Mike DAntoni LakersNesta terça feira, a coluna “Made in USA”, do advogado Rafael Rafic, volta a falar de esportes americanos para discorrer sobre um dos profissionais mais superestimados do esporte mundial: o técnico Mike D’Antoni, incrivelmente o atual treinador do Los Angeles Lakers e que já me fez passar muita raiva em seus tempos de New York Knicks.

Em minha opinião, ele é horroroso, incompetente, desagregador e incapaz de fazer uma leitura coerente de jogo – basta ver como o time novaiorquino cresceu depois de sua saída e a proeza que ele persegue neste momento – não conseguir classificar um supertime aos playoffs.

Desabafo de torcedor feito, passemos ao texto.

Mike D’Antoni e a sinuca dos Lakers 

A coluna de hoje é dedicada a aqueles que acham que apenas no Brasil existem técnicos muito mais reverenciados do que seus resultados deveriam lhes proporcionar. Quem conhece a NBA já deve saber quem será o tema: Mike D’Antoni, treinador do Los Angeles Lakers. Eu e o editor, que temos uma longa história de sofrimento com ele (explico no decorrer), demos a ele o apelido de “Caio Jr.” em alusão ao treinador de futebol. 

Ele é tratado pela imprensa americana e o mundinho dos “entendidos e especialistas” (excetuada a de New York) como um dos melhores treinadores de basquete em atividade nos EUA, muito experiente e vencedor. O problema é que até hoje não consigo entender: nem como e porque ele alçou a este posto e como graças a essa fama sempre consegue posições de muito prestígio com resultados ruins ou até péssimos. 

Para começar, temos um problema conceitual. Os americanos exaltam bastante a importância da defesa no basquete. Essa é uma filosofia tão arraigada na cultura “basquetebolística” dos EUA que não são os raros os momentos em se que ouve a torcida gritar “Defense, Defense, Defense” (defesa, defesa, defesa). Há até um símbolo específico para escrever e mostrar na torcida, o famoso “D#”.

[N.do.E.: há um epíteto famoso sobre isso: “ataques ganham jogos, defesas ganham campeonatos.]

Porém, o basquete de Mike D’Antoni é justamente o oposto, é o famoso “joga e deixa jogar”. Como bem lembrou o Migão recentemente, ele faz parte da escola Ary Vidal de treinadores. Assim, seus times chegam à contagem centenária em mais de 90% dos jogos. O problema é que, mesmo fazendo 100 pontos, na NBA se você não tem um sistema defensivo bem montado tomará 120, 130 pontos – e perderá de qualquer jeito. 

Se a falha não for ajeitada, as derrotas se sucederão a pontos humilhantes. É exatamente isso que ocorre com D’Antoni desde 2008. 

Não bastasse esse problema estrutural, o currículo dele também não ajuda para qualquer tentativa de se ter uma leitura vitoriosa, principalmente quando lhe foi confiado times importantes. 

Sua carreira como técnico começou na liga européia, com bons resultados no Benneton Treviso da Itália. Isso o credenciou para uma vaga administrativa no Denver Nuggets, já na NBA, onde teve seu primeiro emprego como técnico na NBA na famosa temporada encurtada por causa de uma greve de jogadores de 98-99. 

Com uma péssima campanha de 14V (vitórias) e 36D (derrotas), que veio no meio de um péssimo momento do time, ele foi sumariamente demitido. Diga-se de passagem que o time do Nuggets era ruim, mas era melhor que o Minnesota Timberwolves e o Dallas Mavericks, dois times da mesma divisão que ficaram na frente do Denver. 

Após mais um período de peregrinação em funções menores de outros times e outro fora da NBA, ele foi contratado pelo Phoenix Suns no terço da temporada 2003/04. Mais um fiasco de resultados com o Suns, sendo o quarto pior time da temporada com 29V e 53D. 

Porém, como o D’Antoni fez a equipe jogar bonito (leia-se, ataque bem armado), o time resolveu continuar com ele para 2004-05. Para essa temporada o Suns investiu alto e contratou o craque Steve Nash, um jogador que se encaixa como uma luva na filosofia de D’Antoni. 

