A coluna do advogado Rafael Rafic nos traz o ato final da disputa de samba da Portela, com a escolha do samba.

Também estive na finalíssima (as fotos deste post, inclusive, são de minha autoria) e em minha avaliação a escolha do samba foi a mais adequada. Ao final do post disponibilizo vídeo com trecho da gravação do coro para o CD oficial, já com as modificações realizadas na melodia da composição.

Disputa da Portela, Semana 8 (final)

Depois de dois meses de eliminatórias, conversas, tensões e afins, no último dia 18 a Portela escolheu definitivamente seu samba para o desfile de 2014.

Os portões da quadra foram abertos pouco depois das 21 horas e, particularmente, entrei bastante tenso. Meu twitter não parou de apitar logo após o almoço com informações e contra-informações, típicas das finais de disputa de samba (principalmente quando envolve a sua escola). As informações iniciais já davam conta que a disputa ficaria restrita às parceiras de Toninho Nascimento /Luiz Carlos Máximo/Waguinho/J. Amaral/Edson Alves e a de Celso Lopes/Charlles André/Vincius Ferreira.

Note-se que a quadra estava com grande quantidade de frisas montadas (perto de 50% a mais do que o normal) e o espaço livre na parte coberta na quadra foi menor que o normal, até se comparado com as feijoadas.

Já passava das 22 horas quando começou a apresentação do sempre presente grupo Sedusom (composto por integrantes da bateria da Portela). Durante o show me encontrei com uma visita raríssima em disputas de samba: finalmente o Editor-Chefe do blog apareceu em algum evento da disputa deste ano.

Enquanto trocávamos algumas idéias debaixo de muita chuva, conversamos com várias pessoas da escola sobre a final, o que ajudou a me acalmar para os principais eventos da noite enquanto um ocorria um segundo show de pagode.

A bateria abriu os trabalhos com seu ótimo esquenta perto de 1 hora da manhã. Logo após, todos os compositores da Portela foram chamados ao palco para uma pequena homenagem. Após um rápido discurso de agradecimento a eles feito pelo vice-presidente Falcon, Wantuir apenas estendeu o microfone para que o coro dos compositores entoando o onipresente Hino da Portela desse o sinal verde para o inicio da apresentação completa dos segmentos portelenses, e assim os compositores cantaram sozinhos as 3 primeiras passadas, com Wantuir voltando ao comando após.

Toda a apresentação, que durou em torno de 45 minutos foi feita sob o som do Hino da Portela por 10 minutos, sendo completado por mais 35 minutos do samba de 2013 que fazia sua despedida como o samba oficial da Portela.20131019_022110

Terminada a apresentação, a comissão julgadora (acima), formada por 33 pessoas representativas de diversas partes da escola, foi chamada para tomar assento em seu lugar. Nesse momento desci do andar superior para me juntar à torcida do samba do Máximo, que foi o primeiro a se apresentar.

A comissão, que foi chamada as 2 horas da manhã, ainda demorou bastante para tomar sua posição. Por isso, o samba de Toninho Nascimento/Luiz Carlos Máximo/Waguinho/J. Amaral/Edson Alves só foi liberado para começar sua apresentação as 2h30. Cada samba teve direito a duas passadas em bateria e 35 minutos diretos com bateria. Cada apresentação durou em torno de 40 minutos.

Sobre essa regra de passadas da final, dois comentários:

1) Parabéns à diretoria da Portela por extinguir a obrigatoriedade ridícula de duas passadas só com o canto da torcida. Poucas coisas são mais inúteis do que isso para se descobrir o melhor samba para uma escola, porque todos sabemos que 90% desses “torcedores” só pisarão de novo na escola na disputa do ano seguinte

2) Sempre fui defensor de permitir o maior número possível de passadas seguidas do samba para perceber desde logo os sambas que são apenas “de arranque” e aqueles que realmente sustentam um desfile de 82 minutos na Sapucaí. Por isso, achei válida a experiência de estender as apresentações por 40 minutos.

Porém, como toda experiência, nem sempre ela é perfeita quando se coloca em prática. Ao final, 40min foi tempo demais. Para os próximos anos acho que se pode colocar duas passadas mais 25min de bateria até o final sem medo de errar.

Apesar de ser o tempo que um desfilante fica em pista, desfilar com espaço e evoluindo por 40min é muito mais leve do que ter que sustentar um samba em uma quadra lotada por 40min sem conseguir se mexer muito. O resultado é que até domingo senti no corpo as dores provenientes da 1 hora que fiquei na torcida do samba do Máximo (40min de apresentação mais 20min esperando a comissão julgadora se preparar).

A apresentação do samba de Máximo e Toninho foi fantástica. Após idas e vindas durante as eliminatórias, a Tabajara achou a cadência certa para levar esse samba. Nem tão devagar que tire a “malemolência” do samba nem tão rápido que sobreponha versos. A quadra, que começou um tanto mais fria, veio acompanhando o crescimento do samba a medida que o tempo ia passando.20131019_015753

Apesar de estar na torcida, percebi um fenômeno interessante: se na frente da quadra enquanto a torcida cantava muito sem a mesma receptividade das frisas e camarotes, ao fundo ocorria o exato inverso, enquanto a torcida estava mais quieta, os camarotes e as frisas estavam pegando fogo. A apresentação deixou saldo bastante positivo e mostrou que a escola estava pronta para defender o samba no desfile.

