Passei meses, muito meses, pregando no deserto contra os chatos de sempre, que diziam que a Copa seria um fracasso. Mas nem eu mesmo, otimista por hereditariedade, supus que pudesse ser tão bom.

Agora, que já se passaram alguns dias (não muitos, na verdade, duas semanas apenas, mas parece que foram meses), posso voltar a especular sobre um tema palpitante, mas que anda meio esquecido: os chamados “elefantes brancos”, ou seja, os estádios da Copa localizados em regiões onde o futebol não tem expressão nacional, como Brasília, Cuiabá e Manaus.

Nunca compreendi bem a lógica de quem criticava a construção de estádios nesses lugares pelo fato de estarem sendo gastas verbas públicas em locais onde o futebol é fraco – como se o dinheiro público tivesse que ir inteirinho para as regiões onde os clubes são fortes.

20140623_145930Ou seja, o investimento público, ao invés de priorizar uma Copa espalhada por distintas regiões do Brasil, deveria se concentrar exatamente para gerar um legado para os clubes grandes do país, os quais, a despeito de seus orçamentos milionários, vivem de pires na mão implorando por benesses públicas – agora mesmo estão em vias de conseguir mais um refinanciamento da bilionária dívida que acumularam com o Fisco para dar conta de seus inflados e irresponsáveis gastos.

Penso diferente: se a Copa foi em grande parte subsidiada por dinheiro público, é o interesse público que deveria nortear a política de investimentos. Não fazia sentido deixar as regiões Norte e Centro-Oeste alijadas da festa só porque ali não há clubes de ponta. E a decisão pareceu acertada, a julgar pela projeção que essas cidades obtiveram e o fluxo de turistas que receberam.

O senso comum aposta que agora, passada a festa, os estádios dessas cidades ficarão às moscas, símbolos de concreto do desperdício público. Quero remar contra a maré e jogar tudo contra a banca: talvez seja mais fácil obter viabilidade econômica nesses estádios do que em outros, onde se pratica futebol com assiduidade.

Vejam o caso do Mineirão. Apenas o Cruzeiro o adota como sua casa habitual, já que o Atlético prefere jogar a maioria dos seus jogos no estádio do América MG e ir ao Mineirão apenas em jogos mais importantes. Pois para poder honrar seus compromissos com o time celeste, o Mineirão precisa manter aquele gramado intacto, precisa mobilizar uma quantidade grande de funcionários, precisa ter altos custos de manutenção e, o que é pior, não pode alugar o espaço para outras atividades que conflitem com a programação futebolística.

Vejam que, na reabertura do estádio, que tem mais de 62 mil lugares, apenas 24 mil cruzeirenses testemunharam o triunfo do atual campeão brasileiro e líder do campeonato, gerando um pequeno déficit de R$ 1,5 mil para a Minas Arena, já que a renda da partida não foi suficiente para cobrir sequer os gastos com o pessoal contratado.

20140623_122152Um jogo de futebol deixa muito pouca receita para o dono do estádio, porque ele não pode cobrar do clube um custo fixo, tem uma receita ínfima de bares (afinal, a venda de cerveja, maior fonte de lucros das lanchonetes, é proibida), tem gastos consideráveis com a segurança, porque o ambiente é hostil, por aí vai.

É dura a vida da Minas Arena, mesmo tendo a seus pés o campeão brasileiro e o campeão da Libertadores nos seus domínios.

Por outro lado, vamos pegar o caso, por exemplo, do Mané Garrincha. Como não tem jogo de futebol toda semana por ali, os custos de manutenção caem drasticamente. E não há conflito de datas. Um pastor endinheirado pode querer alugar o estádio para um culto qualquer e o GDF pode pedir o preço que bem entender.

Depois do pastor, que tal fazer ali dentro a edição de Micarecandanga, com 3 dias de show de Ivete Sangalo, Claudia Leitte e Psirico? Cerveja à vontade e bem cara nos bares, com todas as despesas de seguranças pagas pelo organizador. E ainda dá para sonhar com uma edição brasileira da Tomorrowland (eu sei, vai ser em Itu) também no Planalto Central, mais 3 dias de consumo desenfreado e aluguel nas alturas.

Um pastor, uma micareta e uma rave por ano dão mais dinheiro, fácil, do que 40 jogos de futebol com média de público abaixo de 15 mil torcedores e ingressos a preços médios abaixo de R$ 50,00.

20140622_114820Portanto, descompromissadas de servir aos falidos clubes de elite, que exigem muito e rendem pouco, talvez a grande sorte de Manaus, Cuiabá e Brasília seja, justamente, terem poucos jogos para abrigar. Podem, com menos gastos de manutenção e múltiplas possibilidades de utilização, serem mais rentáveis que o Maracanã, que abre suas portas para animados confrontos entre Botafogo e Figueirense.

E, o que é melhor, os gastos públicos, tão polêmicos, não servirão apenas para alegrar a fatia dos torcedores de futebol, mas serão usufruídos por uma parcela bem mais eclética da população. Claro que tudo depende de boa gestão, mas periga o Mané Garrincha ser um elefante dourado e o Mineirão, coitado, se inviabilizar.

A conferir!