Em nosso último post deste 2011, faço uma retrospectiva de nossa coluna de entrevistas “Jogo Misto”, que entrevistou diversas personalidades de destaque durante este ano de 2011. Foram vinte entrevistas, sobre diversos assuntos, que renderam declarações interessantes e muitas vezes polêmicas.
Ela esteve meio parada nos últimos dois meses do ano, mas possivelmente será retomada logo nesta primeira quinzena de janeiro, com uma entrevista que deverá agradar muito o amante do samba e em especial os portelenses. Se tudo der certo deverá estar nesta página brevemente.
Faço aqui uma seleta das entrevistas, como uma espécie de retrospectiva. Até porque se fosse fazer a minha retrospectiva pessoal de 2011 este espaço viraria um verdadeiro “muro das lamentações”. Irei poupar o leitor disto.
Aproveito para agradecer a você leitor, que nos deu mais de 100 mil acessos únicos este ano. Espero continuar contando com sua confiança em 2012.
Vamos às respostas. A série completa pode ser vista em http://pedromigao.blogspot.com/search/label/Jogo%20Misto
(Luiz Carlos Máximo, compositor, um dos autores do samba campeão da Portela. Outubro)
Qual a avaliação que você faz do modelo atual de samba enredo?

LCM – Olha, antes de falar do samba enredo atual é preciso discutir as dificuldades que são colocadas para os compositores atuais.

O andamento, que já é um tema batido, é o primeiro obstáculo. A aceleração é inimiga da beleza da melodia. Outro fator que complica são os enredos. As escolas em busca de patrocínios para atender a demanda do carnaval luxuoso escolhem enredos que dificultam – tanto na feitura da letra como também não são musicais.

A forma de disputa também é ruim. A necessidade de um alto investimento financeiro afasta ótimos compositores e inventa outros. E mesmo quando se faz um esforço a disputa muitas vezes é desigual, em razão dos, digamos, “conglomerados” do samba enredo.

Tem também uma  confusão estética que se faz, que é atualmente hegemônica e é prejudicial ao gênero, e é preciso que se dissipe. Acham que alegria só é encontrada em notas agudas.

Então, se você faz um samba com determinados trechos melódicos com notas graves, dizem que afunda e perde a alegria. Tem na história do samba enredo vários sambas antológicos com notas graves e não são tristes. O samba sem a combinação necessária de notas agudas e graves fica muito igual, linear.

Certa vez o compositor, músico e arranjador Claudio Jorge disse assim: “As escolas deixaram de ser de samba pra ser de carnaval”. Ou seja, o negócio não é sambar mas pular carnaval. Tá bom que o andamento em consequência da grandiosidade do número de componentes e o tempo de desfile tenha causado isso. Mas temos que sempre tentar não deixar perder a cadência do samba. O samba não é para pular e sim para dançar.

O carnaval do Rio é com o pé no chão. Não pode perder essa característica.

E o que acha da questão do direito autoral no Brasil? Em sua avaliação, qual é o papel do Ecad neste processo?

LCM – É vergonhoso.

Ecad, editoras/gravadoras, associações de compositores, rádios, TVs. É tudo parte de um único processo em que o criador é prejudicado. No samba, onde a maioria dos autores é de gente humilde e pouco esclarecida sobre esse assunto, o prejuízo é maior ainda.

Quando um compositor é conhecido, com espaço na mídia, e bota a boca no trombone, parece que o problema individual é resolvido. Porque, logo depois, você não vê mais nada no jornal, nos meios de comunicação, e o tal compositor não fala mais nada. É estranho.

Agora, eu não comunguei dessa campanha contra o Ecad. O órgão sempre foi conhecido por ser um antro de irregularidades. Mas descobriram isso agora? Por que a Globo de repente começou a denunciar o Ecad? Será que não tem a ver com o fato da pendenga judicial em que a emissora não aceita pagar os direitos autorais como têm que ser pagos?

E além disso existe um movimento em defesa de um projeto de “flexibilização dos direitos autorais”, que, caso seja aprovado, será a ‘farra do boi’. Usam esse termo “flexibilização”, como usaram em relação aos direitos trabalhistas, pra esconder o significado correto que é o fim dos direitos.

Mas por isso o Ecad tem que continuar deste jeito? Claro que não. Mas isso compete aos maiores interessados que são os autores, que estão sendo prejudicados há muito tempo. Mas reconheço que a briga é difícil pela falta de organização dos compositores, ignorância no assunto e pelo adversário que tem pela frente.

Essa discussão remete à questão da concessão dos meios de comunicação, inclusive.

(Carlos Eduardo Sá, editor do SporTv, compositor e ex-presidente de escola de samba. Setembro)
Por que o SporTv não cita os nomes dos patrocinadores das equipes ou ainda os times que tem nomes de empresas?
CES – Em qualquer empresa de comunicação, o que paga a conta é o Departamento Comercial. Nós temos que ter meios de proteger e beneficiar os nossos patrocinadores.
 