Inegavelmente o time deu certo (mas já era no papel bem melhor do que no ano anterior), terminando em primeiro lugar na Conferência Oeste com 62V e 20D. Essa grande melhora no time deu a D’Antoni o prêmio de melhor técnico do ano na NBA – mas apenas isso.  O time chegou às finais de conferência (equivalente a semi-finais) mas perdeu feio para o San Antonio Spurs pela falta de defesa. Dos 5 jogos (a série foi 4 a 1), o Suns atingiu a contagem centenária em 3 vezes. O problema é que na partida que o Spurs menos marcou ainda fez 101 pontos e ganhou por 101 x 95. 

Em 2005/06 mais uma boa campanha (2° lugar no Oeste) e outra derrota na final de conferência, dessa vez para o Dallas Mavericks. Em 2006/07 outro 2° lugar na conferência e outro baile de defesa tomado do Spurs, só que dessa vez na semi-final de conferência. Em 2007/08 os outros times “acharam o número” do esquema de D’Antoni e o Suns já não foi tão bem. Ainda foi para os playoffs em 6° lugar na conferência (passam 8) mas tomou um terceiro baile do Spurs. 

Até que o Suns cansou de D’Antoni e o New York Knicks, um dos times mais ricos da NBA, o contratou por quatro anos, para desespero desse colunista e de seu editor, ambos torcedores do Knicks. Além disso em New York há sempre o problema da imprensa que exige demais e é difícil de conviver (já abordei esse ponto na coluna sobre Tim Tebow). 

Um técnico egoísta (e ruim) comandando um time de alta visibilidade em pleno processo de reconstrução não poderia dar certo. Em 2008/09 e 09/10 foram duas temporadas absolutamente desastrosas, nas quais nem o ataque funcionava e a defesa era nula. O Knicks apenas lutou para não ser o último. 

Até aqui, entende-se. Afinal em 2008 o dono do Knicks mudou completamente a gerência do time e fez times apenas razoáveis, para se ajeitar e poder gastar tudo contratando grandes jogadores ao final de 2010, quando vários deles estariam livres. Ainda sim, o desempenho do time conseguiu ser ainda pior do que ele era no papel. 

Porém para 2010 o Knicks mostrava um senhor time. Os drafts foram bem feitos e alguns jogadores jovens começavam a se destacar. O time ainda conseguiu contratar Amar’e Stoudemire, um dos grandes destaques da época de D’Antoni no Suns, e um dos grandes astros da liga, Carmelo Anthony. Com essas mudanças o Knicks ficou com o 2° ou 3° melhor quinteto titular da liga (Turiaf, Stoudemire, Anthony, Fields e Billups). 

Não obstante, D’Antoni conseguiu fazer esse timaço começar a temporada com 1V e 9D. O time não jogava bem: parecia que cinco grandes jogadores jogavam cinco jogos diferentes sozinhos. O time não tinha nenhum comportamento de equipe, mas de um amontoado de jogadores. Quando muito o ataque funcionava, mas a parte defensiva arruinava tudo. 

Por causa do quinteto estrelado, a temporada ainda foi salva com 42V e 40D e um 6° lugar na fraca Conferência Leste (se o Knicks fosse da outra conferência, a oeste, seria o 10° e estaria fora dos playoffs) apenas para perder de 4 a 0 na primeira rodada dos playoffs em uma suprema humilhação contra o super-rival Boston Celtics (lembrem-se da enorme rivalidade que cerca as duas cidades). 

Para 2011/12 o time ficou ainda melhor com os acréscimos de Tyson Chandler e Jeremy Lin no lugar de Turiaf e Billups. Porém o Knicks continuava a jogar medianamente, tendo apenas uma campanha de 18-18 ao fim de fevereiro (a temporada nesse ano só começou após o Natal por causa de uma greve dos jogadores).

[N.do.E.: incrivelmente neste meio tempo o treinador foi assistente técnico da seleção americana campeã olímpica. Se bem que, pensando melhor, até um gorila amestrado conseguiria ser campeão olímpico treinando o dream team…]

Chegou março e com ela, uma sequência de seis derrotas seguidas que aumentaram enormemente a pressão e fizeram D’Antoni se demitir sumariamente sem qualquer aviso. Até os donos do time receberam a notícia com surpresa e não sabiam muito bem o que fazer. 

O problema é que D’Antoni simplesmente decidiu que Carmelo Anthony não se encaixava no seu estilo e, ao invés do técnico tentar se adaptar aos melhores, ele preferiu congelar Anthony, o que começou a causar problemas no time. 

O Knicks decidiu promover o competente assistente Mike Woodson e a partir daí o mesmo time, com os mesmos jogadores que não engrenava na era D’Antoni, passou a ganhar tudo e ainda terminou em 7° lugar na conferência com 36V e 30D.

