No post de ontem havia escrito que ainda faltava o sábado, onde estive em Campinas para fazer o curso de “Degustação de Cervejas e Cultura Cervejeira” ministrado pelo Mestre em Estilos de Cerveja e Avaliação Maurício Beltramelli, uma das maiores autoridades brasileiras no assunto – e já entrevistado neste blog anteriormente.
Então hoje temos o relato do agradável dia transcorrido em Campinas, nas dependências do Bar Brejas. Além do bar há um espaço reservado a eventos onde se transcorreu a parte teórica do curso, dividido em dois módulos: o de cultura cervejeira e o de degustação.
Éramos aproximadamente 25 participantes, curiosamente praticamente todos de fora de Campinas. Somente aqui do Rio haviam cerca de dez, inclusive o pessoal das lojas de venda de cervejas online Beer Shop e Cerveja Social Clube. 90% do grupo já tinha conhecimento prévio da cultura cervejeira, o que segundo o próprio Beltramelli era um grupo bastante diferente de outros que ele já havia ministrado o curso – era a oitava turma.

No primeiro módulo, teórico, Beltramelli sistematiza a história da cerveja desde os primeiros registros comprovados nos povos sumérios, por volta de 4.000 anos antes de Cristo. Nestes tempos e até a Revolução Industrial as mulheres tinham papel preponderante na fabricação da bebida. Na Idade Média os monges cuidaram de transcrever e manter o registro das receitas cervejeiras.

Conta-se também a história da cerveja no Brasil, iniciada com os holandeses em Recife. Em 1654 com a sua saída haveria um hiato de 150 anos sem a bebida em terras nacionais. Somente na vinda da Família Real em 1808 é que voltaria a haver a bebida no Brasil, trazida por D. João VI em sua comitiva.

A partir de 1830 passa a haver uma produção incipiente por parte de algumas famílias, para consumo próprio, com uma produção de estilos ingleses. Havia uma grande dificuldade para se produzir em massa pois todo o malte e o lúpulo eram importados, a maquinaria, também importada era cara ou inexistente e o clima quente dificultava o armazenamento e a conservação.

Somente em 1888 se inicia a saga das grandes cervejarias brasileiras, com duas grandes fábricas: a Cia Cervejaria Brahma – que ficava na Rua Visconde de Sapucaí, hoje Marquês – e a Cia Antarctica Paulista. Hoje ambas fazem parte da Inbev.

Após o panorama histórico o curso passou pelo processo de fabricação da cerveja e explicou os  ingredientes e suas características.

Uma curiosidade: o termo “chope” para expressar a cerveja de barril existe apenas no Brasil. Vem da expressão em alemão, que significava um copo de aproximadamente meio litro. Os mestres cervejeiros  nos tempos idos pediam “o chope” direto dos tanques de maturação e por analogia o termo pegou. Em inglês chope é “beer on tap” e em alemão, “von fass”.

Outra boa explicação é a dos adjuntos, que podem ser de “produtividade” ou de “estilo” na classificação de Beltramelli. Os primeiros servem apenas para diminuir o custo, diminuindo o sabor e não acrescentando nuances de sabor – pelo contrário. São fontes de amido com o o milho e o arroz nas Américas, o painço na África e o mesmo arroz na Ásia.

Os adjuntos de estilo são aqueles que acrescentam sabor à cerveja, e podem ser de vários tipos, como o coentro das witbiers, frutas ou vegetais como a abóbora e o gengibre. Também pode-se ter sal, açúcar, mel, chocolate, café…

A parte teórica se encerra com as escolas cervejeiras: a alemã (no vídeo temos a explicação, junto com uma introdução às outras escolas), a inglesa, a belga e a americana. Maurício também mostra que estamos longe de ter uma “escola cervejeira” brasileira.

Ao final da parte teórica fomos para o bar, que fica anexo, para a degustação propriamente dita. Algumas dicas são dadas no princípio, tais como:

– Atenção desde o momento de sentir e servir;
– Observar a coloração e a espuma;
– Sentir o aroma;
– Sorver pequenos goles, e após, gole generoso, preenchendo toda a boca;
– Expirar levemente pelo nariz;
– Tentar identificar o final;

Foram doze cervejas degustadas: cinco lagers e sete ales, a saber abaixo – em ordem crescente de degustação:

Lager:

– Standard American Lager: Antarctica Sub Zero (Brasil);
– German Pilsner: Krombacher (Alemanha);
– Bohemian Pilsner: Pilsner Urquell (República Tcheca);
– Schwarzbier: Falke Ouro Preto (Brasil);
– Rauchbier: Bamberg Rauchbier (Brasil)

Ales:

– Hefeweizen/Hefeweissbier: Paulaner Hefe (Alemanha);
– Extra Special Bitter (ESB): Anderson Valley Boont ESB (EUA)
– India Pale Ale (IPA): Colorado Indica (Brasil);
– Stout: Guiness (Irlanda);
– Belgian Golden Strong Ale: Brigard (Bélgica);
– Fruit Beer: Floris Morango (Bélgica);
– Lambic/Gueuze: Parfait Marriage Gueuze (Bélgica);

O leitor deve estar estranhando a presença da Antarctica Sub Zero abrindo a degustação. Mas a ideia foi justamente mostrar os problemas que as cervejas de massa possuem – e quando se degustam duas pilsneres alemãs e tchecas na sequência a diferença é gritante.

Como se vê na foto havia água em abundância para se beber entre uma cerva e outra, a fim de limpar o paladar e retardar o efeito do álcool. Mas tenho de confessar que nas duas últimas estava mais interessado em bater papo que propriamente prestar atenção nas explicações… Das doze selecionadas eu somente não conhecia a Krombacher e a Brigard.

Percebi também que vinha fazendo tudo errado nas degustações que vinha empreendendo. Estou ansioso para colocar em prática aqui no Rio de Janeiro, com amigos.

O curso finalizou por volta de 18:15 com a entrega dos certificados (abaixo) e a confraternização geral. Eu ainda fiquei conversando com Beltramelli e outros participantes até bem mais tarde.

Me chamou bastante a atenção a diferença da Colorado Vixnu que bebi em garrafa no Brejas com o chope que havia degustado em porto Alegre. Surpreendentemente a cerveja de garrafa me pareceu bem melhor. Também fotografei uma garrafa da Samuel Adams Utopias, uma das brejas mais alcoólicas do mundo (47%), abaixo, mas não me atrevi a experimentá-la – até pelo alto custo.

Digo ao leitor que valeu muito a pena ter feito o curso. Sistematizei conhecimentos, aprendi a fazer uma degustação e passei um dia bastante agradável em Campinas. De acordo com o site Brejas, a próxima turma será dia 14 de julho. É uma boa dica.

2 Replies to “Degustação de Cervejas e Cultura Cervejeira”

  1. Desses estilos, só não gosto muito do Fruit Beer e detesto a Sub Zero. Mas um dos meus preferidos não foi contemplado, o Dark Strong Ale belga – inclusive falei sobre isso com o Beltramelli.

    Ando em uma fase de belgas por um lado e IPAs e releituras por outro.

    grande abraço

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