Na sequência, se apresentou a parceria de Noca da Portela / Darcy Maravilha / Alexandre Fernandes / Prof. Sonia Pedro / Eli Penteado. Trazendo uma torcida bem reduzida em relação aos outros dois sambas finalistas, mas com a única alegoria apresentada na final (um andor com uma águia em seu alto), o samba não passou bem, com reação bem fria da quadra e até da própria torcida.

Ou seja, tivemos mais um capítulo da novela “Desperdício de Gilsinho” que preponderou nas apresentações dessa parceria durante toda a disputa, exceto nas quartas-de-final. Mais uma vez a culpa não foi do puxador que fez outra bela performance, mas eu e o Migão agradecemos ao fim da apresentação. Durante esta apresentação foi inevitável sentir a falta da parceria de Davi Correa na final.

Finalizando as apresentações dos concorrentes, veio a parceira de Celso Lopes/Charlles André/Vincius Ferreira. Com boa quantidade de torcedores, todos uniformizados e coreografados, a parceira contou com uma boa quantidade de apoios nas frisas e camarotes além de componentes da escola.

A medida que a apresentação passava, ocorria o de sempre com o samba dessa parceira. Ele ia cansando e caindo após poucos. Com 10min de bateria ele já estava bem morno e assim continuou. Escaldado pelas apresentações anteriores, já esperava mais um final arrastado. Eis que me surpreendi. De repente, faltando uns 8 ou 10 minutos de apresentação, o samba cresceu e engoliu a quadra. Foi um final fortíssimo, talvez o momento mais forte de qualquer parceira em toda a disputa.

Na saída da torcida deste samba houve um princípio de confusão nas frisas do lado direito de quem está olhando para o palco, exatamente onde estavam os principais apoios a este samba. Felizmente a situação foi controlada rapidamente e nada ocorreu.

Ao fim das apresentações, a comissão se recolheu a sala da presidência para tomar sua decisão. Enquanto isso o palco oficial mais uma vez cantou sambas clássicos da Portela, na sequência: Das Maravilhas do Mar Fez-se o Esplendor de uma Noite (Portela 1981), Contos de Areia (Portela 1984), Portela na Avenida, Gosto que me Enrosco (Portela 1995), Os Olhos da Noite (1998), Quando o Samba Era Samba (Portela 1994) e Canto das Três Raças.

Ao fim da apresentação do palco oficial, Serginho, Falcon e Boca já estavam no palco para anunciarem o samba vencedor. Após um discurso rápido de Serginho congratulando os 3 finalistas pelos bons sambas apresentados e conclamando a união dos portelenses em torno do samba escolhido, passou a palavra para, como é tradição na Portela, Boca anunciar o samba-enredo oficial da Portela para o carnaval de 2014.

A grande vencedora foi a parceria de Toninho Nascimento/Luiz Carlos Máximo/Waguinho/J. Amaral/Edson Alves. Essa é quarta vitória consecutiva de Máximo na Portela, que se tornou pentacampeão da escola. Toninho também conseguiu sua terceira vitória consecutiva na Portela e se tornou tricampeão. Os outros integrantes da parceria ganharam pela primeira vez na escola.

Ao anúncio se seguiu a tradicional comemoração com o samba vencedor sendo entoado já pelo palco oficial por muito tempo para fausto e alegria dos muitos portelenses que queriam este samba. O resultado da eleição da Comissão julgadora foi de 23 votos para a parceira de Máximo e Toninho, 9 votos para a parceria de Celso Lopes e 1 voto para a parceria de Noca.

Escolha muito acertada da Portela, que escolheu o melhor samba disponível e não se curvou a quaisquer pressões para escolher outros sambas. Não adiantaria ir para a Sapucaí com uma parte plástica fantástica após muitos anos e pecar na parte musical. Agora sim, depois de muito tempo a Portela aliará uma parte plástica muito boa com uma parte musical no “padrão Portela” a que estamos todos acostumados na história do carnaval, ou seja, favorita a ganhar mais um Estandarte de Ouro de melhor samba-enredo.

É a receita perfeita para um ótimo desfile aproveitando a alma portelense renovada e cheia de esperanças que se seguiu a vitória da chapa Portela Verdade.

Agora é hora de dos componentes fazermos (flexiono na primeira pessoa do plural pois me incluo) nossa parte, seja nos ensaios de quadra ou de rua e flanar na avenida apara devolver a Portela a posição que ela se acostumou a ocupar e da qual ela nunca deveria ter saído. A direção está dando todas as ferramentas para isso.

“Avante portelenses para a vitória/ Não vê que teu passado é cheio de glórias” (Hino da Portela)

2 Replies to “Made in USA: “Disputa da Portela, Semana 8 (final)””

  1. Bom dia, gostaria de lhe informar que na parceria campeã da Portela um dos ompositores é bicampeão, waguinho – campeão em 2001 – enredo querer é poder. pois ele assinou como Wagner Alves, e popularizou na Portela como Waguinho.
    Abraços

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