A coluna do advogado Rafael Rafic fala dos sambas do Grupo Especial do Rio de Janeiro para 2014.

Sambas Enredo 2014 – Análise Inicial do Grupo Especial

Acabamos de fechar a série de finais de samba enredo do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Agora as escolas começam a se concentrar em seus ensaios e na gravação do CD.

Como um todo, apesar de não ter nenhuma unanimidade, diferentemente do que houve nos 2 últimos anos, a safra é boa. Temos cinco ou seis sambas bons, mais uns dois ou três que oscilam entre o bom e o regular e isso garante a boa qualidade da safra. Aos poucos a retomada da qualidade do gênero samba-enredo após a década perdida dos anos 2000 continua se consolidando com safras boas se seguindo. É o terceiro ano consecutivo onde o saldo geral é positivo.

No topo da safra, estão os dois sambas que deverão disputar os prêmios de melhor samba-enredo do carnaval: Portela e Ilha.

Da Portela, sou até suspeito para falar, mas saiu outra grande obra das mãos de Toninho Nascimento e Luiz Carlos Máximo. Se não é tão fantástico quanto os sambas de 2012 e 2013, o samba deste ano é muito mais fácil de se assimilar e cantar sem perder as principais características dos sambas anteriores. O refrão principal então chega a ser pegajoso: basta ouvir uma vez para decorar. Tem todos os elementos para explodir na avenida.

Na Ilha, se ainda era preciso algo para consagrar de vez Carlinhos Fuzil (tema de coluna recente do Aloísio Villar) no panteão dos grandes compositores da Ilha, esse samba o garantiu. Na escola mais complicada do Rio de Janeiro na parte da política para escolha de samba-enredo, Fuzil conseguiu o Fenômeno de reunir toda a comunidade em torno de seu samba, tornando as apresentações de seu samba verdadeiros tsunamis na quadra. [1]

Interessante notar que após muito tempo, Portela e Ilha, duas das disputas de samba mais complicadas, acertaram suas escolhas no mesmo ano. Alias, não só acertaram, como lideram a safra. Isso não ocorria desde 1998. Mais um motivo para eu achar que irá cair um dilúvio no Carnaval (os outros são o meu aniversário, as reedições de “Os Sertões” e “Kizomba” e o fato do Carnaval ser em março).

Outros dois sambas que estão sendo badalados, e que eu os coloco empatados em terceiro lugar razoavelmente abaixo dos dois primeiros são os sambas da Imperatriz e do Salgueiro.

Quanto à academia tijucana, admito que o samba em si é bom. Não é aquele samba ruim, apelativo, característico da escola desde 1993. Porém encontram-se problemas sérios quando se compara a letra do samba à sinopse do enredo. Ou a escola muda bastante a letra, tirando a beleza do samba (o que não ocorreu até o momento em que escrevo), ou Renato Lage terá que mudar a sinopse para se adaptar a letra do samba. Caso nada seja feito, a perda de alguns pontos no quesito samba-enredo será inevitável.

Quanto a Imperatriz, mais uma vez Me Leva foi quem assimilou melhor o enredo na Imperatriz e ganhou a disputa interna graças a seu refrão principal inevitável. Não é um samba característico da Imperatriz, porém a sinopse também não era característica da Imperatriz e aí o dilema ficou na cabeça dos compositores: me adapto à sinopse fugindo das características da escola, ou me mantenho na tradição da escola mesmo que ficando afastado da mesma. Me Leva ficou coma a primeira opção, o lendário Zé Katimba, com a segunda. Ao fim, a “perfeitinha” Imperatriz mandou a tradição às favas e a escolha mais técnica. Também é um ótimo samba.

Guardo para o Império da Tijuca um honroso 5° lugar, ainda mais para uma escola recém-egressa do Grupo de Acesso. A escola escolheu um bom samba de Marcio André, com um refrão fortíssimo. Porém ao invés do 5°, o morro da Formiga poderia estar disputando os prêmios junto a Portela e Ilha se escolhesse o samba de Samir Trindade, preterido na final.

Fechando a primeira metade do CD, coloco a Mangueira. Lequinho mais uma vez fez um bom samba para sua escola, mas não é muito diferente de outros que ele já fez. Além disso, nunca fui fã da linha de sambas dele. Ainda sim é um samba que se encaixa bem com a bateria verde-e-rosa e deverá passar bem na avenida.

Abrindo a segunda metade, fico com o samba da Mocidade. Apesar do nome de peso que volta a assinar sambas-enredo após muito tempo, Dudu Nobre, é “apenas” mais um samba bom no meio de tantos outros, sem qualquer característica que o destaque. Por isso a colocação mediana.

