Nos dois casos percebeu-se uma notória insatisfação com as soluções que a União Européia está propondo para a crise, baseadas na austeridade monetária e na prioridade dos direitos dos grandes bancos sobre os demais agentes econômicos. Escrevi artigo em julho do ano passado onde previa que os custos sociais seriam imensos e isso se refletiria na deterioração ainda maior das finanças dos países em crise.
Em ambos os casos citados os partidos no poder foram alijados do mesmo: na França os socialistas venceram as eleições presidenciais e na Grécia os dois principais partidos levaram uma surra nas urnas, abrindo espaço para um campo fragmentado onde vários partidos obtiveram votações dignas de nota e de cadeiras no Parlamento. Chama a atenção o sufrágio obtido pelo comunista KKE (8%) e em especial o partido neo-nazista de extrema direita Aurora Dourada, com 7% dos votos.
Lembro ao leitor que, por mais que o nazismo alemão tenha sido cruel – e foi, Hitler ascendeu ao poder na Alemanha sob um amplo apoio popular. O nazismo foi a resposta extremista encontrada a uma gravíssima crise econômica e às consequências tanto da Primeira Grande Guerra como das reparações impostas ao país vencido pelo Tratado de Versalhes, que previa além de um pagamento em dinheiro a perda de colônias e de parcelas de seu território. Como resultado houve grave crise econômica – a Alemanha havia sido arrasada pela guerra e ainda tinha de pagar pesadas compensações aos vencedores, hiperinflação e um quadro de deterioração social absolutamente gravíssimo.
O nazismo, solução extremista, foi a resposta dada pela Alemanha e seu povo àquela situação de crise, humilhação e desespero. Naquele momento pensou-se nos interesses de quem detinha o poder global, ignorando-se a questão social e o bem estar dos povos. Hitler como resposta apostou em uma economia relativamente centralizada, fortalecendo os grandes grupos econômicos e redinamizando a economia alemã através da reativação da máquina de guerra. A própria guerra aos judeus tinha fundo muito mais econômico que propriamente doutrinário – a questão da “raça inferior” em minha análise era claramente um subterfúgio.
Deu no que deu.
Ironicamente, o que assistimos hoje é que a Alemanha, na figura de sua primeira ministra Ângela Merkel, ocupa o lugar de potência dominante que visa apenas seus prórpios interesses – no caso, o dos bancos. Além disso a premier alemã, como representante de uma corrente conservadora, vem defendendo soluções de austeridade monetária e fiscal que, como explicarei abaixo, tendem a agravar a crise.
Como resposta a esta postura da Alemanha – que tem peso decisivo nas decisões da União Européia e, na prática, comanda o Banco Central Europeu – ocorrem dois movimentos simultâneos: todos os governos vem sendo varridos nas urnas e a extrema direita de inclinação fascista e nazista vem ganhando espaço – e, em menor escala, a extrema esquerda também. É sintomático que a filha do líder neo nazista francês Jean-Marie Le Pen tenha obtido incríveis 19% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais francesas.
Os judeus de ontem são os imigrantes e os muçulmanos de hoje. Em uma economia recessiva, sem emprego e com poucas perspectivas é natural que uma pregação que responsabilize os estrangeiros e em especial os muçulmanos como “culpados” pelos desempregados estarem sem trabalho. Não é familiar, leitor?
Em termos econômicos, a solução seria algo contrária às medidas de austeridade propostas pela primeira ministra alemã e ratificadas por outros governantes. A redução de gastos do Estado e dos gastos sociais tende a diminuir o consumo, gerando uma menor arrecadação de impostos e consequentemente menor capacidade de pagamento do serviço de dívida aos bancos credores. Então temos nova rodada de cortes, e…
É um círculo vicioso.
Como já salientou o presidente eleito francês Françoias Hollande, a Europa precisa de uma solução de acordo com a toria keynesiana: um aumento dos gastos do Estado e redistribuições do sistema de impostos aliado a uma elevação da proteção social, de forma a fazer crescer a demanda agregada da economia (o poder de compra da população) e a partir daí aumentar a geração de renda e a arrecadação de impostos. É uma saída que diminui a tensão social, afastando o risco de soluções extremistas chegarem ao poder, e permite uma maior saúde financeira aos Estados nacionais em crise.
Aliás, foi exatamente o que o governo brasileiro fez quando da crise mundial de 2008: estimulou o consumo de forma a manter alta a demanda agregada e a atividade da economia. Resultado: o Brasil foi um dos países que menos sentiu os efeitos do tsunami global àquela ocasião.
Entretanto, a premier alemã é contra, identificada que está com os interesses dos bancos credores, quase todos alemães. Vale mais o pagamento integral da dívida, jogando a conta nas populações dos países e gerando uma tensão social crescente – que se reflete em xenofobia, racismo e no apelo a soluções extremistas. Cabe aos líderes europeus tomarem as decisões acertadas do ponto de vista econômico e político, de forma a tirar a Europa da crise e evitar a ascensão de novas formas de “nazismo” em seus países – que, como a História ensina, não acabam bem. Extremismos, convulsões sociais e barriga vazia andam juntos, não podemos nos esquecer – e a escalada da intolerãncia, infelizmente, já começou.
Francois Hollande entendeu isso. Ângela Merkel ainda não.
legal mas; uma dica detalhe resuma mais meu professor e do tipo q espera todos lerem para nos liberar pro receio
achei um maximo
Matéria muito boa, ou melhor, supera expectativas !!
Parabéns, para nós pré vestibulandos, perfeito !!!
porfavor, continue escrevendo
Parabens! Gostaria de agradecer o fato de voce ter escrito isso, pois me ajudou bastante com a minha pesquisa. Inflação e PIBinho fazem de 2014 um ano dificil para quem produz. Preparamos 10 cuidados para enfrentar crise.