Neste domingo, final de feriadão, temos mais uma edição da coluna “Orun Ayé”, assinada pelo compositor Aloísio Villar. Hoje a coluna versa sobre um artista que está em processo de redescobrimento: Wilson Simonal.

Simonal – que já foi tema de uma “Sobretudo” anterior – era um dos grandes artistas da década de 60, como o leitor poderá ver no vídeo acima.

Nem vem que não tem

“..nem vem de garfo que hoje é dia de sopa
 Esquenta o ferro passa a minha roupa
Eu nesse embalo vou botar pra quebrar
“Sacudim, sacundá, sacudim, gudim gundá”

Hoje farei uma coluna musical: falar um pouco de um artista que não fazia parte da minha ‘play list’ mas que sempre me despertou curiosidade não por suas músicas, mas pelas confusões que entrou.

Não conhecia a fundo a obra de Wilson Simonal de Castro: sabia que ele tinha gravado “País Tropical” assim como Jorge Benjor e “Sá Marina” muito antes de Ivete Sangallo. Mas como adoro biografias e documentários comprei o DVD feito pelo casseta Cláudio Manoel chamado “Ninguém sabe o duro que eu dei”.

E ali conheci um grande artista com uma grande história. Wilson Simonal, pobre, preto e com uma bela voz se tornou um dos cantores mais populares do Brasil. O “Simona” como era chamado pelos amigos foi o primeiro showman da música popular brasileira, cantava divinamente e com extremo carisma era capaz de entreter o público.

Teve programa de televisão, foi o primeiro astro e assinar contrato milionário para propaganda e foi capaz de reger trinta mil pessoas no Maracanãzinho enquanto cantava “Meu limão, meu limoeiro”. Dizem que enquanto a platéia cantava ele chegava a sair para tomar um cafezinho e quando voltava estava lá o povo cantando.

Simonal foi astro e levou alegria ao povo quando o Brasil vivia uma época de lutas e mau humor. Era quase proibido amar o Brasil, falar bem dele e arte que prestava era a que fazia o povo pensar. Tempos engajados, de resistência. Época de teatro Opinião, cinema novo, Gil, Chico, Caetano, Pasquim e o Simonal não era desse estilo. Ele era da chamada “pilantragem”, o cantor que tinha suingue na voz, malícia. Era a hora da festa. E por ser um grande astro, o cara do momento, Simonal era marrento, se achava o dono do mundo e por achar que era se deu mal.

Em uma situação mal explicada com seu contador que foi preso e surrado na cadeia o cantor foi acusado de ser delator. Falavam que ele entregava os artistas de esquerda para o governo e não existe crime pior no mundo ocidental que a delação. Nada foi provado contra ele [N.doE.: documentos divulgados recentemente dão conta de que Simonal teria sim colaborado com as forças de repressão do Regime Militar], mas com o ‘disse me disse’ Simonal caiu no ostracismo. Tentou voltar nos anos 90, mas não conseguiu e morreu esquecido em 2000. Ele não entrou em decadência, o povo não deixou de gostar dele: Simonal simplesmente foi apagado da música popular brasileira.

Mas depois de sua morte, como sempre ocorre, lembraram que ele existia. Seus filhos Max de Castro e Simoninha fazem sucesso e várias homenagens foram feitas para ele, como o DVD “Baile do Simonal” e o documentário que me aproximou de sua história. Este eu já vi mais de duzentas vezes e posso dizer que sou um dos que estariam no Maracanãzinho cantando “Meu limão meu limoeiro” enquanto ele tomava café.

Como falariam na época. Bicho, o Simona era brasa, mora?

“Camisa verde claro, calça Saint Tropez
 E combinando com o carango todo mundo vê
Ninguém sabe o duro que eu dei
Pra ter fom fom trabalhei, trabalhei”