Nesta segunda feira, temos mais uma coluna “Bissexta”, de autoria do advogado Walter Monteiro. O tema de hoje é a cerveja, em artigo onde, confesso, discordo da primeira à última linha – e que será tema de post quando retornar ao Rio de Janeiro, ainda esta semana.
Somente lembro aos leitores que o mercado de cerveja de massa e o de cervas especiais é complementar, não excludente.
O Momento é da Cerveja
O especialista em cerveja, claro, é o Editor Chefe, que regularmente nos brinda com artigos sobre o tema. Embora eu tenha trabalhado para a indústria cervejeira por quase 10 anos, o meu conhecimento técnico é bem rasteiro. Minhas observações se restringem ao que percebo ao meu redor. 
Tenho uma casa em Canela, na Serra Gaúcha, onde costumo passar os finais de semana. Como muita gente anda escolhendo o local para férias (inclusive o próprio Editor me visitou ontem lá no meu refúgio, pelo menos era o previsto), o artigo serve como mini dicas, embora a ideia, insisto, seja falar de cervejas. 
Voltei a um local que gosto muito, EMPORIO CANELA, pertinho da famosa Catedral de Pedra. Sempre que vou lá me contento com capuccinos e chocolates quentes, mas o calor incomum que assolava a cidade me animou a pedir cerveja. Já me assustei com o cardápio: dezenas de opções, cada uma mais estranha que a outra. Escolhi uma qualquer, fiquei esperando. 
Ao invés da cerveja veio um rapaz, com uniforme diferente dos demais garçons, vestindo uma camisa de uma importadora de cervejas. Achei que fosse uma espécie de sommelier de cervejas. Pediu desculpas, disse que não tinha a minha escolha, me sugeriu uma cerveja mineira, custava R$ 30,00. Aceitei. [N.do.E.: era a Wals Trippel. Pagou caro]
Trouxe um copo diferente: parecia aquelas antigas taças de champanhe antes de popularização das flutes. Encheu o copo em um ritual estranho, girando a garrafa. Bebi tudo, mas achei forte, não quis repetir. Pedi uma mais leve. Ele me deu várias sugestões. Fiquei com uma espanhola, de trigo, R$ 13,00. Veio outro copo estiloso, compridão, fino. Outro ritual na hora de servir, graças ao trigo, me explicou. Com os 10%, eram quase R$ 50,00 e apenas duas cervejas long neck.
De noite fui em um bar estiloso que abriu perto da minha casa, BOTECO DO BILL. A Serra Gaúcha, como o Brasil inteiro sabe, é um local conhecido como região produtora de vinhos e o maior consumo per capita da bebida do país. No cardápio do bar novinho em folha, seis variedades de vinho importado, as mais óbvias possíveis, outras cinco de vinho nacional e olhe lá. 
Já de cerveja… 
Bom, o cardápio começa com uma pequena lição sobre a cerveja. Que continua no jogo americano das mesas. Páginas e páginas de cerveja, para todos os gostos e bolsos, a maioria custando mais de R$ 50,00. Até por R$ 130,00 tinha cerveja ali. 
Só de chope eram 3 opções e nenhuma era Brahma ou Heineken. Um chope artesanal, feito exclusivamente para o bar, a irlandesa Guiness ou a brasileira Eisenbahn. Mesmo escolher entre os chopes não era tão fácil, porque eram diferentes tamanhos – e copos, claro, porque cada marca tinha o seu copo específico.
Quando eu era adolescente, nos longínquos anos 80, chique era beber uísque. O máximo da sofisticação era a pessoa chegar em um bar e comprar uma garrafa de scotch. Quanto mais antigo e caro, mais prestígio. Melhor que isso só a pessoa ter a sua própria garrafa guardada no bar, com uma régua ao lado mostrando as doses que tinham sido consumidas e uma etiqueta assinada personalizando a garrafa. Me lembro que investi uma parte do meu salário de advogado iniciante na compra de uma dessas garrafas, na esperança de impressionar algumas incautas.
