Nesta sexta, em programação especial das férias do dono e editor do blog, mais uma edição da coluna “Bissexta”, assinada pelo advogado Walter Monteiro. Hoje o tema da coluna são as “baladas” para pessoas de mais idade.
O curioso é que também a minha resistência para “viradas” noturnas anda bem menor…
Na Night, depois dos Trinta
Na lista de meus lugares prediletos em Porto Alegre está reservada uma posição nobre para o Teatro Opinião, berço do rock n’ roll na cidade. Disse isso uma vez para o dono do espaço, quando o conheci em uma festa. E ele agradeceu dizendo que o dia mais feliz da vida dele foi quando Bob Dylan tocou lá.
Tenho a sorte de que meus amigos compartilham a mesma preferência, volta e meia tem alguém comemorando aniversário lá no Opinião. Como o lugar é madrugador, rola dose dupla até meia-noite – eu, que sou velho, chego cedo, vou embora nunca depois das duas da manhã. Logo, quando o show começa, eu já estou na mão do palhaço há tempos.
Da última vez que fui, o show era muito irado, só música bacana. A banda mandou umas 4 músicas direto, sem direito à interrupção, só coisa fina. Até que o cabeludo que liderava a trupe pediu a palavra para dar as explicações de praxe. E esclareceu a todo mundo (ou pelo menos a mim, porque talvez os demais já soubessem disso) que estávamos em uma “Festa Anos 90”
COMO ASSIM? WTF?
Pearl Jam agora é retrô? Metallica é vintage? Nirvana está no fundo do baú? Ok, Nirvana ainda vai, Kurt Cobain já se foi faz tempo, mas, caramba, Pearl Jam outro dia mesmo estava aqui, Metallica idem. E desde quando já existe “Festa Anos 90”?
Bom, era só o caso de pensar. Afinal, convenhamos, quem tinha dez aninhos quando os primeiros acordes de “Alive” e “Nothing Else Matters” nos cativaram hoje já tem trinta. E o primeiro sinal de velhice que assola a pessoa é começar uma onda de nostalgia com as músicas da adolescência, aliada a uma inexplicável repulsa aos sons mais atuais.
Eu posso ir a um show sertanejo universitário, se a minha filha quiser que eu a leve, ou a um show de pagode ou até mesmo a um baile funk, mas não me convidem para uma festa “anos 80”.
Primeiro que aquilo que toca costuma ser um pastiche, uma falsificação grosseira do que a gente ouvia. Eu, adolescente, ouvia U2, The Cure, New Order. No cenário nacional, Legião, Paralamas, Titãs. A pessoa vai nessas festas e escuta Rosana, Sidney Magal, Menudo, Ursinho Blau Blau. Eu, hein…
Segundo que só dá coroa nessas bobagens. Alguns casais, claramente desacostumados à vida noturna e se portando como se tivessem vinte anos, mas a maioria é gente divorciada ou solteirona, ainda na pista. E completando o elenco, uma quantidade nada desprezível de gente bem jovem, mas com intenções nem sempre confessáveis.
Os americanos, sempre mais práticos e diretos, inventaram um jeito mais eficiente de divertir essa gente de meia idade. O senhor aí é um Tigrão, mas gosta de uma novinha? Problema nenhum, tem agências especializadas em unir “Sugar Dadies” às “Sugar Babies”. A senhora já está na idade da Loba, mas ainda sonha com um rapazote sarado? A mesma agência tem uma seção específica para as “Cougars” e seus “Cubs”.
Como aqui a gente é menos afeto a essas objetividades, o clube da saudade se esbalda nas festinhas anos 80. As quais, pelo visto, estão com os dias contados, prontas para dar a vez aos anos 90. Afinal, não há mais notícias de gente saindo por aí ao som de Diana Ross e Bee Gees, como já foi moda. Muito menos dançando twist e ouvindo Celi Campelo, como faziam os quarentões da minha infância quando lhes batia a saudade da adolescência deles.
E do jeito que a coisa anda, falta pouco para Black Eyed Peas e Justin Timberlake liderarem a próxima onda nostálgica.
O tempo, ah, o tempo…

One Reply to “Bissexta – "Na Night, depois dos Trinta"”

  1. Esse é o chamado post “impagável”, o melhor dos ultimos tempos. Me identifiquei totalmente com o amigo Walter Monteiro quando ele diz “E o primeiro sinal de velhice que assola a pessoa é começar uma onda de nostalgia com as músicas da adolescência, aliada a uma inexplicável repulsa aos sons mais atuais”. Vivo me deparando a dar aulas ao meu sobrinho (de 20 anos de idade) sobre o que era o Rock de verdade de 20 anos atrás. Realmente o tempo passa e a gente não vê…

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