A série Sambódromo em Trinta Atos, do jornalista esportivo Fred Sabino, nos leva de volta ao morno desfile de 2008, que teve mais um título da Beija-Flor de Nilópolis depois de a apuração de 2007 ter sido alvo de investigação da Polícia Federal. Também chamou a atenção o calvário vivido pela Mangueira, desde a não opção de um enredo sobre Cartola até a escândalos envolvendo traficantes e um desfile ruim.

2008: Livre de acusações, Beija-Flor leva mais um caneco

Com a Liesa tendo finalmente atingido o objetivo de reduzir a 12 o número de agremiações no desfile do Grupo Especial, o noticiário da fase pré-carnavalesca foi recheado de polêmicas. Depois de a Beija-Flor de Nilópolis conquistar brilhantemente o título de 2007, foram denunciadas irregularidades no julgamento e a Câmara dos Vereadores instaurou uma CPI para investigar a atuação dos julgadores do Carnaval.

A comissão apurou contradições nos depoimentos dos jurados sobre as suas funções e a forma como eram escolhidos. Uma das principais críticas do relatório foi o fato de os jurados levarem para casa os cadernos de notas entre as duas noites de desfile, o que poderia possibilitar fraudes. A Polícia Federal entrou em ação, mas as investigações não comprovaram manipulação de resultados. Antes disso, o delegado responsável chegara a afirmar que haveria um “pistoleiro” ameaçando jurados, o que jamais se provou. Com isso, a conquista da Beija-Flor ficou mantida e a escola resolveu homenagear para 2008 Macapá, capital do Amapá, com patrocínio.

Já a Estação Primeira de Mangueira, no ano do centenário de Cartola, deixou de lado a homenagem ao seu nome mais importante e escolheu o frevo como enredo. Mas a fase pré-carnavalesca rendeu polêmicas ainda maiores. Em setembro de 2007, o presidente Percival Pires renunciou após ter levado ritmistas à festa de casamento de Jaqueline de Morais por R$ 2.500 e cestas básicas. Até aí tudo bem, mas o problema era que Jaqueline havia se casado com o traficante Fernandinho Beira-Mar, que não participou da festa por estar preso. Percival alegou que não sabia da ligação de Jaqueline com Beira-Mar, mas ainda assim deixou o cargo. Além disso, diversas matérias nos jornais durante o período pré-carnavalesco explicitavam as relações entre pessoas da diretoria e traficantes.

Para colocar mais lenha no caldeirão mangueirense, o samba vencedor nas eliminatórias tinha a assinatura, além dos já consagrados Lequinho, Júnior Fionda, Aníbal e Silvão, de Francisco do Pagode, nome artístico de Francisco Paulo Testas Monteiro, de 44 anos, o Tuchinha, líder do narcotráfico na comunidade. Na época, a Polícia descobriu na Operação Carnaval que o traficante marcou encontros na quadra para vender drogas a artistas, além de ter acesso a um camarote, com uma passagem secreta para a favela.

Pasmem, as polêmicas não terminaram por aí. O então diretor de bateria Ivo Meirelles foi afastado depois de escolher como rainha de bateria a dançarina Gracyanne Barbosa, namorada do cantor Belo (que já havia sido preso por associação ao narcotráfico), e de ser acusado por Viviane Araújo (ex-namorada do pagodeiro) de chamá-la de “garota de programa” e influenciar na escolha da nova rainha. O veterano Mestre Taranta foi recolocado como diretor de bateria da Mangueira depois de 14 anos.

A Viradouro também não esteve livre das confusões na preparação. O carnavalesco Paulo Barros escolheu o abstrato enredo “É de arrepiar!”, sobre as sensações que causam arrepios ao ser humano, e pretendia levar para a avenida uma alegoria sobre o holocausto, com representações de cadáveres e ossadas. Grupos judaicos alegaram que o carro era ofensivo e a Justiça proibiu a alegoria a dois dias do desfile.

A escolha do samba também foi polêmica: a belíssima obra de Gusttavo Clarão e parceiros foi derrubada de forma surpreendente logo no começo das eliminatórias, e o intérprete Dominguinhos do Estácio, que defendia o samba, deixou a Vermelho e Branco após entrar em rota de colisão com o novo presidente Marco Lira – este, diga-se de passagem, foi acusado posteriormente de ser ligado à máfia dos caça-níqueis e a uma milícia em São Gonçalo, além de ter sido preso em 2014 acusado de ordenar o assassinato do subtenente reformado da PM Carlos Elmir Pinto de Miranda dois anos antes.

Em relação às outras agremiações, a Grande Rio escolheu como enredo a história do gás, com patrocínio de Coari, município amazonense produtor de gás natural. A Unidos da Tijuca optou por levar para a avenida as coleções feitas no dia a dia. Por sua vez, a Vila Isabel homenagearia os trabalhadores do país, com polêmica na escolha do samba – relembraremos mais adiante. O Salgueiro, mordido com o injusto sétimo lugar de 2007, decidiu fazer no enredo um passeio pelo Rio de Janeiro.

Depois de anos, a Portela tentaria voltar à briga pelas primeiras posições tendo a preservação da natureza como tema. Já a Imperatriz Leopoldinense, após o fracasso do ano anterior, decidiu voltar à característica de levar para a avenida enredos históricos: as Marias na vida de D.João VI. A Mocidade Independente de Padre Miguel também teria temática histórica: a visão utópica de Dom Sebastião sobre Portugal como Quinto Império Mundial. A Unidos do Porto da Pedra lembraria o centenário da imigração japonesa ao Brasil e, fechando o Grupo Especial, a São Clemente faria uma bem-humorada visão da chegada da família real portuguesa ao Brasil.

OS DESFILES

A escola da Zona Sul teve a sempre ingrata missão de abrir mais uma maratona de desfiles ao retratar como Dona Maria I, a Louca, via a chegada da realeza de Portugal ao que viria a ser o nosso país. O enredo “O Clemente João VI no Rio: a redescoberta do Brasil”, dos carnavalescos Milton Cunha, Mauro Quintaes e Fábio Santos, pretendia apresentar uma leitura escrachada daquele momento mas enfrentou problemas.

Para começar, os figurinos, embora corretos, estavam excessivamente pesados, o que não proporcionou uma evolução contínua – uma senhora de 60 anos da ala das baianas desmaiou e teve sua fantasia rasgada para que se sentisse melhor. Já as alegorias eram menores, mas agradou o elemento “O Palácio de São Cristóvão”, com tons de dourado e vermelho e homens vestidos de frango assado, prato predileto de D. João.

No entanto, o samba-enredo não pegou e a modelo goiana Viviane Castro ainda desfilou com a genitália à mostra, algo proibido pelo regulamento. Ela jurou que desfilou com um tapa-sexo de 3,5 centímetros para quebrar o recorde de menor tapa-sexo do mundo, mas, se a irregularidade fosse vista, isso custaria 0,5 à escola, o que poderia ser fatal para as pretensões de permanência no grupo.

