Nesta segunda-feira, a série Sambódromo em Trinta Atos, do jornalista esportivo Fred Sabino, chega à metade e relembra o Carnaval de 1998, cujo título foi dividido entre a empolgante Mangueira, que homenageou Chico Buarque de Hollanda, e a Beija-Flor, que não estava cotada entre as favoritas mas encerrou o jejum de títulos com um enredo sobre lendas dos índios marajoaras.

1998: O polêmico empate entre Mangueira e Beija-Flor

Uma mudança no regulamento marcou a fase pré-carnavalesca de 1998: o julgamento teria mais jurados, subindo de quatro para cinco por quesito. Seriam descartadas a menor e maior notas de cada quesito na apuração.

Ao contrário de 1997, quando enredos e sambas estiveram num nível bastante inferior ao habitual, os temas apresentados pelas agremiações e as composições escolhidas voltaram a ter boa qualidade na sua maioria, o que era um alento às comunidades, torcedores e críticos em geral.

Na preparação das escolas, todos os olhos estavam voltados para a Viradouro e Joãozinho Trinta. De novo sob os holofotes, o grande carnavalesco optou pelo enredo “Orfeu, o negro do Carnaval”. O samba era dos melhores do ano e foi incansavelmente tocado nas rádios (sim, naquela época isso ainda acontecia…).

Já a vice-campeã Mocidade Independente de Padre Miguel escolheu um enredo sobre as estrelas e ainda homenagearia o patrono Castor de Andrade, morto em 1997. Outra estrela homenageada seria Chico Buarque de Hollanda, pela Mangueira, que contratou o carnavalesco Alexandre Louzada. A escolha do samba foi polêmica, pois ganhou uma composição feita apenas por paulistas – Leci Brandão, que teve seu samba cortado nas eliminatórias, não gostou.

A Beija-Flor de Nilópolis resolveu inovar para 1998: descentralizou a confecção do desfile e formou uma comissão de Carnaval em detrimento de apenas um carnavalesco na concepção. O enredo escolhido foi “Pará, o mundo místico dos Caruanas nas águas do Patu-Anu”.

Quem causou polêmica foi a emergente Unidos do Porto da Pedra: o enredo “Samba no pé e mãos ao alto, isto é um assalto” pretendia criticar a impunidade para os crimes no Brasil com bom humor. A Imperatriz Leopoldinense de Rosa Magalhães escolheu um tema sobre o futuro, algo bem diferente do que vinha colocando na avenida.

Por sua vez, o Salgueiro teria Parintins como enredo, enquanto a Portela (que contava com o retorno de Carlinhos Maracanã à presidência) falaria sobre a magia da noite com o melhor samba-enredo do ano, e a Grande Rio homenagearia o centenário de Luiz Carlos Prestes. Já a Vila Isabel tinha um enredo confuso, sobre as guerras que transformaram o mundo.

Depois de quase cair em 1997, a União da Ilha apostaria na interessante história do fotógrafo francês Pierre Verger, que se converteu ao candomblé no Brasil – o samba era excelente e a escola ainda contratou o brilhante intérprete Rixxa.

Quem causava boas expectativas era a Unidos da Tijuca, que decidiu homenagear o centenário de um dos clubes mais populares do país, o Vasco da Gama. O samba, também muito tocado nas rádios, tinha um refrão popularíssimo e o clube estava no centro das atenções pois era o campeão brasileiro de futebol. A novidade era a contratação do carnavalesco Oswaldo Jardim, que vinha de dois bons trabalhos na Mangueira.

Completariam o desfile duas escolas que estavam de volta ao Grupo Especial após resultado polêmico no Acesso em 1997: a Tradição, com enredo sobre a Amazônia, e a Caprichosos de Pilares, com tema sobre a raça negra e um excelente samba.

OS DEFILES

De fato, para quem voltava à elite e, portanto, abria os desfiles, a Caprichosos se comportou muito bem, obrigado. Depois de um atraso após homenagem da escola a Castor de Andrade, o samba teve na (ótima) condução o jovem Jackson Martins, que de cara mostrou a categoria que marcaria sua carreira até ele ser covardemente assassinado em 2004.

O tema era de fácil leitura, pois abordava a origem da raça e ainda homenageava negros como Nelson Mandela, Pelé e Benedita da Silva. E o samba-enredo teve boa aceitação por parte do público.

O carnavalesco Jerônimo Guimarães, após o fracasso no Império Serrano em 1997, dividiu bem o enredo. O conjunto visual, embora sem grande luxo devido à limitação de recursos da escola, passava bem a ideia e a Caprichosos terminou o desfile com boas possibilidades de permanecer no grupo.

salgueiro1998“Agraciada” com a posição de segunda escola a entrar na avenida, o Salgueiro apresentou o enredo “Parintins, a ilha do boi-bumbá”. O samba, embora marcheado como vinha acontecendo nos anos pós-Ita, ganhou o público no início do desfile graças a mais uma animada condução do cantor Quinho e à sempre maravilhosa bateria de Mestre Louro, ganhadora do Estandarte de Ouro.

O conjunto alegórico concebido pelo carnavalesco Mário Borriello passava o enredo com correção e a escola mostrou na Sapucaí, além, claro, da lenda do boi-bumbá, grandes esculturas dos animais e monstros retratados nas lendas daquele local, sempre com uso de muitas cores.

A eterna rivalidade Garantido x Caprichoso também não poderia ficar fora do desfile e foi clara a preocupação do carnavalesco em retratar esteticamente com grande fidelidade a famosa rivalidade paritinense.

Apesar de ter desfilado melhor do que em 1997 no conjunto, o Salgueiro não conseguiu manter o pique do começo de sua apresentação, até porque tinha mais de 4500 componentes e a vazão desse povo todo foi complicada nas últimas alas. De qualquer forma, um bom momento da escola.

Por outro lado, a Unidos de Vila Isabel fez sua pior apresentação em anos. A sinopse do enredo “Lágrimas, suor e conquistas no mundo em transformação” falava da necessidade de os homens se sacrificarem para conquistar os ideais da sociedade, mas o desfile foi extremamente problemático.