[N.do.E: somente a campanha de Woodson foi a terceira melhor do Leste nesta temporada. O time mudou da água para o vinho, ou melhor, para a cerveja.]

Nos playoffs o Knicks enfrentou o gigante Miami Heat de LeBron James e Cia na primeira rodada. Apesar da derrota de 4 a 1, quem acompanhou  a série viu um Knicks que enfrentou o Heat de igual para igual e se não fossem os erros generalizados da arbitragem, sempre a favor do Heat, o Knicks daria trabalho. 

Parêntese: alias, nos playoffs de 2012 as arbitragens foram horrorosas, sempre a favor de Heat e Oklahoma City Thunders, os finalistas, de forma muito estranha (também já comentei isso com mais detalhes em coluna). 

O Knicks, com o mesmo time e com Woodson no lugar de D’Antoni está dominando a temporada 12/13 e atualmente está com uma ótima campanha de, até o último sábado, 30V e 15D, disputando o primeiro lugar na conferência com o Miami Heat (com 30V e 14D). 

Assim, D’Antoni ficou sem emprego mais uma vez. Esperávamos que por um bom tempo.

Porém, o Los Angeles Lakers, o grande time da história moderna da NBA, time mais rico, segundo mais valioso e com mais títulos da liga (todos eles já conquistado em tempos recentes, diferentemente do segundo maior vencedor, o Celtics) estava em crise desde que seu grande técnico multicampeão Phil Jackson decidiu se aposentar após 2011. 

O Lakers, um time que não admite derrotas, começou a temporada 2012/13 com 1V e 4D e decidiu demitir seu técnico Mike Brown. Enquanto isso,  D’Antoni estava livre no mercado. Com um certo empurrão da imprensa, adivinhem o que aconteceu? D’Antoni contratado rapidinho para o cargo de técnico mais importante da NBA, mesmo com quatro temporadas desastrosas no Knicks (time com características parecidas com o Lakers). 

Lembro que nosso amigo colunista Aloísio Villar, torcedor do Lakers, comemorou demais o fato no Twitter e fazia ouvidos de mercador aos avisos meus e do Migão de que o time naufragaria, nos acusando de não entender nada de basquete. Apesar de tudo até os mais incrédulos (eu e Migão incluídos) acreditavam que, por inércia, o time de estrelas do Lakers (Gasol, Briant, Nash, Howard e Artest), uma equipe que faria frente até ao time olímpico americano, iria se classificar para os playoffs.

D’Antoni resolveu mudar tudo no time: destruiu o famoso triângulo ofensivo de Jackson (para muitos o seu grande segredo) e colocou em prática sua tática suicida. Para piorar, ele cometeu os mesmos erros de anteriormente e colocou no banco o ótimo Pau Gasol (foto, com o treineiro) para colocar em seu lugar o mediano Earl Clark. 

Não sei se o Lakers não absorveu a filosofia de D’Antoni ou se ela é ruim mesmo (aposto na última) mas as derrotas do Lakers estão ocorrendo uma atrás da outra e inacreditavelmente o Lakere está hoje (a coluna foi escrita na noite de sábado) com apenas 21V e 26D, apenas em 10° lugar e a 3,5 jogos atrás do último time que se classifica aos playoffs. 

O clima no time não é nada bom e Gasol já está queimando D’Antoni publicamente sem ser refutado por nenhum outro jogador, em um claro gesto de “concordância tácita”. Porém o Lakers contratou D’Antoni por 3 anos (!) e agora está preso em um lamaçal. Conseguirá o time multicampeão escapar desta sinuca?

A única coisa para qual o Lakers serviu nessa temporada foi derrotar justamente o Knicks em casa por 100 a 94, após perder o primeiro jogo no Madison Square Garden…

P.S. – esse colunista informa e lamenta o falecimento neste último domingo do integrante mais inteligente da família Bush. Em virtude de um linfoma, aos 12 anos de idade morreu Barney Bush, o cão Scottsh Terrier do ex-presidente George W. Bush.”

One Reply to “Made in USA – “Mike D’Antoni e a sinuca dos Lakers””

  1. Eu não comemorei a contratação dele, não o conhecia, o que eu falava era que o Lakers é maior que ele e que o Knicks e reafirmo isso, meu treinador, o que eu queria era o Phil Jackson

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