Segunda escola a desfilar, a Unidos do Porto da Pedra levou para a avenida o enredo “Cem anos de imigração japonesa no Brasil – Tem pagode no Maru”. O carnavalesco Mário Borriello dividiu a escola com bastante coerência, mas teve de enfrentar a falta de recursos. Em algumas alegorias, ele conseguiu efeito, como na que mostrava a chegada dos imigrantes, num navio todo feito em bambu. Em outros elementos e nas fantasias, a falta de luxo ficou mais clara. Além disso, muita coisa que passou como referência ao Japão, na realidade, fazia parte da cultura chinesa.

O samba-enredo era agradável mas também não funcionou e a escola teve problemas em harmonia e evolução. Para piorar, Mestre Louro, que já enfrentava problemas de saúde, teve de sair do desfile no meio devido à pressão alta – voltaria no fim. Uma das alegorias ainda pegou fogo, mas por sorte foi na dispersão. Em resumo, um desfile muito irregular, que poderia resultar em descenso numa previsível briga com a São Clemente pela fuga da degola.

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Sob uma chuva chata e persistente, o Salgueiro fez uma ótima apresentação e se colocou na disputa pelas primeiras colocações. O enredo “O Rio de Janeiro continua sendo…” foi mais uma demonstração da capacidade dos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lávia, com alegorias criativas e fantasias multicoloridas, que transmitiram a proposta com bastante facilidade.

A criativa comissão de frente (foto acima) representou a chegada dos navegadores portugueses mas de uma forma bem humorada, com eles carregando um barco em forma de banana para encontrar uma índia que os recebia sambando. Eles ainda carregavam sombrinhas e estendiam um tapete pintado de calçadão de Copacabana. O lindo e dourado abre-alas (foto abaixo) trazia “A Visão Paradisíaca”, simbolizando o que os portugueses viram na chegada ao Rio, ou seja, índios e golfinhos.

salgueiro2008bO segundo carro era chamado “A França invadiu a nossa praia”, com uma enorme, vazada e bem iluminada embarcação, na qual a Intrépida Trupe fazia uma demonstração com uma cama elástica. A Praça Mauá com o Mosteiro de São Bento foram representados em outra bela alegoria, com muito barroco e luxo típicos da época, com acabamento impecável.

Também agradou o elemento sobre a Lapa, com os bares e os arcos. O bom e velho Maracanã e os clubes foram representados por outra alegoria, com bastante neon – antigos craques como Júnior e Jairzinho desfilaram como destaques. Por fim, o próprio Carnaval do Rio foi lembrado no belíssimo carro “Não me Leve a Mal … Hoje É Carnaval”, com muito luxo e branco.

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Tambpem agradaram muito as fantasias, descontraídas ou luxuosas de acordo com cada quadro do enredo. Eram engraçadíssimos os figurinos da ala “Garçons”, com bandeja e tulipas de chope de adereços de mão e uma roupa com os Arcos da Lapa e agradou muito a ala de pierrots, com figurinos muito bem acabados. A divisão cromática das fantasias foi excelente, muito colorida sem ser pesada.

Já o samba-enredo não me agradou muito por ser marcheado, mas a bateria de Mestre Marcão esteve impecável nas marcações. Sem problemas visíveis de evolução e com uma harmonia muito boa na maior parte do desfile, o Salgueiro deixou a pista certo de uma ótima colocação, mas dependeria do desempenho das demais escolas para sonhar com o título, justamente porque o samba não explodiu.

portela2008Depois de um longo e tenebroso inverno, como se diz por aí, a Portela se recuperou dos desfiles irregulares ou terríveis na década (exceto 2002 e 2004) e fez uma apresentação para voltar a brigar, sendo bem pessimista, por uma vaguinha no desfile das campeãs, quiçá algo melhor. O carnavalesco Cahê Rodrigues desenvolveu bem o enredo “Reconstruindo a Natureza, recriando a vida: o sonho vira realidade” e a Majestade do Samba passou com correção nos quesitos como há algum tempo não se via.

A comissão de frente mostrava “O balé das águas vivas” e seus componentes faziam evoluções com as saias em cor verde-água para demonstrar o balanço do mar. Já a águia estava fora das características tradicionais da Portela, mas não menos linda. Na alegoria, o carnavalesco quis mostrar a profundezas da água e, para isso, usou dois quilômetros de neon para transmitir a sensação de movimento para uma águia parada – o que deu muito certo – e ainda 6 mil litros de água.

portela2008bAs demais alegorias também se referiram aos elementos da natureza. O segundo carro também falava sobre a água e tinha esculturas de baleias, ostras, arraias e outros seres marinhos. A terceira alegoria chamava-se “Tempo da evolução: terra” e mostrava os animais e as florestas, com uma excelente escultura de tigre (foto) feita pelo pessoal de Parintins, com movimentos). Já o elemento ar foi representado no quarto carro, com várias borboletas e os destaques simulando uma revoada de pássaros com suas fantasias.

A melhor alegoria do desfile foi a quinta, chamada “Viva a Vida”. O elemento de início passava pela pista todo em tons de marrom bem escuro, com os componentes fazendo coreografias que simbolizavam a miséria e os problemas do mundo, e ainda uma escultura de bebê subnutrido. De repente, flores brotavam do carro e o bebê se tornava saudável, com verde em volta para simbolizar que era preciso olhar para os recém-nascidos para evitar a desnutrição.

Gostei também da alegoria referente à África e seus problemas, com um enorme gorila recebendo os líderes das nações para que, juntos, pudessem lutar por um mundo melhor e pela preservação da natureza – ao contrário do visto em outras alegorias ao longo dos anos, este gorila esteve bem concebido e acabado. A Portela encerrou sua série de carros com um lindo elemento com a velha guarda e espécies importantes que estavam ameaçadas de extinção.

Mesmo sem ter sido um “sacode”, o samba-enredo assinado por Diogo Nogueira, Ciraninho, Celsinho Andrade, Junior Scafura e o veterano Ary do Cavaco era dos mais corretos do ano (embora não fosse o preferido nas eliminatórias) e a Tabajara do Samba teve bom andamento. Sem sobressaltos de evolução, a Portela terminou seu desfile com o sentimento de dever cumprido, até porque, como dizia o samba era “preciso parar pra pensar” e o objetivo foi alcançado.

Depois de todos os problemas na fase pré-carnavalesca, esperava-se que a Estação Primeira de Mangueira desse a volta por cima da forma como mais sabe: desfilando com garra e samba no pé. Não foi isso que aconteceu. Debaixo de forte chuva, a Verde e Rosa teve problemas com fantasias e alegorias devido à água e os desfilantes acabaram evoluindo sem entusiasmo, até porque o samba não era essa maravilha toda.

A comissão de frente desta vez desfilou com dançarinos de frevo tipicamente trajados e com sombrinhas, mas a coreografia foi prejudicada pela pista molhada. O carnavalesco Max Lopes dividiu o criticado enredo “Cem anos de Frevo, é de perder o sapato. Recife mandou me chamar…” com coerência, e a concepção de alegorias foi adequada. Mas evidentemente houve claros problemas de acabamento por causa da precipitação que não deu trégua.