Carros alegóricos (medianos, diga-se de passagem) quebraram, a evolução foi descompassada (a bateria não parou no boxe) e o samba, embora de melodia muito agradável, não pegou. Um ano para os torcedores da Vila esquecerem.

Já a Acadêmicos do Grande Rio fez um belo desfile sobre Luiz Carlos Prestes. O samba era dos melhores do ano e descrevia bem o enredo, sem contar que tinha um dos refrões mais conhecidos daquele Carnaval: “Ah, eu tô maluco, amor! Ah, quero reformas já/ Ah, quero paz e amar! Sou Caxias, vou marchar!”. A bateria, que passou a ser comandada por Mestre Odilon, teve um desempenho sensacional, com uma cadência deliciosa e paradinhas bem executadas e corajosas.

Max Lopes fez um trabalho excepcional na confecção de alegorias e fantasias, estas então de extrema felicidade. A trajetória do líder comunista foi muito bem contada. Gostei especialmente do abre-alas com os tanques de guerra e esculturas simbolizando a Coluna Prestes, e da ala coreografada a seguir, com soldados.

A escola manteve o nível durante toda a sua apresentação, que relembrou a liderança de Prestes no PCB, a luta contra o regime militar e o poema do chileno Pablo Neruda dedicado a ele. O público acolheu a escola até o fim do desfile e houve até alguns gritos de “é campeã”.

O desfile ainda teve a presença de muitos artistas, o que seria uma das marcas registradas da escola nos anos seguintes. De qualquer forma, foi a melhor apresentação da Grande Rio no Grupo Especial até então.

A Unidos do Porto da Pedra foi a quinta a se exibir e passou longe de repetir o grande desfile de 1997. A proposta do enredo sobre os ladrões e a impunidade não foi bem assimilada pelo público e o samba não ajudou, com um refrão central de gosto bem duvidoso e exagerado: “O culpado fez o bem, o inocente, o mal/Tudo mundo é jurado neste Carnaval”.

Até o inglês Ronald Biggs, famoso assaltante do Trem Pagador e que vivia fugido no Brasil, foi citado. Sem alegorias de impacto, salvou-se só a criativa comissão de frente, com presidiários carregando pequenas celas.

Quem também não reeditou sua ótima participação do ano anterior foi a Mocidade. A sinopse falava muito sobre as estrelas e a forma como estas influenciam a vida das pessoas. O abre-alas, representando o sistema solar em dourado, era espetacular, mas as alegorias seguintes, embora bem acabadas, não causaram tanto impacto.

Para piorar, o samba não era dos melhores e nem mesmo a grande bateria e o cantor Wander Pires o salvaram, tanto que a Mocidade teve uma harmonia aquém em relação às suas tradições. No fim, a evolução também foi descompassada, pois o tempo estava acabando e as últimas alas apressaram o passo, o que é sempre ruim.

Mas o grande problema para a Verde e Branco foi o que me pareceu um excesso de preocupação em homenagear o patrono Castor de Andrade, o que acabou descaracterizando na prática a proposta inicial do enredo – na sinopse só as últimas linhas citavam Castor. Uma escultura do patrono comandando uma espaçonave fechou a bonita porém confusa apresentação da Mocidade.

portela98A Portela fechou a primeira noite de desfiles com uma excelente apresentação, que remeteu a seus grandes momentos. Para começar, Paulinho de Viola se uniu ao novo intérprete principal Rogerinho para cantar “Foi um rio que passou em minha vida” no esquenta (foto). Simplesmente emocionante e uma injeção de garra e emoção aos componentes.

O enredo sobre a noite era de fácil leitura e o samba de Noca da Portela, Colombo, J. Rocha e Darcy Maravilha era o melhor da safra, com uma melodia dolente e letra poética. A Tabajara do Samba imprimiu uma ótima cadência e, a exemplo do samba-enredo, era praticamente uma certeza de cinco notas dez.

Apesar de um problema na abertura das asas da águia, as alegorias do carnavalesco Ilvamar Magalhães tiveram bom efeito, mesmo sem luxo (ele próprio falava isso publicamente) mas com uma boa junção entre as cores da escola e tonalidades mais escuras, afinal, o tema era a noite.

O desfile abordou temas como o amor durante a noite, os animais que se aventuram no escurecer e até as profissões noturnas típicas como prostitutas e garçons. As fantasias também passaram com correção a proposta do enredo e os componentes cantaram muito bem o samba durante todo o tempo. Mesmo sem passar impressão de título, foi o melhor desfile de domingo, à frente de Grande Rio, Salgueiro e Mocidade.

A Tradição começou o desfile de segunda com uma apresentação fria e que sem dúvida poderia levar a escola ao descenso. O enredo era ecologicamente correto, colocando a Amazônia como pulmão do mundo, mas o conjunto visual, embora descrevesse o enredo, ficou devendo. A bateria estava acelerada pro meu gosto, mas fez boas convenções e paradinhas.

No entanto, o samba era longo e arrastado, e a evolução foi descompassada, tanto que a tradicional ala de cadeirantes passou velozmente pois o tempo estava prestes a estourar. Para piorar, uma baiana passou mal e deixou a pista no último minuto regulamentar. Ufa! Mas o risco de rebaixamento era iminente.

Mangueira98h

Se o primeiro desfile da noite foi frio, o segundo foi quente do começo ao fim e fez surgir a primeira candidata forte ao título: a Estação Primeira de Mangueira. O enredo sobre Chico Buarque já proporcionaria um clamor popular pelo próprio personagem. Mas a Verde e Rosa rendeu a Chico uma homenagem inesquecível. Para ele e os amantes do Carnaval.

Cercado por um batalhão de jornalistas na concentração, Chico respondeu sobre a emoção de ser homenageado pela Verde e Rosa. Com bom-humor, ele cravou: “Estou tranquilo, vocês estão querendo que eu fique nervoso, mas eu não vou ficar nervoso!”.