Esses clubes de uísque nem existem mais [N.do.E.: aqui no Rio ainda existem sim]. E beber uísque em público e em grandes quantidades virou coisa de coroa ou de bêbado. Se você é jovem, ou ao menos pretende aparentar sê-lo, só deve beber uísque misturado com Red Bull.
Depois foi a era do vinho. Aqueles vinhos alemães doces, todos aqueles Beaujolais Noveau que a gente corria para comprar, todos aqueles vinhos de garrafão que a gente comprava com os trocadinhos que sobravam e dividia alegremente para espantar o frio em São Lourenço, Minas Gerais, de uma hora para outra viraram sinônimo da nossa ignorância, caipirice e cafonice.
Há uns dez anos eu me meti em um curso de vinhos. Já estava incomodado com o meu completo desconhecimento sobre o tema, não pegava bem deixar de reconhecer as diferenças entre um cabernet franc e um shiraz.
O curso não elevou tanto assim minha auto estima, porque enquanto meus colegas percebiam cheiros exóticos como pedra de isqueiro, capim molhado e xixi de gato, eu, pobrezinho, só conseguia diferenciar se o vinho tinha cheiro de madeira ou não, nada além disso. Aliás, cheiro não, aroma.
Esse curso, devo confessar, fez um mal danado ao meu bolso. Porque eu comecei a gastar dinheiro pesadamente com vinhos caros. Pagava R$ 150,00 em uma garrafa como se fosse algo natural. Sempre que eu viajava tinha que comprar algumas garrafas de vinhos caros. Comprei uma adega, sob protestos da esposa, coloquei no meio da sala. E nada de sentir os tais aromas que me prometiam. Os vinhos, vá lá, eram gostosos. Mas custavam o mesmo que uma gravata Hermés, que eu acho caríssima, mas pelo menos dura anos no meu armário.
Me libertei da adega, me libertei dos vinhos caros. Hoje, quando eu quero beber vinho, vou ao supermercado (sim, ao supermercado, porque nas lojas especializadas logo vem um chato me impregnar com a sua sabedoria) e procuro uma garrafa que custe no máximo R$ 40,00 e que tenha indicação clara de que foi envelhecida em barril. Afinal, se eu só sinto cheiro de madeira, faz sentido que eu escolha vinhos que tenham esse “aroma”. Se eu gosto do vinho, guardo o nome para pedi-lo em um restaurante.
Até aqui a cerveja vinha resistindo com bravura ao esnobismo. Cerveja boa é aquela “mofada”, em garrafa de 600 ml geladíssima, que a gente coloca naquele recipiente plástico para conservar a temperatura, tomada na calçada, de bermuda, chinelo e camisa do Mengão, dividindo com os amigos, observando as moças que passam, discutindo política e futebol. Cerveja tão gelada que nem dá para sentir o gosto.
Ou então aquela que a gente toma no bar de noite, long neck, que fica no baldinho, a banda tocando, a gente cantando junto. Ou ainda no churrasco, metendo a mão no isopor, tomando direto da lata, uma atrás da outra, escutando a roda de samba. Ou no Carnaval, comprada do ambulante, com restos de papel jornal usados para tampar o gelo.
Sempre adorei beber cerveja assim. Será que agora, em plena meia idade, eu vou descobrir que estou bebendo errado? Que aquela latinha que custa R$ 3,00 é o equivalente cervejeiro do Sangue de Boi?
Ao menos para mim, tarde demais. Vou logo avisando que se for para pagar uma fortuna em cerveja eu tô fora, porque vinho eu tomo ½ garrafa, uísque 2 doses, mas cerveja, quando eu bebo, é para valer.
Vou migrar para a cachaça enquanto é tempo, já que, suspeito, a próxima onda elitizadora vai mirar justamente a branquinha nossa de cada dia.