Neste dia 1º de Abril, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar, não poderia ter outro tema: o Dia da Mentira.
Sem delongas, vamos lá:

Salve a Mentira
Seguindo a minha coluna do domingo anterior, podemos dizer que um dos maiores vilões da humanidade é a mentira. O que é mentira também: eu pelo menos não vejo a mentira assim e tem até um samba de quadra que compus com o meu parceiro Cadinho da Ilha e concorremos no Boi da Ilha que dizia “Quanta hipocrisia/se a verdade fosse bela ninguém mentiria”.

Por que falo sobre esse assunto hoje? 

Muito simples, hoje é domingo, 1° de abril, conhecido como o dia da mentira. Porque é hoje não sei e se alguém me contar o motivo acharei que é mentira.

Hoje é o dia de se legitimar a mentira. Contamos mentiras o ano inteiro, mas hoje ele é tratado com humor e tranquilidade.

Tudo começa na mentira. 

A nossa vida começa com mentira quando nossos pais nos aterrorizam para comermos tudo e sermos obedientes, senão o bicho papão ou o velho do saco vai nos pegar. Mentira, eles não existem. Nossos pais querem que a gente coma tudo e sejamos obedientes para assim não ‘torrar’ suas paciências e seguir a cartilha de bons modos e crescimento feliz que o mundo politicamente correto hoje nos impõe.

O que é uma mentira também. O mundo hoje é todo certinho, politicamente correto, mas como diriam os paulistas as “tretas” ou as “crorofilas” continuam por baixo dos panos. Gente que posa de moralista e faz sacanagem, político que promete ajudar a população e pega propina, desvia dinheiro da saúde e da educação, pastor que chora na TV, chuta santa e tem fazenda… A lista é longa.

Papai Noel e Coelhinho da Páscoa não existem. Você é que se ferra para comprar presente no Natal e ovos de Páscoa para esses seres imaginários levarem a fama. Você mente quando conhece uma mulher: se faz de santinho, romântico, com as melhores intenções – quando muitas vezes quer sexo apenas – e a mulher mente se mostrando uma pessoa compreensiva – e daqui a alguns anos ficará irritada com seu futebol na TV.

O casal mente ao pé do altar prometendo respeitar um ao outro e se dedicar na saúde e na doença até que a morte os separe. Nada: o divórcio separa antes. O casalzinho apaixonado diz que ficará junto eternamente e se chama de “meu bem” e… Na hora da separação o “meu bem” vira “meus bens”.

A mulher pergunta se engordou e mesmo sendo visível o processo de engorda o marido diz que não. O marido pergunta se a mulher gozou e ela responde que sim quando na verdade quase dormiu. Entre uma mentira e outra vamos sendo felizes.

No Natal aquela falsidade para fechar o ano em que todos se amam quando na verdade se odeiam e só estão juntos porque a matriarca da família está velhinha e pode ser seu último Natal. A rabanada tá gordurosa, o pernil tá sem sabor, mas todo mundo canta ao som da Simone “Então é Natal e o que você fez, o ano termina e nasce outra vez” irradiando alegria e felicidade quando ninguém mais aguenta ouvir a Simone.

Aí chega a virada do ano e vêm as primeiras mentiras. Esse ano vou guardar dinheiro, esse ano arrumo um emprego melhor, segunda feira começo regime…

… mentira, o ano será igual ao anterior e na virada fará a mesma promessa.

O jogador de futebol é contratado pelo clube, beija a camisa e diz que é torcedor desse clube desde criancinha. Enquanto os torcedores bobões acreditam e fazem cânticos para homenagear o novo craque ele pensa nos milhões que receberá e em uma futura transferência para a Europa.

Os pais fingem que acreditam quando a filha diz que ainda é virgem, o guarda finge que não viu o documento vencido em troca de uma cervejinha e mente em seu relatório, o preso mente e jura que é inocente, o deputado que não é miliciano e o governo mente dizendo que é honesto.

Tulio Maravilha mente dizendo que está perto dos mil gols, Ziraldo que nunca falhou na cama, Victor Fasano que não é gay e Pedro Migão que não é maluco.

Aliás, falando no Fasano muitos atores mentem uma heterossexualidade que não existe e outros fazem campanha contra as drogas e depois sobem o morro para dar dinheiro a traficante.

Aí chega o carnaval e você vê que a fantasia não é apenas roupa de componente da escola de samba. Muitos dizem que colocaram dez milhões em seus carnavais na avenida quando botaram quatro e o restante se desviou por aí. A Lesga diz que seu carnaval é justo e milhares de otários compram ingressos para ver desfiles onde depois explodem suspeitas de já estarem decididos seis meses antes – pelo menos. O prefeito vai e mostra que tudo mudará para seus eleitores acreditarem quando ele só quer votos e as outras escolas mentem mostrando indignação – quando só estão esperando sua vez.

No fim todos jantam uma deliciosa pizza napolitana.

O bicheiro diz que não é bicheiro e que está afastado da escola, o presidente da agremiação diz que sua disputa de samba-enredo será limpa e no fim o samba campeão é envolto de suspeitas, o cantor e o diretor mentem dizendo que não se envolveram na disputa e todo mundo acredita que o melhor sempre vence. [N.do.E.: Isso quando não dão “volta” em defunto para faturar uns trocados…]

A rainha de bateria jura de pés juntos que não pagou pelo cargo e o jurado tira ponto do samba acusando falta de “riquesa” na obra. Aí é a pior mentira: um idiota fingir que entende de algum assunto quando não domina nem sua língua pátria.

A mentira pode ter pernas curtas como também pernas rápidas como de Ben Johnson que é o personagem principal da maior farsa da história dos esportes. De Nelsinho Piquet que provocou um acidente para ajudar Fernando Alonso na F1, da Ferrari mandar Rubinho e Massa darem passagem a seus companheiros de equipe ou de Maradona, o gênio dopado.

A mentira pode ser violenta e perigosa como inventar que um país tem armas químicas para arnar um ataque e derrubar seu ditador.  A mentira pode vir de um candidato a presidente que acusa seu adversário de ter planos de confiscar a poupança do povo caso seja eleito e ele mesmo fazer isso.

A mentira pode vir do choro do psicopata como Guilherme de Pádua que foi ao enterro de Daniella Perez, sua vítima ou de Alexandre Nardoni chorando a morte da filha que caiu da janela quando ele mesmo jogou.

Mentiras com gosto de sangue.

Ou mentiras podem vir de verdades como as benfeitorias que Hitler realizou na Alemanha, mostrando que verdade e mentira nem sempre são antagônicas.

Verdade e mentira andam juntas e nós precisamos das duas para viver. Verdade seja dita e não tem nenhuma mentira nisso: se todo mundo apenas falasse a verdade seria insuportável viver.

Existe a mentira para ferir, a mentira para se tirar proveito, a mentira para poupar e a mentira para entreter como os atores e escritores que inventam histórias e personagens que quando são feitos com qualidade passam a impressão de existirem.

E afinal quem criou o mundo? Deus ou o big bang? O mundo acaba em 2012 ou não? Até o início e o fim da vida estão envoltos de verdades e mentiras.

E quem garante que eu acho isso tudo mesmo que escrevi acima e não estou mentindo?

1° de abril… Orun Ayé!

One Reply to “Orun Ayé – "Salve a Mentira"”

  1. Bem Johnson não foi uma farsa por si. Carl Lewis estão tão ou mais dopado do que ele e levou o ouro.
    O problema com o Ben Johnson é que ele era canadense, não americano.

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