O cantor e compositor já provocou as primeiras emoções antes mesmo do esquenta. Com acompanhamento do amigo Luiz Carlos Vinhas no piano, Chico subiu ao carro de som e cantou o famoso verso “Vai passar nessa avenida um samba popular…” Em seguida, Jamelão, acompanhado do estreante Luizito e de Eraldo Caê, entoou o hino verde e rosa “Exaltação à Mangueira”. O público acompanhou a escola com milhares de bandeirinhas no esquenta e em todo o desfile.

O samba dos paulistas Nelson Dalla Rosa, Carlinhos das Camisas, Nelson Csipai e Villas Boas, tão injustamente criticado na fase pré-carnavalesca, rendeu de forma impressionante do começo ao fim, sempre, é claro, impulsionado por Jamelão e a bateria de Alcir Explosão, esta num andamento acelerado mas  muito firme, com a clássica batida seca do surdo um.

A Mangueira causou excelente impressão logo com a comissão de frente (acima), que passava a ser comandada pelo dançarino Carlinhos de Jesus. Os componentes estavam muito bem fantasiados e simbolizavam a Ópera do Malandro, um dos clássicos de Chico, com uma coreografia sensacional.

mangueira98fO carro abre-alas, chamado “Para ver a banda passar” tinha bons efeitos em neon na palavra Mangueira e reunia amigos do cantor, como João Nogueira, Nana Caymmi, Maria Bethânia e Zizi Possi, mas as esculturas da parte superior não me agradaram tanto – inclusive a de Chico estava ligeiramente torta. Outros amigos, como Beth Carvalho e Gilberto Gil, desfilaram no chão (foto).

Mangueira98dAs demais alegorias também respeitavam as cores da escola e contavam bem o enredo, embora não fossem tão luxuosas – aliás, 1998 não foi um ano dos mais auspiciosos em alegorias para quase todas as escolas, creio eu, devido à crise asiática de 1997 que refletiu no Brasil.

Mangueira98bAs fantasias também estavam leves e corretas, a despeito de alguns problemas de acabamento. Mas as alas estavam divididas com coerência e passeavam pelos sucessos de Chico e o lado político do cantor, especialmente na época da ditadura militar. A evolução da escola não teve grandes descompassos, o que antes era uma preocupação pelo contingente de 4500 componentes.

mangueira98eO grande homenageado desfilou com um terno rosa, camisa verde e chapéu Panamá no (este sim) luxuoso carro dos baluartes, ao lado do inesquecível Carlos Cachaça, numa cena emocionante. O público não parou de aplaudir Chico em nenhum momento e o gênio retribuiu sempre sorrindo e tirando o chapéu.

O fim do desfile reservou outra agradável surpresa: uma ala formou um mosaico com o rosto de Chico, em alusão à canção “Retrato em Branco e Preto”, e rendeu ótimo efeito. O público aplaudiu com entusiasmo e recebeu a escola na Apoteose com os gritos de “é campeã”.

Foi uma aula de garra e samba no pé, no desfile que mais levantou o público. Restava saber se as pequenas falhas de alegorias e fantasias seriam ameaça. Confesso que como torcedor pela primeira vez desde que comecei a ver os desfiles, senti a escola com reais chances de título. Mas ainda era cedo, claro.

imperatriz1998Até porque a Imperatriz Leopoldinense logo a seguir fez mais uma das suas típicas apresentações de extrema correção e bom gosto, com fantasias e alegorias impecáveis. O enredo “Quase no ano 2000” falava sobre a evolução do homem e as perspectivas para o novo milênio que se aproximava. E Rosa Magalhães, numa temática diametralmente oposta ao que estava acostumada a mostrar, brilhou como sempre na concepção, com uma estética high tech no melhor estilo Renato Lage.

A comissão de frente gresilense voltou a agradar e os componentes simbolizavam Ícaros. Gostei muito da alegoria que remetia ao filme “Metrópolis” e das fantasias de robôs dos ritmistas da bateria. O casal de mestre-sala e porta-bandeira formado por Chiquinho e Maria Helena (filho e mãe) voltou a brilhar e a escola evoluiu sem sobressaltos.

O único senão, assim como nos carnavais nos anos anteriores, foi que a escola passou fria e o público não reagiu. Isso porque o enredo, apesar de bem contado na avenida, não era de tão fácil assimilação e o samba, embora corretíssimo, não era vibrante, apesar da grande atuação (mais uma) do intérprete Preto Jóia.

A Imperatriz deixou a avenida com a missão cumprida e como uma das melhores escolas do ano. Mas era preciso esperar para ver se, a exemplo de outros anos, só a técnica bastaria para a escola ser campeã, porque a Mangueira tinha feito uma exibição bem mais empolgante.

Viradouro98Já a campeã Unidos do Viradouro também se credenciou a brigar pelo campeonato e fez um desfile mais vibrante do que a Imperatriz. O enredo desenvolvido por Joãozinho Trinta era baseado no filme “Orfeu Negro”, inspirado na mitologia grega e na história de amor entre Orfeu e Eurídice, só que adaptado ao Rio de Janeiro durante o Carnaval.

Para entender o enredo: o Orfeu brasileiro vivia no morro e era o deus da música, que fazia o sol raiar e encantava as mulheres com os acordes de seu violão. Mas seu único amor era mesmo Eurídice. Só que no dia em que a escola de samba da sua comunidade o homenagearia, Eurídice morre com um tiro. Sem rumo, Orfeu não participa do desfile e despreza as outras mulheres, que o empurram Orfeu do alto do morro para a morte. A escola vence o Carnaval e Orfeu é glorificado após sua morte.

O samba, um dos melhores do ano, foi muito bem conduzido por Dominguinhos e o público acompanhou a escola. Não tanto como no desfile da Mangueira, mas também com empolgação. João 30 fez uma divisão cromática que valorizava o dourado, o prateado e cores escuras e só no fim do desfile outras tonalidades (incluindo o vermelho e branco da escola) foram mostradas. Mas se sobraram empolgação e bom gosto, contratempos aconteceram.

