A notícia política do final de semana, embora não tenha sido exatamente política, foi a apreensão da carteira de motorista do ex-Governador de Minas e atual senador Aécio Neves. Seu carro, um Land Rover, foi parado em uma blitz destinada a reter motoristas que tivessem bebido além do limite – quem hoje, é de um chope – em um bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro.

Segundo notícias publicadas pela imprensa, sua habilitação estava vencida e ele se recusou a passar pelo teste do bafômetro a fim de medir seu teor etílico. Não há informações confirmadas de que estivesse com sinais de embriaguez aparente, apesar de alguns relatos neste sentido.

Entretanto, vamos tentar entender o que está por trás deste fato.

O senador mineiro em discurso recente de estréia no Legislativo buscou afirmar-se como o líder da oposição ao governo da presidenta Dilma Roussef, buscando posicionar-se como oposição “propositiva” e “não-raivosa”, em clara oposição à ala “paulista” do PSDB. Analistas políticos e mesmo porta-vozes do PSDB na imprensa viram tais declarações como a intenção clara de não somente liderar a oposição como tomar o controle do partido das mãos da ala liderada por José Serra.

Após a derrota eleitoral de outubro último, o PSDB claramente se cindiu em dois grupos: o dos “paulistas” e o dos demais estados. E ainda no grupo paulista há os grupos do candidato derrotado José Serra e o do atual governador Geraldo Alckmin lutando pelo controle – embora taticamente se unam contra adversários em comum. Na pauta, já o horizonte eleitoral de 2014 e a candidatura presidencial pelo lado do partido conservador.

Neste momento em que há esta disputa interna, parece bastante interessante ver a intimidade do Senador mineiro exposta desta forma, especialmente em veículos de imprensa que jamais publicam notícias negativas sobre políticos do partido. Parece razoável supor que a ala paulista do PSDB se utilizou de suas conexões junto à imprensa para atingir o ex-governador mineiro e dar ampla repercussão ao fato, a fim de desequilibrar o jogo de poder interno a favor da “velha ordem”.

Lembro aos leitores que, em meados de 2009, Aécio Neves tentou lançar-se contra o então governador paulista no jogo sucessório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e “do nada”, brotaram notícias em órgãos de imprensa amigos dando conta de que ele teria batido na namorada até quase matá-la e que seria dependente de cocaína. O auge desta estratégia foi um artigo malicioso do Estadão com o título “Pó pará, Governador!”, em clara alusão não somente ao eventual vício de Aécio como às suas pretensões na corrida presidencial.

Depois o atual senador daria o troco a Serra, recusando a vaga de vice presidente – onde somente teria a perder – na chapa e nitidamente não se empenhando na campanha mineira – onde a expressiva vitória da então candidata Dilma Roussef seria decisiva para o resultado final. Ressalvo que são insistentes os rumores dando conta da eventual dependência química do político, mas ficou claro que a imprensa foi utilizada à época para impor a candidatura de Serra dentro do PSDB.

Minha impressão é de que a estratégia foi repetida desta vez, ainda contando com a óbvia percepção de Aécio de que sua “blindagem midiática” continuava valendo. Como não está mais, certamente mais à frente ele terá problemas caso resolva se impor como liderança máxima do partido e líder supremo da oposição.

Vale lembrar, também, o pesado silêncio da imprensa mineira em relação ao fato, repetindo seu comportamento quase simbiótico com o Palácio da Liberdade verificado nos últimos anos. “O Estado de Minas”, principal jornal local, ontem não trazia em sua primeira página o episódio. Mesmo em seu portal de internet se encontrava o fato apenas em uma página interna, sem qualquer destaque e realçando o aspecto de o senador “ter cumprido a lei” – em abordagem oposta a dos grandes órgãos de imprensa, próximos a Serra.

Em que pese toda a briga política interna do PSDB – ainda tisnada pelos desastrosos comentários do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em artigo semana passada – o episódio deixa claro como os grandes órgãos de imprensa, em especial televisões e jornais impressos, manipulam e interpretam a notícia ao sabor de seus interesses econômicos, políticos e ideológicos. Penso que este é o aspecto mais importante a nós cidadãos nesta história toda.

P.S. – O modelo mais barato de um Land Rover custa aproximadamente R$ 115 mil reais. O senador declara ser dono de uma cobertura na Lagoa, bairro nobre do Rio de Janeiro, adquirida por inacreditáveis R$ 109 mil. Nem o apartamento onde moro, em um prédio antigo de um bairro da Zona Norte, vale isso.

Ressalte-se também que o veículo não consta da declaração de bens entregue pelo senador ao Tribunal Superior Eleitoral. Ou está em nome de terceiros ou não foi declarado à Justiça Eleitoral.

P.S.2 – A nova legislação de trânsito indica que após um mês de vencimento da validade da carteira de motorista há a necessidade de se fazer o processo como se fosse uma nova habilitação. Dúvida: como nós cidadãos normais o político irá refazer todo o processo para obter a carteira?

(Foto: Terra)

6 Replies to “Aécio, a blitz, a política e a imprensa”

  1. Aécio Neves mentiu para o País.

    A sua habilitação para dirigir foi reimpressa em 31/05/2010. Desta forma, a apreensão de sua carteira de motorista não se deu por estar vencida. Foi pela recusa em fazer o teste do bafômetro para medir seu nível de teor alcoólico.

    Registro RENACH: 007315220-30 (Nº CNH Nova – c/ Foto)
    N.Prontuário: 23624685-2 (Nº CNH Antiga – s/ Foto)
    Formulário RENACH: MG976859424
    Nome do Condutor: AECIO NEVES DA CUNHA
    Data Impressão: 31/05/2010

    Av. João Pinheiro, 417 – Centro – Belo Horizonte/MG – CEP 30130-180

    Confira!

    Clique em: https://wwws.detrannet.mg.gov.br/detran/conscnh.asp?IdServico=71

    Preencha com os dados abaixo

    Número da CNH 00731522030

    Data de Nascimento 10/03/1960

  2. Uma pena que o debate político brasileiro esteja restrito a futricas dignas de revista CARAS… seria importante debater questões propositivas, idéias, discussões em prol do bem do Brasil e não ficar discutindo se Aécio estava bêbado ou não, num sábado….

    Uma pena mesmo…

  3. Aliás, uma pena também a inevitável politização de um teste do bafômetro. O mais interessante é perceber que os lulo-petistas, quando o “faraó” Lulafoi acusado de “cachaceiro” por Larry Rother, do NY Times, saíram em desabalada defesa de seu messias… e que agora o comportamento seja outro.

    Uma pena mesmo. Pobre Brasil…

  4. Só acho que o país tem coisas mais sérias pra serem analisadas. A questão da infraestrutura dos aeroportos, que o ministro do PT ontem disse que não tem nada demais, desqualificando o estudo do IPEA, por exemplo…

    Todo partido tem guerra fraticida. O PTB teve a sua, quando Brizola retornou do exilio (e disputou o comando da legenda com Ivete Vargas, perdendo); o PT teve/e tem guerras fraticidas (o PT gaúcho x PT paulista)… todo partido tem.

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