Como foi a experiência de ter sido Presidente do Boi da Ilha do Governador? Quais as principais dificuldades enfrentadas?

CES – Administrar uma escola é o pior pesadelo que existe para uma pessoa de bem.
Você nunca consegue agradar a todos e, numa escola pequena como o Boi problemas brotam de todos os cantos. Tinha um sonho de colocar a escola no grupo A e acordei traído no Grupo C. Quase perdi família e emprego mas era uma paixão. Fazer o quê?
 
(Rafael Lopes, jornalista de automobilismo do portal Globoesporte.com. Setembro)
Qual a avaliação que você faz do automobilismo nacional hoje?

RL – Acho que é uma situação complicada. Vemos muita bagunça, muita coisa errada.

Temos boas categorias, mas o extra-pista acaba estragando boa parte disso. Um problema grave é a formação de pilotos de monopostos, que nos representariam no futuro na Fórmula 1. Só temos a Fórmula Futuro e a Fórmula 3 Sul-Americana. Talvez se o Massa tivesse sido campeão em 2008 o quadro fosse diferente.

Mas também acho que boa parte do público só gosta de ver brasileiro ganhando. Se não ganham, eles não prestam. O que não é verdade, muito longe disso. Muita coisa precisa mudar aqui.

 
Emerson, Piquet e Senna. Qual sua avaliação sobre nossos pilotos campeões do mundo?

RL – Emerson, sem dúvidas, é o pioneiro. Se não fosse ele, provavelmente estaríamos cobrindo futebol ou trabalhando em outra área do automobilismo. Como piloto, um gênio, sem dúvidas. Tinha um estilo muito limpo de pilotagem, bastante inteligente. É um daqueles caras que vale a pena conhecer pessoalmente e ouvir suas histórias.
Nelson Piquet talvez tenha sido o melhor acertador e desenvolvedor de carros da história da categoria. Ele era muito rápido, mas sabia ser conservador nos momentos corretos. Mestre em se impor em condições adversas, como quando boa parte da equipe torce e apoia o companheiro – lembram de Mansell em 1987? Com personalidade forte, não tem medo de falar o que pensa. E isso é uma grande virtude nos dias de hoje.
Ayrton Senna, para mim, é o melhor piloto da história da Fórmula 1. Gênio nos treinos classificatórios, fazia poles como ninguém. Infelizmente teve sua carreira abreviada por aquele acidente na Tamburello. Se isso não tivesse acontecido, sabe-se lá o que ele poderia ter ganhado. Foi protagonista de várias corridas que, até hoje, entraram para os anais da categoria. O maior dos gênios, na minha opinião.
 
(Flavia Cirino, Assessora de Imprensa do Salgueiro. Setembro)
Você já esteve “do outro lado”, como repórter de carnaval do Extra e de outros veículos. Quais as principais diferenças entre um posicionamento e outro?

FC – A consciência do que é pertinente ou não para determinados públicos-alvo.

Acho bárbaro, na condição de componente e sambista, o interesse e a vontade de ver o samba verdadeiro nas páginas de jornais. Quem não quer exaltar o samba em sua essência, em detrimento de sambeiros e oportunistas?

Mas na condição de profissional, nos grandes veículos por onde passei, entendo que não é assim que a banda toca. Somo sim condicionados ao que é vendável, ao que o leitor quer – não apenas às vésperas do desfile. E por isso o sambista deve valorizar demais os veículos que existem atualmente, especializados em carnaval. Que venham mais e mais!

Qual sua avaliação sobre o trabalho de assessoria de imprensa no carnaval como um todo?

FC – Estamos evoluindo cada vez mais, cada um ao seu modo; o importante é que o samba, o carnaval, está ganhando cada vez mais vez e voz.

Só acho que em algumas agremiações falta mais liberdade ao assessor para exercer seu trabalho. Felizmente não tenho esse problema, acho que um dos fatores é o fato de eu ser originalmente da escola. Mas vejo colegas dispostos e capazes de fazer muito mais, porem são tolhidos – talvez por falta de visão.

(Fred Sabino, editor de automobilismo do jornal Lance. Agosto)
Emerson, Piquet e Senna. Qual sua avaliação sobre nossos pilotos campeões do mundo?
 
FS – Emerson é o grande responsável por estarmos aqui discutindo sobre automobilismo. Sempre deu a cara para bater, seja ao ir para a Europa, dar uma banana para a Lotus no fim de 1973, trocar a comodidade de uma McLaren pelo desafio de ter uma equipe nacional (acima) ou mesmo ao se aventurar nos Estados Unidos. Devemos tudo a Emerson, que, além de toda sua carreira, que dispensa apresentações, é um gentleman. Está sempre sorrindo e trata todo mundo com extrema educação e simpatia até hoje.