A bateria de Mestre Jorjão, que em 1997 havia sido destaque, voltou a empolgar o público com paradinhas, uma no estilo funk, mas teve alguns problemas. Outro senão aconteceu com a peruca da porta-bandeira Patrícia (que desfilou grávida), o que poderia gerar perda de pontos.

Além disso, Joãozinho Trinta alterou parte do roteiro do desfile a pedido da produção do filme que revisitaria a obra original de 1959 e gravaria cenas no cortejo – isso também poderia render problemas na apuração. Para piorar, falhas no sistema de som atrapalharam a harmonia da escola, apesar da vibração dos componentes.

Mesmo com esses problemas, que poderiam custar a vitória à escola, o enredo foi muito bem recebido pelo público e crítica. Afinal, como já dito, o samba rendeu muito, as alegorias (embora sem tanto impacto como em 1997) eram criativas e pertinentes, e as fantasias, além de bonitas, eram leves, permitindo aos desfilantes uma boa desenvoltura. A Viradouro, a exemplo da Mangueira, foi recebida na Apoteose com gritos de “bicampeã”.

beija-flor-1998

A Beija-Flor de Nilópolis fez uma apresentação superior em relação ao mediano desfile de 1997, embora com tema confuso. O enredo era baseado no livro “O mundo místico dos Caruanas e a revolta de sua ave”, escrito pela Pajé Zeneida Lima, que vivia na Ilha de Marajó. A obra contava sobre as lendas e tradições dos índios daquela região.

beija-flor1998eA comissão de Carnaval liderada pelo experiente Laíla concebeu um desfile sem dúvida muito bem realizado plasticamente, mas o enredo era mesmo difícil para o público entender. O samba, embora de ótima melodia e maravilhosamente conduzido por Neguinho (foto), falava sobre Patu-Anu, surgimento do Girador, que criou as sete cidades governadas por Auí, índios Caruanas. Complicada, não?

beija-flor1998cAs alegorias eram grandes e imponentes, mas as fantasias, mesmo bem acabadas, se mostraram pesadas, o que dificultou a vida dos componentes. Apesar disso, a comunidade nilopolitana como sempre cantou o samba, que teve ótimo acompanhamento por parte da bateria.

Pena que no fim do desfile houve uma certa correria entre as últimas alas, que se mostraram um tanto emboladas, pois o tempo de 80 minutos estava acabando. Diante disso tudo, e com a pouca receptividade por parte do público, naquele momento parecia difícil a Beija-Flor brigar com Mangueira, Imperatriz e Viradouro pelo título, apesar de ter passado correta na maioria dos quesitos.

tijuca98Penúltima escola a se apresentar, a Unidos da Tijuca fez um desfile simpático no enredo em homenagem ao Vasco da Gama. O carnavalesco Oswaldo Jardim iniciou o desenvolvimento do enredo lembrando a história do navegador português e os 500 anos da expedição marítima às Índias. Depois, o clube da Cruz de Malta teve a sua história visitada em alegorias com diversas esculturas em espuma (uma marca do saudoso carnavalesc0) e boas fantasias.

O técnico Antônio Lopes e muitos jogadores campeões brasileiros em 1997 marcaram presença nos carros alegóricos, com grande destaque para o Animal Edmundo, que vivia o auge da idolatria com a torcida vascaína e desfilou ao lado de Roberto Dinamite.

Mas, lamentavelmente, o então vice-presidente de futebol do clube, Eurico Miranda, atrapalhou a evolução da escola ao brigar no meio da pista com fotógrafos e cinegrafistas, causando uma enorme confusão em frente às cabines de jurados.

O samba, como se esperava, teve excelente efeito, principalmente no refrão principal. Mesmo sem uma apresentação arrebatadora, a Tijuca deixou boa impressão e a expectativa era a de a escola ficar no meio da tabela, a famosa zona da marola.

A União da Ilha encerrou os desfiles de 1998 numa apresentação bonita, porém problemática, no enredo “Fatumbi, a Ilha de Todos os Santos”, do carnavalesco Milton Cunha. Em termos de concepção, o visual era bom, mas alguns carros alegóricos literalmente tiveram pedaços que despencaram no meio da pista.

Os componentes cantaram muito bem o samba com Rixxa e salvaram a apresentação insulana. A bateria de Mestre Paulão também levantou a escola, com mais uma brilhante apresentação. Mas a Ilha deixou a pista sem muitas esperanças de voltar no Desfile das Campeãs.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Quando acabaram os desfiles, o povo discutia quem tinha sido a melhor: Mangueira ou Viradouro? Mesmo com outras boas apresentações, sobretudo de Imperatriz, Portela, Beija-Flor e Grande Rio, as duas escolas que mais encantaram público e crítica eram as favoritas destacadas segundo os jornais, apesar de a sempre criteriosa equipe da TV Manchete ter elogiado muito a agremiação de Nilópolis.

Na abertura dos envelopes do primeiro quesito (Mestre-sala e Porta-bandeira), o primeiro revés, já esperado, da Viradouro: duas notas 9, um 9,5 e dois dez, enquanto Salgueiro, Mangueira, Imperatriz, Beija-Flor e Tradição saíram na frente, com três notas 10 válidas.

Em Alegorias e Adereços, os mangueirenses respiraram aliviados, pois tiveram quatro dez e apenas um 9,5 que acabaria descartado, assim como a Imperatriz, esta de forma surpreendente já que tinha o melhor conjunto alegórico do ano. Apenas Beija-Flor e Viradouro obtiveram cinco notas dez.

A leitura das notas seguiu e Mangueira, Beija-Flor e Imperatriz continuaram dividindo a liderança, enquanto a Viradouro perdeu mais pontos em quesitos como Fantasia e Evolução. Com dois 9,5 em samba-enredo, a Imperatriz saiu da liderança.

