29012013santamariamovimentacaokiss0156O leitor deve estar se perguntando se retornarei ao tema da tragédia do último domingo. Sim e não.

Quero enfocar alguns pontos que andei comentando esparsamente nas redes sociais e em emails privados com amigos, envolvendo alguns pormenores não somente envolvendo o acontecido em Santa Maria, mas também em nossa sociedade como um todo.

A começar pelo comportamento de muitas pessoas nas redes sociais no dia da tragédia. Foi uma miríade de piadas sem graça, boatos, opiniões radicais e falsas e gente desqualificando as nossas opiniões. Aliás este é um problema do mundo virtual: gente desqualificando o que você diz porque não se é “especialista no tema”. Na prática, é uma forma de censura, como se eu, por exemplo, somente pudesse dar opiniões sobre Economia por ser minha área de formação educacional.

Todos aqueles que tem vez e voz tem direito à sua opinião, por exemplo. Cabe a quem lê separar o que é “palpite” de uma opinião fundamentada, pois é a partir desta troca de informações que aprendemos e evoluímos. No caso em questão, embora não seja especialista em segurança de locais, procurei passar o que aprendi nos tempos em que trabalhei com Segurança do trabalho na Petrobras, como o leitor pôde ver no artigo que publiquei aqui no último domingo.

Mas não foi o que se viu: um monte de desqualificações, ofensas, piadas de péssimo humor, fanatismos e coisas correlatas.

Falando em fanatismo, tenho de abordar o segundo ponto deste texto. Cito ‘religião’ mas na verdade quero me referir às seitas evangélicas e seu fanatismo egoísta.

O leitor mais antigo deste blog sabe que já escrevi artigo abordando o assunto (que pode ser lido aqui). Mas causou revolta a muita gente (a mim inclusive) declarações de fiéis e dirigentes deste tipo de seita cristã – ou que se diz cristã – comemorando acintosamente as mortes pois os jovens “estavam em pecado, dançando e consumindo álcool”. Que Deus é esse que pune pessoas por estarem se divertindo sem causar mal a ninguém?

Com certeza não é o Deus em que acredito e sigo.

O mais hipócrita é quando se sabe que muitos destes líderes e fiéis passam publicamente uma imagem contrita de moderação e virtude e, em suas vidas particulares, exibem condutas no mínimo discutíveis. Não preciso citar exemplos, o leitor sabe a que me refiro. Ou fiéis exibindo um egoísmo atroz baseado na crença de “que são os escolhidos”.

É devido a condutas como estas e a práticas como a da Igreja Católica de acobertar casos flagrantes de pedofilia, por exemplo, que a crença em religiões a cada dia tem menos penetração na sociedade brasileira – o que é ruim. Mas com uma Fé egoísta, falsa e hipócrita que muitos professam o resultado não poderia ser diferente. Como escrevi em uma rede social esta semana, estou com a paciência esgotada para evangélico egoísta e sem noção.

Passemos à política. Continuando o jogo político dos últimos anos, ao invés de tentar ajudar as famílias das vítimas e os feridos, o que se viu em políticos de oposição foi uma postura de ligar o incêndio à Presidenta Dilma Rousseff. Esta foi muito criticada por sua decisão (correta) de abandonar compromissos oficiais no Chile e rumar imediatamente à Santa Maria. Se ela não fosse, seria criticada do mesmo jeito.

No mínimo, a presença da Presidenta no local da tragédia serviu para agilizar as providências de socorro de feridos e traslado dos mortos no que toca ao Poder Público. Sem contar que é um conforto saber que a Presidente do nosso país, mandatária máxima da nação, preocupa-se e está presente no drama que vivem as famílias dos 234 mortos na boate.

Ainda assim a tragédia está sendo utilizada no jogo político, inclusive com algumas informações falsas sendo divulgadas. Onde quer chegar uma oposição que tem este tipo de conduta? Vale lembrar que no recente episódio da diminuição das contas de luz anunciada pela Presidência (voltarei ao tema proximamente) a oposição esteve contra o interesse popular, defendendo os interesses dos acionistas das empresas. Onde querem chegar com esta postura anti-povo?

Ao poder é que não será.

Finalizando, o episódio serviu para mostrar o quão está defasada a chamada “grande imprensa” deste país.

Antes de mais nada, a política de corte de pessoal cobrou seu preço neste episódio: nenhum dos grandes órgãos de imprensa tinham correspondentes sequer próximos à cidade gaúcha. Eu estava vendo a Globo pela manhã de domingo (onde estava não tinha tv a cabo) e os apresentadores do Esporte Espetacular estavam mais perdidos que filho de prostituta no Dia dos Pais, com perguntas óbvias e intervenções absolutamente sem sentido – em tabelinha com uma repórter local claramente inexperiente.

Precisou a emissora enviar o experiente José Roberto Burnier (um dos raros bons repórteres a permanecer na Globo) a fim de estabelecer um padrão mínimo de cobertura. Mas isto nem foi o pior.

O pior de tudo foram veículos da chamada “velha mídia”, Globo à frente, forçando uma situação a fim de imputar responsabilidade total pelo ocorrido à Presidente Dilma e ao ex-Presidente Lula. Em todos os veículos penas de aluguel batiam na tecla de que “os únicos culpados são Dilma e Lula”, culminando com uma charge de péssimo gosto do cartunista Chico Caruso na primeira página do jornal O Globo. Sinceramente, queria que me explicassem qual responsabilidade eles poderiam ter em um episódio como esse.

Sem contar informações falsas divulgadas por “jornalistas” tentando envolver políticos do partido governista no episódio.

Mas este tipo de episódio demonstra bem algo que venho afirmando há tempos: a chamada “grande mídia” há muito deixou de ser órgão jornalístico para ser um partido político. Pautas e notícias não importam: o que importa é derrubar o governo, no voto ou no grito. Sempre achei a expressão “PIG” (Partido da Imprensa Golpista) um exagero, mas começo, sinceramente, a mudar de opinião.

Este partidarismo, a meu ver, é uma das principais causas da perda de interesse e de audiência/vendagem que estes veículos vem experimentado nos últimos anos. A partir do momento em que a apuração de notícias e a isenção são jogadas no lixo em nome de interesses políticos, a credibilidade destes veículos se esvai.

E mídia sem credibilidade é mídia fadada à morte, ainda que lenta.

(Foto: Terra)

3 Replies to “Tragédia, religião, política e imprensa”

  1. Pois é, Migão.

    E o que tem de notícias perdidas nesses veículos de comunicação… Dia desses, ouvi na Globo que o PIB diminuiu em 2012… rs… Como se tivesse ocorrida uma redução no PIB, de 2011 para 2012. Não sabem a diferença de um número que mede o crescimento do PIB para um número que mede o próprio PIB. Meu Deus…

    Grande abraço e o Carnaval tá chegando… Saudações Portelenses!!

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