O Nelson é oriundo das oficinas, demonstrou incrível astúcia ao longo da carreira, desenvolvia carros como ninguém e ganhou na marra um tricampeonato numa equipe que estava toda contra ele – o que jamais será visto novamente. Isso tudo sem falar na técnica apuradíssima e velocidade, que também dispensam apresentações. Outro gênio. Fora das pistas, mantém-se fiel ao seu jeito de ser e não tem meias palavras, o que é louvável. Concorde-se ou não com algumas posições, Nelson é coerente e nosso país seria melhor se todos se expressassem suas opiniões sem receios ou melindres.

Já o Ayrton era meu ídolo de infância. Desde pequeno gostava do fato de ele ser arrojado e um lutador seja quais fossem as condições. Ele foi sem dúvida o piloto de maior talento natural da História. Até ele amadurecer, na virada da década, pagou pelo ímpeto e desperdiçou resultados. Mas, com o tempo, manteve-se arrojado, só que com um refinamento ímpar. Fora que ele era um piloto capaz de andar com pneus slicks numa pista úmida, passar quatro adversários na primeira volta, sustentar um carro na pista com a sexta marcha e vencer.. Jamais saberemos o que ele poderia ter alcançado se não tivesse morrido tão cedo.

Em cima de Senna e Piquet, só lamento que uma rivalidade boba criada entre eles tenha fomentado uma parcela de torcedores idiotas que são incapazes de reconhecer o talento de um e de outro e ficam se agredindo nos fóruns de internet por aí. São os mesmos tipos de imbecis que eu citei antes, que não contribuem para o nosso automobilismo e são torcedores de ocasião. Nossos campeões não mereciam isso.

 
Que conselho daria a alguém que pretenda se tornar jornalista esportivo?

FS – Tenha a consciência de que o mundo de fantasia muitas vezes vendido por aí não existe e há muita falcatrua, desvios éticos – inclusive de jornalistas – e é preciso manter a cabeça fria para prosperar sem ser corrompido.

Não seja hipócrita como alguns que dizem que não torcem por determinado clube, mas por outro lado jamais permita que suas preferências influenciem seus textos e seu comportamento. É possível vencer com honestidade e sobreviver ao mar de lama que muitas vezes cresce.

 
(Juan Espanhol, compositor. Agosto)
Qual sua avaliação sobre os sambas compostos nos dias de hoje? E sobre as transformações sofridas por este gênero musical?

JE – Embora grandes compositores especialistas em samba-enredo pelos motivos acima tenham se afastado, ainda encontramos durante as eliminatórias grandes sambas – o Rio é e sempre será um celeiro de Bambas.

Assim como o próprio Carnaval, o samba-enredo também sofreu as devidas mudanças: menos cadência, mais bpm,  para que o visual televisivo tenha mais movimento. O grande problema é que na “escolha” do samba, numa safra de quatro excelentes, conseguem escolher um de razoável pra bom…

 
O que você acha das disputas atuais de samba?

JE – Tristes.

Sou de um tempo em que a qualidade (letra+melodia+andamento e coerência com o enredo) tinham um peso de 80% na escolha. 10% ficavam com a interpretação e os outros 10% com a interação com o público (torcida). Era difícil errar.

Com o tempo, o peso foi se invertendo. A qualidade caiu pra 40%.

Logicamente subiram a interpretação e os “efeitos especiais”(antiga torcida) para 30% cada um… ou seja: se um samba tem um intérprete de primeira linha junto com Neon e/ou laser já garantiu 60% – mais que os 40% que a qualidade do outro pode alcançar….

 e das chamadas “firmas” de samba enredo?

JE – Foram as tais “firmas” ou “escritórios” que provocaram as disputas mencionadas acima. Espalham suas obras por todas as escolas do Especial e de uns tempos para cá até nos Grupos de Acesso.

Tem sempre pelo menos um dos seus factóides (falsos compositores que assinam a obra) onde dinheiro não é problema – tanto para o palco quanto para o laserr e as cervejas e churrascos da torcida. O final do filme já sabemos.

Posso falar de cadeira porque fui convidado para fazer parte do “primeiro” escritório montado. Recusei-me e mantive a palavra de não revelar de quem partiu o convite. Hoje devem existir pelo menos uns cinco ou seis escritórios, nos mesmos moldes, uns brigando contra os outros..

O engraçado é que existem factóides humildes, mas existem aqueles que enchem o peito para dizer que são tri, ou tetra, ou até penta-campeões em determinada escola. Mais de uma vez tive que dar as costas para que não me vissem meu sorriso irônico….

(Lívia Gesta, dentista. Agosto)
Iniciando a entrevista legislando em causa própria: por que as pessoas tem tanto medo de dentista?

