formação dos treinadores e jogadores brasileiros foi severamente questionada e mais uma vez aventou-se a possibilidade da contratação de um técnico estrangeiro.

Pois bem, passada uma semana do fim do Mundial, o nome de Dunga foi o escolhido para treinar a Seleção Brasileira. Logo Dunga, que foi o técnico entre 2006 e 2010 e, a despeito de resultados muito bons e consistentes em boa parte de sua passagem, foi bastante criticado pela postura durante a derrota para a Holanda na Copa de 2010.

Tenho elogios e críticas a Dunga como treinador e este texto não vai abordar aqui esses aspectos, mas única e exclusivamente a opção da CBF pelo capitão do tetra para ser o homem de frente neste processo de recuperação da Seleção.

Pois bem: depois da série de reclamações quanto ao estilo de Felipão, chamado de “ultrapassado”, é um absoluto contrassenso a volta de um treinador que foi mandado embora há quatro anos justamente depois de uma eliminação de Copa do Mundo, sob o veredicto de que ele não soube reestruturar a Seleção depois do fracasso de 2006.

E mais: como acreditar que Dunga fará uma renovação na Seleção Brasileira se para a Copa de 2010 ele não ousou em convocar Ganso (em grande fase naquele ano) e Neymar, optando por Kleberson (que não vinha no mesmo nível de anos anteriores) e Grafite?

dunga1990dunga1994Para piorar, desde a sua experiência como técnico da Seleção, o gaúcho foi treinador por apenas nove meses no Internacional, com um título estadual e resultados ruins no Campeonato Brasileiro de 2013 – na passagem pelo Colorado, foram 53% de aproveitamento em 52 partidas.

Tomara que o treinador dê uma volta por cima tão impressionante como a que deu entre os Mundiais de 1990, quando foi execrado, e 1994, quando ergueu a Copa do Mundo após ser um dos destaques da Seleção dirigida por Parreira. Mas…

Mas, já que a CBF decidiu por Dunga, convido o leitor a uma outra reflexão: em 2018 poderemos chegar à Copa com apenas quatro profissionais à frente da comissão técnica em sete Mundiais: Parreira (1994 e 2006), Zagallo (1998), Felipão (2002 e 2014) e Dunga (2010 e 2018). Ou seja, podemos ter apenas quatro técnicos dirigindo o Brasil em Copas em 24 anos!

Das duas, uma: ou faltam treinadores capacitados para dirigir a Seleção, ou a CBF não tem vontade de mudar a sua filosofia. As duas opções são verdadeiras, mas fico com a segunda como mais forte porque, apesar da carência que realmente existe, Tite, por exemplo, seria capaz de imprimir um novo conceito à Seleção.

Mas realmente a CBF tem se caracterizado por estar mais preocupada com ela própria – e seus contratos publicitários, tanto em relação a patrocinadores como com a marcação de amistosos no exterior por polpudos cachês – do que em promover mudanças substanciais em todo o processo.dunga2010b

No último ciclo ainda havia o clamor da torcida porque a Copa do Mundo seria disputada em casa, então, por mais que o torcedor fosse afastado, ainda havia um elo intrínseco. Mas, com o Mundial na Rússia, a torcida tende a esfriar de vez sua relação com a Seleção caso a CBF continue nesse modus operandi.

Isso porque, apesar de as Eliminatórias obrigatoriamente requererem nove partidas em território nacional, o que realmente afasta a torcida da Seleção é todo este contexto. Que a CBF não faz questão nenhuma de mudar. A começar por Dunga…

One Reply to “O retorno de Dunga”

  1. Na boa, a “grande fase” do Ganso e Neymar em 2010 era no campeonato paulista. Se isso vira referência, estamos mesmo cegos.

    Uma coisa foi ter levado jogadores duvidosos (Grafite, Kleberson). Outra foi essa cantilena pra cima da dupla que, repito, estavam em “grande fase” com base num *campeonato paulista*.

Comments are closed.