No último quesito (Bateria), a última decepção para a Viradouro: a escola levou um 8 (descartado) e um 9,5 que até hoje não descem na garganta de seus torcedores. Um dos jurados alegou que a escola apresentou “excesso de efeitos, virando marcha” e ainda atravessou, enquanto outro afirmou que houve “momentos claros de imprecisão”.

No fim, Mangueira e Beija-Flor atingiram os 270 pontos e ficaram com o título, com a Imperatriz em terceiro (269,5), Portela em quarto (264), Viradouro num frustrante quinto lugar (262,5) e a Mocidade em sexto (261,5). Caíram a Unidos da Tijuca (injustamente) e a Unidos do Porto da Pedra, enquanto Império Serrano e São Clemente garantiram a volta ao Grupo Especial.

Até hoje uma “casca de banana” no regulamento gera polêmica. Para 1998, ficou acertado que as notas descartadas não serviriam para um possível desempate seja qual fosse a posição. Ou seja, apenas haveria desempate por quesito, como houve por exemplo para a sexta posição entre Mocidade e Salgueiro em samba-enredo. Como Mangueira e Beija-Flor conseguiram 100% de aproveitamento nas notas válidas, não havia como qualquer quesito servir para dar o título a apenas uma escola.

De fato, se a vitória da Mangueira foi considerada justa, a mudança do regulamento permitiu à Beija-Flor também ficar com o título, já que, analisando os números absolutos, a Verde e Rosa teve apenas duas notas diferentes de dez em toda a apuração enquanto a Azul e Branco teve notas abaixo de dez descartadas em quatro quesitos. Também causou estranheza a Viradouro ter ficado tão atrás, pois esta, assim como Portela e Imperatriz, fez um desfile melhor em diversos quesitos do que a escola nilopolitana. Coisas do Carnaval…

Sob forte chuva de verão na Praça da Apoteose, as torcidas e diretorias de Mangueira e Beija-Flor comemoraram muito o título, especialmente os grandes cantores Jamelão e Neguinho, que, fiéis às suas escolas, também atravessavam longo jejum de conquistas (11 e 15 anos, respectivamente).

Por outro lado, duas escolas se mostraram revoltadas com o resultado: a Viradouro e a Tijuca. Joãozinho Trinta chegou a dizer que houve uma “pajelança nos bastidores”, em clara alusão à Beija-Flor. Já os tijucanos reclamaram que os jurados canetaram a escola por causa do comportamento de Eurico Miranda e por restrições clubísticas ao Vasco.

A indignação pelos lados de Niterói continuou no Desfile das Campeãs e componentes carregaram uma grande faixa perguntando: por quê? E Mestre Jorjão voltou a caprichar nas paradinhas estilo funk.

RESULTADO FINAL

POS. ESCOLA PONTOS
Estação Primeira de Mangueira 270
Beija-Flor de Nilópolis 270
Imperatriz Leopoldinense 269,5
Portela 264
Unidos do Viradouro 262,5
Mocidade Independente de Padre Miguel 261,5
Acadêmicos do Salgueiro 261,5
Acadêmicos do Grande Rio 255,5
União da Ilha do Governador 255
10º Caprichosos de Pilares 253,5
11º Tradição 247
12º Unidos de Vila Isabel 246
13º Unidos da Tijuca 225 (rebaixada)
14º Unidos do Porto da Pedra 223 (rebaixada)

CURIOSIDADES

– Foi o último desfile transmitido pela TV Manchete, que naquela altura já estava em crise profunda, pouco mais de dois anos depois da morte de Adolpho Bloch. No meio de 1999, a emissora carioca foi vendida e o canal passou a se chamar Rede TV.

– Na TV Globo, a novidade foi a participação de Isabela Scalabrini na narração ao lado de Fernando Vanucci.

– A conquista de 1998 foi a primeira da Beija-Flor no sambódromo. Com outros seis títulos (2003, 2004, 2005, 2007, 2008 e 2011), a escola honraria o apelido de  Deusa da Passarela.

– Pouco depois dos desfiles, foram produzidos dois CDs bem bacanas: um com os sambas de 1998 gravados durante as apresentações oficiais das escolas e outro só com os esquentas de cada agremiação naquele ano. Gostei especialmente do segundo, com hinos como “Exaltação à Mangueira” e “Foi um rio que passou em minha vida”, além de sambas históricos como “Kizomba” e “Liberdade liberdade, abre as asas sobre nós”.

– Falando em gravações, o Salgueiro, insatisfeito com a Gravasamba, resolveu comercializar um próprio compacto com seu samba-enredo. Com todo o respeito, não curti o resultado. E o hino salgueirense de 1998 também não apareceu no CD ao vivo.

– Jamelão conquistou seu último prêmio do Estandarte de Ouro, totalizando seis. Um como destaque masculino (1975) e cinco como intérprete (1982, 1990, 1992, 1996 e 1998).

CANTINHO DO EDITOR – por Pedro Migão

A Portela depois deste desfile ficaria nove carnavais seguidos afastada do Desfile das Campeãs. Durante este período somente em 2002 e em 2004 a agremiação faria desfiles que a credenciariam a tal. 1998 também marca a última vez em que “Foi Um Rio Que Passou em minha Vida” foi cantada no esquenta da escola.

A permanência da Caprichosos no Especial sendo a primeira a desfilar no domingo somente seria repetida pela União da Ilha em 2010. Todas as “primeiras de domingo” neste período foram inapelavelmente mandadas de volta ao Grupo de Acesso.

As histórias de bastidores daquele ano indicam que o rebaixamento da Unidos da Tijuca teve muito a ver com a tentativa do mandatário do Vasco Eurico Miranda de influir na política do carnaval. A Porto da Pedra esteve envolvida em grande polêmica com a Riotur antes do desfile devido ao seu enredo, e o refrão do samba insinuava que a escola teria sido “roubada” no resultado do ano anterior.

