Neste domingo a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar, retoma o tema abordado há três semanas atrás e volta a falar sobre a brincadeira que irá ocorrer na disputa de samba da “Acadêmicos do Gato Molhado” para o carnaval 2014.

As velhas novidades do Gato

Começou o carnaval de 2014. O batuque começa timidamente a ser ouvido nas quadras, as matérias sobre o tema a ir ao ar e os compositores começam a quebrar suas cabeças com as sinopses que vem sendo liberadas para ajudar a compor os hinos para as avenidas por todo o país.

Por enquanto boas sinopses vem sendo oferecidas. Uma pena que isso não queira dizer nada, já que no sistema robótico de hoje um grande tema produz um samba do mesmo nível de um que fale sobre uma cidade que tenha trezentos habitantes, uma igreja e dois puteiros.

Só os gênios conseguem romper essa barreira, mas gênios também não são criados assim tão facilmente.

E a gloriosa Acadêmicos do Gato Molhado não foge disso. Com promessas do presidente Nezinho de uma disputa limpa onde o melhor será escolhido e a escola finalmente brigará por título a sinopse gatomolhadense foi entregue.  Linda como o carnavalesco Xibiu de Jesus sempre faz. Só que como eu já disse, uma boa sinopse sozinha adianta nada. A disputa tem que ajudar.

Manolo, aí que está o problema.

De uma forma inteligente, de fazer Einstein se orgulhar, a Acadêmicos decidiu criar grandes parcerias de samba-enredo. Juntou os principais compositores da escola a fim de fazerem sambas juntos; além disso, chamou compositores de fora para ajudar essas parcerias.

Fenomenal né? Com certeza daí virá o grande hino. Como diria Paulinho da Viola, porém, ah porém..

Porém grandes compositores para a Gato Molhado não são necessariamente grandes compositores. Entendeu, leitor? Explico. Grandes compositores são aqueles que são parceiros, que ajudam a agremiação, que tem grana.

O que ocorre então? Juntaram nas mesmas parcerias dinheiro com dinheiro, política com política e não talento com talento. Até porque com esse sistema de concurso da escola o talento foi minado e poucos hoje na agremiação sabem rimar “aí” com Sapucaí”. Tem muitos baluartes lá que sabem nem cantar o samba que concorrem.

Bem… Mas tem os compositores de fora que foram chamados né? Dá uma melhorada. Tolinhos… Passa de trezentos mil reais o prêmio ao se ganhar um samba, os caras têm escritórios de samba e concorrem em muitas por aí. Você acha realmente que eles já não estavam na Gato Molhado?

Estão faz tempo e fazendo esses sambas “rococós” que não fedem, nem cheiram e ficam no meio do concurso perdendo para os da casa. Rococó… De onde tirei isso? Bem, voltando ao assunto. Os caras são empresários, tem mais de vinte sinopses sobre a mesa: eles vão fazer de qualquer jeito e que se dane, a disputa que escrevem com carinho é na casa deles, a escola que assinam. Assim como os talentos que ficaram em segundo plano fazem na Gato Molhado.

O que ocorre com tudo isso?

Super parcerias que não vão aumentar o nível do concurso, muito pelo contrário. O nível diminuirá com a falta de competitividade, a falta de bons sambas que deixarão de existir porque teve esse congraçamento. Na soma bom + bom dará… Bom.

Só isso. E terá menos sambas na disputa fazendo as pessoas se perguntarem porque a Gato Molhado está com tão poucos concorrentes.

Até porque em junho já sabemos os cinco que em outubro disputarão o caneco.

A parceria do Pequeno Polegar, que já poderia ter ganhado alguns anos atrás, chegará nas finais de novo. Novamente fará um samba legal, vibrante e terá a torcida mais bonita das eliminatórias. Será bem comentado, alguns pensarão que vai vencer, mas perde na final – ou pouco antes.

Sua jovem torcida dos bairros mais nobres que cercam a escola ficará indignada, os compositores tristes, mas ano que vem estarão lá de novo porque esse é um sonho para eles e não estão errados: sonhos têm que ser conquistados.

A parceria campeã desse ano virá novamente com um samba de qualidade. Torcida jovem, guerreira que é o espelho de seu cantor e um dos compositores. Assim como a do Pequeno Polegar a parceria campeã têm torcida de amigos e isso ficará claro na disputa já que não será uma das maiores torcidas. O jovem cantor vai suar muito, dar seu sangue pelo samba. Conclamará a torcida dizendo que precisa da ajuda dela e o samba irá bem no concurso. Mas não ganhará, já ganharam ano passado. Devem chegar à final.

O doutor virá de novo com samba bom. Nada brilhante, mas bom. Terá uma torcida forte, mas alugada, bom palco e ele tem a simpatia da agremiação. Pensará que dessa vez vai, finalmente vai vencer, mas perderá na final de novo – com Nezinho lhe fazendo um carinho e dizendo que sua hora chegará. Ele ficará um ano dizendo que cansou, não quer mais saber disso e ano que vem estará lá de novo.

Ficará entre o samba do cantor que se uniu a Mané Toquinho e o do filho do diretor. O filho do diretor virá com um dos melhores sambas da disputa, talvez o melhor. Terá bom apoio dentro da comunidade e o diretor brigando muito por ele. Sairá faísca.

Mas o favorito é o samba do cantor com Mané Toquinho (que não é quem muitos pensavam). Parceria feita nos detalhes, com altas costuras para fazer os grandes estilistas morrerem de inveja. Mané Toquinho se vendeu por 30 dinheiros (que dá mais ou menos vinte mil Dilmas no mercado paralelo) e deve receber essa grana em março do ano que vem da forma bonita e honesta que todo mundo que se vende merece. A parceria dele é formada por gente talentosa e bacana. Ele é talentoso – fico só no primeiro adjetivo.

Só perdem se o diretor estiver com muita moral e rolar vaidade na parceria favorita, o que não é impossível. Os favoritos têm a vantagem de soltarem um pum dentro da quadra e quase todas as alas de comunidades cantarem e rebolarem dizendo que a flatulência é uma obra prima. As alas da comunidade não torcem pelo melhor pra escola. Torcem por eles todos os anos e não será diferente.

Bem, é isso. Evidente que essa coluna é uma brincadeira sobre uma escola fictícia. Vamos ver como serão as disputas e torcer sempre  que vença o melhor para o bem de nosso carnaval.

Claro que é tudo ficção.

É sério…

One Reply to “Orun Ayé – “As velhas novidades do Gato””

  1. Como você tem imaginação, Aloísio. Esse tipo de coisa não acontece no nosso carnaval. Ainda bem que todo o processo de disputa de samba é mais do que transparente. Mas eu gostei da história. Só faltou batizar os personagens.

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