O desfile não chegou a ser um desastre absoluto, mas pouca coisa se destacou na apresentação mangueirense: no caso, a bateria de Mestre Taranta, que fez o feijão com arroz e esteve bastante firme, e o brilhante casal de mestre-sala e porta-bandeira Marquinho e Giovanna, que, mesmo com o asfalto molhado, deixou a expectativa de quatro notas dez – o que viria a acontecer na apuração.

Somente na última alegoria a escola lembrou do centenário de Cartola, num elemento que mostrava a união do frevo com o samba da escola. Mesmo com a sempre emocionante participação dos baluartes, foi muito pouco para a importância que o extraordinário compositor teve para a Estação Primeira como um de seus fundadores. Sorte da Verde e Rosa que São Clemente e Porto da Pedra fizeram desfiles problemáticos e com falhas em vários quesitos, então a Mangueira provavelmente ficaria na zona da marola.

viradouro2008bDepois de muita polêmica na fase pré-carnavalesca, a Unidos do Viradouro teve uma exibição irregular com o enredo “É de arrepiar”. O carnavalesco Paulo Barros queria surpreender e chocar o público. Até que conseguiu, mas, para os críticos, ficou a sensação (sem trocadilhos) de que o enredo foi um cata-cata de coisas sem que o conjunto fizesse sentido.

Por exemplo, a comissão de frente tinha os componentes inspirados em personagens do Sr.Gelo, inimigo de Batman no filme “Batman & Robin” (1997), e estes eram “congelados”, trocados por estátuas de gelo, quebrados e varridos. O abre-alas queria demonstrar que o frio causava arrepios e, para isso, havia uma pista artificial de esqui com 26 toneladas de gelo e 40 metros de comprimento (foto). A escola trouxe o gelo de São Paulo e o deixou num caminhão frigorífico até a entrada na pista. O gelo resistiu e esquiadores conseguiram fazer descidas na neve improvisada.

As referências ao cinema seguiram numa ala que remetia ao filme “Edward Mãos de Tesoura”, numa alegoria com a parte frontal do casarão do filme e várias peruas em secadores de cabelos, claro, arrepiados. O “arrepio do parto” foi simbolizado por uma alegoria com um enorme bebê recém-nascido de cabeça para baixo com excelentes movimentos e dois enormes braços a segurá-lo – havia seis mil bonecos de bebês a completar o elemento. A alegoria seguinte representava o prazer sexual e “o arrepio da sensualidade”, com casais praticamente nus pintados de dourado, simulando as posições do Kama Sutra.

viradouro2008cviradouro2008dA polêmica alegoria do holocausto (na foto à esquerda, como seria), representando “os arrepios do horror” foi totalmente modificada às pressas por causa da decisão judicial e virou uma montanha branca cercada de pás (outra foto), com os destaques amordaçados, um deles representando Tiradentes e faixas como os dizeres “Liberdade Ainda que Tardia” e “Não É Enterrando o Passado que se Constrói a História” –  isso renderia perda de pontos na apuração por causa da mudança na apresentação do enredo. Em seguida, outra “alegoria humana” (denominação que Paulo Barros detesta, diga-se de passagem) era chamada “O Banquete” e tinha a invasão de baratas.

No fim, a Viradouro lembrou dos carnavais que arrepiaram, em alas como a que representou o desfile da Beija-Flor em 1989 (“Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”) e prestou um tributo a Cartola numa linda alegoria representando a saudade do compositor por intermédio de uma escultura e as rosas desabrochando num belo efeito para simbolizar o maior sucesso dele: “As Rosas não Falam”. Fora da Mangueira devido à barração no desfile de 2007, Beth Carvalho foi convidada pela Viradouro para desfilar.

O samba-enredo era apenas razoável e isso se refletiu no irregular canto dos desfilantes. Além disso, o público só se empolgou em alguns momentos devido à excepcional atuação da bateria de Mestre Ciça. No mais, apesar de uma evolução sem grandes problemas, foi um desfile de altos e baixos pela forma como a ideia foi transferida, misturando baratas, com filmes de terror, parto, holocausto que não foi holocausto e Cartola. Convenhamos, ficou estranho.

Outra escola envolta em problemas na preparação, a Mocidade Independente de Padre Miguel entrou com muita garra na pista para abrir os desfiles de segunda-feira. O carnavalesco Cid Carvalho desenvolveu o enredo “O Quinto Império: de Portugal ao Brasil, uma utopia na história” e a Verde e Branco fez uma apresentação, senão arrebatadora, bastante correta.

Gostei da comissão de frente pela primeira vez sob a liderança de Fábio de Mello, ex-Imperatriz Leopoldinense. Os componentes, muito bem trajados, representaram “O nascimento místico de Portugal” com o passeio de D.João, Carlota Joaquina e Dona Maria pelo Rio com integrantes da corte e escravos na chegada em 1808. Em seguida, a lindíssima ala das baianas simbolizava “A Luz do Divino”, quando D.Sebastião teria recebido uma luz sobre o Quinto Império.

Como pedia a visão utópica sobre o desejado império, que, segundo explicou Cid, era o sonho  de Dom Sebastião e depois de D.João VI quando a família real veio, a divisão cromática era bastante colorida e com tons fortes. Isso ficou patente logo no interessante abre-alas, que tinha quatro tripés representando os impérios universais (Babilônia, Pérsia, Roma e Grécia) e um carro acoplados em 40 metros. As alas e alegorias mantiveram essa toada, em especial o bonito carro “Portugal e Espanha, União das Coroas”, representando o império de Filipe II após a morte de Dom Sebastião.

Agradou muito a atuação da bateria, mais uma vez com a cadência que se exige para uma escola de samba de verdade. A evolução, por outro lado, não foi tão precisa assim, apesar de o samba-enredo bastante descritivo ter sido bem cantado pelos componentes e pelo intérprete Bruno Ribas (que seria agraciado com o Estandarte de Ouro). A Mocidade deixou a passarela pelo menos tranquila de que não correria riscos na apuração, uma vitória dado o fraco desfile de 2007 e a preparação difícil.

tijuca2008Segunda agremiação na avenida, a Unidos da Tijuca voltou a passar bem com o enredo de nome difícil “Vou juntando o que eu quiser, minha mania vale ouro. Sou Tijuca, trago a arte colecionando o meu tesouro” mas que se mostrou de fácil compreensão. Bem desenvolvidas pelo carnavalesco Luiz Carlos Bruno, as alegorias e fantasias se mostraram muito criativas.

Chamada de “Coleção de Máscaras”, a comissão de frente era composta por arlequins carregando um tripé que, quando aberto, formava seis espelhos que simbolizavam a multiplicação dos desejos graças ao reflexo dos desfilantes. O lindíssimo abre-alas era uma grande “alegoria humana” em dourado, com os 86 componentes fazendo coreografias com leques roxos formando a cauda do pavão, símbolo da escola (foto).

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Outro elemento com coreografias representava a coleção de pinguins de geladeira (foto abaixo), tanto com esculturas como com integrantes fantasiados do animal. Uma das alegorias mais bonitas era a que mostrava a casa de bonecas, mesclando criatividade e bom gosto no acabamento e figurinos dos destaques.

tijuca2008cO carro “Coleção Exotérica” mostrava uma floresta encantada, com árvores e duendes, estes em referência aos anões de jardim. A alegoria “Antiquário” era criativa com as coreografias e luxuosa ao mesmo tempo. Já outra alegoria representava uma biblioteca e sua coleção de livros. Assim como as alegorias, as alas estavam muito adequadas à proposta do enredo, com coleções de animais de pelúcia e até álbuns de figurinhas (foto).