 
LG – Antigamente, os métodos e materiais usados pelos dentistas realmente causavam desconforto ao paciente – como, por exemplo, agulhas grossas para dar anestesia no paciente.
Porém, hoje em dia esse tipo de reclamação não procede mais, já que houve um grande aperfeiçoamento dos equipamentos e procedimentos dentais.
Outro motivo é que grande parte dos pacientes procura o dentista quando sente dor no dente. Com isso,acham que como já estão sentindo dor no dente sentirão mais ainda na cadeira do dentista.
Existem também pacientes traumatizados durante a infância, seja por causa de alguma ida ao dentista, seja por causa dos próprios pais. Outro dia eu estava na fila do supermercado e tinha um garotinho fazendo malcriação. A mãe virou-se pro garotinho e falou “se você não se comportar, eu te levo pro dentista agora”. Complicado…
 
Qual a razão do custo muitas vezes elevado dos tratamentos?

 
LG – existem vários tipos de materiais no mercado e a variação de preço é muito grande. Um material de boa qualidade é caro, logo a gente repassa o valor do material no valor do tratamento.
Além do mais, um bom dentista está sempre se atualizando. Para isso tem que fazer especializações, cursos, ir a palestras, congressos, comprar CDs e livros. Tudo isso tem um preço elevado, que também é repassado no valor do tratamento.
E também o profissional tem que pagar impostos relacionados à profissão: aluguel (em caso de consultório alugado), condomínio, contas (luz,telefone). Enfim, o valor cobrado pelo dentista é um somatório de valores que o profissional gasta e que tem que ser repassado para o paciente.

 

(Maurício Beltramelli, especialista em cervejas. Agosto)
Você acredita que o Brasil tem condições de ter um “estilo próprio” de cerveja? Qual seria? O que você acha do quadro atual de cervejas especiais nacionais?

MB – Olha, a gente está muito longe disso. 
Quem hoje fala sobre escola cervejeira brasileira talvez precise estudar um pouco mais sobre a história das outras escolas cervejeiras – inclusive a americana, que começou há 20, 30 anos antes da nossa, que ainda hoje não é considerada por muitos uma escola cervejeira. 
Então não adianta você fazer uma cerveja e colocar frutas brasileiras na cerveja que você vai dizer que é uma escola cervejeira brasileira. Isso na minha concepção não existe. 
Você pode fazer uma cerveja diferente com quaisquer frutas do mundo inteiro. A gente precisa primeiro ter cerveja boa. Eu compartilho da opinião do Alexandre Bazzo, da Bamberg, de que aqui no Brasil a gente ainda precisa estudar muito para fazer uma cerveja boa, porque a nossa cerveja ainda é abaixo da crítica. Pra gente pensar daqui a muitos anos, com esse estudo e evolução, pensarmos em ter nossa escola cervejeira.
 
Para o leitor iniciante no assunto e que se resume a grandes marcas, que tipos e marcas de cerveja você indicaria para se iniciar um “passeio” pelo mundo das cervejas especiais e artesanais? 

MB – Eu indico todas as cervejas Weissbier, cervejas de trigo. 
Até por experiência lá no BarBrejas, a gente recomenda pra pessoas que querem comprovar algo diferente, e também para não se assustarem com cervejas diferentes daquelas que estão acostumados. Então, as cervejas de trigo, Weissbier, são ideais para que a pessoa inicie num mundo diferente das cervejas Pilsen. Ao mesmo tempo são refrescantes, acho uma boa alternativa para a pessoa iniciar.
 
(Anderson Lopes, treinador de futebol e DJ. Julho)
 
Por que as divisões de base dos clubes brasileiros, hoje, vivem um período de clara “entressafra” na revelação de talentos?

AL – Basta você ver uma competição de Sub-13, Sub-15, que você começa a entender. Os treinadores se preocupam em ser campeões para manter o emprego.

O critério pra avaliação de jogador hoje em dia mudou também. Um garoto de 12, 13 anos, pequeno e franzino, a não ser que jogue uma enormidade não tem muita chance nos grandes clubes hoje em dia. A preferência, de uma maneira geral, é por jogadores de porte físico maior.

Isso se reflete na frente. Um monte de jogador que começou na base jogando de atacante ou como meia criativo, quando chega ao sub-20 acaba virando volante, lateral, para “sobreviver” no futebol.

A preocupação com a parte técnica do jogador também tem sido deixada de lado na base. A preocupação, pelo menos onde eu acompanho, é mais com a parte tática. O talento nunca vai deixar de existir, mas hoje ele não tem sido privilegiado como deveria.

 
Como seria uma estrutura de treinamento considerada adequada para um grande clube? Que tipos de treinamentos são mais adequados?

AL – Principalmente na base – hoje em dia já tem competições de sub-11, em alguns lugares, até de sub-9 – a preocupação precisa ser com a formação do jogador, sem a cobrança por resultados. A parte técnica tem que ser estimulada ao máximo nessa fase, e não tolhida.

Os treinos que estimulam a criatividade, que forçam o jogador a pensar em resolução dos problemas que o jogo apresenta, são os mais adequados. Quanto mais o jogador pensar, mais apto ele vai estar para utilizar seu talento e sua criatividade.

