Nesta sexta feira a coluna da jornalista Raphaele Ambrosio expressa sua decepção com a segurança pública carioca a partir de fato ocorrido na última semana. Fato ocorrido, aliás, na rua onde morei 30 anos – e onde meus pais ainda vivem.

Rio de Janeiro – Cidade da Impunidade

Mais uma vez vou sair da linha em que a coluna está acostumada, para fazer outro desabafo. Dessa vez, com um tom mais sofrido, com mais revolta. Um post que nunca gostaria de fazer, mas não posso deixar de expressar minha indignação, minha raiva.

Na ultima sexta feira (30), um amigo de infância foi brutalmente assassinado em uma rua movimentada. Quatro assaltantes, no auge da falta do que fazer, já que poderiam estar trabalhando como pessoas de bem fazem, resolveram ir para rua e assaltar pessoas que trabalham o dia todo para sustentar uma família, pagar contas em dia, pessoas essas que pagam seus impostos e votam na esperança de um mundo melhor.

Philip Lima dos Santos morreu na mesma rua em que foi visto crescer. Não por residir lá, mas por ter passado boa parte de sua adolescência jogando bola, se reunindo com amigos para jogar conversa fora no meio fio. Ele era uma pessoa de riso frouxo. Sempre educado, retribuía com sorriso a cada “oi” que lhe era dado. Um homem de muitos amigos, querido por todos. Era pequeno, aliás, eu o chamava assim. Tinha 28 anos, mas trazia dentro dele toda aquela molecagem gostosa de quando tinha 14,15 anos. Era Flamenguista doente. Um homem de bem. Mas que, infelizmente, estava no local errado, na hora errada, porém certa, aos olhos de Deus.

CabralComo passou nos noticiários, morreu sendo herói. Graças a ele – se atracou com um dos bandidos para ajudar na prisão, quando, fatidicamente, tomou três tiros – uma pequena vila onde idosos e crianças residem não foi assaltada. Uma das pessoas que residem lá, chegou a dar entrevista dizendo que “não o conhecia, mas que deve sua vida a ele”. Sim… Ele era um herói, com uma vida linda pela frente para desfrutar, outros atos heroicos para praticar, muita coisa para viver.

Uma manifestação foi feita pelas ruas de Cascadura (bairro em que tudo aconteceu), para que as autoridades prestem mais atenção à região. Praticamente todos os dias há assaltos no bairro: a casas, pedestres, lojas, carros. A bandidagem está sem limites, com força total e a população de mãos atadas. Mas de quem é a culpa disso? Será que ficar culpando o Governador Sérgio Cabral vai adiantar? Mas se parar para pensar deram força e apoio aos bandidos, ou do contrário, eles não teriam tanta liberdade, não dominariam as ruas e as pessoas como fazem.

As autoridades disseram que Cascadura está muito bem amparada pela Policia Militar. Piada essa que, nem criancinha de quatro anos daria risada, de tão ridícula que é.  Policiamento tem no Leblon, mais precisamente, na portaria da casa do Cabral. Essas manifestações, depredações que estão acontecendo por lá, são casos isolados. Antes disso, Leblon, que tem um dos IPTUs mais caros da cidade, era digna de novela do Manoel Carlos: linda, tranquila, o melhor lugar do mundo para se morar. Essas confusões estão acontecendo porque ninguém aguenta mais a bagunça em que a cidade se transformou, enquanto o senhor Governador vai para Paris tomar proseco.

Quantas pessoas mais terão que vir a óbito e virar estatística para que as coisas mudem? Até quando mães terão que enterrar seus filhos, porque o poder paralelo é o que de fato, manda no Rio de Janeiro? Essa bagunça parece não ter um final e sim, que está apenas começando. Enquanto ficarem se preocupando, apenas, com estádio bonito para Copa, obras e mais obras por conta das Olimpíadas, tudo continuará nesse caos: bandido indo para rua matar pessoas inocentes, mães enterrando seus filhos; quando na verdade, deveria ser o contrário, pessoas indo para rua expressar sua revolta com protestos que, infelizmente, não vão dar em muita coisa.

CartazRio de Janeiro virou terra de ninguém. Aqui, manda quem tem poder, seja ele dinheiro ou arma em punho e obedece quem tem juízo, que no caso, aquele que tem medo de morrer, mas que acaba morrendo da mesma forma, dependendo do humor de quem aponta a arma. Isso tem que ter um basta! Essa zona não pode continuar do jeito que está. Uma cidade que de maravilhosa só tem o nome, já que em seu cartão postal, existe gente sendo assaltada lá. Do que adianta ser tão linda, mas tão suja ao mesmo tempo?

Philip deixa um filho pequeno, uma família despedaçada, amigos com uma dor imensa por sua ausência e um dos bandidos presos, graças a sua ajuda.

Hoje acontecerá outra manifestação pelas ruas do bairro. Será o movimento “Cascadura Pede Segurança”. Confira abaixo como foi à primeira manifestação, que aconteceu na segunda feira (2):