Nesta sexta-feira, o jornalista esportivo Fred Sabino pega como gancho uma entrevista do carnavalesco Renato Lage ao site do jornal “O Globo” e faz reflexões sobre o futuro dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. Lembro aos leitores que esta revista eletrônica trará uma cobertura completa dos desfiles de escolas de samba no Rio de Janeiro e em São Paulo. Prestigie e divulgue.

Reflexões para a folia

Eis que chegamos à Folia de Momo, finalmente. Nesta sexta-feira, com o começo dos desfiles da Série A, a Sapucaí receberá as agremiações que tantos serviços prestaram, e continuam prestando, à cultura nacional e à música brasileira.

Por isso mesmo, faço questão de ponderar algumas questões sobre o futuro dos desfiles, depois de ouvir uma ótima entrevista do brilhante carnavalesco Renato Lage na última semana. Para Lage, hoje em dia os desfiles estão muito militares e não podem ter tantas restrições.

Vejam bem, não é uma opinião de um sambista criado em comunidade. Trata-se de uma constatação de um dos grandes artistas plásticos do nosso Carnaval, que, em vez de estar puramente preocupado com a estética dos desfiles, o que teoricamente deveria ser sua prioridade, defende os sambistas de raiz:

“É preciso lembrar que acima de tudo é um desfile de escola de samba”.

É uma frase bastante simples, mas que resume o paradigma que vive hoje o nosso querido Carnaval do Rio. Não é novidade que os desfiles são grandes espetáculos, midiáticos (até demais), e vendidos para o mundo inteiro. E, para atingir esse alvo, o militarismo citado por Renato Lage vem cada vez mais sendo adotado.

Para começar, a própria dinâmica de desfile é militar demais. Não é puro saudosismo, mas sinto falta do tempo em que o componente brincava mais o desfile e as escolas não eram impiedosamente canetadas nas sempre contestadas apurações. [1]

É claro que o “marcheamento” (desculpem o termo, mas não encontrei algo melhor) dos sambas ao longo das décadas contribuiu, embora nos últimos anos a média tenha melhorado. Mas ainda assim não consigo ver os desfilantes em geral soltos de verdade.

Além disso, o recente achatamento das notas entre 9 e 10, além de tornar o julgamento muito menos acurado, privilegia o tal padrão de desfile que está sendo enfiado goela abaixo das agremiações: tudo muito certinho, tudo muito técnico, o que é a antítese do Carnaval.

Infelizmente a avaliação das escolas ocorre muito mais por desconto de erros do que pelos diferenciais de criatividade e “algo a mais” que se apresenta. Pela lógica tecnicista atual, um Tupinicópolis de Fernando Pinto poderia levar a mesma nota do que um enredo CEP ou patrocinado desses que infestaram a Sapucaí nos últimos anos.

Esse tecnicismo pode acabar tendo um efeito totalmente contrário e devastador: um produto embalado e vendido como o que mais temos de alegre no Brasil pode ser visto pelos tais consumidores apenas como uma mera competição entre escolas de samba. E aí estaremos lascados.

Sei que existe muita politicagem, sei que existe muita grana em jogo, sei que há muitos interesses de poder, mas torço sinceramente para que uma clássica frase volte a prevalecer um dia: “Vamos brincar, hoje é Carnaval!”.

Que Deus abra os caminhos dos verdadeiros sambistas que engrandecem o nosso Carnaval. Um viva aos nossos passistas, aos nossos malabaristas de pandeiros, às queridas baianas, aos mestres-salas e porta-bandeiras, aos ritmistas, aos compositores. Que eles brinquem o Carnaval!

[N.do.E.: como alguns sabem, irei desfilar na Portela na Harmonia. O pedido que a Direção fez foi de incentivar o componente a brincar, saindo da formação “marcial”]