A gente entende que os clubes grandes sobrevivem de resultados, mas na minha modesta avaliação, a criação de uma cultura onde o jogo inteligente e criativo é a tônica é a melhor maneira de produzir jogadores mais completos – o Barcelona é o grande exemplo disso. O jogo que eles produzem no time profissional é a ponta de um trabalho que começa na base. A questão é, também, cultural.

 
(Marco Aurélio Mello, jornalista. Abril)
 
Por que se faz necessária uma lei que regulamente os meios de comunicação brasileiros? Você acha que há equilíbrio na cobertura jornalística?

MAM – A chamada “Lei dos Meios” é fundamental porque, hoje, meia dúzia de patrões decidem o que um país de 200 milhões de habitantes vai ver pela lente de aumento que, por incrível que pareça, não é deles mas de todo o povo brasileiro. Afinal, eles são concessionários e não donos dos meios.

 
Qual o papel das novas mídias em comparação ao jornalismo tradicional?

MAM – É um aumento brutal de possibilidades de informação.

A partir de agora, só “pensa dentro da caixa”, ou quem é muito limitado, ou quem é muito alienado. E se existe um modo novo de acabar com o segredo ele se chama Wikileaks. Só contruiremos um mundo melhor com transparência absoluta.

 
(Ricardo Kotscho, jornalista. Março)
Qual a avaliação que o senhor faz dos jornais e do jornalismo televisivo de hoje?

RK – É muito difícil generalizar uma avaliação da imprensa brasileira porque virtudes e defeitos variam de um veículo para outro e até mesmo entre profissionais do mesmo veículo.
De uma forma geral, em todas as plataformas, na nova e na velha mídia, acho que temos hoje Brasília demais e Brasil de menos na nossa imprensa, quer dizer, muito noticiário de gabinete e poucas histórias da vida real. Isso torna a nossa imprensa muito indiferenciada, muito repetitiva, muito burocrática, sem alma.
 
Como era o ex-Presidente Lula fora da liturgia do cargo? O senhor que o acompanha há mais de trinta anos percebe muitas mudanças na trajetória política do ex-presidente?

RK – Fora do cargo, o presidente Lula não mudou nada, manteve o mesmo jeito simples de sempre e de brincar com seus amigos. Na trajetória política, ele deixou as posições mais radicais do começo da carreira, na época da resistência à ditadura militar, e passou a ser mais conciliador, fazendo alianças que permitissem ao seu governo oferecer melhores condições de vida para todos os brasileiros.
 
(Lédio Carmona, jornalista esportivo. Março)
 
Por que o mundo do futebol é um meio tão sem ética?

LC – Porque quem comanda, com as exceções de sempre, confunde política com esporte. Alem disso, não tem com os clubes o mesmo cuidado que mostram à frente de suas empresas. E, por fim, usam a muleta de que são torcedores para justificar seus desmandos.

 
Como funciona uma transmissão “off tube”? No estádio presta-se mais atenção ao monitor ou ao campo?

LC – A grande diferença é que no estádio você tem a visão do monitor e de todo cenário à frente. No monitor, sua visão se limita a 14 ou 16 polegadas. Esquema tático “WM” off tube é quase uma miragem.

 
(Felipe Ferreira, pesquisador de carnaval. Março)
Você já participou de cursos de formação de jurados do carnaval. Como funcionam estes cursos? De que forma o julgamento das escolas de samba pode ser aperfeiçoado a fim de se tornar mais fiel ao que se vê na avenida e, ao mesmo tempo, ser menos burocrático e mais criterioso?

FF – A formação dos jurados não pode se resumir a esmiuçar e fiscalizar o cumprimento de regras, mas, principalmente, fazer com que elas sejam interpretadas com bom senso. Um jurado não pode ser reduzido a um fiscal de posturas, devendo ser alguém capaz de perceber as propostas e cada escola e suas traduções no quesito que ele julgar. 
Por outro lado, os critérios de julgamento e de notas estão bastante defasados e precisam ser revistos urgentemente. Minha sugestão é que as escolas deixem de ser julgadas por notas, mas colocadas em ordem dentro de cada quesito. Acredito que reforçando a comparação entre as escolas poderemos evitar as notas benevolentes. 
Outra solução seria a ampliação do corpo de jurados para dez em cada quesito, espalhados sem identificação pela avenida. As notas que se afastassem excessivamente da média por quesito seriam eliminadas.
 
Que principais manifestações carnavalescas fora do Brasil você diria que são as mais importantes? Por quê?

FF – Existem muitas manifestações carnavalescas importantes fora do Brasil. Dentre elas destaco a Festa dos Gilles, na cidade de Binche, na Bélgica, pela força de sua tradicionalidade baseada em rituais minuciosamente seguidos. 
Muito imponente também são os desfiles de alegorias da Viareggio, na Itália, com imensos carros alegóricos carregando grandes esculturas móveis e grupos de dezenas de foliões fantasiados. Na América do Sul, destaco o carnaval de Barranquilha, na Colômbia, uma festa de ares caribenhos com muitas manifestações e rua; e a diablada de Oruro, na Bolívia, com uma grande variedade de grupos fantasiados em disputa, onde se destacam os famosos diabos, símbolos da resistência ao colonizador e da própria cidade.
 
