Para os leitores que não sabem, o autódromo será demolido para a construção de instalações visando os Jogos Olímpicos de 2016. Há a promessa de um novo autódromo para o bairro de Deodoro – em terreno do Exército às margens da Avenida Brasil – mas a expectativa dos pilotos e chefes de equipe, como ficou claro nas entrevistas que fiz, é que dificilmente isso sairá do papel. Ainda que seja erguido, serão pelo menos dois anos sem provas automobilísticas na cidade do Rio de Janeiro, o que causa um prejuízo imenso à formação de novos pilotos e ao desenvolvimento do esporte.
Estive acompanhando todos os treinos do dia de sábado, graças a uma credencial que me permitiu circular pela área de boxes e na beira da pista. Depois no dia seguinte, na corrida, estive na área dos boxes e depois acompanhei a corrida do camarote de um dos patrocinadores, com outra credencial.
O curioso é que embora três categorias corram em cada final de semana de Stock Car, apenas esta se utiliza dos boxes oficiais do autódromo. A Copa Montana (pick ups preparadas com motores V8/) e a Mini Challenge ocupam outros espaços: a primeira tem boxes improvisados em uma espécie de stands na área de paddock e a segunda em duas grandes tendas. Jacarepaguá é um dos poucos circuitos onde há espaço para as três categorias correrem.
Aliás, é curioso o silêncio dos Minis correndo na pista. Não tem nada a ver com o que se espera de um carro de corrida.
Sábado o público que transita na área dos boxes é basicamente daqueles que estão trabalhando na preparação das corridas. Um ou outro convidado, mas estes são absolutamente minoria, ao contrário do domingo, onde o número aumenta muito.
Aproveita-se muito o tempo para contatos comerciais e relacionamento com clientes, especialmente no domingo. A Stock Car é a maior categoria de automobilismo do Brasil e a única transmitida em canal aberto pela principal emissora de televisão do país.
Esta transmissão tem um efeito colateral: para encaixar na grade da emissora a corrida faz-se necessário que ela seja às nove e meia da manhã, o que acaba prejudicando o público presente ao autódromo. Com boa vontade pode-se dizer que havia 40% da lotação disponível ocupada – também prejudicada pelo mau tempo.
Outra coisa é que se aproveita o sábado, dia de menor movimento, para se fazer ensaios fotográficos. Tanto envolvendo “grid girls” (abaixo) quanto dentro dos boxes durante a tomada de tempos oficial. Acompanhei a classificação nos boxes da equipe RCM – de Thiago Camilo e Lico Kaesemodel – e toda a movimentação de chefe de equipes, mecânicos, pilotos e carros é registrada.
Sinceramente acho que não se precisaria destruir o autódromo para se colocar as instalações das Olimpíadas, mas como bem destacou o piloto Popó Bueno, “há muitos interesses imobiliários envolvidos”.
Nas entrevistas que fiz – e que serão disponibilizadas hoje, mais tarde – ficou claro que o fim do autódromo é reflexo do momento do automobilismo brasileiro. Nas categorias de Turismo há até certa pujança, mas hoje não há uma categoria escola de monopostos para o garoto que sai do kart e quer se desenvolver antes de seguir carreira na Europa – tendo em vista a Fórmula 1.
Entram nesta questão, também, dois fatos: a obtenção de patrocínios e a exposição na mídia. Uma afirmação quase unânime dos entrevistados por este Ouro de Tolo foi de que a mídia poderia ser maior e de que há necessidade de se aumentar a exposição na televisão aberta especialmente a fim de elevar o retorno de imagem dos patrocinadores.
Entretanto, conversando posteriormente com uma fonte que trabalha na transmissão da corrida pela televisão, esta me explicou que a maior exposição da referida equipe nesta etapa se deveu ao fato dos dois pilotos serem os líderes do campeonato.
De acordo com Andre Bragantini, chefe de equipe de Thago Camilo e Lico Kaesemodel, para uma temporada “tranqüila” na categoria faz-se necessários R$ 2,5 milhões por carro, ou seja, R$ 5 milhões por equipe. Por aí se tira a importância de um bom suporte de patrocínios e por conseqüência de um bom retorno de imagem oferecido a estes investidores como contrapartida.
Outro ponto ressaltado seria a conveniência de uma lei de incentivo como a Lei Rouanet para o automobilismo brasileiro. Há leis estaduais aqui no Rio e em São Paulo, mas ainda insuficientes para alavancar o quadro atual.
A corrida em si foi interessante, apesar do domínio de Allan Khodair, pole position e vencedor. Algumas brigas e ótimas provas de Thiago Camilo, segundo colocado, e Cacá Bueno, que veio de antepenúltimo para oitavo.
Achei a organização da prova bem melhor que na última ocasião em que estive presente, em 2009. A impressão que tive é de que a Stock Car deu um salto em termos de organização e competitividade, e isto é salutar. Se o leitor tiver oportunidade de estar em uma prova da categoria, vale muito a pena.
Encerro o post agradecendo aos jornalistas Fred Sabino, Helena Matta, Rodrigo França e Claudio Stringari pelo apoio. E aos entrevistados: os pilotos Popó Bueno e Thiago Camilo, o chefe de equipe Andre Bragantini (uma lenda do automobilismo brasileiro) e seu filho, o engenheiro Andre Bragantini Jr, além do narrador da Globo/SporTV Sergio Mauricio.