Neste domingo a coluna do compositor Aloisio Villar traz a segunda parte do texto sobre os sambas de enredo concorrentes para 2014.

Os Sambas Enredo de 2014 – Parte II

Continuando no assunto de semana passada hoje vou escrever sobre a disputa de samba que mais acompanho de perto neste momento, a União da Ilha.

Todo mundo sabe que sou torcedor da União da Ilha. Lá comecei em 1997 e entre idas e vindas escrevi na agremiação até o ano passado – sendo vencedor do concurso de samba da agremiação para o carnaval de 2012. Saí esse ano para outra agremiação através de um convite do Pedro Migão.

Mas continuo frequentando a União da Ilha, que continua sendo minha casa e onde tenho muitos amigos. Situação até que me causa certo embaraço, pois a maioria dos meus amigos são compositores e tento dentro da quadra manter o máximo de neutralidade possível.

Mas nem sempre dá.

A União da Ilha recebeu vinte e quatro sambas em seu concurso e antes do mesmo ocorrer houve uma situação que fez e vem fazendo toda a diferença na disputa para 2014. A direção da escola, insatisfeita com os resultados dos sambas nos últimos anos, convidou compositores consagrados de outras agremiações a concorrerem na União se juntando aos melhores (pelo menos na visão dela) da escola.

Com isso superparcerias foram montadas e a relação de forças mudou um pouco. Algumas deram certo, outras não.

Deu muito certo com a parceria do Walkir. Todo mundo sabe que dois consagrados compositores se juntaram à parceria para fazer o concorrente de 2014 e o que ocorreu foi uma significativa melhora no samba do grupo que sempre chega à final – mas faltava “aquele” samba.

O samba veio em 2014. Um samba muito bom, com a cara da União da Ilha e um refrão de meio poderoso. Finalmente o sonho da parceria em ganhar na agremiação parece mais palpável.

Já não podemos dizer que com a vitoriosa parceria de Marquinhus do Banjo e Gugu das Candongas tenha dado certo. Compuseram o samba esse ano com um grande campeão de outra agremiação. O samba é muito bom, do nível que a excelente dupla está acostumada, mas a engenharia não saiu cem por cento e a parceria vem sofrendo em sua situação financeira. É a única parceria que não vem colocando torcida no concurso e isso pode ser prejudicial.

Outro compositor convidado, o Myngal da Grande Rio, fez um ótimo samba e deve chegar à final. A parceria de Ronald Pennaforte e Raphael Ilha se separou e me parece que as duas brigam pelo mesmo espaço, com sambas também de muita qualidade.

Disputa interessante, surpreendente que já contou com a eliminação (para mim cedo demais) do samba da parceria de Lobo Júnior e com a grande zebra da eliminação da parceria campeã do ano passado encabeçada por Júnior; mas essa eliminação me parece que foi feita em comum acordo.

E por fim o samba que hoje me parece ser o favorito que é da parceria de Gabriel Fraga.

A parceria já era a favorita no ano passado e foi surpreendida perdendo na final. Novamente esse ano vem com um excelente samba e de novo conquistaram o apoio da comunidade. A parceria vem fazendo grandes apresentações, se dando ao luxo de revezar Tinga e Wander Pires no microfone principal e tem contado com grande apoio de torcida organizada e principalmente dos “neutros” que são fundamentais para uma vitória em samba-enredo.

Os próprios adversários reconhecem hoje o favoritismo da parceria, mas isso não quer dizer que esteja resolvido até porque faltam pouco mais de quarenta dias para a final.

Na semana da final volto ao concurso da União da Ilha para nova análise. Com essas duas colunas traço uma visão minha sobre os sambas de 2014.

Carnaval de 2014 que também pode ser chamado de “carnaval das celebridades”. Artistas como Pedro Luís (Monobloco), Suzana Pires (atriz), Dudu Nobre, Jorge Aragão, Péricles, Elymar Santos, Lenine e Francis Hime descobriram um filão já explorado há tempo por Arlindo Cruz e Xande de Pilares – só para dar dois exemplos.

Muitos torcem o nariz, eu vejo nada contra, só acho que ao gênero não influencia, não traz a mídia que muitos pensam. Quem vai falar sobre são os “sites Ego” da vida que darão enfoque aos artistas e não aos sambas. Além que a maioria desses artistas que entraram nos concursos não passam pelo melhor momento de suas carreiras e nada melhor que a mídia de carnaval e o dinheiro de direitos autorais para alavancar tudo novamente.

Que sejam bem vindos, quanto mais gente produzindo samba melhor.

E que as escolas escolham os melhores, independente de nomes.

[N.do.E.: ainda sobre sambas de celebridades, mesmo faltando 40 dias para a escolha o Jornal do Commercio, de Pernambuco, trouxe uma matéria tratando do enredo da Mocidade sobre o estado e apontando o concorrente de Dudu Nobre e Lenine como o samba que a escola irá levar à Sapucaí. Erro da publicação ou ato falho?]