O Império Serrano, com enredo de temática africana, venceu o Grupo de Acesso com nota máxima em tudo – em outro resultado muito contestado pelos amantes do carnaval. A São Clemente foi a vice campeã e também ascendeu ao Grupo Especial com enredo sobre “os poderes do povo”. Uma curiosidade: a Acadêmicos da Rocinha foi “bi-rebaixada”, caindo para o Grupo B.

Este, que desfilou na sexta feira de carnaval, teve a Unidos do Jacarezinho como vencedora e a Villa Rica vice, ambas ascendendo ao Acesso A.

Consta que os herdeiros de Luiz Carlos Prestes não ficaram muito satisfeitos com a homenagem. A alegação é que se mostrou mais os lugares onde ele viveu que propriamente sua vida e legado.

Segundo o recente livro lançado sobre a Mocidade o enredo não tinha originalmente intenção de homenagear Castor de Andrade, que faleceu quando o desfile já estava sendo preparado. Em entrevista ao livro o então carnavalesco Renato Lage pontua que ficou bastante aborrecido com as insinuações de que todo  o enredo era uma homenagem ao patrono.

A Viradouro também foi acusada de ter plágio em seu samba enredo durante o período pré carnavalesco. Plágio ou não, foi penalizada no quesito.

O desfile da Ilha já foi retratado na série “Samba de Terça”, e uma coluna do compositor Aloisio Villar contou a história da disputa de samba daquele ano. Em comentário ao post que escrevi o então carnavalesco Milton Cunha revelou que se mudou da Beija Flor para a União da Ilha (algo que seria impensável nos dias de hoje) porque “não aguentava mais o Laíla”…

A Imperatriz perdeu o campeonato exatamente em samba-enredo. Nos anos seguintes, sob a presidência de Luiz Pacheco Drummond na Liesa, a ala de compositores da escola se firmaria como a melhor do Rio aos olhos dos jurados, sempre com todas as notas máximas. Por outro lado, o carro que retratava o filme “Metrópolis” era sensacional, em uma boa incursão da carnavalesca Rosa Magalhães em temática mais “futurista”.

Após quatro anos consecutivos entregando carnavais inacabados, o carnavalesco Roberto Szaniecki ficaria fora do carnaval carioca em 1998. Ele assinou o desfile da Gaviões da Fiel, em São Paulo.

Links

O desfile campeão da Mangueira em 1998

O outro desfile campeão, da Beija-Flor

A apresentação que reconduziu a Portela ao Desfile das Campeãs

https://www.youtube.com/watch?v=zW5d9AW0x2c

A empolgante exibição da Viradouro

47 Replies to “Sambódromo em 30 Atos – “1998: O polêmico empate entre Mangueira e Beija-Flor””

  1. Além de polêmico, o resultado desse desfile de 1998 é injusto. Sob todos os aspectos. O título da Mangueira é indiscutível. Mas a divisão do mesmo é altamente questionável, sem contar as posições posteriores até 5º ou 6º. Enfim… é mais um carnaval cujo resultado gera discussões assim como os de 1989 e 1995, por exemplo.

  2. Lembrando que se caso as notas descartadas valessem para o desempate, a Beija-Flor seria penta-vice até 2002.

    1. Muito bem observado. Aliás, um dos melhores momentos da história das apurações é, após a divulgação da última nota de 2002, o Lailá falando: “síndrome de vascaíno”.

  3. Mais um capítulo sensacional. Aliás, a única passagem brilhante do Szaniecki na carreira deve ter sido essa pela Gaviões. Dois títulos incontestáveis que eram pra ter sido três, não fosse o acidente.

        1. O João postou o vídeo aí. Bem, passagem dele pelo Império foi meio esquisita com o desfle sobre a ótica.

  4. Toda as segundas leio esta coluna, que alias acho que todos que gostam de Carnaval deveriam fazer… Eu inclusive compartilho em meu face, para que meus amigos tenham a oportunidade de ler o texto.

    Mas nao sei se é implicância ou perseguição de minha parte. Mas com exceção de 86 e 89 a GRES BEIJA FLOR a julgar por esta coluna nao merecia disputar ou ganhar nenhum titulo no carnaval. e além disso , segundo a propria coluna nao fez desfiles dignos, na maioria de suas apresentações. Os seus desfiles sempre sofrem aqui na coluna com a critica negativa. Isso é bem diferente de outras escolas que sempre recebem elogios, mesmo quando o desfile teve gosto duvidoso.

    Se eu fosse um leigo e tornasse como regua os textos aqui da coluna , a Beija Flor pelo menos ate 98, seria uma escola coadjuvante e que sempre desfila mal e tem ajuda dos jurados para conquistar boas colocações.

    Douglas cursino

    1. Douglas, o período entre 85 e 98 foi uma época onde, com raras exceções, a Beija Flor foi sim coadjuvante. Mas no próximo texto, por exemplo, ela será enfocada como uma das injustiçadas em um resultado que só LPD e os jurados viram

      abs

      1. Pedro Migão, obrigado pelo retorno!

        Estarei atento aos textos futuros, no período que compreende os anos de 1999 ate 2013. E convenhamos que nesse periodo a Beija Flor nao teve nada de coadjuvante.
        E mais uma vez venho lhe parabenizar pela coluna.

      2. Só pra citar esse período de 85 a 98 a beija flor só não voltou no desfile das campeãs em 92 ainda citando o período ate 92 o carnavalesco da escola era como todo mundo sabe Joãozinho trinta e seus desfiles eram aguardado por todos , assim como são aguardado os desfiles de Paulo Barros hoje em dia ,portanto apesar de não ter ganho nenhum carnaval no citado período a beija flor nunca foi coadjuvante , e foi sim uma das protagonista , ganhando ou perdendo, pra mim o único período que a escola deu uma caída foi no s quatro anos do péssimo Milton cunha , mas mesmo neste período a escola deve como pior colocação um quinto lugar , só para fazer uma comparação pegue os resultados da Portela neste período ai você vai ver como e a trajetória de uma coadjuvante , alias o papel da Portela como coadjuvante no carnaval carioca já dura mais de trinta anos , usando a sua frase , com raríssimas exceções

    2. Caro Douglas, antes de tudo, muito obrigado pela leitura. Como os textos, além de descritivos, são opinativos, é natural que haja pensamentos diferentes entre nós em alguns casos. Mas, além dos anos que você citou, elogiei os desfiles da Beija-Flor em 1985, 1988, 1993, 1995 e 1996, mas, convenhamos, em todos esses anos, houve apresentações um pouco superiores e que mereceram os títulos. Daqui até o fim da série, como todas as escolas, a Beija-Flor será elogiada (como na próxima coluna por exemplo) ou criticada, sempre com muito respeito às agremiações. E vida que segue… Abraços!

