Neste domingo, temos mais uma edição da coluna “Orun Ayé”, assinada pelo publicitário e compositor Aloísio Villar. O tema de hoje não poderia ser outro: os astros da música que morreram aos 27 anos.
“Quando a Morte é um Começo
‘Viva rápido, morra jovem e seja um lindo cadáver’ (James Dean) 
Semana passada o mundo passou por uma grande contradição. Um misto de surpresa e certo conformismo, como se já esperasse a morte da cantora britânica Amy Winehouse. 
A moça não era uma unanimidade, mas era inegável seu talento e sua morte no auge da carreira. Uma morte que foi sendo consumada aos poucos via satélite pro mundo inteiro, e acabou trazendo à tona duas situações que pareceram uma espécie de “deja vu”. Morte de alguém aos vinte e sete anos de idade e devido a drogas. 
Vários órgãos de imprensa referiram-se ao assunto. Dos mais sérios das TVs a cabo até aqueles vespertinos que misturam notícias sensacionalistas com venda de câmeras e produtos de emagrecimento, todos abordaram o fato de Amy ter morrido com a mesma idade e do mesmo mal de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e Kurt Cobain, ícones do rock. 
Ainda que Amy não fosse uma típica roqueira, a cantora tinha o perfil rock`n roll de vida: usava e abusava de drogas e álcool, indo parar várias vezes em clínicas de reabilitação. Amy foi a representante no início do terceiro milênio da autodestruição – algo tão normal no rock quando a guitarra e a os cabelos longos. 
O que esses artistas todas têm em comum? 
Além do fato de terem morrido, claro, eles viraram lendas, coisa que deve ocorrer com Amy também. Viveram apenas vinte e sete anos, mas a impressão que está no imaginário das pessoas é que sempre existiram e sempre existirão, e o melhor: além de ganharem o dom da imortalidade ganharam aquilo que todo ser humano sonha. A eterna juventude. 
Alguém consegue imaginar Jim Morrison, avô, brincando com os netinhos no Central Park? Janis Joplin com a cara da Dona Benta? Jimi Hendrix de cabelos e barba branca? Kurt Cobain barrigudo cantando no Faustão? 
Vejam só Paul McCartney: virou um tiozinho que vem ao Brasil todos os anos e vai pro Engenhão cantar “Obladi Obladá”. Ele é respeitado, tem muitos fãs – incluindo esse que lhes escreve. Mas o ‘cara’ mesmo virou John Lennon, que cantou a paz, casou com mulher feia e morreu com tiro de fã maluco. 
Não dá… Ninguém respeita roqueiro que envelhece. A não ser que você seja um Rolling Stone. Porque, na boa: para mim um dos maiores mistérios da humanidade é como Keith Richards e Mick Jagger estão vivos até hoje. [N.doE.: para mim também]
As pessoas têm fascínio por ídolos que se autodestroem, esta é a verdade. 
Um Ídolo que faz besteira, que é preso, que para em clínica de reabilitação se humaniza. Vira uma pessoa como nós e se o cara morre, então, vira mito. A pessoa que é genial e morre jovem (independente se era um drogado, bêbado, suicida ou coisa parecida) se eterniza. 
E não precisamos parar apenas nos que morreram com vinte e sete anos. 
Temos com vinte e seis Noel Rosa: gênio que teve vida pessoal conturbada, com muitos abusos que provocaram uma tuberculose fatal. Continuando no Brasil temos ídolos que, se não morreram de overdose, morreram de AIDS como Cazuza – que assim como Amy teve sua longa e triste morte mostrada pela mídia ao país. Não podemos nos esquecer de Renato Russo que também morreu de AIDS e virou uma espécie de profeta para jovens que nem haviam nascido quando ele morreu. 
Tragédias que fizeram alguns jovens virar mitos como James Dean, Mamonas Assassinas e heróis como Ayrton Senna, carros e aviões decidindo destino de alguns ídolos. 
E por fim alguns que não eram mais tão jovens, não se autodestruíram nem morreram em acidentes, mas hoje são representantes da juventude como Che Guevara e Bob Marley [N.doE.: mais ou menos, Bob Marley morreu de câncer aos 36 anos]. 
A morte de um jovem sempre trás comoção porque a ordem natural da vida é os mais velhos morrerem antes. 
A morte de um ídolo jovem piora essa situação porque sempre vemos essas pessoas como íntimas, parecendo mesmo membros da família. Isso ocorre porque todos os dias invadem nossos lares e o artista ou esportista nessa fase da vida é o que provoca mais histeria e fanatismo. Não é raro um desses que nem era considerado tão bom vivo virar unanimidade depois de morto, todo mundo falar que era fã e o lucro com sua obra e imagem aumentar e muito. 
Porque um dia todo mundo vai morrer e aqueles que conseguem viver depois de mortos nos encantam. 
Aliás e a propósito: curioso como tanta gente boa morre cedo e políticos desonestos duram, não acham? 
Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder…
Orun Ayé””

One Reply to “Orun Ayé – "Quando a Morte é um Começo"”

  1. Acho que essa história das pessoas passarem a ser unanimidade após a sua morte não tem a ver com a fama, pois qualquer defundo vira anjo não importa a obra maléfica que teve em vida.

    Existe no imaginário o alívio (nosso) de que todos os mortos conhecidos vão pro céu, tenham sido eles bons ou ruins em vida. E todos os outros defuntos tem o que merecem ter.

    “Aos amigos, tudo. Aos inimigos, os rigores da lei” como disse Getúlio Vargas (em outro contexto) pode muito bem ser adaptado a esses casos: “Aos amigos, o paraíso. Aos outros, o julgamento final”.

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