Os leitores devem achar que o título deste post é um chavão, mas não dá muito para se fugir deste tipo de analogia depois do que ocorreu no último domingo no Maracanã. A final da Copa das Confederações mostrou ao mundo que sim, o Brasil está muito vivo para a Copa do Mundo do ano que vem.

Saí bem cedo de casa preocupado com o grande fluxo de pessoas e com eventuais protestos que pudessem ocorrer de maneira a impedir o acesso das pessoas ao estádio. A experiência em Salvador havia me mostrado que a dinâmica em um jogo da Seleção Brasileira era diferente e por isso a estratégia teria de ser refeita. Como já havia feito na partida entre México e Itália fui de carro até o Shopping Nova América e, de lá, peguei o Metrô para acessar o estádio. Sem problemas: a composição não estava muito cheia e o tempo despendido foi pequeno.

20130630_153819Não haviam protestos na saída da estação do metrô (São Cristóvão), mas um grande contingente de evangélicos fazendo pregações atrapalhava um pouco a passagem. Curiosamente alguns destes “manifestantes” também eram vistos já nas zonas onde haviam barreiras policiais, embora a passagem fosse teoricamente restrita a quem tinha ingressos e a moradores. Confesso que não entendi essa.

Aliás, só em um dia como o último domingo pode se imaginar uma cena destas: o viaduto da Avenida Maracanã ocupado por pedestres. Outra curiosidade – que eu achei detestável – foi ver muitas pessoas tirando fotos nos blindados da Polícia Militar. Obviamente, coisa de turistas.

Diria eu que o público carioca na partida era, se muito, de 20 a 30% do total de presentes. Muitos paulistas, muitos turistas de outros estados, poucos estrangeiros. Alguns brasileiros com camisas da seleção espanhola, mas a esmagadora maioria vestia o amarelo da nossa seleção. Ao contrário de outras partidas, um número bem menor de camisas de clubes e memso o uniforme azul do Brasil estava em número (percentual) menor que a partida na Fonte Nova.

Na rampa do Bellini
Na rampa do Bellini

Como cheguei muito cedo, por volta de três e meia da tarde, a entrada foi bastante tranquila. Passei pela catraca, algumas fotos, e logo subi a rampa de acesso ao meu lugar, que era no setor superior – quatro ou cinco fileiras de cadeiras abaixo do limite superior. Havia uma espécie de área de entretenimento, com lojas e estandes dos patrocinadores no piso inferior, mas quem estava no setor superior não tinha acesso. Obviamente, em cima não havia lojas de produtos – e precisei ir ao Shopping na hora do almoço ontem para comprar uma camiseta e um boné de recordação.

Uma coisa ficou clara para mim no novo estádio: a distância para o campo diminuiu bastante. Mesmo onde estava, a quatro ou cinco fileiras da última e mais distante, se tinha uma boa visão do campo (abaixo), embora que obviamente sem os detalhes de quem está próximo. No Maraca anterior eu precisaria estar de binóculo para ver o jogo daquele posicionamento.

Minha visão do campo
Minha visão do campo

Tal qual Salvador o público também chegou mais cedo, motivado pelo show de encerramento da competição que haveria às 17:25. Obviamente as filas nos bares foram se avolumando à medida que o público aumentava, mas as filas não chegaram a ser desesperadoras como na Fonte Nova. Apenas a se lamentar que como na Bahia, onde eu estava a cerveja acabou ainda antes do intervalo do jogo.

Aliás a solidariedade do brasileiro é fantástica: onde fiquei me parece que a Fifa concentrou compradores de ingressos da categoria 1 (a mais cara) individuais, como eu – fui sozinho. Sabendo das filas, toda hora que um ia lá embaixo no bar – e a escadaria parece a Igreja da Penha – sempre trazia cerveja para mais dois ou três. Como nos bons e velhos tempos do Maracanã, o colega do lado virou seu amigo de infância por 90 minutos.

Quando ainda estava fácil para comprar cerveja
Quando ainda estava fácil para comprar cerveja

O show de encerramento foi curto e contou com um panorama da música brasileira. Arlindo Cruz, Ivete Sangalo, a dupla sertaneja Victor e Leo e Jorge Ben cantaram músicas representativas do cancioneiro brasileiro. Depois a bateria da Grande Rio participou do show, com figurantes formando a bandeira brasileira.