      1. Fred Sabino, muito obrigado pelo retorno!

        Como eu disse …todos que gostam de carnaval deveriam ler esta coluna…
        Grande abraço…sucesso!

  5. Pedro Migão, Quando será que a Portela homenageará o João Nogueira com um Enredo? Já passou da hora!!!

    1. Em que pese o João merecer um enredo de qualquer agremiação pela sua grandeza como artista, ele teve uma série divergência com a Portela e foi um dos fundadores da Tradição. Talvez por isso a escola nunca tenha o escolhido para enredo.

    2. Ricardo, tem uma penca de grandes portelenses que estão bem na frente de João Nogueira esperando um enredo: Candeia, Monarco, Paulinho, Vilma, Silvinho, Antonio Caetano, Lino Manuel, Doca, Vicentina, Argemiro entre outros.

      1. Escolas como Portela e Mangueira poderiam fazer enredo homenageando seus baluartes. Ainda espero estar vivo para ver isso.

  6. Como já foi dito, o resultado deste ano deixou a desejar em algumas posições. Mas acho que pior foi a parte de baixo, Porto da Pedra e Unidos da Tijuca não mereciam cair, e sim a Tradição com seu desfile apático e cheio de problemas e a Vila Isabel, que foi igualmente apática e cheia de problemas. Só ficou da Tradição a coleira da Luma de Oliveira mostrando que ela tinha dono na época rsrs… Enfim, todos sabem os motivos que levaram o Tigre e o Pavão a cair aquele ano.

    Vou discordar um pouco do autor da coluna (momento raro, já que quase sempre concordo com tudo), pois não gostei nada da abertura da Grande Rio e nem do samba da escola. O enredo também não acho que foi bem contado. O trabalho estético do Max foi muito bom (tirando o início), mas não curti muito o desfile, até pelo desenvolvimento do enredo.

    Vou discordar novamente quanto à Beija-Flor. Achei o desfile da escola muito bom e fortíssima candidata ao título, junto com Viradouro e Mangueira. Sendo bem sincero, das duas campeãs, curti muito mais a Beija-Flor que a Mangueira. Imperatriz, na minha opinião, não dava para ser campeã, apenas estaria bem classificada para o desfile das campeãs. E a Viradouro foi canetada em tudo que pode e até onde não era pra ser.

    A Mangueira começava uma série de comissões de frente majestosas, que em vários anos se destacaram mais do que o desfile em si da escola (como em 99). Depois da Imperatriz nos anos 90, a Mangueira, na minha opinião voltou a revolucionar o quesito no fim da década e início dos anos 2000.

    Mocidade realmente passou muito fria, para mim parecia que a escola sentiu muito a morte de seu patrono. Salgueiro acho que pagou pela posição de desfile, pois achei um bom desfile da escola. Talvez desfilando na segunda-feira o Salgueiro até voltasse nas Campeãs. A Portela também foi uma grata surpresa e o samba era sensacional, pra mim entre os melhores do ano, junto com Viradouro, Beija-Flor e Ilha. Falando em Ilha, uma pena os percalços no desfile dela, pois estava muito bonito o trabalho do Milton e o enredo era excelente.

    1. Obrigado pela opinião! Como já escrevi, em textos informativos/opinativos como esses não dá para concordarmos com tudo. Mas opiniões bem embasadas como essas sempre são bem-vindas. Continue escrevendo, abraços

  7. concordo com amigo acima u. da tijuca e porto da pedra foram assaltadas não merecia cair.
    e sim vila e tradição principalmente
    Sobre o desfile da ilha a escola veio com garra depois que escultura do 2º carro caiu
    viradouro foi mal jugada , mas não merecia o titulo mas sim a 4ª posição e salgueiro a 5ª.
    Mas foi um ano de bons desfiles

  8. Acho que sou o único a achar que Mangueira e Beija-Flor mereceram o caneco, sim (aliás, este samba da BF, para mim, é o melhor da escola). E a Viradouro subiu no salto-alto da arrogância, a mesma coisa que aconteceu com Mangueira (1988), Mocidade (1992) e Imperatriz (1996).

    Sobre o Szaniecki, ele assinou em 1999 com a Gaviões e depois, só em 2004 (os de 2002 e 2003 foram com outro carnavalesco). Depois disso, o “polonês” só deu bola fora!

    Em tempo: se nem o Império Serrano se deu bem metendo o malho em jurado, imagina a Porto da Pedra!!

  9. Migão e Fred: pra acabar com as dúvidas, esses dias tive acesso ao mapa de apuração daquele ano e somei todas as notas, se não houvesse descarte em 98, o resultado seria o seguinte:
    1° Mangueira, com 499 pontos
    2° Imperatriz, com 497 pontos
    3° Beija-Flor, com 496,5
    4° Portela, com 489
    5° Mocidade, com 484,5
    6° Salgueiro, com 483,5
    7° Viradouro, com 481,5
    8° Grande Rio, 478,5
    9° União da Ilha, 475,5
    10° Caprichosos, 471,5
    11° Tradição, 460,0
    12° Vila Isabel, 458,0
    13° Unidos da Tijuca, 446,5
    14° Porto da Pedra, 438,0
    Conclusão: A Mangueira seria campeã sozinha (com toda a justiça), a Beija-Flor não seria penta-vice como disseram, e a Viradouro ficaria fora das campeãs. Pois é, houve descarte e deu no q deu.