(Luiz Alexandre, Major da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Março)
Na opinião do senhor, porque a corrupção nas Polícias é tão endêmica? O que leva a esta situação? Qual a percentagem da corporação que está imune a este tipo de prática? 

LA: A corrupção nas polícias é endêmica porque retrata a corrupção na nossa sociedade. Temos uma sociedade extremamente corrupta, onde não há o honesto e o desonesto, mas o esperto e o otário. 
A polícia somente espelha a nossa sociedade. Já vi, quando à paisana, policiais agindo corretamente e, quando saíam, as pessoas reclamavam por terem feito o certo. 
A polícia não forma caráter, ele já vêm da família. A polícia forma, mal e porcamente, policiais. Como mostrar a esse homem que entra na polícia que ele não pode ser corrupto quando, ao olhar em volta, para cima e para baixo, é só o que vê? 
Como evitar que o policial não deixe de aplicar uma infração de trânsito por dinheiro quando ela é muitas vezes “quebrada” pelos superiores por pedidos de políticos ou de amigos? 
Como evitar que um policial recém-formado não se envolva com o crime quando a maioria absoluta dos membros das corporações policiais está envolvida, inclusive superiores com as maiores patentes e cargos? 
Não há imunidade para a corrupção em uma estrutura corrupta, mas há somente força de vontade. Há alguns anos ouvi de um soldado (honesto), com alguns poucos anos de polícia, que assim que entrou na PM a esposa perdeu o emprego. Ele disse que devido às dívidas chegou a não ter o que comer em casa. E levava a família (esposa e filho) para fazer as refeições no Batalhão. E confidenciou: “Era muito duro. Enquanto eu via dinheiro rolando nas mãos de todo mundo no batalhão, eu não tinha o que comer em casa com minha família.”. 
Isso é força de vontade, superação. Mas como imunizar alguém que não supre suas necessidades básicas e da sua família (pirâmide de Maslow) contra a corrupção? Principalmente quando o que ele vê é a generalização da corrupção garantida por uma impunidade estrutural. 
Minha opinião particular é que a grande maioria dos membros das polícias é corrupta. Mesmo os que não levam dinheiro, fazem vista grossa e deixam os outros levarem para terem vantagem em alguma outra coisa.
 
O que o senhor faria se fosse Secretário de Segurança Pública?

LA: A primeira coisa que faria era acabar com o jogo de bicho e as máquinas caça-níqueis. Esse sim é o crime verdadeiramente organizado do Rio de Janeiro. Ele envolve muita corrupção, muitas guerras e muitas mortes. 
A ordem seria simples: se eu passar na rua e ver, ou a Polícia Federal apreender algo na área integrada, o comandante do Batalhão e o Delegado serão exonerados. 
A segunda seria (se houvesse) tirar todos os comandantes e delegados envolvidos em ilícitos e investigar o que se sabe deles. Nem que colocasse tenentes e delegados de 3a comandando batalhões e delegacias, mas teria o máximo de gente honesta comandando. E pode ter certeza que um bom policial, com a estrutura de inteligência na mão, sabe quem é quem. 
Depois lutaria por mudanças estruturais nas polícias, como salários, bicos, escalas, etc.
 
(Luiz Fernando Reis, ex-carnavalesco. Fevereiro)
 
Como você avaliaria o desfile das escolas de samba nos dias de hoje? O que precisaria mudar?

LFR – critica o politicamente correto, os enredos burocráticos, a falta de ousadia e o conservadorismo. Diz que o modelo atual de poder onde o presidente “tem a chave da quadra em um bolso e o dinheiro no outro; às vezes usa o dinheiro na escola”.
Qual é a influência da internet sobre os desfiles atuais?
LFR – afirma que as pessoas sérias da internet devem ser mais ouvidas pelas escolas como uma forma de democracia. Cita textualmente o autor deste Ouro de Tolo, Fábio Fabato, Fábio Pavão, Eugênio Leal e Luis Carlos Magalhães como autores que devem e merecem ser lidos.
 
(Aloisio Villar, compositor e colunista deste blog. Fevereiro)
 
Por quê os sambas de enredo caíram tanto de qualidade nos últimos anos ? O que pode ser feito para reverter esta tendência?