Aliás, vale dizer que a bateria foi pré gravada. Pessoalmente achei que faltou “peso” à mesma, mas a turma que estava próximo do meu lugar se esbaldou – apesar do péssimo som. Caberia questionar a escolha da agremiação, que sequer pertence ao município do Rio – tem sua sede em Duque de Caxias, na região metropolitana.

Também vale dizer que, embora pessoalmente não seja fã de Ivete Sangalo (detesto axé music e derivativos), o domínio de público que ela tem é algo admirável. Sobre o show de encerramento em si confesso que esperava mais um pouco. Mas os verdadeiros shows estavam por vir.

Flagrante do show de encerramento
Flagrante do show de encerramento

O primeiro show foi o da torcida brasileira, que sem dúvida alguma me surpreendeu. Cheguei a comentar no Twitter, umas duas horas antes do jogo, que até ali o público parecia de teatro, mas me enganei redondamente. O público jogou junto com o time, transformando o Maracanã em um caldeirão desde as primeiras imagens das equipes nos telões, antes de vir ao campo para o aquecimento. Claramente o time espanhol sentiu a pressão do público, ficando enervado com o barulho e as vaias.

Vale lembrar que todo mundo cantava a mesma música o tempo todo, o que tornou ainda mais efetiva a pressão – ao contrário do que ocorre em muitos jogos de clubes. A nova configuração do estádio, onde o público fica mais perto do campo, também ajuda neste quesito, o que me leva a pensar que se tornará muito mais efetivo que o antigo em termos de pressão do torcedor. Logicamente teremos de esperar um jogo de clubes para confirmar esta impressão, mas me parece que o novo Maracanã ajuda neste ítem.

A torcida brasileira visivelmente “comprou o barulho” da Seleção. Desde o Hino Nacional, cantado “à capella” pelas 73 mil almas presentes – e, com todo o respeito ao que vi em Salvador, com muito maior intensidade. Foi de arrepiar.

O público, cerca de duas horas antes do início
O público, cerca de duas horas antes do início

O segundo show foi no campo. Sou crítico do técnico Felipão, mas tenho de reconhecer que o time foi muito bem armado para a partida. O Brasil conseguiu tirar os espanhóis de sua “zona de conforto” e o adversário não soube sair da armadilha montada pelo Brasil em termos táticos. O gol logo aos dois minutos também ajudou bastante, pois deu uma vantagem tranquilizadora.

Vale dizer, também, que o jogo poderia ter sido outro se aquela bola tirada milagrosamente por David Luiz tivesse entrado, mas são apenas suposições. Na prática a partida acabou após o pênalti perdido pela Espanha, apesar de duas ou três boas defesas de Julio Cesar depois disso.

A própria festa da vitória acabou perdendo um pouco do brilhantismo com o encerramento precoce da competitividade. A festa começou ainda durante o jogo e acabou, felizmente, tirando um pouco o impacto das premiações. Também não entendi a preferência dada à música estrangeira neste momento.

Flagrante do jogo em seu segundo tempo
Flagrante do jogo em seu segundo tempo

Retirei-me do Maracanã assim que encerrou a volta olímpica. Apesar de um protesto no acesso à estação de metrô São Cristóvão (somente depois soube da confusão ocorrida durante a partida), a volta tanto no Metrô como depois de carro para casa foi bastante tranquila. Sem dúvida o sistema de transporte público funcionou a contento, sendo uma das boas coisas desta Copa das Confederações.

Uma coisa me parece clara depois desta final: além da visível evolução técnica e tática da nossa equipe, a torcida vai jogar junto com a seleção na Copa do Mundo do ano que vem. Não se pode prever um eventual título, mas para ganhar do Brasil aqui dentro os adversários terão que jogar muito mais do que estavam imaginando. Vai ser enjoado.

E outro ponto é que o novo Maracanã é bem mais efetivo em termos de pressão. Domingo foi um verdadeiro caldeirão, e tende a ser ainda mais intimidador em partidas de clubes. Sem essa de que “o verdadeiro Maracanã morreu”. Ele apenas recomeça sua história.

Mais para frente pretendo escrever um outro artigo com um balanço da Copa das Confederações, sob o ângulo do torcedor. Contudo estas são as minhas impressões da final, com um final feliz. Espero que se repita ano que vem.

Não tem tu, vai tu mesmo...
Não tem tu, vai tu mesmo…

2 Replies to “O Gigante (futebolístico) Acordou”

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