  10. Fred Sabino e PEdro, a titulo de curiosidade….. Muitas pessoas afirmam que a TV favorece a BF em sua programação e “puxa saco” da escola. Esse ano a Globo, não cobriu o titulo de dentro da escola de Nilópolis, Houve muitos xingamentos, cantos contra a emissora, por parte do povo nilopolitano. Os profissionais entao, fizeram as transmissões de um helicoptero….. Quero lembrar que nao houver censura….pq em nenhum momento a Globo foi impedida de realizar suas transmissões.

  11. Dizem que em 2011 a Beija só ganhou por que o enredo era Roberto Carlos. O mesmo afirmo desse desfile de 2008. A Beija era infinitamente superior à Mangueira em praticamente tudo. A plástica da Mangueira, naquele ano, era de doer de tão brega e pobre. Os carros, só pra que se tenha uma ideia da pobreza da escola, eram ainda em formato de bolo de noiva com queijos aos lados, enquanto os da Beija, além de imensos e exuberantes, eram de uma modernidade absoluta pra época. Mas, Mangueira falava de Chico e aqui no Brasil existe uma babação de ovo por esse artista que eu, sinceramente, não consigo compreender. Ok, como compositor ele é interessante. Mas só como compositor, por que no resto! Logo, era pra Beija-Flor ter levado o título sozinha.

  12. Dificilmente gosto de enredos que homenageiam personalidades vivas, por mais justas que sejam – caso do Chico Buarque. Garibaldi, talvez você não tenha tido contato com a obra do Chico e a importância que ela representou em um momento histórico do Brasil. Enfim… Pior que enredos “biografias autorizadas” são os enredos CEP.

    Critica-se muito a Imperatriz por nos ter legado o desfile (supostamente) tecnicamente perfeito. O que me incomoda na Beija-Flor é o tom hermético e dark dos seus enredos e o luxo opressivo.

    Pode me chamar de saudosista mas eu prefiro desfiles emocionantes e imperfeitos a desfiles “impecáveis” que não ME deixaram saudade. Em 98, o desfile que mais me tocou foi o da Viradouro. Mas, de novo, quando se assiste na avenida, eu posso responder pela empolgação na minha arquibancada e no setor da frente. Mangueira foi um sacode. O último desfile da BF que me emocionou foi o de 2001.

  13. Estava assistindo pela Tv Manchete a apuração das escolas de samba. Ao terminar com resultado de empate o apresentador da TV Manchete Paulo Stein, disse que pelo regulamento a Mangueira era a campeã, por conta de um quesito que recebera nota maior. Imediatamente, foi anunciado o empate. Até hoje fiquei sem saber a verdade. Se foi vacilo do Stein ou foi um jeitinho brasileiro da Liesa…

  14. Que argumentação maravilhosa. Eu estava lá. O Lousada saiu, dizendo que ia pra casa, quando a Mangueira estava entrando. O motivo foi uma árvore que levou uma escultura da Mangueira (motivo do 9.5, em alegorias). Depois que ele ficou sabendo que o desfile foi um sucesso! O desfile da Beija-Flor foi muito bom. Pena e ver essa escola levar nos dias de hoje muitos títulos com suspeita de favorecimento. Mas, não vem ao caso, são duas grandes escolas!

  15. Uma boa reportagem para você, seria contar quando o Grupo de Acesso foi decidido no sorteio, em 1997.

  16. Dizer que o campeonato de 98 deveria ser única e exclusivamente da Manga é, no mínimo, espantoso, pra não dizer outra coisa! Aquele desfile foi vencido pelo Chico Buarque e seu imenso carisma e apelo emocional dentro desse País. Foi ele quem deu aquele titulo para Manga da mesma forma que foi Roberto quem deu o título de 2011 para a Beija, muito embora no caso da Beija, as poucas concorrentes facilitaram muito as coisas e as demais foram impossibilitadas de disputar por conta do incêndio na Cidade do samba, o que fez com que o título praticamente caísse no colo da escola nilopolitana. Já no caso da Mangueira, os jurados (todos contemporâneos e fãs de carteirinha do artista) foram, obviamente, muito benevolentes com seu pupilo, já que o carnaval mesmo da Manga, à exceção do samba, bateria e comissão de frente (uma das mais belas de todo o carnaval) deixou muito a desejar. O que eram aquelas alegorias da Mangueira?!!! O que eram aquelas fantasias?!!! A manga não veio pobre, veio, pode-se dizer, miserável! Diante da Beija Flor mais parecia uma agremiação da Intendente Magalhães. Pelo amor de Deus!!! Peguem os vídeos e vejam a superioridade da Beija em samba, em bateria, em plástica, em evolução. O desfile da Beija de 2008 é, sem dúvidas, um dos melhores da historia do carnaval e um dos soberbos da agremiação, juntando-se aos de 89, 2001, 2004, 2007, 2008. Essa é muito boa!

  17. Acabei de saber que alguém, no mínimo, com má-fé, entrou nessa página de comentários e utilizou-se de meu nome.
    Essa pessoa haverá de ser ver comigo na Justiça. Meu nome, construído após 15 anos de trabalho incessante na mídia carnavalesca, não será jogado na lama por qualquer um.
    Conto com a colaboração do Pedro Migão para que esse impostor seja desmascarado.

    Att,
    Anderson Baltar

  18. Sobre a campeã, Viradouro, por qual motivo o samba enredo foi acusado de plágio, sendo até mesmo penalizada, como pontuou nosso amigo “Migão”? Também sobre Mangueira, embora estivesse num gejum de 11 anos, naquela data (1998) a Agremiação teria ganho ate 2002, ao menos um titulo por decada… apenas na década atual a Mangueira ainda não ganhou títulos. Tem até 2019 para manter sua marca…

    1. Keroll, um dos “jurados” disse que “Hoje o amor está no ar… vai conquistar seu coração…” era igual a “O Teleporto está no ar… é nessa que eu vou me ligar…” da Estácio de 1996.

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