AV – Tem uma série de fatores nisso, diria até um círculo vicioso que vai do enredo e sua sinopse até o julgamento. Hoje temos muitos enredos patrocinados, enredos que culturalmente não acrescentam muito, com sinopses engessadas e que temos que colocar no samba muitos detalhes, algumas vezes até frases inteiras; tem o fator também que hoje samba-enredo gera muito dinheiro de receita pros compositores vencedores e gastos na disputa. 
Isso tira a vontade de arriscar, se aposta na fórmula de “primeira parte/ refrão do meio de quatro linhas /segunda parte/refrão principal de quatro linhas” e que fale no nome da escola. Todo mundo pede mudanças mas quando surge um samba diferente torcem o nariz, falam que aquilo não é samba-enredo e os sambas vão com essa fórmula engessada pra avenida. Tiram praticamente as mesmas notas, não existe muita diferença de notas entre o melhor e o pior samba; samba-enredo que já foi determinante em alguns carnavais virou quesito secundário e o que importa hoje são os tamanhos dos carros
Só vejo possibilidades de mudanças quando os julgadores começaram a dar as notas certas para as escolas, dar notas sem medo, dar 10 pro samba de qualidade e “canetar” o ruim. Quando as escolas voltarem a ganhar e perder carnaval em samba-enredo talvez mude este quadro.
 
abemos que existem as chamadas “firmas” de samba enredo, grupos de compositores que escrevem para várias escolas e entregam para outros assinarem devido à restrição do regulamento de somente se poder assinar em uma agremiação por grupo. O que você pensa sobre este fenômeno? Como se detecta um samba destes em uma disputa?

AV – Antigamente a gente ouvia um samba e falava “esse samba é da Portela”, “esse é do Salgueiro”; hoje a gente ouve e fala “esse samba é de fulano”, “esse é de sicrano”. Por melhores que esses compositores sejam o ser humano tem limites, ninguém consegue fazer nove, dez sambas de qualidade no mesmo ano. Acabam se repetindo, muitas vezes não mantendo o nível mas mesmo com tudo isso vencem por ter uma grande estrutura por trás.
Sinceramente não sou contra, acho que o melhor samba tem que vencer, independente de quem seja e todas as firmas que conheço são de bons compositores, a partir do momento que existe uma grande soma de dinheiro em jogo nas disputas esse processo de parcerias virarem empresas é irreversível. Eu acho que tem que acabar a limitação de só poder assinar um samba, assim pelo menos fica tudo as claras e acaba com a figura do “pombo” que é aquele que assina um samba feito por outro
Acho que um problema maior que samba de firma é o samba da comunidade, é aquele que tem que vencer de qualquer forma porque é do pessoal da área, porque bota torcida grande, porque o compositor sempre empresta a kombi dele pra escola fazer serviços. Na maioria das vezes que vi esses sambas eram inferiores mas acabavam tirando bons sambas da disputa porque a escola tinha que agradar “seu eleitorado” – isso quando não ganhava e ia pra avenida.
 
(Vitor Monteiro, petroleiro e presidente de ala. Fevereiro)
Muitas vezes falam do do Cenpes, Centro de Pesquisas da Petrobras, e as pessoas não sabem qual é exatamente o seu papel. Afinal de contas, qual é a missão do Centro de Pesquisas da Petrobras ? Em que consiste sua atuação ?

VM – O Cenpes é um elemento pouco conhecido pelo grande publico. No entanto seu papel é muito importante em algumas questões estratégicas. Foi do Cenpes que surgiram as tecnologias inéditas em todo o mundo que fizeram a Petrobras ser líder em águas profundas. É no Cenpes que estamos tratando os desafios do pré-sal, um cenário exploratório tão desafiador e desconhecido pela industria do petroleo como um dia foi a questão das águas profundas. 
O papel do Cenpes é resolver os gargalos tecnológicos do presente e antecipar os problemas que virão no futuro. No momento, por exemplo, muitos esforços são colocados na questão ambiental. A visão da empresa é que no futuro isso será tão importante quando a saúde financeira da companhia.
De que forma você avalia a atuação da Liesa à frente do desfile de escolas de samba do Grupo Especial?

VM – A Liesa se cria em cima da incompetência do poder publico. É como uma privatização de uma rodovia. Quando essa rodovia era uma via pública vivia cheia de buracos. Isso deixava o caminho aberto para a privatização. Ninguém gosta de buracos na pista.
Daí vem a iniciativa privada e tapa os buracos enchendo a rodovia de pedágios e auferindo bons lucros. Nesse momento a opinião pública fica favorável à privatização. 
Fernando Henrique Cardoso fez isso: sucateou várias empresas públicas para poder ganhar apoio do povo na hora de vendê-las. É uma grande armação. A Liesa foi lá e tapou os buracos. Hoje o desfile é organizado e não tem atrasos. Eu não posso concordar com essa visão limitadora da maior festa popular do mundo. 
A Liesa propôs um carnaval formatado, hermético e pasteurizado. Há uma super valorização do visual, de alegorias e de teatralizações comandadas por corpos de balé ou de teatros profissionais. E o sambista, coitado, “sambou”, como previa o samba da São Clemente em 1990.
 
