Nesta sexta feira, a coluna da Anna Barros, em sua despedida, faz um balanço pessoal da recém encerrada Jornada Mundial da Juventude. Aproveito para agradecer a colaboração nestes três anos e desejar sucesso.

Os filhos de Francisco

Essa foi a primeira Jornada Mundial da Juventude. A primeira de muitas, espero. Fui quinta-feira, dia 25, e na sexta-feira, dia 26; ver o Papa Francisco foi realmente muito especial. A energia que toma conta da cidade na jornada é inebriante. Uma grande corrente do bem. Jovens alegres com suas bandeiras e o grande carisma do papa argentino, que produziu seu primeiro milagre: fazer com que brasileiros tivessem grande simpatia por um portenho.

Minha jornada começou na terça, dia 23, com a Mostra de Cinema da JMJ no Colégio São Paulo, no Arpoador, em que houve a projeção do trailer do filme O Anjo Surfista, onde dei um depoimento sobre meu amigo Guido Schaffer, médico, seminarista e surfista, que faleceu na despedida de solteiro de Eduardo Martins surfando no Recreio. O filme, assim como o livro homônimo, é o pontapé inicial para a sua canonização. Em Copacabana, às 18h, houve a missa com o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, sem a presença do papa que ficou descansando pois chegara no dia 22 e fora recebido pelas autoridades: a presidenta Dilma Rousseff, o governador Sérgio Cabral e o prefeito, Eduardo Paes.

Na quarta, dia 24, assisti à missa tocante do papa em Aparecida do Norte e depois por volta das 18h, ele inaugurou uma ala para dependentes químicos no Hospital São Francisco de Assis, na Tijuca, com depoimentos de ex-dependentes.

Na quinta, dia 25, minha jornada começou pra valer com a minha ida à Copacabana. A ida foi tranquila, apesar do bilhete especial do Metrô não ter funcionado. Fui com um grupo da Congregação Mariana da Paróquia de São Sebastião dos Frades Capuchinhos para a missa de acolhida, em que o papa exortou os jovens cariocas de estarem ali apesar do frio e da chuva. Sua passagem anterior de ‘Papamóvel’ pela orla foi realmente emocionante. Ficamos em frente ao Copacabana Palace e conseguimos vê-lo de perto. Fiz amizade com uns poloneses e comentei sobre a provável jornada na Polônia em 2016, o que acabou mesmo se concretizando, mas eles não deram muita pelota – estavam de olho em umas meninas de Botswana.

Foi a primeira vez que ouvi nas areais de Copacabana a frase que foi símbolo da JMJ: “Esa es la juventud de papa”, entoada pelos argentinos e depois por todos. A volta foi complicada. Fomos a pé até Botafogo e de lá pegamos um táxi. O metrô nunca viu tanta gente, nem em tempos de Reveillon. Um milhão de pessoas num só coração, batendo na mesma frequência de Francisco.

Na sexta, dia 26, a Via Sacra com catorze estações e as mais diversas encenações. Cássia Kiss representou Nossa Senhora. Neste dia, senti o que são todos aqueles jovens dos mais diversos países na jornada. Fiz amizade com pessoas da República Dominicana, da Argentina, do Uruguai, da Suíça e da África do Sul. Mas o momento mais marcante foi ouvir de um jovem católico da Palestina “Deus abençoe você” quando eu disse que estava rezando pela criação do estado da Palestina e a “Paz de Cristo” de um jovem australiano. Essas coisas não têm preço! Isso é JMJ.

Na volta, tudo cheio, de novo, e como voltei sozinha, resolvi pegar um táxi. Pedi a um taxista dividir o táxi com duas moças. A princípio, ele disse que não  podia, mas depois as moças pediram-no que me chamassem e eu fui com elas até o Catete e de lá até a minha casa, na Tijuca. Mais um milagre de Francisco. Trocamos experiências e dividimos os meus sanduíches. Mais JMJ, impossível.

Não fui à Vigília, nem à missa de Envio que contaram respectivamente com três milhões de pessoas e três milhões e duzentos mil, mas assisti tudo pela Globo News. Tive a felicidade de ver um depoimento de um colega meu na Vigília, Carlos Lins, que acabou revelando uma dependência química que eu desconhecia, e meu amigo, Eduardo Martins, na missa de envio, no domingo de encerramento, proferindo os comentários da missa.

Francisco deixou saudades. E promete grandes transformações na Igreja Católica. Talvez não ocorram nas questões mais dogmáticas [1], mas a sua simplicidade e humildade cativaram até aqueles que não são católicos.

Na segunda-feira, dia 29, cheguei ao trabalho mais leve, em estado de graça pela visita do Papa a terras tupiniquins. Com essa coluna da minha JMJ, encerro um  ciclo de quase três anos no Ouro de Tolo, agradecendo de coração ao Pedro pela oportunidade concedida e não fechando essa porta. Me ausentarei do Ouro de Tolo por motivos profissionais, pois estou sendo muito exigida no meu trabalho de assessoria de imprensa e não estou dando conta.

Aproveito para dedicar essa coluna ao jornalista, escritor e imortal, Luiz Paulo Horta que faleceu no último sábado, dia 3 de agosto de infarto fulminante. Católico e apaixonado por música, um grande exemplo e estímulo para todos que fazem da escrita o seu ofício. Ele mesmo disse que escrever é um ato de amor. Assino embaixo.

Então, minha gente, até breve! Um dia voltamos a nos encontrar nesse espaço, se Deus quiser.

Forte abraço,

Anna Barros

[N.do.E.:1 – não sou católico nem especialista na religião, mas as declarações do papa Francisco em seu regresso a Roma abordando os homossexuais me parecem uma mudança de postura bastante significativa em relação aos dois papados anteriores. A conferir.]

2 Replies to “A Médica e a Jornalista – “Os filhos de Francisco””

  1. Entre o Papa falar e mudar a dogmática, há uma bela distância. Bergóglio não me parece ser um papa que irá se imiscuir na área teológica.

    Como comparação, Ratzsinger pouco falou, mas na surdina mudou bastante a dogmática católica.

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