(por Rafael Lopes, jornalista especializado em automobilismo da TV Globo e responsável pelo blog Voando Baixo)

Cheguei na quarta-feira à Itália para a cobertura do evento em homenagem a Ayrton Senna, no circuito de Imola. No dia 1º de maio de 1994, o brasileiro perdeu a vida após um fortíssimo acidente na curva Tamburello, a mais rápida do traçado na época. 20 anos se passaram. A Tamburello sequer existe mais, virou uma chicane em nome da segurança. A pista de Imola saiu do calendário da Fórmula 1 em 2006. Mas a lembrança do tricampeão perdura. Continua viva na memória de seus fãs e de quem sabe apreciar o automobilismo.

Confesso: desde que fui escalado para fazer esse evento aqui em Imola, várias coisas passaram pela minha cabeça. Sendo bem honesto, o que mais me preocupava era minha própria reação. Afinal, em 1994, eu era apenas um garoto apaixonado por corridas – e torcedor do Senna. Cresci vendo suas corridas, suas vitórias. Aquele dia 1º de maio foi realmente cruel.

imola1Antes de seguir, um recorte importante: lembro com perfeição onde estava quando vi a notícia com a musiquinha do Plantão da TV Globo: almoçando em um restaurante na Praia de Itaúna, em Saquarema, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Não queria sair de casa: tinha medo de alguma notícia chegar e eu não ouvir. Por isso, ao chegar lá, corri para a única TV do restaurante. Pedi para mudar de canal. Muita gente chegou para acompanhar aquele momento angustiante. Para quê: foi o momento exato daquela notícia.

– Morre Ayrton Senna da Silva.

Assim como milhões de brasileiros, fiquei devastado. Foi a única vez em que chorei por algum acontecimento esportivo. E o dia seguinte? Acostumado a comentar as corridas com os amigos no colégio, tive de ouvir milhões de perguntas sobre o que tinha acontecido. Era a última coisa de que eu queria lembrar. Depois disso, continuei vendo as corridas, mas confesso que as provas em Imola nunca mais tiveram a mesma graça. Ao menos para mim.
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E neste dia 30 de abril de 2014, pude finalmente conhecer este circuito. Entrei no paddock precisamente às 16h30m (11h30m de Brasília). Foi uma sensação estranha, admito. Já trabalhei em alguns circuitos no Brasil e no mundo, mas nunca tinha sentido algo parecido. É até difícil de explicar. Uma sensação de vazio, sabem? Complicado.

Bem, mas este não é um fim de semana para pensar em coisas negativas. A intenção dos organizadores do evento é celebrar uma carreira vitoriosa, de três títulos mundiais e vários recordes. Apaixonada por corridas, a cidade de Imola não esqueceu o piloto brasileiro. E muita gente comprou a ideia: só hoje vi pessoas da Inglaterra, Chile, Malta, Portugal, França, Itália… Todas elas andando pelo paddock do circuito. 20 anos depois, Ayrton Senna ainda está vivo para essas pessoas. Vivo em suas memórias, seus feitos. E isso ninguém apaga.