O samba-enredo era correto, mas não empolgou tanto o público e a escola teve problemas no quesito Harmonia, talvez pelo ritmo da bateria ter sido acelerado demais. Em evolução, ao contrário, o desfile fluiu sem grandes sobressaltos e a Tijuca também se colocou como uma das melhores escolas do ano, embora tenha deixado a impressão de que a vitória continuaria sendo, como dizia o samba, uma peça a completar a coleção da escola.

imperatriz2008bApós um desastroso desfile em 2007, a Imperatriz Leopoldinense se recuperou com uma bonita apresentação na defesa do enredo “João e Marias”, que teve ótimo desenvolvimento por parte de Rosa Magalhães, com as Marias que marcaram a vida de D.João, no caso D.Maria, a Louca, Antonieta e Leopoldina. A comissão de frente coreografada pela estreante Alice Arja chamava-se “Princesas Marias em baile de gala”, com homens travestidos de mulheres dançando no balé “A Cinderela”.

Curiosamente, Rosa fugiu do estilo clássico no abre-alas chamado “Vem brincar nesse trem com as Marias” e optou por uma estética mais moderna, com muitas luzes, para conclamar as inúmeras Marias que existiam no Brasil para acompanhar o desfile. Já na segunda e terceira alegorias, que representavam Maria Antonieta e a Revolução Francesa, o requinte ficou evidente, com muitos detalhes em dourado no primeiro elemento (foto) e a representação de Napoleão e dos revolucionários no segundo.

imperatriz2008Em seguida, mais dois belos carros: “Todos se vão de Portugal”, com dois grandes cavalos e uma carruagem para simbolizar a viagem da família real para o Brasil (foto) e “D.João chega ao Rio de Janeiro”, com as riquezas naturais encontradas aqui. Já o elemento “D.Pedro e D.Leopoldina, que será a nossa Imperatriz”, todo em tons de verde e com grandes flores, mostrava o período em que Pedro casou-se com Leopoldina, que deu nome à agremiação de Ramos.

No fim, a alegoria “O Império de Marias e Joãos” fazia uma homenagem à própria Imperatriz e os gresilenses, com representantes da velha guarda como destaques, entre eles a grande porta-bandeira Maria Helena. O elemento, também predominantemente verde, tinha a belíssima coroa, símbolo da escola, muito bem detalhada.

Mas, apesar da beleza do desfile, o destaque absoluto foi a bateria de Mestre Marcone. Estreante como diretor dos ritmistas da escola, Marcone revitalizou a bateria da Imperatriz e brindou o público com excepcionais bossas e paradinhas a ponto de ganhar o Estandarte de Ouro de “O Globo” como revelação. Além disso, Luiza Brunet estava de volta à frente dos ritmistas. Só que, apesar do excepcional samba-enredo, a escola apresentou falhas no quesito Harmonia e houve irregularidade no canto das alas. Já a evolução foi coesa, e sem grandes correrias, o que credenciava a Imperatriz aos primeiros lugares.

Já a Unidos de Vila Isabel fez uma apresentação abaixo do que se esperava, com o enredo “Trabalhadores do Brasil”, cujo título remetia aos discursos do ex-presidente Getúlio Vargas. Apesar de visualmente a escola estar bonita, com alegorias e fantasias adequadas, houve problemas sérios de evolução, causados sobretudo pela demora interminável da entrada do último carro alegórico.

Para piorar, o samba-enredo foi um desastre por causa de uma junção que se mostrou equivocada. Quando separados, os trechos dos diferentes sambas usados até que eram interessantes, mas quando unidos formavam uma verdadeira salada, com claras quebras melódicas. Melhor teria sido optar pelo belo samba de Mart’nália, degolado numa polêmica eliminatória. Como resultado, nem os componentes nem o público cantaram com entusiasmo.

Também não causou impacto o desenvolvimento do enredo, mas gostei dos setores que lembravam o trabalho escravo, a luta dos trabalhadores do interior pela dignidade e o período em que Vargas implantou os direitos aos trabalhadores brasileiros. Foi aquele típico desfile que parecia destinado à zona da marola, sem chances de vaga no sábado nem risco de rebaixamento – apesar dos vários problemas de evolução durante o desfile.

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Penúltima escola a desfilar, a Acadêmicos do Grande Rio chegou à Sapucaí com um grande problema: onde estava o intérprete Wander Pires? Ninguém sabia… Sem poder esperar, a escola começou a desfilar conduzida por Emerson Dias, e Wander finalmente chegou, com o desfile em andamento (o áudio ao vivo do desfile, acima, deixa claro). O cantor alegou ter sofrido um acidente de carro na ida para a Sapucaí: “Tenho me dedicado muito à escola. Estava há quatro noites sem dormir e o médico me receitou um remédio muito forte, acabei dormindo e me atrasei”.

O presidente Helinho de Oliveira não perdoou e demitiu o cantor após o desfile: “No último ensaio técnico na Sapucaí, ele chegou com 35 minutos de atraso. No desfile oficial, ele desrespeitou toda comunidade de Caxias e o público presente na Avenida, quando chegou mais uma vez atrasado. Para piorar, o Wander pediu para que fosse liberado para cantar em São Paulo e no Rio em 2009”.

Quanto ao desfile em si, o árido enredo “Do verde de Coari, vem meu gás, Sapucaí” não agradou. A escola contou a história de gases como hidrogênio e oxigênio e lembrou que o Rio tinha iluminação por intermédio de gás natural. No fim, como a escola foi patrocinada pelo município amazonense de Coari, o último carro alegórico tinha uma representação de robô de prospecção de gás natural após pesquisa com técnicos que trabalhavam no local.

Apesar da concepção correta de alegorias e fantasias, e de os elementos serem grandes e com materiais caros, o conjunto visual não causou grande impacto, talvez pela pouca popularidade do enredo. Para piorar, o samba era fraco e Wander Pires aparentou cantar num tom desanimado, talvez pelo problema antes do desfile. O destaque, mais uma vez, foi a cadenciada e precisa bateria de Mestre Odilon.

Mas no conjunto foi uma exibição de meio de tabela para trás, até porque houve sérios problemas de evolução do meio para o fim do desfile pelo inchaço da escola, e ainda houve o desacoplamento de uma alegoria, o que fatalmente renderia  perda de pontos durante a apuração.

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Com tantas apresentações irregulares e sem que nenhuma escola tivesse empolgado o público, o cenário ficou perfeito para a Beija-Flor, que, com sua precisão habitual nos quesitos, tinha tudo para arrancar rumo a mais um título. E foi isso que acabou acontecendo. O patrocinado enredo “Macapaba: equinócio solar, viagens fantásticas ao meio do mundo” foi bem desenvolvido e, se também não foi uma exibição emocionante ou empolgante, foi fortíssima tanto nos quesitos visuais como nos de pista.