(João Guilherme, narrador esportivo. Fevereiro)
 
O advento das novas mídias alterou os padrões de comportamento dos profissionais da área e a “busca pela notícia”? Em que consiste transformar a paixão do torcedor em um produto racional como é o noticiário esportivo ?

JG – Com o tempo de profissão, você conhece os bastidores, se envolve no produto e acaba tendo uma outra visão. O esporte para nós é trabalho e não diversão. Essa é a diferença. 
Se for para torcer vai para a arquibancada. Você tem que informar e analisar olhando os dois lados da questão – e se basear em fatos.
 
Como surgem os bordões que se tornam marcas registradas de um locutor esportivo?

JG – Espontaneamente, as vezes você ouve alguém falando na rua, ouve uma música ou na hora sai e pega. Não é algo pensado, planejado.
 
(Aydano André Motta, jornalista especializado em esportes e carnaval. Janeiro)
 
Como você avaliaria a gestão das nossas escolas de samba ? E de que forma esta forma de gerência pode ser aprimorada ?

AAM – Um conjunto de instituições quebradas, que recusam qualquer arremedo de transparência nas contas, e, ano sim, ano também, mendigam patrocínios os mais humilhantes. Gestão, aonde? Olha, falar do prontuário dos manda-chuvas do samba é aborrecido, por velho. E atribuir a incompetência ao fato de serem contraventores é raso. A relação dos bicheiros com o samba é longeva, porque a festa sempre foi marginal – e é, ainda hoje, quando os ricos (a classe média no Brasil é uma inovação do governo Lula; antes, eram ricos e pobres) só prestam atenção quando começa a transmissão da Globo. Alguém tinha de cuidar e, à falta de outros candidatos, eles pegaram. E fizeram um ótimo trabalho. Poucos se lembram hoje, mas no tempo da prefeitura o desfile acabava ao meio-dia.
Ao longo de décadas, as relações entre sambistas e patronos se legitimaram, a um ponto que se torna quase impossível mudar. Mas a gestão das escolas é, sobretudo, estreita. Falta estudo para gerir um evento planetário. O carnaval carioca poderia muito mais, se topasse se abrir à vera ao profissionalismo. Mas é um cartório, e, como tal, tem alergia a luz. Meu ponto, insisto, não é esse. Funcionaria, se houvesse mais preparo para dar a essa festa e a esses artistas a dimensão que eles merecem.
Veja a Cidade do Samba. Encravada na Zona Portuária, ampla, nova, deveria ser a Disneylândia carioca, e é quase um cemitério, que funciona, mal e mal, cinco meses por ano. Não tem lugar pra comer, mal tem banheiro! Todos os meus amigos estrangeiros ao mundo do samba que visitam, ficam chocados com o potencial inexplorado.

Um caso: em 2009, estive na gravação do coro do CD dos sambas-enredo, e perguntei quando seria gravado o DVD. Ouvi, perplexo, que a Liga não tinha dinheiro para produzir um DVD. Expliquei, desconsolado, que as escolas de samba cariocas RECEBERIAM por PERMITIR a gravação. Mais um carnaval chegou, e tem DVD? Claro. Nas escolas de São Paulo, o túmulo do samba – há vários anos. Diante disso, falar em gerência é quase piada, né não?

 
A Beija Flor claramente é utilizada pela Família David para um projeto mais amplo de poder no município de Nilópolis. De que forma o papel exercido pela escola poderia suplantar os “82 minutos de desfile” e o seu posicionamento na estrutura do município da Baixada Fluminense ? Em sua opinião a escola teria vida própria sem o apoio da família dirigente ?

AAM – A história da Beija-Flor é mais sofisticada do que enxerga o olhar estrangeiro, que imagina uma comunidade sequestrada por uma família. Os Abrahão David estão lá desde sempre e há, sim, uma relação com o poder político em Nilópoils. Mas a história tem outras nuances. O patrono da escola – o personagem determinante é Anísio, o resto da famíia é acessório – tem devoção pela comunidade, não apenas se aproveita dela. Ele protege e ajuda, de um jeito questionável, com assistencialismo, mas ali há mais do que simples dominação. É uma via de mão dupla.
Os espetaculares ensaios da escola, às segundas e quintas na quadra, são a maior prova disso. Nilópolis se entrega ao carnaval de um jeito único, mérito do povo de lá, que sustenta amor inegociável pela Beija-Flor. Ninguém, no carnaval contemporâneo, canta e se empenha como eles. É o fato mais empolgante da nossa festa, hoje em dia – e vai muito além da influência dos Abrahão David.
Mas há fissuras no cenário. Uma delas, minha maior angústia como torcedor e apaixonado por carnaval, é a dependência da Beija-Flor da liderança de seu patrono. Para mim, está claro que vai se repetir em Nilópolis a trajetória da Mocidade, escola dominante que murchou drasticamente após a morte do seu patrono, e hoje luta para não cair. A inexistência de potenciais lideranças é alarmante e será fatal à Beija-Flor.