Nesta quarta feira, a coluna “Sabinadas”, do jornalista esportivo Fred Sabino, traz aqueles que ele considera os dez maiores desfiles do Sambódromo. Além disso, traz alguns prognósticos para os desfiles deste ano.

Acho que nunca parei para elaborar uma listagem destas; mas diria, de supetão, que uma lista minha seria bastante semelhante a que é apresentada neste post. Qualquer dia escreverei sobre os dez desfiles inesquecíveis de que participei, o que é diferente.

Vamos ao post:

Os dez mais da Era Sambódromo

Inspirado pelo colunista Aloísio Villar e pelo Carnaval que está chegando, resolvi fazer o meu top 10, no caso, dos desfiles mais marcantes da Era Sambódromo. É claro que com uma lista tão curta e tantos bons desfiles ocorridos nesses anos todos, posso ter cometido alguma injustiça. Mas, se até no futebol nem sempre existe justiça, por que não nesta lista? 

Então vamos aos desfiles mais marcantes desde 1984:

10 – Unidos da Tijuca, em 2010

De volta à escola do Borel após um ano sabático auxiliando Alex de Souza na Vila Isabel, o carnavalesco Paulo Barros surpreendeu como há muito não se via em um desfile. “É segredo!”, embora tivesse sido mais um tema do que um enredo, proporcionou momentos mágicos na Sapucaí, como a comissão de frente que trocava de roupa, os carros alegóricos teatralizados e de visual impactante e as fantasias que permitiam excelente comunicação com o público. Um título justíssimo de uma escola que já vinha batendo na trave havia algum tempo. 

9 – Portela, em 1995

Depois de alguns anos vacilantes, a Portela voltou a ser Portela naquele ano. O enredo “Gosto que me enrosco” era de facílima leitura, o samba de Noca era o melhor daquele carnaval e a potente voz de Rixxa era o fio condutor para uma apresentação que tinha tudo para ser épica. E foi. Com uma exibição espetacular em todos os quesitos, a Portela estava devidamente credenciada a acabar com um jejum de títulos que vinha desde 1984. Mas, inexplicavelmente, a escola acabou perdendo o título para uma Imperatriz, que, embora tenha feito também um grande desfile, deveria ter perdido pontos por ter se apresentado com um carro a menos. Uma das grandes injustiças da Era Sambódromo. 

8 – Unidos do Viradouro, em 1992

Depois de uma surpreendente estreia no Grupo Especial com um enredo sobre Dercy Gonçalves, havia boas expectativas para o segundo desfile da agremiação de Niterói na elite do Carnaval carioca. Afinal, Max Lopes bolou um instigante enredo sobre os ciganos com o singelo nome “E a magia da sorte chegou”, o samba era de primeiríssima linha e a estrutura de carnaval da escola era sólida.

Na Sapucaí, não só as expectativas se confirmaram como foram excedidas. Com carros maravilhosos, fantasias espetaculares e uma evolução contagiante, a escola se credenciava a brigar pelo título quando um incidente lamentável aconteceu. Quando o desfile já tinha mais de dois terços, um incêndio de grandes proporções acabou com o lindíssimo carro da Sibéria. A cena dos huskys siberianos sendo impiedosamente queimados é tão triste quanto inesquecível.

Felizmente ninguém se machucou, mas o carro foi perdido, a evolução da escola foi para o beleléu e até a cronometragem foi estourada (13 minutos), já que um caminhão de bombeiros entrou na pista. Apesar de tudo, a escola ainda ficou em nono lugar. Se levarmos em conta só os pontos perdidos em cronometragem, a escola teria ficado em terceiro. Imaginem, então, o que teria acontecido sem o incêndio. Uma pena… 

7 – Mocidade Independente de Padre Miguel, em 1987

Fernando Pinto era mesmo um gênio e tinha muito mais a contribuir ao nosso Carnaval se não tivesse morrido tão jovem. Seu último trabalho completo antes do acidente de carro fatal foi revolucionário como sempre. “Tupinicópolis” era a síntese do que seria uma cidade criada e desenvolvida pelos nossos índios. Como não lembrar da Boate Saci, do Shopping Boitatá ou do Chá do Raoni?

A divisão cromática evidenciava a estética tropicalista e literalmente tupiniquim empregada pelo carnavalesco. Mesmo o limitado samba cresceu nas vozes de Ney Vianna e David do Pandeiro e na bateria nota 10. Mas, numa daquelas injustiças históricas, não levou o Carnaval. Ainda assim foi um espetáculo inesquecível. 

6 – Imperatriz Leopoldinense, em 1989

Taí um desfile que gera polêmica, a meu ver sem razão. É fato que “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós” tinha seus erros históricos na sinopse. Mas é impossível fazer qualquer reparo ao que se viu na pista da Sapucaí. O samba era antológico, muito bem cantado por Dominguinhos, seus parceiros e público. A bateria esteve perfeita, com bossas brilhantes e desenhos de tamborins impecáveis. As fantasias eram luxuosas, bem-acabadas e contavam perfeitamente o enredo. E o conjunto alegórico também foi de extrema competência.

Com tudo isso, a Imperatriz ainda esteve brilhante nos quesitos de pista. Muitos até hoje questionam o título da GRESIL, mas eu não. Para o meu gosto, o desfile da Beija-Flor foi mais impactante. Mas, quesito a quesito, a Imperatriz não merecia perder o título. Um empate talvez fosse mais justo. Menos do que isso, não. 