Como Macapá é a única capital brasileira cortada pela Linha do Equador, é possível ver com precisão o fenômeno do equinócio, no qual o sol ilumina exatamente a mesma área dos hemisférios Norte e Sul. Diante disso, a comissão de frente fantasiada em dourado brilhante simbolizou o “encontro com o beija-flor brilho de fogo”, já que essa peculiar espécie, com vinte centímetros, habita a região de Macapá.

beijaflor2008bO imponente abre-alas, como vinha sendo costume na escola, era acoplado e tinha 50 metros de extensão. Um dos carnavalescos, Alexandre Louzada, revelou um gasto de R$ 150 mil só na compra de acetato para dar brilho à alegoria “Brilho de Fogo, o Rastro Iluminado”, toda em dourado bastante forte como raios de sol, e com um grande beija-flor no topo. Em seguida, surgiu a natureza de Macapá, com o carro “Macapaba Deslumbrante Belezas que Emanam do Coração da Amazônia”, todo em verde com árvores e animais.

O artesanato de Macapá também foi lembrado, no não menos bonito elemento “Cunani, Maracá, Aristé e Anuã, A Cerâmica das Civilizações Perdidas”, que tinha diversas grandes esculturas dos vasos e elementos típicos feitos pelos artesãos locais. As lendas sobre os tesouros de Macapá também foram bem reproduzidas em uma alegoria com um enorme e bem realizado tigre protetor. A pirataria dos invasores de Macapá também foi retratada, com diversos olhos gigantes em busca das riquezas locais (foto ao lado).

Já a alegoria “Mazagão de Além-Mar, Semente de Origem Africana” mostrava a mistura entre fenícios e índios que formou o povo da cidade. Por fim, a Beija-Flor retratou a grande fortaleza do local, conhecida como Fortaleza de São José de Macapá, e ainda o Marco-zero, este com uma alegoria em estilo bem high-tech mostrando o ponto em que se vê o equinócio em Macapá na Linha do Equador.

beijaflor2008Se as alegorias tiveram acabamento e concepção impecáveis, as fantasias não ficaram atrás, e, além disso, tinham uma divisão cromática inteligente e muito colorida mas sem ser pesada, o que valorizou a proposta do enredo e proporcionou um belo visual. Duas das fantasias mais interessantes eram as da porta-bandeira Selminha Sorriso e do mestre-sala Claudinho, com arco-íris em degradê.

O samba-enredo recebeu críticas pelo fato de que os versos “A luz solar ilumina meu interior / Vou viajar na linha do Equador” teriam melodia idêntica ao trecho “África: o baobá da vida ilê ifé / Áfricas: realidade e realeza, axé”, do samba de 2007. Mas fato é que o samba tinha boa melodia e descrevia bem o enredo, apesar de não ser uma “pedrada” como em 2007, e a comunidade nilopolitana cantou com a força de costume. A bateria, a exemplo do que ocorrera no ano anterior, passou conservadora mas com firmeza.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Terminados os desfiles, a Beija-Flor despontou como favorita a mais um campeonato menos por ter feito uma exibição inesquecível ou emocionante, mas por ter ido bem nos quesitos e ter feito uma apresentação superior no conjunto da obra. Apenas o Salgueiro parecia com alguma chance, enquanto Portela e Unidos da Tijuca corriam por fora. E a apuração acabaria sendo tão monótona como boa parte dos desfiles.

Isso porque a Beija-Flor liderou de cabo a rabo, com quatro notas dez em sete dos dez quesitos. O 11º título da agremiação nilopolitana saiu com 1,3 ponto de vantagem sobre o Salgueiro, que perdeu qualquer chance de ameaçar a escola de Nilópolis ao levar uma estranha nota 9,2 logo no segundo quesito lido (Harmonia).

Mas nem assim a Vermelho e Branco teve o vice-campeonato ameaçado, já que, surpreendentemente, a Grande Rio (mesmo punida em 0,1 pelo desacoplamento de uma alegoria) ficou em terceiro lugar, 0,1 à frente da Portela, que foi despontuada em 0,6 no último quesito (Comissão de Frente). Unidos da Tijuca e Imperatriz Leopoldinense marcaram 396 pontos e acabaram na quinta e sexta posições – o desempate foi no último quesito, no qual a escola tijucana alcançou a Rainha de Ramos.

Como destaques negativos, as fracas colocações de Vila Isabel e Mangueira, que terminaram em nono e décimo lugares. A São Clemente acabou rebaixada, a 0,7 da penúltima colocada Porto da Pedra – a escola da Zona Sul realmente foi punida em 0,5 pela genitália desnuda da modelo Viviane Castro.

O Império Serrano conquistou com facilidade – e alguma controvérsia – o título do Grupo de Acesso A em uma homenagem a Carmen Miranda (em enredo confeccionado por Márcia Lávia) debaixo de chuva torrencial. No Acesso B, Inocentes de Belford Roxo e Paraíso do Tuiuti (com homenagem a Cartola) conquistaram a subida ao Grupo A, apesar do brilhante desfile da Unidos de Padre Miguel – mais detalhes no “Cantinho”.

RESULTADO FINAL

POS. ESCOLA PONTOS
Beija-Flor de Nilópolis 399,3
Acadêmicos do Salgueiro 398
Acadêmicos do Grande Rio 396,9
Portela 396,8
Unidos da Tijuca 396,5
Imperatriz Leopoldinense 396,5
Unidos do Viradouro 396
Mocidade Independente de Padre Miguel 395,1
Unidos de Vila Isabel 394,6
10º Estação Primeira de Mangueira 393,9
11º Unidos do Porto da Pedra 388,2
12º São Clemente 387,5 (rebaixada)

CURIOSIDADES

– Um dos momentos mais hilários da história das transmissões de Carnaval pela TV ocorreu no fim da apresentação da União da Ilha no Acesso. O repórter da CNT foi entrevistar uma destaque da escola, mas na verdade era um destaque… Jorge Perlingeiro e (principalmente) Milton Cunha fizeram graça da situação. Vejam no vídeo, a partir dos 4m20.

– Falando em União da Ilha, a escola reeditou o clássico samba-enredo de 1982 “É Hoje!”, mas obteve apenas a quinta colocação, o que adiou mais uma vez  a volta ao Grupo Especial, sonho finalmente alcançado em 2009 de forma controvertida – falaremos sobre isso no próximo texto da série.

– Na TV Globo, Dudu Nobre comentou os desfiles e se concentrou em analisar as baterias, munido de um metrônomo, aparelho que detecta as batidas por minuto. Apesar da grande atuação da bateria da Imperatriz Leopoldinense, o músico citou que o metrônomo ultrapassou as 150 bpm e que isso caracterizaria marcha em vez de samba. Na apuração, a escola de Ramos levou quatro notas 10 e Mestre Marcone disse no Desfile das Campeãs que as notas eram a melhor resposta.

