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No momento em que escrevo (domingo, dia 13), temos aproximadamente as duas primeiras semanas da nova diretoria do Flamengo, que tomou posse dia 27 último e que assumiu efetivamente o mandato no dia 2 de janeiro.

A primeira coisa que se observa é que, embora o Presidente Eduardo Bandeira de Mello esteja aparecendo “em todas as fotos” das ações tomadas, basta se observar de forma mais atenta que, como eu havia previsto, o comando efetivo das decisões não está nas mãos dele – ou passa muito pouco.

Fica claro que, como eu mesmo no Ouro de Tolo e em redes sociais havia dito antes das eleições, que o poder é exercido, efetivamente, pelo presidente da SKY Luiz Eduardo Baptista – o BAP. Além dele, pelo ex-candidato Wallim Vasconcelos. Ainda que um esteja na Vice Presidência de Marketing e outro na de Futebol, para mim está claro que são os dois que efetivamente detém o poder hoje.

Por isso, o “laranja” do título. Pessoalmente é algo que não me agrada, mas se foi o arranjo institucional encontrado para que os objetivos fossem alcançados, não é a primeira nem a última vez em que isso acontece. Não há “burla à lei”, no caso o Estatuto, então esta é uma questão menor.

Sobre as ações destes dias, para mim está claro que não havia noção do buraco financeiro do clube. Se a ideia é gastar menos e pagar as dívidas, pessoalmente acho admissível ficar um ou dois anos com times modestos para “arrumar a casa”.

Entretanto, por mais que saiba que a questão financeira foi o fator primordial, para mim pessoalmente está claro que as dispensas da equipe de natação e, recentemente, do jogador Vágner Love tiveram um cunho político. Parece-me claro que a “caça as bruxas” a que me referi no artigo escrito logo após as eleições irá acontecer.

No futebol, especificamente, está claro que ao menos no primeiro semestre os grandes líderes e estrelas do time serão aqueles a quem chamo de “Milicianos” – Renato, Léo Moura e Ibson. Por mim sequer teria renovado com os dois primeiros, que estão muito longe do apogeu e não admitem ir para o banco. Ou seja, irá se repetir o problema dos meses finais de 2012, onde os três eram pesos mortos no time – mas intocáveis.

Resta saber como será feita a reposição do ataque com a recente saída de Love. Tenho para mim que o técnico irá se abster de uma das vagas de atacante a fim de arrumar lugar para o recém contratado Elias e manter o “Trio Ternura” no meio de campo. Aguardemos.

A propósito, ficou claro que a nova diretoria não queria a permanência do técnico Dorival Júnior, mas optou por tentar forçar que o técnico e demitisse, a fim de não pagar a multa rescisória. Pessoalmente achei péssima a condução do caso, e acho que Dorival não chegará ao Brasileirão no cargo.

Este é um bom exemplo do que chamarei aqui de “curva de aprendizado” da nova diretoria. São todos executivos renomados em suas áreas de atuação, mas que nunca haviam trabalhado com o futebol – que possui uma dinâmica própria. Até este aprendizado se encerrar, erros serão inevitáveis.

Outro bom exemplo foi a recente medida que restringiu o acesso dos funcionários de escalões mais baixos ao andar da presidência do clube. Isso nas empresas que eles dirigem é costumeiro – para não se misturar com a “ralé” – mas em um clube pode gerar problemas futuros – afinal de contas os funcionários convivem com os sócios.

Faço uma ressalva: acho que é uma impropriedade dizer que toda a dívida do clube é de responsabilidade da ex-Presidente Patrícia Amorim. A gestão financeira do clube no mandato dela foi caótica, mas já existia uma grande dívida anterior – gerada em mandatos de ex-presidentes que estão apoiando e integrando via prepostos a atual diretoria.

Os xiitas são aqueles rubro negros, participantes e apoiadores da diretoria, em especial nas redes sociais. Endeusam tudo o que a nova diretoria faz e, ainda que apontemos erros inequívocos, se saem com um “eles sabem o que estão fazendo e você não tem a informação”. Censuram, gritam, constrangem, ofendem e tornam absolutamente impraticável se expressar opinião em espaços públicos.

Resumindo: tornou-se uma seita à moda dos seguidores de Jim Jones, ou, utilizando-me da ciência política, baixou o “centralismo democrático” típico dos partidos comunistas.

O colunista deste Ouro de Tolo Aloisio Villar, não sem uma dose de sarcasmo, escreveu recentemente que se os integrantes da diretoria entrarem na piscina haverá um genocídio por afogamento. Mais ou menos por aí…

Reflexo desta postura absolutamente messiânica é o apoio cada vez mais explícito que vejo nestes integrantes e apoiadores a medidas de banimento da imprensa do clube. A posição é de que “basta o site oficial” e que a imprensa deve ser proibida de entrar no clube e estabelecer contatos com jogadores e comissão técnica fora das dependências.

Note o leitor que quando se anunciaram as restrições de acesso ao Ninho do Urubu – bastante razoáveis, diga-se – vários destes xiitas comemoraram em redes sociais como se o Flamengo tivesse sido campeão mundial de futebol. Inclusive ofendendo e constrangendo jornalistas, o que é lamentável.

Esta é uma posição dos seguidores, mas como escrevi no texto anterior a nova diretoria não é exatamente receptiva a críticas. Não vai demorar para alguma restrição acontecer, mas não agora.

Resumindo, temos a questão do copo.

Como qualquer diretoria novata, há erros e há acertos, cabe ao leitor determinar se prefere ver o copo meio cheio ou meio vazio. Como sou um homem de gestão – especialmente financeira – acho que o copo está meio cheio nestes primeiros dias. Alguém que somente pense em futebol  vai achar o copo meio vazio.

Amigos, é isso. 

P.S. – este é o artigo da minha coluna no blog “Primeiro Penta”, da colunista deste Ouro de Tolo Daniela Souto.

2 Replies to “Flamengo: o laranja, os xiitas e a metáfora do copo”

  1. Concordo que não é o Bandeira quem manda, mas não vejo problema nisso. E gostei de ter sido ele a dar a cara a tapa quando da saída do Love.

    Concordo tb que preferia não ter renovado com LM e Renato — ainda que o time não tenha sequer outro lateral direito.

    Mas enxergar “caça às bruxas” na saída do Love eu já acho demais. Colocar o Ibson no trio ternura — qdo ficou público que a diretoria o liberou para buscar outro time (sabemos que dificilmente alguém vai arcar com o altíssimo salário dele) — é forçar a barra.

    Manter o Dorival eu tb não gostei — mas entendo por 2 motivos: não há bons técnicos disponíveis no Brasil (qq porcaria ganha uma fortuna) e a multa rescisória. Demitir o cara é justamente fazer o que sempre se faz no Flamengo: criar dívida em função da dispensa de jogador ou treinador.

  2. Acho exagero falar em caça as bruxas e pra mostrar que vc ta equivocado nas coisas que disse o que vem sendo pressionado agora é o Ibson que vc diz ser miliciano e que manda no time. Não tem essa, tão fazendo cortes pq são necessários, só não sei se isso vai dar certo, acho arriscado

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