Nesta quinta-feira excepcionalmente, a coluna Sabinadas, do jornalista esportivo Fred Sabino, relembra curiosidades da primeira Era Turbo da Fórmula 1, entre 1977 e 1988, já que a partir desta temporada os propulsores turbinados voltam à categoria.

A primeira era turbinada na Fórmula 1

Como todos já sabem, a Fórmula 1 voltará a ter motores turbo em 2014 depois de 26 anos. Mas, se na primeira Era Turbo, o objetivo dos fabricantes era sempre gastar milhões de dólares para extrair até o último cavalo de potência, o quadro agora é diferente: o desenvolvimento será congelado e a a meta passa a ser economizar combustível usando dois Kers (sistema de recuperação de energia das freadas) para não poluir o meio-ambiente.

bmwmotorturboPara se ter uma ideia, os antigos turbos (ao lado, à esquerda) antes de 1987 e 1988, quando o regulamento estipulou a adoção de válvulas limitadoras, chegavam a incríveis 1.300 cavalos em classificação, com redução para cerca de 700 em corrida (por questões de confiabilidade e consumo de gasolina), enquanto os novos (ao lado, à direita) devem ter 600 cavalos tanto em treino como em prova, com um ganho de 150 cavalos com os dois Kers.

Na primeira Era Turbo, a quantidade de gasolina era livre até 1983, depois passou a ter limitações que eram de 220 litros (1984 e 1985), 195 (1986 e 1987) e 150 (1988). Agora em 2014, os carros terão de largar para as corridas com no máximo 100 kg (estimados em 138 litros) de gasolina.

jabouille77Mas voltemos às origens dos turbos na Fórmula 1. A possibilidade de propulsores turbocomprimidos sempre foi prevista pelo regulamento (e existiam nos anos 50 outros compressores, mas não por intermédio de turbinas), mas a primeira a apostar nisso foi a Renault. Com as bem-sucedidas experiências com turbos em provas de protótipos, a montadora francesa decidiu desenvolver um motor com seis cilindros em V de 1,5 litro em 1976 para estrear no ano seguinte. O responsável pelos testes foi Jean-Pierre Jabouille.

Como se previa, houve muitas quebras, tempo perdido e frustrações nos testes, mas no Grande Prêmio da Inglaterra de 1977 finalmente Jabouille e a Renault alinharam o primeiro Fórmula 1 turbocomprimido (foto ao lado). É claro que o turbo quebrou, como quebraria inúmeras outras vezes. Mas aos poucos os engenheiros foram resolvendo os problemas. Em 1978 vieram os primeiros pontos e no GP da França de 1979 a primeira vitória, com Jabouille (foto abaixo).

Formula One World ChampionshipNos primeiros anos, além das questões de confiabilidade e consumo, os turbos eram problemáticos para as equipes em largadas e pistas com muitas curvas de baixa velocidade, por causa da retomada bastante lenta na comparação com os motores convencionais. Mas nas pistas de alta os Renault de Jabouille e René Arnoux voavam e já eram um grande incômodo para as demais equipes, que utilizavam na maioria os consagrados motores Ford V8, além de Brabham e Ferrari, que tinham propulsores de doze cilindros (Alfa Romeo e Ferrari).

piquet1983Mas esses problemas foram resolvidos gradativamente e o grande salto dos turbos se deu a partir de 1981 quando a Ferrari resolveu desenvolver seu próprio turbo, com sucesso. Depois outras equipes se uniram a montadoras como BMW, Porsche e Honda. Em 1983, finalmente o primeiro título de um carro com motor turbo, com Nelson Piquet e seu Brabham-BMW (foto), derrotando, vejam só, Alain Prost e a Renault. Daí, finalmente em 1984, no GP da Áustria, o grid inteiro tinha motores turbinados.

Mas como sempre acontece quando a concorrência é livre, os custos foram para a estratosfera, assim como a velocidade dos carros (claro, outros fatores como aerodinâmica e pneus ajudaram nisso), e a Federação Internacional de Automobilismo decidiu que a partir de 1989 os turbos estariam banidos. Com isso, em 1987 e 1988 algumas equipes decidiram já fazer a transição para os aspirados e só Honda e Ferrari (havia ainda o motor Megatron, mas era um BMW antigo) permaneceram até o fim.

Agora, a Fórmula 1 entra numa nova Era Turbo. Se não veremos a potência avassaladora de antes, ao menos as cartas estarão embaralhadas de novo, já que as equipes devem sofrer com a durabilidade. Dizem que a Mercedes saltou na frente de Ferrari e Renault, mas os testes estão apenas começando e muita água vai passar embaixo da ponte até a abertura do Mundial, em março, na Austrália. Enquanto esperamos a briga começar para valer, vamos relembrar algumas curiosidades da primeira Era Turbo:

Primeira corrida com motores turbo: GP da Inglaterra de 1977

Última corrida com motores turbo: GP da Austrália de 1988

Primeira vitória de um motor turbo: GP da França de 1979 (Jean Pierre Jabouille, com Renault)

Última vitória de um motor turbo: GP da Austrália de 1988 (Alain Prost, com McLaren-Honda)

Primeira pole de um motor turbo: GP da África do Sul de 1979  (Jean Pierre Jabouille, com Renault)

Última pole de um motor turbo: GP da Austrália de 1988 (Ayrton Senna, com McLaren-Honda)

Primeira volta mais rápida de um motor turbo: GP da França de 1979 (René Arnoux, com Renault)

Última volta mais rápida de um motor turbo: GP da Austrália de 1988 (Alain Prost, com McLaren-Honda)

Primeiro título de um motor turbo: Nelson Piquet, com Brabham-BMW, em 1983

Último título de um motor turbo: Ayrton Senna, com McLaren-Honda, em 1988

prost1985Pilotos com mais vitórias com motores turbo: Alain Prost (35), Ayrton Senna (14), Nelson Piquet (14), Nigel Mansell (13), René Arnoux (7)

Pilotos com mais poles com motores turbo: Ayrton Senna (29), René Arnoux (18), Alain Prost (18), Nelson Piquet (18), Nigel Mansell (12)

Pilotos com mais voltas mais rápidas com motores turbo: Alain Prost (27), Nelson Piquet (20), René Arnoux (12), Ayrton Senna (10), Nigel Mansell (9)

Pilotos campeões com motores turbo: Nelson Piquet (1983 e 1987), Alain Prost (1985 e 1986), Niki Lauda (1984), Ayrton Senna (1988)

Montadoras com mais vitórias motores turbo: Honda (40), Porsche (25), Renault (20), Ferrari(15), BMW (9)

Montadoras com mais poles com motores turbo: Renault (50), Honda (35), Ferrari (18), BMW (15), Porsche (7)

Montadoras com mais voltas mais rápidas com motores turbo: Honda (35), Renault (23), Porsche (18), Ferrari (15), BMW (14)

Montadoras campeãs com motores turbo: Porsche (1984, 1985 e 1986), Honda (1987 e 1988) e BMW (1983)

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