Na 2ª metade do CD que não lhe são características, coloco a Beija-Flor apenas em 8°, seguida da Vila em 9º. Ambas foram bastante prejudicadas por sinopses mal-feitas. Nesse caso, se o compositor não acha coelho da cartola, não há salvação.

A Beija-Flor escolheu corretamente seu samba. O samba do Sidney de Pilares & Cia era o melhor da safra e não é ruim. Mas também não é um samba que soa limpo aos ouvidos, apesar ter o selo “Beija-Flor”, no meio de uma safra tão equilibrada em níveis altos, isso é o suficiente para fazê-la despencar. Vamos ver como ficou após as extensas modificações na letra feitas após a disputa.

Já a Vila, não bastasse ter uma sinopse bastante confusa (já analisada por mim em outra coluna), ainda não escolheu corretamente. O samba de André Diniz era apenas o terceiro melhor da enxuta safra (apenas 8 sambas). Na minha opinião o samba do Tunico era o melhor e o samba da Mart’nália ainda era melhor do que o samba vencedor. Não obstante, a escolha foi pelo André Diniz mais uma vez e com isso a Vila se complica mais um pouco com a escolha. É o primeiro samba mais-ou-menos da safra.

Em 10° lugar, coloco a Grande Rio. Ouvindo apenas pelo CD, meu favorito era o samba dos famosos Jorge Aragão, Péricles & Cia. Porém a escola escolheu o samba de um compositor da casa, Derê. Tive a informação de que aquele samba não estava passando bem na quadra e por isso escolheram o samba de Derê. De qualquer forma, já o ouvi no CD e em vídeo na apresentação da quadra. Em nenhum dos dois momentos me convenceu. É um samba mediano apenas.

Outra escola que teve uma safra complicada foi o 11° lugar, a São Clemente. No final foi escolhido o samba da parceria de Ricardo Goés. Não seria minha escolha na final, mas seja esse seja o outro finalista, a São Clemente não mudaria de posição. No máximo, poderia passar a Grande Rio apenas.

Fechando o grid (perdão pelo trocadilho) vem a Unidos da Tijuca. Mais uma vez Paulo Barros complicou a vida dos compositores e a escola ainda cortou alguns dos melhores (ou menos piores) sambas no início da disputa. Ouvi com som ao vivo apenas a final, mas garanto que não importando qual dos 4 sambas fosse o escolhido já tinha a certeza que o Pavão teria o pior samba do ano. É o estilo Paulo Barros: plástica em alta e samba em baixa, não adianta reclamar  porque todo ano é assim. No único que não foi assim, 2012, foi campeã.  Deverá ser o único samba pula-faixa do CD.

[N.do.E.1: por solicitação da diretoria da escola Carlinhos Fuzil passa a assinar Carlinhos Fuzileiro, a fim de evitar a associação do apelido com eventuais práticas criminosas. Pessoalmente acho desnecessário.]

(Foto: Site Carnavalesco)

9 Replies to “Made in USA: “Sambas Enredo 2014 – Análise Inicial do Grupo Especial””

  1. Desnecessário é pouco para qualificar esse pedido de mudança de nome artístico de Carlinhos Fuzil.

  2. Vamos à análise da análise: Portela, concordo. Ilha, meu Deus, o samba não é bom. Imperatriz, outro equívoco do analista. Salgueiro, tinha samba melhor na disputa, é mediano. O samba da Mocidade, embora não seja obra prima, é melhor que a maioria. Beija Flor e Unidos da Tijuca os piores, disparado.

  3. Olha eu acredito q o da ilha eh um samba bom mais nem de longe ganha do Salgueiro da Imperatriz e da Mocidade…. Falando em Mocidade,devido os ultimos sambas da mesma todo mundo tah achando q esse eh igual mais naum eh…. Mocidade veio com um samba q no mínimo merecia um quarto lugar… E a beija flor merecia um decimo primeiro lugar… Mais seu ponto de vista pra mim somah e muito na minha análise… OBRIGADO

  4. Acho que o samba da Império da Tijuca forte e um grande candidato ao samba na boca do povo. Gostei muito do samba da Mocidade e Grande Rio ( embora não goste de nenhuma das duas). Empolgantes e com enredos bem interessantes. Já entre os piores: a detestável Beija-Flor (muito bem colocado “não soa limpo’) , Imperatriz e Unidos da Tijuca.

  5. Achei a safra boa. Diferente de outros anos que dois se destacaram, este ano, aponto pelo menos 05 sambas com destaque:
    1º – Portela
    2º – Salgueiro
    3º – Mocidade
    4º – Império da Tijuca
    5º – Mangueira
    6º – Imperatriz
    7º – U. da Ilha
    8º – São Clemente
    9º – Vila Isabel
    10º – Unidos da Tijuca
    11º – Grande Rio
    12º – Beija-Flor

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