– Quem também comentou, ou melhor, fez piadas durante os desfiles na transmissão da Globo foi o humorista Hélio de la Peña, do Casseta & Planeta. Sobre o minúsculo tapa-sexo da modelo Viviane Castro, ele emendou: “Fiquei sabendo do que aconteceu. Ela ficou tão inibida, tão mal… Coitada…”. No mais, o humorista disse que a todo instante iria procurar menções ao Egito durante os desfiles e quando isso acontecia, ele fazia a festa…

– Chamada de musa do tapa-sexo após o desfile da São Clemente, Viviane Castro posou nua para a Playboy logo após o Carnaval. E, sobre a polêmica em que se envolveu, ela garantiu: “Estava bem colado, com super bonder. Tanto que tive de ficar meia hora numa banheira de água quente para descolar. Fui tão original que confundi os jurados”.

– Um telão gigante foi colocado pela TV Globo na concentração exibindo imagens dos desfiles para o público. Algumas propagandas também foram mostradas.

– Foi o último ano de Max Lopes como carnavalesco da Mangueira. Em onze desfiles concebidos por Max, a Mangueira conquistou três títulos (1984, 1984-supercampeonato e 2002), um vice (2003), três terceiros lugares (2001, 2004 e 2007), um quarto (2006), um quinto (1983), um sexto (2005) e um décimo (2008). Nos oito anos seguintes, a Verde e Rosa teve seis trocas de carnavalescos: 2009 (Roberto Szaniecki), 2010 (Jorge Caribé e Jaime Cesário), 2011 (Mauro Quintaes e Wagner Gonçalves), 2012, 2013 e 2015 (Cid Carvalho) e 2014 (Rosa Magalhães) – e mudou de novo para 2016 (Leandro Vieira). E a Mangueira ficou apenas uma vez entre as três primeiras colocadas, em 2011, quando três escolas não foram julgadas…

– Com o lindíssimo samba-enredo “João e Marias”, a Imperatriz Leopoldinense iniciou uma sequência de belíssimas obras e, de 2008 a 2015, emplacou quatro dos oito prêmios do Estandarte de Ouro no quesito. A curiosidade é que o samba de 2008 recebeu críticas: acusavam seus detratores que o refrão “Vem brincar neste trem, amor / Que vai parar na estação do coração” tinha a melodia copiada do refrão “Batam palmas, ela já chegou / Em meu coração um ‘X’ marcou”, do samba que a Caprichosos de Pilares escolheu para homenagear Xuxa em 2004.

– Causou polêmica a saída do intérprete Wantuir da Unidos da Tijuca e o acerto com a Grande Rio logo após o Carnaval de 2008. O presidente tijucano Fernando Horta alegou ao jornal “O Dia”: “Mais uma vez fui traído. O Wantuir tinha contrato comigo até o dia 28 de fevereiro de 2009. Infelizmente ele se igualou aos outros. Estou decepcionado com a postura dele. O Washington Reis (então prefeito de Duque de Caxias) me ligou pedindo a liberação e eu informei que contrato do Wantuir com a escola ia até fevereiro de 2009. Não vou brigar com políticos. Ele prometeu emprego para toda família dele, um mundo de dinheiro e vai lançá-lo candidato a vereador de Caxias. Na Unidos da Tijuca só fica quem quer”. Wantuir rebateu ao site SRZD: “Jamais teria fechado com a Grande Rio sem conversar com o Fernando Horta. Não faria isso, porque sei que o que consegui na minha carreira posso perder facilmente. O Fernando foi um paizão. Saio da Unidos da Tijuca com muito mais experiência.” Horta disse que a Grande Rio ofereceu R$ 120 mil e duas empresas de Caxias, R$ 80 mil. Wantuir nem confirmou nem negou.

CANTINHO DO EDITOR – por Pedro Migão

Sobre o desfile da Portela, vale lembrar que o enredo uma vez mais foi anunciado apenas em meados de agosto, tal e qual no ano anterior. A disputa de samba mais uma vez teve certa polêmica, pois o samba da parceria capitaneada por Júnior Scafura se impôs sobre o belo samba da parceria de Wanderley Monteiro e Luiz Carlos Máximo, preferido pelos segmentos portelenses – abaixo.

[audio:http://www.pedromigao.com.br/ourodetolo/wp-content/uploads/2014/03/Portela_2008_LUIZ_CARLOS_MAXIMO.mp3]

Ainda assim, o correto desfile acabou se refletindo na volta ao Desfile das Campeãs após dez anos. Também marcava o último ano do meu hiato de afastamento da escola, de três carnavais. No pré-carnaval daquele ano me tornei sócio contribuinte da escola.

Acesso B 2008 173Assisti aos dois grupos de Acesso nas frisas do setor 3 e desfilei na União da Ilha, na Vizinha Faladeira e no Boi da Ilha, no qual estava como diretor de Planejamento. Na Vizinha Faladeira, um dos diretores da escola passou com camisas de compositores e chapéus para oferecer a quem quisesse desfilar (foto ao lado). Por outro lado, no Boi da Ilha desfilei com a roupa de 2007 pois as camisas de diretoria não chegaram a tempo.

Reza a lenda que Wander Pires, após chegar atrasado para o desfile da Grande Rio, teria se ajoelhado em frente ao patrono da escola Jaider Soares para que este o deixasse cantar. Também se diz que ele teria levado um “sacode” – com direito a alguns tapas na cara – de alguns diretores da escola.

A Mangueira teve um pré carnaval bastante atribulado, com repetidas denúncias de envolvimento de sua diretoria com o comando do tráfico na localidade. Sobre o fato de se preterir o centenário de Cartola, ouvi de um dos diretores da escola (que trabalhava comigo na época) que “Cartola não dava enredo porque ficou afastado da Mangueira por 30 anos e não nos interessa mostrar a sua contribuição à música brasileira.” A escola recebeu em valores da época R$ 3 milhões de patrocínio da prefeitura do Recife, o que gerou outro fato inusitado: o frevo e o carnaval de Olinda não foram mostrados por exigência do patrocinador.

Acesso A 2008 054Não se pode dizer que o título do Império Serrano no Acesso A tenha sido injusto, mas houve algumas esquisitices, para se dizer o menos. A escola “gabaritou” os quesitos samba-enredo, fantasias e alegorias mesmo estando abaixo de outras nestes quesitos. A União da Ilha, que saiu do desfile como sua grande concorrente, parou apenas no quinto lugar – com direito a ter simplesmente o samba “É Hoje”, um dos grandes clássicos do carnaval carioca, apontado por um dos jurados como o PIOR SAMBA DO ANO no grupo – e perdendo pontos em outro jurado.

Aliás, a Acadêmicos do Cubango, que tinha o melhor samba-enredo inédito deste grupo, foi rebaixada justamente devido a um 9,1 neste quesito. A polêmica deste julgamento acabou levando à criação da Lesga, de triste memória – quatro campeãs injustas (para dizer o mínimo) em quatro anos de existência… Abaixo, a largada da União da Ilha daquele ano, de arrepiar.