5 – Mocidade Independente de Padre Miguel, em 1985

O segundo e último campeonato de Fernando Pinto como carnavalesco foi daqueles de maior justiça da história dos desfiles. Ao contrário de enredos anteriores, nos quais usava e abusava de questões nacionais como em “Tropicália Maravilha”, “Descobrimento do Brasil” ou “Como era verde meu Xingu”, Fernando Pinto resolveu abordar a conquista espacial, ainda um tema muito na moda.

“Ziriguidum 2001” levou ao público estrelas, planetas, naves, discos voadores, ETs e tudo que se possa imaginar. O visual prateado e dourado casou perfeitamente com o sol escaldante daquela manhã do desfile. A bateria nota 10 também estava naqueles dias de inspiração total e o samba era fantástico. A Mocidade literalmente foi brilhante em tudo! 

4 – Acadêmicos do Salgueiro, em 1993

Já escrevi sobre esse desfile em outra coluna e repito: foi o desfile mais empolgante que vi desde que comecei a acompanhar o Carnaval. Um samba que até hoje é cantado em todos os lugares, uma evolução vibrante e inesquecível, um enredo de fácil entendimento e uma bateria brilhantemente conduzida pelo saudoso Mestre Louro. Campeonato justíssimo do Salgueiro, que por muitos anos tentou repetir o que não se podia repetir. Um desfile histórico. 

3 – Estação Primeira de Mangueira, em 1984

Logo na abertura do sambódromo, um desfile para a antologia do carnaval. Homenageando o grande cantor e compositor Braguinha, a Verde e Rosa entrou com tudo na Sapucaí, com um samba muito feliz e popular, uma divisão cromática espetacular feita por Max Lopes e uma evolução vibrante, digna da tradição mangueirense.

Mas o fim seria ainda melhor. Enquanto as demais escolas se desdobravam para dispersar pela Praça da Apoteose, a Mangueira decidiu voltar pela contramão, junto ao público, que invadiu a pista. “Yes, nós temos Braguinha” marcou, talvez, a manifestação popular mais eloquente num desfile de escola de samba. Era muito pequeno à época e não vivenciei isso. Mas, vendo aquelas imagens, como queria estar lá com a Mangueira supercampeã! 

2 – Beija-Flor de Nilópolis, em 1989

Joãozinho Trinta sempre usou e abusou do luxo nos desfiles da agremiação de Nilópolis. Com isso, ganhou campeonatos, mas muitos críticos, que o acusavam de subverter a ordem dos fatores mais importantes num desfile, com os quesitos plásticos ganhando mais importância do que os de pista.

Pois bem: em 1989 Joãozinho decidiu romper com si próprio e deu um tapa na cara dos críticos. “Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia” era o luxo do lixo e o lixo do luxo. Os mendigos, as sucatas e os trapos invadiram a Sapucaí, num choque inacreditável. O samba, que não era brilhante, cresceu na voz do grande Neguinho e contagiou a escola, que fez uma exibição inesquecível. A Beija-Flor não levou o título, que ficou com a também extraordinária Imperatriz Leopoldinense, mas foi um desfile que jamais será esquecido. 

1 – Unidos de Vila Isabel, em 1988

(vídeo ao alto do post)

Depois do injusto resultado em 1987, quando o quinto lugar – que na verdade foi um oitavo pelos vários empates na apuração – não refletiu em nada o estupendo “Raízes” (enredo, samba e desfile primorosos), a Vila faria algo ainda melhor em 1988.

Mesmo sem os recursos financeiros de outras agremiações, a Vila desfilou com outro samba antológico, carros e fantasias de extrema criatividade e que estavam totalmente de acordo com o enredo, afro da cabeça aos pés passando pela alma e coração, e apresentou uma garra e harmonia irrepreensíveis. “Kizomba, a festa da raça” rendeu com toda a justiça o primeiro título à Vila e foi algo tão único (desculpem a licença poética) que não pôde ser reeditado no Desfile das Campeãs, cancelado devido à chuva violenta daquele fevereiro de 1988. Quem viu, viu.

O que esperar deste ano? 

Fazendo um paralelo com a minha área, a do automobilismo, não dá para saber quem vai vencer a corrida, ou melhor, o desfile baseado apenas nos testes – ou ensaios técnicos. Mas levando em conta o que estamos vendo nos bastidores, nos barracões, e, claro, nos ensaios, podemos projetar alguma coisa. 

Numa análise primária, tem tudo para ser um ‘mais do mesmo’ nas colocações em cima. As “vizinhas” Unidos da Tijuca e Salgueiro estão em ótimas condições para brigar pelo campeonato, mas terão de bater uma forte sombra chamada Beija-Flor. A Vila Isabel, outra força dos últimos anos, também pode brigar, assim como a Grande Rio, sempre bem estruturada. 

A grande surpresa do desfile pode ser a União da Ilha, com seu enredo sobre Vinícius de Moraes. O samba, embora criticado, facilita o canto dos componentes e o barracão, segundo consta, foi o mais adiantado de todos. Resta ver como será o comportamento da bateria, pois, segundo o editor deste blog, a coisa não anda bem. Mas é uma escola a ser observada. 

Já as tradicionais Portela e Mangueira, envoltas em problemas políticos e de barracão, outra vez devem brigar apenas por uma volta no sábado, assim como a Imperatriz. A Mocidade é uma grande incógnita com seu enredo sobre o Rock in Rio, mas não parece ter força para voltar a ser grande, pelo menos agora. 

Na parte de baixo, a Inocentes dificilmente permanecerá no Grupo Especial, novata que é e ainda por ser alvo de críticas pela subida injusta em 2012. Por fim, a São Clemente, que vem de dois bons carnavais, precisa apenas acertar seu desfile para ao menos não ser ameaçada de descenso. 

Aguardemos, então, os desfiles.

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