Nesta quarta o advogado Rafael Rafic analisa mais uma semana da disputa de samba da Portela.

Disputa da Portela, Semana 6

Já começou o frenesi que toma conta da Portela à medida em que a data da final de samba-enredo vai chegando. Nesta última sexta-feira já tivemos as quartas de final e a quadra já recebeu bem mais pessoas que nas eliminatórias passadas. Por conta da Feijoada da Família Portelense, que ocorreria no almoço do dia seguinte, a programação foi ligeiramente acelerada.

Assim os sambas começaram 00:30h da manhã e cada samba teve direito a apenas uma passada sem bateria e quatro com.

Mais uma vez a noite foi aberta com um grupo de pagode. O palco oficial também fez seu serviço mais rápido e após apenas 1 passada do Hino da Portela engatou 6 passadas do samba de 2013 para a apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira.  Após isso começamos mais uma rodada de apresentação dos sambas concorrentes.

A primeira parceria a se apresentar, pela segunda vez seguida, foi a de Glorioso. Ela trouxe uma torcida bastante numerosa e ainda mais paramentada, com direito a LEDs que, com a quadra já em “modo feijoada” com as frisas montadas, ocupou praticamente toda a sua extensão. Porém o samba já começou a apresentação cansado porque o samba é muito ruim e a torcida o cantou exaustivamente (com direito a instrumentos musicais no meio da torcida) antes da apresentação. Claramente o samba não tinha nenhuma condição de chegar nesta fase, em minha avaliação.

Em seguida veio a parceria de Luiz Carlos Máximo com uma torcida que ocupava pouco mais da metade da quadra, com vários Guerreiros mais uma vez, e foi a menor de toda a noite. Na minha posição (acompanhei todos os sambas ao lado da bateria) fiquei com a impressão de uma boa apresentação, com Tinga cantando o samba muito bem, porém nada mais do que isso. Muito aquém do sacode que um samba com a força que este samba adquiriu na quadra durante a disputa deveria fazer em uma “quarta-de-final”, até abaixo do que este mesmo samba produziu na semana 4.

Após a apresentação, conversando com outras pessoas que assistiram a apresentação de outros lugares, me senti o “Pedro Migão” (ou seja, o exigente) da situação. Todos foram unânimes em elogiar a apresentação e dizer que foi a melhor que este samba já produziu, enfatizando inclusive um canto forte vindo do fundo da quadra que eu, provavelmente por estar ao lado da bateria, não percebi.

O que posso garantir é que mais uma vez a bateria tocou forte e muitos ritmistas cantavam o samba.

A terceira parceria mais uma vez foi a de Noca da Portela. Com a volta de Gilsinho ao palco, o samba de Noca fez sua melhor apresentação aqui na disputa. Finalmente a torcida cantou o samba, ao menos parte dele, e percebi alguma reação por parte da quadra. Especialmente algumas baianas a minha esquerda cantando e girando com o samba. Tentei ver o presidente da Viradouro, Gustavo Clarão, que estava visitando o Portelão, durante a apresentação do samba, mas as bandeiras altas da torcida não deixaram.

Porém, o fato da torcida cantar o samba acabou mostrando um problema do samba que até então não tinha verificado: entre o final do refrão do meio e o inicio da 3ª estrofe, o samba entra em uma vala complicada e só se recupera no 5° verso (interessante que isso ocorre exatamente na parte mais bonita e comovente do samba). Isso foi nítido em todas as passadas. Samba deu uma cansada bem de leve ao final.

O samba seguinte foi o da parceria de Celso Lopes. Com uma torcida grande e volumosa, com vários integrantes da Amigos da Águia, a parceria fez sua melhor apresentação também na disputa até aqui. Entrou muito forte, com a torcida facilmente se fazendo ouvir na passada sem bateria. Foi a única passada durante toda noite que ouvi com clareza o canto vindo da torcida.

Mas não adianta se ter a torcida mais treinada do mundo que se o samba for cansativo ele terminará caindo ao final e aqui não foi diferente. A torcida já não respondia bem nas duas últimas passadas (que se arrastaram), como o samba de modo geral vem se arrastando ao final de todas as suas apresentações. Alguns ritmistas da bateria também cantavam este samba, mesmo que em menor quantidade do que o samba de Máximo e Toninho.

Para finalizar a noite, a parceria de Davi Correa subiu ao palco. O samba tem problemas na letra, que em alguns momentos não faz muito sentido, mas a melodia o salva. Se Davi achar um bom letrista para o ano que vem, a parceria poderá vir fortíssima. O samba marcheado de Davi ainda faz sucesso na Portela, trazendo de volta aquele ar de “Portela antiga, Portela Vencedora”.

Na apresentação desta semana, Preto Joia estava em um péssimo dia e não comandava o palco com a mesma competência de outras apresentações. Ele chegou a se perder completamente por 3 ou 4 versos inteiros na 3ª passada. Como a torcida nunca conseguia entrar no tempo do palco, ela começou a desanimar e as duas ultimas passadas se arrastaram de tal forma que um samba com a melodia que este tem nunca poderia. Foi a pior apresentação deste samba na disputa, justamente quando a mesma chega em seu momento decisivo.

Mesmo da minha posição, apesar de tudo, posso cravar que mais uma vez a melhor apresentação foi do samba de Máximo e Toninho. Não por ter sido uma fantástica apresentação, mas pelo método da exclusão de alternativas. Foi a única que ainda terminou em um clima “pra cima”, sem cansar.

O corte da noite foi o óbvio: Gerson PM, Glorioso e Cia. Não a toa, pela primeira vez em muito tempo na Portela, foi anunciado que a decisão da comissão julgadora fora unânime. Já se esperava esse corte porque a diferença de qualidade deste samba para os outros já havia ficado gritante.

Assim, os sambas semifinalistas são os seguintes, já na ordem de apresentação para a próxima sexta feira:

– Celso Lopes / Charlles André / Vinicius Ferreira;

– Davi Correa / Canário / Matos / Ricardo;

– Luiz Carlos Máximo / Toninho Nascimento / Waguinho / J. Amaral / Edson Alves;

– Noca da Portela / Darcy Maravilha / Alexandre Fernandes / Prof. Sonia Pedro / Eli Penteado;

Fatos rápidos;

– Patricia Nery mais uma vez presente à quadra e ainda brincou de mestre de bateria ao final em cima do pódio;

– Palco oficial completo;

– Playlist do encerramento com o palco oficial: E o Povo na Rua Cantando … É feito uma Reza um Ritual (Portela 2012), Contos de Areia (Portela 84), Tributo a Vaidade (Portela 91) e Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor de uma Noite (Portela 81). Apresentação rápida.

– Semifinal será na próxima 6ª feira, dia 11/10. Apresentação dos sambas deverá se iniciar por volta de meia noite;

– Serginho e Falcon mais uma vez presentes à quadra;

– O Departamento Cultural da Portela convida a todos para a segunda edição do Cineclube que será na véspera da semifinal, dia 10/10, as 20h no Portelão;

20131008_223614(Fotos: Facebook Portela e Arquivo Pessoal)