[audio:http://www.pedromigao.com.br/ourodetolo/wp-content/uploads/2014/04/02_Uniao_da_Ilha.mp3]

Acesso B 2008 108Se a apuração do Acesso A foi polêmica, a do Grupo B foi caso de Polícia. Mesmo tendo sido disparada a melhor escola, a Unidos de Padre Miguel acabou apenas no terceiro lugar, sem conseguir o Acesso à Série A – um verdadeiro assalto o que fizeram com a agremiação da Vila Vintém. O Paraíso do Tuiuti, promovido com o vice-campeonato, passou cheio de esculturas recicladas da Mangueira, inclusive com um Cartola que havia passado no domingo – e com direito a camiseta baby look e ao pobre compositor com vitiligo, algo que ele nunca teve (foto)…

O samba do Tuiuti também trazia o traficante “Tuchinha” como um de seus autores.

Aliás, os desfiles do Acesso na Sapucaí em 2008 foram marcados pela forte chuva. Vale ressaltar a descortesia da atriz Nivea Stelmann, rainha da Renascer de Jacarepaguá, que ignorou nossos repetidos apelos nas frisas para chegasse perto a fim de ser fotografada. Preferiu os camarotes, apesar do temporal que caía aquele momento.

São Clemente e Mocidade Independente, que abriram os desfiles do Grupo Especial, levaram R$ 2 milhões da Prefeitura do Rio de Janeiro para contar os 200 anos da chegada de D. João VI ao Brasil. No Acesso A, Império da Tijuca, Lins Imperial e Santa Cruz levaram cerca de R$ 300 mil cada (em valores da época, não corrigidos) para também abordar o tema.

Muitos habitantes de Macapá reclamaram que a cidade mostrada pela Beija Flor tinha muitos pontos de dissonância com a cidade real. Por outro lado, antes da divulgação da sinopse da Imperatriz muita gente achava que o enredo, na realidade, seria sobre o universo infantil.

Links

O desfile que deu mais um campeonato à Beija-Flor

A boa apresentação do Salgueiro em 2008

A exibição que levou a Portela ao quarto lugar

O belo desfile da Imperatriz Leopoldinense

 

Fotos: Liesa, O Globo e Arquivo Pessoal Pedro Migão

27 Replies to “Sambódromo em 30 Atos: “2008: Livre de acusações, Beija-Flor leva mais um caneco””

  1. O Helio de la Peña repetiu essa mesma piada super-engraçada durante toda a transmissão de 2011.

  2. A Beija mereceu o título mas 2008 será marcado pelo histórico atraso de Wander Pires no desfile da Grande Rio. Será que o tal remédio q ele tomou o “dopou” por completo? “Sorte” de Emerson Dias (hoje intérprete da escola) que acabou sendo intérprete por acaso por 30 minutos e também pela polêmica do carro do holcausto, Paulo Barros conseguiu modificar o carro na velocidade da luz!
    Sobre o troca-troca de intérpretes entre Wantuir (e acabou envolvendo Wander e Bruno Ribas) me lembra muito bem o troca-troca envolvendo Aroldo Melodia, Ney Vianna e Quinzinho em 84

    No acesso, o samba da Cubango era impressionantemente LINDO! o rebaixamento foi injusto (digo isso mesmo sendo torcedor da rival Viradouro). O jurado que disse q “É Hoje” era o pior samba do A – mesmo sendo reedição – é completamente besta pra falar isso, deve nem saber de carnaval, este samba é um dos melhores da Ilha (um caso parecido aconteceu esse ano com o clássico “Os Sertões”) naquele momento os cds do acesso eram bem produzidos, até chegar a LESGA pra acabar com tudo…

    1. Wander Pires assumiu o microfone na segunda passada do samba. O áudio ao vivo é claro neste sentido

  3. Muita coisa pra falar, vamos por partes (rs):
    2008 é um daqueles anos em que eu discordo de muita coisa dos jurados, com exceção ao título e ao rebaixamento. Pra se ter ideia vou tecer comentários na ordem da minha classificação: 1º Beija-Flor: Eu não sei como tem gente que tem coragem de dizer que não mereceu, que teve outra melhor… Eu respeito todas as opiniões, mas Beija-Flor 2008 é um dos caso raros em que uma Escola sobrou e muito, só não foi perfeito por causa do pássaro de asa quebrada. Eu acho que a crítica à melodia idêntica se deve ao início dos refrãos de 2007 e 2008 (“O meu valor me faz brilhar” era parecido com “Sou Quilombola Beija-Flor”, mas a Escola acabou mudando um pouco o tom (subindo-o) na versão oficial; 2º Tijuca: Ganhou o Estandarte. Não merecia, mas isso mostra como foi a que chegou mais perto da Beija; 3º Mocidade: Sou torcedor da Escola, mas quem me conhece sabe como não sou fanático. O fato é que se fosse a Beija-Flor com esse Desfile, ganhava! Só pecou no excesso de cruzes (tinha em TODAS as alegorias); 4º Salgueiro: Fez uma apresentação super leve, muito legal, mas passou com pelo menos 4 alegorias apagadas e aquele Maracanã mais parecia um pinico. E que bom saber depois de 6 anos que eu não era o único que percebeu o quanto o samba não rendeu na avenida… 5º Imperatriz: Coisa chata durante todos os desfiles o Dudu Nobre com aquela história de metrômetro… Na Apuração, Marcone deu o troco; 6º Portela: Eu não morro de amores poe esse desfile. Foi bom, mas alternou bons e maus momentos. A 5ª Alegoria foi a mais bela do ano! 7º Grande Rio: Vc esqueceu de citar a onça que saiu do seu caminho e queria dar uma passadinha nas frisas do Setor 6 (atual 10); 8º Viradouro: Apesar de tudo de mal gosto, curto a CF “quebrando o gelo”, achei genial! E nas outras 4 posições concordo com os jurados. O início da Vila foi promissor e criou uma bela expectativa, pena o que aconteceu no Carro que quebrou… Sobre a Mangueira, prefiro não comentar… Ignorar o centenário de Cartola é algo que jamais será perdoado…
    No Acesso o Império deu um VERDADEIRO sacode, não se pode desmerecer, ainda mais com a Rocinha perdendo pt por não ter o número mínimo de baianas (algo muito amador). E me lembro que depois de ver que a Ilha ficou em 5º pensei: “Se reeditando “É Hoje!” a União da Ilha não conseguiu subir, não vai subir nunca mais…” Hehehe, me enganei… rs

    1. Problema é que gabaritar samba enredo. alegorias e fantasias foi forçar a amizade demais

  4. O melhor samba do Especial foi o da Imperatriz, sem dúvida!
    No Acesso A o da Cubango (dos inéditos, claro)
    Mas nenhum deles superava o grande samba do ano, que estava no Acesso B, na injustiçada Unidos de Padre Miguel: Que coisa maravilhosa, um dos melhores da Década! Destaca os versos “Indumentária nobreza, de Olofim a tristeza que fez a princesa chorar/ Mistérios se escondiam, segredos serão revelados, sob a luz de Obatalá”, arrepiante!
    E na faixa do Império Serrano no CD, pra mim a melhor exibição de uma Bateria na história das gravações de sambas-enredo! A Sinfônica de Mestre Átila arrasou, ARRASOU!

  5. – As críticas ao bom samba da Beija por plágio tiraram e bastante o brilho da obra na fase pré-desfile.

