Neste sábado, temos mais uma edição da coluna “A Médica e a Jornalista”, da Anna Barros. O tema de hoje é a recente polêmica que envolveu um dos apresentadores do programa “CQC” (acima), que fez declarações grosseiras resvalando inclusive na pedofilia.

Acompanhei de longe a situação, até porque não sou telespectador do programa e as raríssimas vezes em que vi achei um “humor” muito mais reacionário e de denúncia vazia que politicamente incorreto. Politicamente incorreto é outra coisa, e especialmente para isso se precisa ter talento.

Passemos à coluna.

A punição a Rafinha Bastos, humorista do CQC

Os meus CQCs favoritos sempre foram: Felipe Andreoli e Rafinha Bastos.

Mas depois do que Rafinha disse a respeito de estupro, que toda mulher que reclama que foi estuprada é feia, confesso que ele caiu no meu conceito. Bastante. Odiei a declaração, afinal sou mulher. Não deixei de segui-lo no twitter, mas fiquei cabreira. Agora, ele falou no programa, exibido na semana passada que ‘comeria’ Wanessa Camargo e seu bebê. Achei uma piada de péssimo gosto. 

Por isso, foi punido pela Band. Achei a punição justa, mas espero que ele volte à bancada do CQC e aprenda com essa lição. Há limites para o humor, para as piadas. Em nome dele não se pode falar tudo que se vem à mente.

Gostei muito da crítica de Patrícia Kogut no Controle Remoto, publicada no jornal O Globo da última quarta-feira, dia 5.  Vai de encontro ao que eu penso. Mas não quero, como telespectadora, que ele fique longe do CQC muito tempo. O programa perde sem ele. Mesmo com a audiência ter se mantido inalterada, como ela coloca na coluna, em cinco pontos, ele faz falta.

Fica no ar a questão da censura ou da liberdade de imprensa. Muito se especulou na internet, em blogs, no facebook sobre a censura e onde estava a liberdade de imprensa.  Mas confesso que ele passou de todos os limites. Não teria como passar incólume, nem deveria. Talvez seja rigidez de minha parte, mas existem regras e elas devem ser cumpridas. E acima delas há uma ética, que nada mais é que uma regra de comportamento moral.  Verifica-se nesse episódio que uma ação está atrelada à outra. O que ele falou lá atrás sobre estupro, não foi apagado e reforçou a punição dele. 

Como se fosse uma reincidência. E ele concedeu uma entrevista à Rolling Stone quando fez aquela observação extremamente infeliz.

Também achei interessante o que Marcelo Tas disse sobre o humor politicamente correto ao falar de Mussum, dos Trapalhões, em que falava de bebida e brincava com a parte de tomar “mé “ que era como ele se referia à cachaça. Os Trapalhões foram a Xuxa da minha infância.  Foi uma crítica sutil à punição de Rafinha Bastos, mas o companheiro de bancada, Marco Luque, também se posicionou contra as declarações dele. Talvez por ser amigo de Buaiz, o marido de Wanessa, ou por convicções de que Rafinha havia exagerado na dose acabou criando um tremendo mal estar no programa e no entorno do mesmo.  A polêmica ganhou o Twitter, onde Rafinha Bastos ficou nos Trending Topics da última segunda-feira, dia 3. E de madrugada, ele ainda postou fotos com mulheres para reforçar o quão triste estava. Ironic mode on, of course.

Com todo o respeito ao jogador Ronaldo, de quem sou fã, não achei correto ele ligar para a Band e pedir punição a Rafinha porque ele ofendeu a esposa de seu sócio na 9ine, Marcus Buaiz. Não lhe cabe usar de sua influência e prestígio para exigir algo de qualquer emissora. Entendo que ele poderia reclamar como qualquer telespectador que pode usar de seu direito através do canal direto de interatividade – que é o SAC, o Serviço de Auxílio ao Consumidor.  Se a Band  puniu Rafinha por essa atitude de Ronaldo Fenômeno, agiu errado. Mas se o puniu para que tenha limites ao usar sua veia artística, acertou.

Mas honestamente, espero que ele volte logo. Não é Jardim de Infância e não há sentido que a punição se estenda a três ou quatro semanas, como se especula. E penso que ao voltar, e espero que retorne, ele se retrate, peça desculpas, ou faça algum tipo de comentário. Todos cometemos erros e reconhecê-los nos engrandece, faz com que amadureçamos e não erremos mais. Que ele leve na esportiva, como uma espécie de conselho entre amigos. Afinal, amigo que não nos puxa a orelha em determinados momentos da nossa caminhada não é amigo de verdade. E ele é profissional, é da mídia, está exposto a críticas e julgamentos e é formador de opinião. A grande audiência do CQC é de jovens, em sua maioria que são influenciados por tudo aquilo que eles dizem num programa de televisão aberta.

Em tempo: Rafinha Bastos não foi afastado do excelente programa A Liga. A emissora soltou uma nota em que dizia que sua função de repórter não seria abalada.

Adoro a participação das mulheres. Achei a sacada de ter Monica Iozzi no CQC genial, com se fosse uma “estranha no ninho”  dos homens de preto e óculos escuros, mas ela não decolou substituindo Rafinha Bastos como apresentadora. Ainda tem que amadurecer. Mas como repórter é ótima. A piada sobre a câimbra na língua de Rafinha me soou um pouco grosseira, mas deixemos passar. Não podemos também deixar que a amargura e o mau humor dominem um programa que prima pela denúncia de políticos e que mistura entretenimento com jornalismo na medida certa, sem exageros no infoentertainment. Reclamar de tudo e fiscalizar tudo vira chatice. Tudo isso nos moveu a uma discussão. E é de grandes discussões que se vive uma democracia. Aqui no Brasil ainda estamos engatinhando nela, mas com paciência chegaremos lá.

Até a próxima!
Anna Barros