Como disse ontem, este final de semana é de estréias no Ouro de Tolo. 
Hoje iniciamos a coluna “Do Pouco Um Tudo e Vice Versa”, assinada pela jornalista e produtora Thaty Moura (foto acima). O foco dos textos será a cultura, olhada por quem está na vanguarda e testando os limites conceituais.
Será publicada quinzenalmente, sempre aos domingos. O texto de estréia versa sobre a polêmica cultural da semana, a liberação da captação de R$ 1,3 milhão pela Lei Rouanet à cantora Maria Bethânia. Lembro aos leitores, como uma introdução, que o valor não sai dos cofres públicos, e sim através de empresas privadas, que podem abater no imposto a pagar – tal como é feito em muitos países do mundo.
Mas vamos abrir alas para a nova colunista.

Do pouco um tudo e vice versa 
Como esta é a minha primeira coluna aqui no Ouro de Tolo, acho por bem me apresentar. Sou jornalista e produtora, formada pela FACHA – Faculdades Integradas Hélio Alonso e completamente apaixonada pelo que eu faço: Jornalismo e Cinema. 
Milito no movimento “MPB – Música Para Baixar” em prol do acesso livre aos bens culturais, leis de incentivo à cultura, enfim, por uma cultura livre. Afinal, “Fã não é pirata. É divulgador”. 
Mantenho o blog Microcâmera (link à direita), onde publico textos e vídeos produzidos exclusivamente por mim. Sejam matérias, documentários, críticas, crônicas ou, por vezes, alguns devaneios. 
Fui convidada pelo Pedro, através de uma indicação da médica e jornalista, Anna Barros [N.doE.: também colunista do Ouro de Tolo], para escrever quinzenalmente aqui. O assunto? Não podia ser outro. Falaremos sobre CULTURA! E, às vezes, sobre outros aspectos da vida cotidiana.
Espero que gostem e acompanhem a coluna. Então, vamos ao texto propriamente dito. 
O blog de um milhão 
Comentários pelo twitter e facebook lotaram minha timeline e feed de notícias essa semana. Era gente reclamando do governo, do Ministério da Cultura (MinC), da Ana de Hollanda (a ministra), da Maria Bethânia, da Lei Rouanet… 
Teve gente fazendo piadas e metendo o Oscar Niemeyer no assunto dizendo que pelo valor, o layout só poderia ser dele. Criaram até um movimento em cima do fato, o “Queremos ser Maria Bethânia”
Pergunto-me, e quem não quer? 
Só pela voz incrível deste grande nome da música, muitos já deveriam querer. Mas depois de ter a sorte de ser enquadrada numa lei de incentivo tão estranha (para falar o mínimo) e ainda conseguir alguma empresa disposta a investir mais de 1 milhão em seu blog, meu bem, isso não é para qualquer um. Ela, assim como eu, o Pedro e outros infinitos blogueiros brasileiros, tem algo a dizer. 
Bom, mas não adianta culpar a artista ou seus parceiros de projeto, o cineasta Andrucha Waddington e o sociólogo Hermano Vianna, por terem sido enquadrados na lei com o projeto de blog cultural onde seriam postados vídeos da cantora declamando poesias. O grupo usou um mecanismo teoricamente acessível a todo e qualquer cidadão brasileiro que trabalhar com cultura e apresentar um projeto dentro dos moldes necessários, submetendo-se à avaliação do MinC. Caso aprovado, cabe encontrar empresa que patrocine o tal projeto. 
Vale lembrar que o valor seria maior, algo em torno de 1,8 milhão, mas que no valor atual (1,3 milhão), apenas 600 mil irão para as mãos de Bethânia que fará a direção artistica do site e a seleção dos textos. Porém, o questionamento vai muito além do valor ou de quem obteve o benefício. 
O que está, verdadeiramente, em questão é a necessidade urgente de reformas na legislação brasileira. Especialmente no que tange à cultura, como a Lei Rouanet e a Lei dos Direitos Autorais. Elas são pautas de debates vigorosos e que, de certa forma, são ignoradas pelo ministério e o governo como um todo. 
O projeto do blog de Bethânia também esbarra nos Direitos Autorais. Será que ao invés de proporcionar mídia e acesso a novos poetas, vale mesmo a pena insistir em declamar textos antigos e conhecidos? Que por muitas vezes não exigem o recolhimento, ou simplesmente, não recolhem os direitos do autor? 
O MinC, a ministra Ana de Hollanda deveriam aproveitar sua explícita fragilidade evidenciada nessa confusão e dar voz ao povo, aos artistas, àqueles que vivem de arte e precisam do incentivo fiscal para financiar seus projetos. Assumir os erros e buscar o caminho certo é um grande passo para o progresso que serve de lema para o governo. 
Que as reformas necessárias sejam feitas. Que os interessados tenham voz no processo de reforma. Que, pelo bem da cultura e da nação brasileira, a produção seja cada vez mais intensa e tenha mais incentivo fiscal, financeiro e moral daqueles que ocupam cargos governamentais. 
Que tantos outros projetos possam ser Maria Bethânia.
Até a próxima!
Fontes:

(Fotos: Michele Castilho e Reprodução/My Space, respectivamente)