    – Nítido o olhar de nervosismo do Émerson Dias, quando filmado, no momento da ausência do Wander. Ainda assim, segurou bem. Wander chega constrangido e parece meio alterado quando toma posse do microfone, desafinando nas reverberações.

    – A mudança do samba da Grande Rio na sua cabeça foi desastrada, a métrica foi pro espaço com “depoisdadestruiçãodasplantasidusanimais…” tudo atropelado. Na transmissão das campeãs da Band, Arlindo Cruz cantarolou errado o samba, do qual era um dos autores: “ORGULHO do petróleo e do gás”.

    – O que foi Ivo Meirelles colocando “Festa do Interior”, que pouco tem vinculação com Pernambuco, em detrimento a “Vassourinhas” na introdução da faixa mangueirense no CD? No disco, o andamento da bateria é mais acelerado que o normal, o que parecia antever o desastre do samba e daquela apresentação.

    – Até hoje geral lembra mais do célebre concorrente 1+1+1+1+1 (do qual não gostava muito) do que do samba tijucano que realmente cruzou a Passarela.

    – Marco Lira começava a terminar com a reputação da Viradouro ao descartar de primeira os versos “agora, grita pelo mundo afora, disfarça e chora, um grande amor nasceu”, em prol de “mexa e remexa, sacode a cabeça”. Apesar que o fraco samba campeão combinou mais com o bizarro desfile do Paulo Barros. Me diverti bastante com tanta mistura inusitada. Me espantava o péssimo acabamento do carro das baratas.

    – Samba da Mart’nália pra Vila era primoroso, mas impensável de ser cantado num desfile nos tempos de hoje. Porém, mil vezes desfilar com um samba arriscado e de tamanha ousadia do que com aquele “frankestein” sem noção que adentrou a pista. Curioso que eu achava melhores o refrão principal do Dedé Aguiar e o central do Diniz, e na fusão aparecem exatamente os refrões contrários de ambos…

    – Migão e Fred vão discordar de mim, mas eu apreciava mais o campeão portelense mesmo do que o do Wanderley/Máximo (“voa águia, voa voa”).

    – Preto Jóia vinha bastante contestado pelos gresilenses na época. E ele teve uma atuação muito ruim na avenida, mesmo chamando pra si a responsabilidade ao cantar sozinho o começo da segunda parte, com a equipe de apoio só aparecendo no “o tempo passou, irão se casar”. Mas semitonou muito, lamentavelmente.

    – A Imperatriz teve na final o primeiro dos quatro bons concorrentes derrotados da parceria de Armenio Poesia, todos defendidos pelo Freddy Vianna. O de 2008 é o melhor deles.

    – Mocidade tinha uma ótima safra de sambas e fez uma bela final, pra mim ganhou o melhor, que funcionou muito bem na Sapucaí. Mas o das parcerias de J. Giovani (“oi ginga no meu boi bumbá, tambor de mina”) e de Iuri Abs (“vou por onde o vento me levar eu vou”) também representariam muito bem a escola.

    – Jorge Perlingeiro, ao anunciar a penalização da São Clemente antes da leitura das notas, deu uma leve risada marota.

    – Último ano dos bons CDs duplos produzidos pelo Leonardo Bessa pro acesso, cuja produção revelou dois contrastes: o sacode da faixa do Império Serrano, num dos melhores registros de um samba-enredo dos últimos tempos na minha opinião; e o trabalho ao meu ver infeliz no lindo samba da Unidos de Padre Miguel, que acelerou demais o andamento no disco (sem contar a infeliz mudança melódica no “lava minh’alma” do refrão principal).

    – Um documentário bacana sobre os preparativos para o desfile da Cubango com alguma frequência é exibido pelo Canal Brasil. A propósito, Mercedes Baptista quase apareceu incógnita, escondida numa alegoria, remetendo a Lan na Renascer mês passado.

    1. Sobre os sambas concorrentes:
      Na Unidos da Tijuca meu samba preferido era o que o Nego cantava e o refrão era quase que o título do enredo cantado, e tinha no outro refrão “Tem carcareco, amor… quinquilharia” que destoava rs
      Sobre os sambas do Armênio Poesia & Parceiros, o meu preferido era o de 2010, EMOCIONANTE, mas deu o azar de a parceria do Guga ter feito uma obra-prima!
      E de fato a Final na Mocidade só teve sambas de muita qualidade, mas meu preferido era o do Iuri ABS, que era maravilhoso!
      E o Samba do Gustavo Clarão pode ter caído cedo na Viradouro, mas virou hino da Escola! hehe

  6. Engraçado, o desfile do salgueiro pra mim e pra alguns amigos que estavam no setor 11 foi extremamente arrastado e frio, parece que foi melhor no começo da pista. Também não gostei do último carro do carnaval, ali era carnaval de veneza, não do Rio.

  7. Tenho de concordar com o Migão, o Salgueiro foi bem, mais recebeu notas generosas. Apesar de não ser um desfile, na minha visão, tão arrebatador quando 2005 e 2007, a Beija-Flor sobrou do pelotão, tanto que é o único campeonato do século XXI que não vejo nem hater da escola contestar. Pessoalmente, acho que Imperatriz e Mocidade mereciam melhor sorte e um vice-campeonato pra Portela não seria nem um pouco absurdo.

  8. Sobre a Imperatriz, realmente a atuação do Preto Jóia foi sofrível apesar do samba(o melhor do ano), mas viria coisa pior no ano seguinte, com a desastrosa volta do Paulinho Mocidade. A bateria deu um sacode, embora com o ritmo acelerado. Só que o Dudu Nobre, cheio de marra, encheu o saco com o lance do metrônomo e os envelopes trouxeram a verdade: quatro notas 10. Aposto que ele não sabia onde enfiar a cara na quarta-feira de Cinzas e no desfile das campeãs o Marcone deu uma bela sacaneada no ‘comentarista’ da transmissão da Globo.

  9. Palhaçada o que fizeram com o Paulo Barros, proibindo-o de entrar com o carro do holocausto.

    Adianta alguma coisa esconder o passado? É igual a mulher feia e gorda que bate em alguém porque a xingou – ela não vai ficar magra e bonita espancando alguém!

    Fora isso, domínio exagerado da Beija-Flor, pelos compositores terem passado atestado de burrice nos sambistas, com um plágio descarado. Mas, como é a Beija-Flor, nem teve punição.

    1. Problema é que o lobby judeu talvez seja o mais forte do Brasil. O que ocorreu foi censura pura e simples

  10. Eu nunca vi uma escola tão superior às outras no Especial como a Beija-Flor em 2008,título indiscutível.Mas a Mocidade foi injustiçada,era pra ter ficado no mínimo em quinto.
    O enredo da Viradouro foi o mais bagunçado da história- conseguiram misturar Cartola,Holocausto,barata,Batman…

  11. Eu lembro que quando anunciaram Macapá como enredo da Beija-Flor para 2008 eu disse:”O que não faz a busca por dinheiro. Homenagear uma cidade longe pra caramba que ninguém sabe onde fica…”
    Hoje, sou noivo de uma moça nascida em Macapá e que se tornou Beija-Flor após esse desfile. O mundo dá voltas hehehe

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