Tenho visto bastante excitação na imprensa como um todo – incluindo não somente a grande mídia como blogs formadores de opinião – com as eleições municipais que se avizinham.
Gráficos de intenção de votos, tendências, alianças, declarações. Tudo é amplificado – ou não – com grande estardalhaço buscando ressoar os interesses defendidos por estes órgãos.
Entretanto não se vê na população o mesmo entusiasmo midiático. Ainda que comparado ao mesmo período em outras ocasiões me parece que o interesse da população é ainda menor.
Aqui no Rio de Janeiro, especificamente, o quadro não ajuda muito. O atual prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição, não empolga, mas as opções competitivas a ele também não representam progresso.
Pois vejamos: os dois principais candidatos de oposição são a dupla para lá de insólita formada pelos filhos do ex-prefeito Cesar Maia e do ex-governador Anthony Garotinho – cujos problemas já escrevi em outro post – e o PSOL apresentou a candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo. Embora este último entusiasme certo segmento formador de opinião, a política de alianças do partido a meu ver impede que vá muito longe – ele simplesmente não consegue dialogar com os segmentos mais populares do eleitorado.
Ou seja, até por inércia a tendência é que o prefeito Eduardo Paes se reeleja em primeiro turno. Não votei nele em 2008 – sufraguei o hoje deputado federal Chico Alencar no primeiro turno e anulei o voto no segundo – mas diria que até pelas minhas baixas expectativas ele acabou superando o que eu imaginava.
É inegável que a cidade hoje é um canteiro de obras e que o andamento das instalações de infraestrutura visando os Jogos Olímpicos parece satisfatório. Outro ponto que é menor, mas que me interessa: pela primeira vez vejo um representante do Poder Público tentando limitar o poder dos comandantes do carnaval carioca.
Por outro lado é evidente que muito mais poderia ter sido feito em diversas áreas, apesar do estado de “terra arrasada” herdado de seu antecessor Cesar Maia. O fato de pertencer ao grupo político do atual governador, enredado e enrolado em relações no mínimo esquisitas com construtoras e que tais, também depõe contra.
Alias e a propósito, chega a ser engraçado ver a chapa dos filhos pródigos fazendo campanha baseada na moralidade. Fecha o parêntese.
São Paulo, a outra capital relevante que não havia abordado, tem um quadro mais interessante. O ex-governador e ex-prefeito – sem encerrar o mandato em nenhum dos casos – José Serra tem uma liderança que me parece frágil. Por outro lado, o candidato petista Haddad é pouco conhecido, embora tenha uma rejeição bem menor.
Serra possui elevada rejeição devido à má avaliação do governo Kassab e à desconfiança de que não irá terminar seu mandato uma vez mais. Por outro lado as recentes denúncias do livro “A Privataria Tucana”, como escrevi em artigo anterior, certamente serão relembradas durante a campanha.
Não surpreende, portanto, que o candidato tucano esteja em uma cruzada visando censurar blogs e perfis em redes sociais que a ele fazem críticas. Vale lembrar que ele tem apoio total de chamada “grande mídia” – muito à base de compra maciça de assinaturas de publicações destes veículos por parte de órgãos públicos paulistas.
Por outro lado, também se deve lembrar que no governo ele tinha o hábito de “pedir a cabeça” de jornalistas que o ousassem criticá-lo. Enfim, lamentável.
A tendência é de que Haddad cresça à medida em que ficar mais conhecido o fato de ser o candidato da Presidenta Dilma (bem avaliada em São Paulo) e do ex-Presidente Lula. De acordo com pesquisas cerca de 40% dos paulistanos votariam em um candidato apoiado pela Presidenta. Por outro lado a aliança com Paulo Maluf ao que parece tira mais votos que dá ao candidato petista.
Mas ao contrário do Rio de Janeiro a eleição paulistana somente deverá se definir quando a campanha realmente chamar a atenção da população. Em minha última visita à capital paulista, que foi rapidíssima – durou cerca de seis horas, para a gravação do programa da ESPN – me chamou a atenção a má avaliação da gestão de Gilberto Kassab e a desconfiança generalizada de que Serra não irá cumprir o mandato até o final.
Sem dúvida alguma as Olimpíadas a serem realizadas a partir da semana que vem tendem a retardar o início do interesse da população pelas próximas eleições. Apesar de estar sendo absolutamente ignorada pela Rede Globo, a realização dos Jogos deve canalizar o interesse de boa parte da população nas próximas duas semanas.
Outro fator é que a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão somente se inicia em 21 de agosto, o que também retarda o interesse popular pelas eleições. O próximo julgamento do Mensalão também deverá estar encerrado quando do início dos comerciais da televisão e, apesar do massacre midiático que se espera sobre este caso, também tenho dúvidas sobre seu alcance nas intenções de voto.
Finalizando, apesar das expectativas midiáticas de especialmente impor seus preferidos, a campanha eleitoral e especialmente a definição de voto efetiva da população somente ocorrerão bem mais tarde e bem mais próxima ao pleito.
P.S. – acho que pela primeira vez desde 1992, quando comecei a votar, chego a esta época do ano sem ter nenhum voto definido.